Poesias

sexta-feira, 30 de julho de 2021

SOCIEDADE ALTERNATIVA - CAPÍTULO 5

Contudo, a noiva era Celeste.
Nesse ínterim, enquanto a jovem procurava montar seu enxoval, Lindolfo aproveitava as tardes para paquerar um pouco.
A despeito de já ter namoradas demais, adorava paquerar as moças. Mesmo quando estava namorando alguém, não perdia a oportunidade, de mirar seus olhos em alguma bela garota que passasse.
Entretanto, depois de quase quatro anos, finalmente reencontrou a jovem que vira na praia, pela primeira vez.
Lizandra caminhava em direção a praça da cidade. Embora estivesse sozinha, não parecia estar atenta a nada.
Por isso, Lindolfo, ao vê-la, tratou logo de se aproximar.
Sem ter muito o que dizer, começou dizendo simplesmente um oi.
No entanto, por estar distraída, Lizandra assustou-se com a aproximação.
No que Lindolfo, ao perceber que a havia assustado, tratou de se desculpar. Lamentando o incidente, ofereceu a moça, como um se fora um pedido de desculpas, um convite para tomar um sorvete.
Gentil, a moça recusou.
Mas Lindolfo não se deu por vencido. Continuou insistindo. Disse que se ela não aceitasse seu oferecimento, ficaria sem graça. Precisava se desculpar por isso.
Ao comentar sobre isso, Lizandra então se lembrou que Lindolfo era o rapaz inconveniente que a abordara numa festa anos atrás, e criara tumulto.
Aborrecida então, desculpou-se, mas disse que não podia aceitar o convite, já que tinha um compromisso. Diante disso, tentou encerrar a conversa, já indicando que pretendia se afastar.
Mas, Lindolfo continuou insistindo.
Contudo, alegando não que queria ser inconveniente, disse que não insistiria se ela lhe desse a chance de se desculpar por ter deixado tão má impressão. Queria realmente desfazer a má impressão.
Desculpando-se novamente, disse que normalmente, não se comportava daquela maneira, mas como ela o havia impressionado demais, acabou ficando atordoado. Não sabia o que fazer. Toda vez que tentava se aproximar dela, alguma coisa dava errada. E, quando finalmente, os deuses conspiravam a seu favor, ele estragava tudo, adotando um comportamento inconveniente. Por isso, precisava se desculpar e mostrar que, ele, Lindolfo, era muito mais que aquilo.
No entanto, apesar de seu discurso formado, não conseguiu convencer Lizandra, em sua primeira tentativa. Insistindo na conversa de que agira mal e estava arrependido, tentou convencer a moça de que falava sério. Para isso, não mediu esforços.
Durante semanas, esperava a moça sair da faculdade para então, interceptá-la na saída. Nessas oportunidades, oferecia-lhe rosas.
Como estava estagiando em um escritório de engenharia que havia na cidade, possuía alguma renda. Por isso, sempre que podia, comprava um botão de rosa e oferecia a moça.
Certa vez, chegou até a decorar uma poesia e recitá-la para a moça.
Enfim, fez o que pode para se aproximar de Lizandra.
Chegou até, a realizar uma seresta em frente a sua janela, para convencê-la a sair com ele.
Mas, a moça realmente, não era fácil. Isso aliás, o deixou ainda mais interessado. Cada vez que ela o ignorava, mais vontade ele tinha de conquistá-la, não importasse o que ele tivesse que fazer. E assim, só uma coisa ocupava seus pensamentos desde então. Como fazer para conquistar a moça? Afinal, pensava ele, o que seria preciso fazer para convencê-la a dar um simples passeio com ele?
Foi então que ocorreu-lhe a idéia, de que talvez a tivessem prevenido, sobre sua fama de mulherengo. Para ele, talvez essa fosse a razão pela qual a moça não topava sair com ele. Devia ser por esta razão que a moça não queria saber de aproximação. Afinal, quem seria louca de se relacionar com um homem daquele tipo?
Para ele, só isso poderia explicar a resistência da moça. Não havia outra razão para explicar tamanho desinteresse.
Ao chegar a essa conclusão, percebeu que deveria adotar então, outra tática. Os espetáculos que estava promovendo, não estavam funcionando. Assim, diante de tão desanimador quadro, resolveu se afastar um pouco.
Seus amigos, ao perceberem seu comportamento obsessivo em relação a moça, diversas vezes lhes perguntaram se tudo isso era um verdadeiro interesse, ou se não passava de um mero capricho.
Aborrecido, por ouvir isso, recusava-se sistematicamente a responder a pergunta. Alegando que estava interessado na moça, considerava a pergunta dos amigos, desrespeitosa.
E apesar de ter se afastado da moça, não conseguiu disfarçar seu interesse por ela.
Mas, resolveu se manter firme em relação a isso.
Assim, durante algumas semanas, evitou se aproximar da moça.
Lindolfo achou que, em assim procedendo, Lizandra passaria a procurá-lo.
Entretanto, não foi isso o que aconteceu. Discreta, Lizandra nunca demonstrou qualquer interesse nele. Até pelo contrário, quando percebeu que o rapaz se afastara, sentiu um certo alívio.
Por isso, para decepção de Lindolfo, Lizandra nunca foi procurá-lo.
Por conta disso, o rapaz já estava quase desistindo. Quase. Por que, diante do quadro apresentado, resolveu, por sua conta e risco, uma última alternativa.
Tentaria convencê-la a ter um encontro com ele, com cartas manuscritas. Nessas missivas, falaria de seus sentimentos e escreveria poesias.
Contudo, por não ser um homem dado as palavras, ainda mais as escritas, resolveu comprar alguns livros de poesia. Neste momento, lembrou que a moça, alvo de toda sua adoração, estava no quarto ano do curso de letras.
Diante disso, ao escrever as ditas poesias, teria que ter todo o cuidado em identificar os autores, já que, presumivelmente, Lizandra, era profunda conhecedora do assunto.
Foi então, que, ao dar-se conta disso, constatou, que não seria tarefa das mais fáceis, convencer a garota, de que estava sendo sincero. Contudo, a despeito disso, resolveu que ao menos tentaria.
Isso por que, depois de tanto tempo insistindo, não poderia desistir. Afinal, era sua reputação que estava em jogo. Até porque, já havia ganho fama na cidade, de grande conquistador. Portanto, tinha que conquistar Lizandra.
Afinal, desde que a vira na praia, invariavelmente, a moça habitava seus pensamentos. E assim nunca havia desistido totalmente de uma aproximação.
No entanto, Lindolfo sabia que se houvesse realmente um encontro, Lizandra não era como muitas das moças que freqüentavam a universidade. Portanto, teria que se portar de melhor maneira possível com a moça.
E assim o fez.
Primeiro, com as cartas de amor que escreveu para ela, evitando se identificar, mencionou que há muito tempo procurava uma mulher como ela. E que estava gostando dela. E ainda, além das suas palavras, procurava sempre anexar um poema. Com isso, queria provar para a moça, que era uma pessoa sensível, e bem intencionada. Porém, nunca se identificava.
Não queria que Lizandra se recusasse, até mesmo, a receber as cartas. Além do mais, precisava conquistar a confiança da moça. Daí a razão, de não se identificar, e de usar um nome falso.
Dessarte, para auxiliá-lo em tal intento, Lindolfo contava com a ajuda de dois amigos, que freqüentavam o mesmo curso da moça, inclusive. Assim, diante desta facilidade, tinham fácil acesso aos comentários sobre a carta. E eram assim que estes o informavam sobre a receptividade da moça em relação as missivas.
Na sala de aula, algumas moças comentaram com Lizandra, que alguém, para escrever coisas tão lindas, era, provavelmente, um profundo conhecedor de literatura. Portanto, só poderia ser algum dos alunos do curso de letras.
No entanto, como fazer para descobrir? Apesar de o rapaz se identificar com Bruno, este nome, era relativamente comum por ali. Além do mais, não era absolutamente certo, que o autor das missivas, era ingresso no curso de letras.
Isso não garantia nada. Podia ser que, o referido autor, nem fosse aluno. Talvez um dos moradores da cidade, ou até mesmo, um dos funcionários da instituição.
Assim, diante de tão desanimador cenário, Lizandra não sabia por onde começar a procurar. Mas, para ao menos dizer que tentou descobrir, resolveu tentar localizar os Brunos que haviam no curso de letras.
Para seu desespero, só na classe em que estava, havia dois garotos com o referido nome. No entanto, pelo comportamento dos dois, dava para se notar que nenhum deles, apesar de cursar letras, apresentava pendor literário. Bagunceiros e indisciplinados, nem de longe fariam jus às mais belas qualidades de poetas.
Além do mais, Lizandra, nunca simpatizara com nenhum deles.
Por isso, ao chegar a aludida conclusão, sentiu um certo alívio.
Contudo, a despeito disso, resolveu insistir na busca. Mas, depois de semanas, tentando localizar e identificar o autor das cartas, desistiu. Resolveu deixar para lá.
Diante disso, os amigos informaram-no que Lizandra estava curiosa para saber quem era o autor das mensagens. Prestativos, disseram para Lindolfo que a garota o estava procurando.
Disseram que ela chegou a pensar até, que se tratava de algum conhecido. Segundo os dois, Lizandra procurou muito por ele, mas, em dado momento desistiu. Cansada, ela comentou com as amigas, que esperaria que ele se apresentasse. Bisbilhotando, acabaram por ouvir este comentário.

Luciana Celestino dos Santos
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