Lourenço por sua vez, não parecia conformado com a situação.
O homem não conseguia entender por que Leonor dormira em seus braços, e logo em seguida aceitara um casamento por conveniência. Custava a acreditar que a moça se casara para preservar a ele e a seus pais. Pensava que ela usara este argumento como desculpa.
Aparecida e Abílio, tentavam a todo o custo, consolar o rapaz.
Tentando defender a filha, diziam que se assim o fizera, é por que ela fora compelida a fazê-lo.
Contudo, como não havia nada que pudesse reverter aquela situação, aconselharam o rapaz, a esquecê-la.
Aparecida sempre dizia que ele era jovem, cheio de vida, bonito. Alegava também que aquela tristeza não iria durar a vida inteira.
Abílio comentou que quando menos esperasse, ele iria encontrar um novo amor.
Lourenço contudo, permanecia inconsolável.
Procurando esquecer seus problemas, passou a mergulhar no trabalho.
Passou a percorrer novas terras.
Em suas cavalgadas, o homem acabou se aproximando da propriedade de Viriato.
O conde, ao tomar conhecimento deste fato, prevenido que fora por Antero, acreditou que Lourenço estava rondando sua propriedade.
Nervoso, foi tomar satisfações com Leonor, que respondeu que nada sabia sobre Lourenço. Dizendo que não o via há vários meses, a moça argumentou que não sabia do que ele estava falando.
Ao ouvir isto, o conde duvidou das palavras da moça. Chacoalhando-a exigiu que ela lhe dissesse a verdade. Dizendo que não aceitaria ser enganado, Viriato, apertou seu braço, e a empurrou.
Leonor desequilibrou-se e acabou caindo.
Irritado, Viriato gritou para que ela se levantasse.
Chorando, Leonor se apoiou em um móvel, e com dificuldade, tentou levantar-se.
Contudo, ao tentar levantar-se, a moça sentiu tontura e acabou se desequilibrando novamente.
Sentindo mal estar, Leonor abaixou a cabeça. Respirava de forma ofegante.
O conde, ao perceber que a moça passava mal, aproximou-se dela. Abaixando-se, auxiliou-a a se levantar.
Leonor estava pálida.
Ao notar isto, Viriato segurou a moça em seus braços. Carregou-a até o quarto.
Antes disto, chamou Antero.
O serviçal acompanhou o casal.
Preocupado, Viriato deitou a moça na cama.
A moça ao ser colocada na cama, pediu uma bacia.
Antero apressou-se.
Nisto Leonor vomitou.
Viriato pediu ajuda a Antero para cuidar da moça.
Nervoso, o conde só conseguia lhe dizer que estava tudo bem, que não estava mais aborrecido.
Antero passou um pano umedecido no rosto da moça.
Com isto, ao notar que o mal estar da moça não passava, Viriato chamou Antero em um canto. Pediu para que ele chamasse um médico.
Mais tarde, ao ser examinada, o médico chamou Viriato em um canto, e lhe disse que a moça não poderia se aborrecer. Que precisava ser poupada, para que pudesse gestar a criança que carregava no ventre, com tranquilidade.
Ao ouvir isto, Viriato questionou:
- Desculpe! Eu não ouvi direito! O senhor disse que ela está grávida?
O médico então, confirmou o prognóstico.
Leonor esperava um filho.
Viriato ficou exultante.
Feliz, gritou para quem quisesse ouvir, que ela estava grávida.
O médico, ao perceber o estado de excitação de Viriato, insistiu para que a moça permanecesse no mais absoluto repouso.
Viriato pediu desculpas.
Preocupado, perguntou se estava tudo bem com Leonor.
O médico respondeu que sim.
Com isto, o homem atendeu prontamente as recomendações do médico.
Atencioso, Viriato proibiu-a de caminhar pelo castelo. Disse que enquanto o médico não autorizasse, não sairia do quarto, devendo tomar todas as refeições no local.
Leonor não questionou as recomendações do médico. Também atendeu aos pedidos de Viriato.
Quando o médico a liberou para caminhar pelo castelo, a moça passou a circular pela propriedade.
Viriato estava encantado com a possibilidade de vir a ser pai.
Sempre que podia, encostava a cabeça na barriga da moça. Ansioso queria que a criança começasse a se mexer.
Com isto, mesmo quando Leonor dormia, Viriato insistia em encostar a cabeça no ventre da moça.
Com o passar dos tempos, a barriga da condessa começou a aparecer.
Viriato mal se cabia de contente.
Ao descobrir que a criança se mexia, o conde a todo o momento se aproximava da moça. Queria sentir a criança se mexer.
Empolgado, dizia ter certeza de que era um menino.
Esta dúvida deixava Leonor tensa.
Quando estava a sós com seus pensamentos, chegava a se perguntar o que Viriato faria, se não fosse um menino.
Certo dia, ocupando-se de seus negócios, Lourenço avistou Leonor.
Qual não foi seu espanto ao vê-la grávida.
Pensou em se aproximar da moça para conversar. Contudo, ao vê-la ao lado de Viriato, relutou.
Nervoso, aconselhou-se com Aparecida.
A mulher ao notar a angústia do moço, pressionou-o para que lhe contasse o que estava acontecendo.
Nisto Lourenço viu-se compelido a revelar que Leonor não se casara casta, e que eles passaram uma noite juntos, antes dela casar-se com Viriato.
Ao ouvir isto, a mulher argumentou que o que ele fizera, não fora correto.
Lourenço retrucou dizendo que Viriato também não agira direito ao roubar-lhe a noiva e ameaçá-la, obrigando-a a casar-se com ele.
Preocupado, deixou escapar que cogitou a possibilidade de a criança que Leonor esperava, ser sua.
Aparecida ao ouvir estas palavras, argumentou que fazia quase um ano que sua filha se casara. Razão pela qual seria impossível aquela criança ser filha de Lourenço.
Lourenço estava arrasado.
Semanas depois, Leonor dava luz a uma criança.
Enquanto caminhava pelo quarto, a moça começou a sentir as contrações.
Horas depois, entrou em trabalho de parto.
Com isto, ao final de algumas horas, nascia uma bela criança do sexo masculino.
Viriato, que acompanhou toda a gravidez e aguardava o nascimento da criança, estava cada vez mais impaciente.
Nervoso, de meia em meia hora, perguntava a todos os que saíam do quarto onde estava Leonor, se a criança já havia nascido.
A cada negativa, o homem ficava mais tenso.
Preocupado, chegou a perguntar se estava tudo bem.
O homem só se acalmou, após ouvir o choro de uma criança.
Ansioso, o conde, que aguardava no corredor, adentrou o quarto, sem cerimônia.
Nisto as parteiras cobriram Leonor e, enrolando a criança em um pano, mostraram-na ao conde.
Disseram que era um bonito menino.
Viriato ficou exultante.
Segurou a criança no colo.
O menino estava sujo de sangue.
Ao perceber que Leonor era amparada pelas parteiras, Viriato perguntou se ela estava bem.
As mulheres responderam que estava tudo bem, mas que ele precisava se retirar do aposento.
Viriato então, deixou a criança aos cuidados das mulheres.
Retirou-se do quarto.
Enquanto isto, Leonor era cuidada pelas mulheres.
Mais tarde, o moço foi chamado para entrar no aposento.
Leonor dormia em lençóis limpos, e estava com a roupa trocada.
A criança, já vestida, estava desperta.
Viriato então, pediu para segurar a criança.
Uma das parteiras auxiliou-o novamente.
O homem estava encantado com a criança.
Nisto, ao notar que Leonor dormia, perguntou se estava tudo bem.
Odete – uma das parteiras – respondeu que ela havia perdido sangue, e feito muito esforço. Por isto precisava descansar.
A mulher recomendou repouso.
Viriato respondeu que Leonor seguiria as recomendações seriamente.
Com isto, as mulheres se retiraram do quarto.
O conde então, ergueu a criança e começou a dizer:
- Um varão! Um varão!
Leonor despertou.
Percebendo isto, Viriato respondeu:
- Tu me deste um lindo menino! Graças a ti esta criança veio ao mundo. Obrigada por me conceder esta felicidade!
Desta forma, o homem se aproximou da mulher. Beijou-lhe a fronte, e abaixou-se para lhe mostrar a criança.
Dizia a ela:
- Olha só que belo, o fruto do teu ventre!
Viriato, deitou a criança ao lado de Leonor, que começou a acariciá-la.
A moça chorava ao ver a criança.
O conde ficou comovido.
Chegou a comentar que se sentia como um deus, ao saber que poderia pôr uma vida no mundo. Comentou devia ser maravilhoso gerar um filho.
Nisto, a notícia se espalhou.
Quando Lourenço soube por Teobaldo – o dono da venda – que a moça havia dado a luz, ficou deveras triste.
Amargurado, chegou a comentar com Abílio que desejou que a criança não vingasse. Atormentado relatou que logo depois, arrependeu-se do pedido.
Triste, constatou que a gravidez confirmava a consumação do casamento.
Aparecida, ao saber disto, comentou que não havia mais nada a fazer.
Viriato por sua vez, não cabia em si de contente.
Em suas incursões pelas terras, em seus passeios de charrete, aproveitava para levar a criança para passear.
César era um bebê que contava com poucas semanas de vida.
Certo dia, levando a criança para a vila, Lourenço avistou-a, nos braços de Viriato.
Felicíssimo, o conde dizia a todos que aquele era o maior projeto de sua vida.
Lourenço ao ver que a criança se parecia com o conde, ficou acabrunhado.
Com isto, tentando disfarçar sua decepção, se afastou do recinto.
Atordoado, retornou a sua propriedade.
Leonor, ao ver que o conde não queria se afastar do filho, recomendou-lhe que deixasse a criança em casa.
Dizendo que César era ainda muito pequeno para ficar indo para tantos lugares, comentou que precisava cuidar, para que a criança não ficasse doente.
O conde dizia porém, que não havia problemas. E que César sendo seu herdeiro, deveria começar desde cedo a se interessar por seus bens.
Leonor argumentava dizendo que ainda era cedo para isto.
Viriato retrucava que nunca era cedo para tanto.
E assim, levava o bebê sempre que podia, em seus passeios.
Quanto a Leonor, o conde, enciumado com a presença de Lourenço, a impedia de ir a vila. Dizia-lhe sempre que ela não poderia ultrapassar os limites de sua propriedade.
Nervoso, homem comentava com Antero, que Lourenço estava sempre rondando sua felicidade.
Irritado dizia que ninguém iria lhe tirar Leonor.
Certa vez, chegou a arremessar um vaso contra a parede da sala de jantar.
Nisto, César crescia forte e saudável.
Começou a engatinhar.
Leonor ficava observando a criança.
Auxiliava César a ficar em pé. Passeava com criança pelos jardins do castelo.
Com o tempo, a criança passou a balbuciar algumas palavras.
Em questão de meses, o menino começou a andar.
Arteira, a criança quebrava vasos.
Certa vez, quase quebrou uma escultura que enfeitava um dos cômodos do castelo.
Não fosse a intervenção de Leonor, e o objeto teria ido ao chão.
Certo dia, Viriato ao levar o filho para passear no vilarejo, notou a presença de Lourenço no lugar.
Nervoso, segurou César nos braços e voltou para o castelo.
Ao adentrar o imóvel, Viriato segurando o bebê no colo, começou a gritar o nome de Leonor.
Nervosa, a moça correu ao encontro do conde.
- Condessa! Onde a senhora estava? – perguntou impaciente.
Leonor respondeu que estava em seu quarto.
- Mentira! Mentira! – gritou Viriato.
A condessa pediu ao marido, que parasse de gritar, pois estava assustando o bebê.
Antero, ao ouvir os berros, pediu para levar o menino para o quarto.
Viriato, deixou que o serviçal levasse a criança.
Com isto, ao se ver a sós com a esposa, Viriato segurou o braço da esposa. Pressionando-a contra a parede, ameaçou-lhe dizendo que se ela ousasse traí-lo, iria pagar com a vida. Disse também que Lourenço, bem como seus pais, sofreriam as consequências de seu ato.
Leonor parecia assustada.
Nervosa, chorou dizendo que não havia feito nada de errado.
Descontrolado, Viriato continuava a gritar. Dizendo que suas palavras eram mentirosas, pressionou seu pescoço.
Desesperada, Leonor implorou para que o conde a deixasse em paz. Dizendo que não o traíra, comentou que desde que casara com ele, nunca ultrapassou as fronteiras de sua propriedade, e que no momento, só vivia para seu filho.
Sentindo falta de ar, a condessa desmaiou.
Viriato, percebendo isto, amparou a esposa.
Aflito, ao vê-la desmaiada, o homem carregou-a até o quarto.
Ao chegar no aposento, deitou a mulher na cama.
Aproximou-se do rosto da moça. Ao perceber que ela respirava, sentiu-se aliviado.
Desta feita, o moço permaneceu no quarto.
Ficou observando a moça, esperando que ela acordasse.
Quando a moça finalmente despertou, Viriato aproximou-se.
Leonor começou a chorar.
Viriato chorando também, pedia-lhe desculpas.
Aflita, a condessa pediu para o marido se afastar.
O conde continuou a lhe pedir perdão.
Leonor, nervosa, gritou para que ele se afastasse.
Viriato surpreendeu-se com a reação da moça.
Resolveu se afastar.
Chorando, a moça implorou para ficar sozinha.
O conde tentou contestar o pedido, mas a condessa, argumentando que ao se casar com ele, satisfizera todas as suas vontades, argumentou que tinha direito de fazê-lo.
Sentindo-se culpado, Viriato concordou em deixá-la sozinha. Respondeu que iria dormir em outro quarto.
Assim, retirou-se do aposento.
Leonor então, ficou sozinha, envolta em pensamentos.
César dormia no aposento ao lado.
Nervosa, a moça pensou em fugir do castelo.
Ao lembrar-se da agressão sofrida, a mulher percebeu que corria perigo.
Atordoada a condessa sofreu ao perceber que fugindo, estaria deixando seu filho para trás.
Por um instante, pensou em levar a criança consigo.
Contudo, ao pensar nos perigos que corria, chegou a conclusão de que não poderia arriscar a vida do filho.
Em seus pensamentos, ficava a fazer conjecturas. Pensava em um plano para fugir daquele pesadelo.
Temendo que Viriato num acesso de fúria a matasse, Leonor começou a pensar em plano para fugir do castelo. Acreditava que estando segura em algum lugar, poderia mais tarde, buscar o filho.
Desta forma, nos dias que se seguiram, Leonor ocupou-se apenas do filho.
Dizendo-se indisposta, pediu ao marido para que continuasse a dormir em outro quarto.
Com isto, a condessa ficou a pensar em sua fuga.
Certa noite, ao notar que todos no castelo dormiam, aproveitou para se evadir.
Durante dias, ficou observando a criadagem e os habitos de Viriato.
Antes de fugir, despediu-se do filho, dizendo que voltaria para buscá-lo.
Cautelosa, arrumou trajes de camponês.
Desta forma, na noite planejada para a fuga, a moça tratou de vestir-se com o traje.
Depois de se despedir do filho, observou o corredor e caminhando pé ante pé, atingiu a escadaria, a qual desceu com todo o cuidado.
Seguiu então por corredores, até chegar a porta.
Leonor, ao perceber que alguém se aproximava, tratou logo de abrir a porta e saiu, caminhando na escuridão.
Caminhou até o estábulo.
Montou em um cavalo e seguiu para longe da propriedade de Viriato.
Cavalgou por toda a noite, até a manhã.
Visando não ser encontrada, a moça atravessou a propriedade de Lourenço.
Leonor temia ser novamente capturada.
A certa altura, resolveu abandonar o cavalo em uma região erma. Com isto, sinalizou para que o animal partisse. Em seguida passou a caminhar.
Caminhou durante toda a madrugada. Exausta, percebeu que precisava parar.
Com isto, encontrando um celeiro abandonado, Leonor jogou seu corpo cansado na palha, e adormeceu.
Horas depois, um camponês entrou no celeiro.
Ao perceber a presença de um estranho dormindo na palha, o homem correu para contar a Lourenço.
Intrigado, Lourenço dirigiu-se até o celeiro.
Ao lá chegar, se deparou com o rapaz dormindo na palha.
Irritado, Lourenço começou a chacoalhá-lo. Exigiu que o estranho se levantasse.
Ao ser abruptamente despertado, o estranho levantou-se.
Lourenço não reconheceu Leonor.
O dono das terras exigiu que o estranho se identificasse.
Assustada, Leonor não conseguia pronunciar qualquer palavra.
Lourenço, ao perceber que o estranho não se manifestava, ameaçou retê-lo em sua propriedade. Dizendo que não deixaria partir sem antes se identificar, ameaçou aprisioná-lo.
Leonor, tentando disfarçar a voz, pediu para que ele não fizesse isto.
Tentou inventar uma história de que havia se perdido durante sua cavalgada, mas não conseguiu convencer Lourenço.
Nervoso, Lourenço disse que havia sido enganado por muito tempo e que não estava disposto a aceitar qualquer desculpa.
Desta forma, deu ordens para que seus criados levassem o estranho para o porão da casa.
Ao ouvir a ordem de Lourenço, Leonor tentou fugir, mas o homem, percebendo seu intento, segurou seu braço.
Sem alternativa, só restou a ela, ser levada até o lugar, onde foi trancada.
Enquanto isto, no castelo de Viriato, os serviçais estavam todos ouvindo os berros, a indignação do conde.
O homem, ao ser alertado por Antero que a moça se evadira, começou a gritar e a exigir que seus criados a procurassem por toda a região.
Revoltado, exigiu que seus homens procurassem sua mulher nas terras de Lourenço.
Trêmulo de ódio, não se cansava de dizer que Lourenço havia auxiliado Leonor a fugir. Furioso afirmou, que se Leonor e Lourenço estivessem juntos, pagariam por isto.
Nisto, os homens de Viriato foram bater na porta da casa de Lourenço.
Exigiam entrar na propriedade e vasculhar todos os cômodos do imóvel.
Lourenço, ao ouvir as exigências dos homens, instou-os para que lhe explicassem o por quê da exigência. Afirmou que somente autorizaria a entrada dos homens, mediante explicações convincentes.
Nervosos, os homens relataram que ele não poderia se opor as ordens de Viriato. Disseram então, que Leonor havia sumido e que o conde suspeitava que a moça estivesse em suas terras.
Ao ouvir isto, Lourenço retrucou que Leonor não estava ali e que se eles quisessem vistoriar o imóvel, poderiam vasculhá-lo, desde que não atrapalhassem os afazeres dos criados.
Com efeito, os homens adentraram o imóvel e observaram todos os cômodos do imóvel.
Só não vasculharam o sótão.
Obra da família de Cícero, este cômodo da residência só era acessível por uma passagem, que poucos criados conheciam.
E assim, os homens não perceberam nenhum sinal de Leonor.
De mãos vazias se retiraram do imóvel.
Para desespero de Viriato, que continuava a desconfiar de Lourenço, mas não tinha como ter certeza de que Leonor fora ao encontro do moço.
Aflito, ficava a se perguntar onde a mulher estava.
Nisto, Lourenço dirigiu-se a vila.
No armazém, descobriu que a história envolvendo o sumiço de Leonor, havia se espalhado. Percebeu que Viriato estava procurando a moça feito um louco, e que semanas antes a havia agredido, quase a matando por estrangulamento.
Ao ouvir isto, o moço ficou chocado.
Teobaldo, chegou a perguntar-lhe onde estava Leonor.
Irritado, Lourenço retrucou:
- Como eu poderia saber?
Desta forma, terminou de beber seu vinho e partiu.
Quem circulava pela vila, pode perceber o homem caminhando e adquirindo produtos, tecidos, sapatos, negociando alguns produtos plantados em suas terras.
Ao vê-lo, diziam que ele não parecia se importar com o sumiço de Leonor, mas que precisava tomar cuidado com Viriato.
Mais tarde o moço retornou a suas terras.
Já tarde da noite, recordou-se do prisioneiro que estranhamente adentrara suas terras vindo a adormecer no feno.
Nisto o homem pegou alguns alimentos na cozinha, arrumou uma cesta e colocou tudo dentro.
Em seguida, se encaminhou ao porão, atravessou a passagem e foi até o local onde o estranho se encontrava.
Segurando um castiçal, percebeu que o estranho dormia.
Ao notar isto, deixou o castiçal no chão, a cesta também, e encaminhou-se na direção em que o mesmo dormia.
Ansioso, Lourenço tentou conter até a respiração. Isto por que, queria se aproximar do rapaz sem que ele percebesse, e assim quem sabe, descobrir de quem se tratava.
Leonor contudo, percebeu a aproximação.
Desta forma, levantou-se sobressaltada dirigindo-se ao lado oposto em que Lourenço se encontrava.
Lourenço segurou novamente o castiçal direcionando a luz para o rosto de Leonor, que tentou encobri-lo.
O homem perguntou-lhe:
- Eu te conheço? Mais cedo o teu rosto me pareceu tão familiar!
Leonor permaneceu calada.
Lourenço insistiu:
- De onde vens? Eu exijo uma resposta!
Leonor começou a guaguejar. Percebendo a aproximação de Lourenço, disse que realmente havia se perdido e que precisava continuar sua cavalgada até encontrar sua casa.
Nisto Lourenço perguntou-lhe onde morava e onde estava seu cavalo.
Leonor gaguejou.
Dizendo que havia perdido seu animal, pediu licença para Lourenço, pois precisava encontrar seu cavalo.
Intrigado, o homem comentou que conhecia todos que moravam na vila, camponeses e pessoas que habitavam suas terras. Argumentou que nunca o tinha visto por ali.
Leonor respondeu que não morava ali e tinha chegado naquelas paragens por engano. Argumentou que se ele o libertasse, nunca mais o veria em sua vida.
Lourenço resolveu se aproximar. Perguntou seu nome.
Nervosa, Leonor respondeu que seu nome era Leonardo.
Lourenço segurando seu braço, respondeu que não acreditava em uma palavra que o estranho lhe dissera. Irritado, respondeu que estava cansado de ser enganado.
Travou-se então uma disputa, na qual Leonor ficou em desvantagem.
Foi questão de minutos para que Lourenço descobrisse que o estranho não era ninguém menos do que Leonor.
- Você! – respondeu Lourenço, surpreso.
Leonor tentando esconder os cabelos e o rosto, se afastou de Lourenço.
Com os olhos cheios d’água, Lourenço perguntou:
- Por que você fez isto comigo? Por que a senhora se casou com Viriato? Por que, se agora foges dele?
Leonor tinha a cabeça baixa. Não ousava responder as perguntas.
Lourenço aproximou-se da moça e chacoalhando-a, exigiu que ela lhe desse uma explicação.
Leonor amuada, disse-lhe que não havia nada a ser dito.
O homem contudo, era insistente.
Leonor respondeu-lhe que não havia mais como conviver com Viriato, e que estava tentando encontrar uma forma para ficar bem longe de sua presença.
Lourenço ficou intrigado. Dizendo que não a entendia, comentou que se ela havia optado por se casar com o conde, deveria estar feliz por haver feito um casamento de conveniência.
Leonor fitou-o desolada.
O moço continuou a falar. Recriminou-a por fugir do marido. Dizendo que se ela havia escolhido Viriato como marido, deveria aceitá-lo com todos os seus defeitos.
Leonor olhava para o chão.
Lourenço sorriu vitorioso. Argumentou que se ela nada dizia, era por que sabia que estava errada.
Ao ouvir estas palavras, a moça respondeu:
- Antes eu estivesse sendo injusta. Mas o fato é que os homens é que foram injustos comigo. Viriato por não confiar em minha palavra e aceitar o sacrifício que fiz. O senhor por não entender o meu gesto... Só eu sei o quanto venho suportando até agora.
Nisto Leonor escondeu o rosto entre os braços, abaixando a cabeça.
Lourenço ouviu os soluços da mulher.
Sem compreender o que ela queria dizer com aquelas palavras, insistiu para ela se explicasse melhor.
Leonor levantou a cabeça. O rosto estava molhado pelas lágrimas vertidas.
Lourenço ao ver seu semblante, perguntou-lhe:
- Então não és feliz? Não foi por isto que se casaste?
Leonor respondeu que tentou ser feliz com Viriato, mas que sua natureza violenta não possibilitava isto. Comentou que durante os dois anos e meio em que vivera a seu lado, padecera horrivelmente.
Revelou que sentia medo de Viriato. Medo e aversão.
Ao ouvir isto, Lourenço questionou o fato dela haver se casado com ele.
A condessa respondeu-lhe que se assim não o fizesse, Viriato atentaria contra a vida de seus pais.
Lourenço retrucou dizendo que se aquela história era verdadeira, ela poderia ter recusado o matrimônio. Argumentou que ele também tinha poder e que se fosse o caso, poderia enfrentar Viriato e proteger a ela e sua família.
- E criar uma guerra também. – respondeu uma sofrida Leonor – Ademais, quem poderia garantir que o senhor se sagraria vencedor, e que ao final da luta, eu não teria mesmo que me casar com ele? Viriato é muito mais poderoso que qualquer nobre da região. Mais perigoso e perverso também. Ou o senhor acha que se tivesse tudo bem, eu me arriscaria fugindo e deixando César para trás? - finalizou Leonor, chorando.
Lourenço penalizado, perguntou se Viriato tentou matá-la.
Leonor respondeu que Viriato apertou seu pescoço, e por pouco não a matou.
Furioso, Lourenço perguntou se ele costumava agredi-la constantemente.
Leonor contou que o conde só lhe agredia quando era dominado por seu ciúme. Dizendo que não era fácil a convivência, comentou que quando o homem ficava enfurecido pelo ciúme, não havia o que dissesse para acalmá-lo.
- Covarde! – disse Lourenço, furioso.
Nisto Leonor contou-lhe que aquela não fora a primeira agressão. Revelou que ainda grávida, Viriato inquiriu-a sobre a presença de Lourenço em suas terras. Cismou que ela havia se encontrado com ele. E por conta disto sacudiu-a violentamente.
Disse ainda, que ao ser seqüestrada por ele, precisou se desvencilhar de sua presença incomoda.
Neste momento, sentindo mal estar, interrompeu o relato.
Lourenço estava tomado de ódio.
Finalmente havia percebido que Viriato engendrara o seqüestro, que Leonor sofrera o diabo em suas mãos, e que se casara com ele, por sentir que não havia outra solução. Amedrontada que estava, Leonor era uma presa fácil nas mãos do conde.
Furioso, Lourenço perguntou-lhe se Viriato fora violento com ela em seu cárcere. Tremendo de ódio, perguntou que ele a havia violado.
Leonor envergonhou-se.
Lourenço, percebendo o constrangimento, implorou para que ela lhe contasse toda a verdade. Argumentou que precisava entender tudo o que se passara até então.
Leonor chorando, argumentou que não gostava de se lembrar daqueles momentos.
O moço, segurando seus braços, argumentou que para ele também era difícil ouvir aquele relato, mas que precisava entender de uma vez por todas, a verdade dos fatos.
A condessa, enchendo-se de coragem, revelou que Viriato tentou violentá-la, mas ela resistiu a todas as investidas do homem. Relatou que assim que descobriu uma oportunidade de escapar, fugiu.
Nisto Leonor relatou detalhes da fuga. Contou-lhe novamente de sua aflição ao vê-lo ferido.
A condessa lhe contou sobre seu casamento. Das ameaças de Viriato, de seu sofrimento ao lado dele.
Revelou que havia escolhido Lourenço para ser seu noivo, e que o amava muito. Por isto implorou a Viriato para ter um último encontro com ele.
Lourenço lembrou-se da noite que passaram juntos. Percebeu que Leonor havia se arriscado por tal gesto.
Neste momento, finalmente descobriu o quanto a moça o amava.
Perplexo, disse:
- Você fizera tudo isto, por amor a sua família e por amor a mim!
Leonor continuou seu relato. Disse que casar-se com Viriato para garantir a vida de todos lhe fora deveras penoso. Contou o quanto era difícil conviver com um homem instável, lascivo, lúbrico, ciumento.
Revelou que Viriato brigou algumas vezes com ela, por ciúme de Lourenço.
Relatou que mais difícil que lidar com o ciúme do conde, fora a noite de núpcias, e ser obrigada a pagar o débito conjugal com um homem pelo qual sentia nojo.
Leonor comentou que Viriato desejava que ela lhe desse um herdeiro varão.
Trêmulo, Lourenço, pegou a cesta com comida e partiu-a em pedaços.
Furioso, caminhava de um lado para o outro.
Em dado momento, com os olhos cheios d’água, aproximou-se de Leonor, que soluçava.
Tímido abaixou-se. Abraçou-a.
Juntos ficaram. Choraram.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 1 de julho de 2021
CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 5
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