Mais tarde, Ana conversando reservadamente com sua tia Florinda, comentou que iria registrar a criança como se fosse seu filho.
A mulher perguntou se Cláudia tinha conhecimento de seus planos.
Ana disse que sim. Que a moça havia questionado o fato, mas diante das circunstâncias concordou que isto era o melhor a ser feito.
Florinda respondeu que não iria se intrometer.
Mas chegou a perguntar se o melhor não seria deixar a moça assumir a responsabilidade.
Ana retrucou dizendo que o melhor seria a moça cuidar de seu futuro.
Argumentou que ainda tinha idade para ter filhos, e que ninguém iria se chocar com o fato de ter um filho na madureza.
Florinda concordou.
De fato, Ana, do alto de seus quarenta e três anos, poderia perfeitamente ser a mãe da criança.
Animada, Florinda comentou que montar a casa, de acordo com seu gosto, custou muito dinheiro, mas valeu a pena.
Mostrou os banheiros dos quartos de hóspedes, com suas várias camas. A sua suíte, com closet e varanda.
Ana ficou admirada com o capricho da decoração dos ambientes.
Elogiou o bom gosto da anfitriã. Disse que os quartos de hóspedes não ficaram impessoais.
Ana comentou que na casa antiga, cada um de seus filhos tinha um quarto.
Florinda argumentou que todos estavam casados, e que não havia mais necessidade de terem quartos na casa, podendo ficar perfeitamente instalados no quarto de hóspedes.
No andar inferior, a ampla cozinha, com forno, churrasqueira e fogão a lenha, duas mesas de madeira maciça, prateleiras de alvenaria, fogão a gás. Sala de jantar com uma imensa mesa com capacidade para trinta convidados, ampla sala, área de serviço, lavabos, quarto de despejo, e um pequeno ateliê, e escritório. Todos os ambientes avarandados, com vista para o belo verde da chácara.
Árvores circundavam a propriedade. Grandes e frondosas.
Banquinhos de praça, ornamentavam o jardim em frente à casa.
No jardim, havia um pequeno lago, com ponte e um coreto, além de uma pequena fonte que ficava iluminada à noite.
Cláudia ficou encantada.
Dizia que não havia nada disto antes.
A horta estava mais farta e mais cuidada.
Os cães ficavam em um pequeno canil.
O gado tinha coxo para beber água, pasto demarcado, e um abrigo para dormir. Assim como as aves.
Florinda comentou que um veterinário visitava quinzenalmente o lugar.
Ao fundo havia uma capela. Florinda disse que ela foi reconstruída e ampliada.
Próximo dali, havia duas casas construídas para os caseiros que ajudavam a cuidar da propriedade.
Florinda pediu licença as mulheres, e mostrou os imóveis para as convidadas.
Casas com quatro quartos amplos, sendo um deles suíte, dois banheiros sociais, ampla sala de estar, sala de jantar, cozinha com forno e fogão à lenha, fogão a gás, uma grande mesa, e armários de alvenaria. Os utensílios de cozinha ficavam pendurados em uma das cozinhas. Na outra residência tudo era cuidadosamente guardado em gavetas e armários.
A área de serviço, ficava do lado de fora, e as roupas eram estendidas em varais que ficavam no fundo das casas.
Na casa grande, havia uma ampla área para estender as roupas. O ambiente, com portas de correr, era aberto quando necessário.
Ana comentou sorrindo que a tia Florinda pensava em tudo.
Florinda agradeceu a gentileza das funcionárias que permitiram-lhe mostrar as casas e seguiu para o pomar.
Mostrou orgulhosa as árvores.
Mostrou as flores que compunham o jardim, com lírios de diversas cores, maciços de beri, hortências, hibiscos, primaveras coloridas, azaleias, lágrimas de Cristo e corações sangrentos, camarões, dipladênias, hipoméias, gardênias, jasmins, damas-da-noite, ixoras, camélias, ipês, quaresmeiras, lantanas, bromélias, orquídeas, rosas de diversas cores, entre outras espécies.
Mostrou uma estufa que havia construído para cultivar algumas espécies de flores, além de frutas e verduras mais delicadas.
Florinda e Licínio, seu marido, comentaram que diversificaram as culturas e as criações.
Mostraram suas plantações.
Licínio comentou que algumas terras não foram cultivadas, a fim de se preservar a terra, e poder fazer a famigerada rotação de cultura.
Empolgado, o homem explicou, que a terra não podia ser esgotada ou não produziria o que esperavam. Assim, deixavam a terra sem cultivo por algum tempo, e assim, a mesma se recuperava do desgaste a que fora submetida ao ser cultivada. Descansada, depois voltava a ser cultivada, e assim, outra terra passava pelo processo. Livre de culturas, se recuperava, para voltar a ser cultivada.
Animado o homem comentou que as terras eram irrigadas por gotejamento.
Mostrou um poço.
Relatou que na propriedade havia uma nascente e demonstrou preocupação em preservar algumas espécies nativas.
Quanto mais passeavam pela propriedade, mais as mulheres se encantavam.
De fato estava tudo mudado.
Florinda e Licínio haviam se profissionalizado. Comentaram que buscaram assessorias.
Disseram que dois dos filhos eram engenheiros agrônomos.
Mencionou que possuíam netos que abraçaram a mesma profissão.
Cláudia lembrou-se das brincadeiras com os primos, netos de Florinda.
No dia seguinte a moça foi a consulta marcada pela tia, acompanhada de Florinda, sua mãe e Licínio.
Um tanto constrangida e a contragosto.
Ao perceber que todos já sabiam de sua gravidez, a moça caiu em prantos.
Foi Florinda quem abraçou a sobrinha e tratou de consolá-la.
Disse que ela não devia se envergonhar. Pois gerar uma vida, era uma das mais nobres missões que uma mulher poderia desempenhar. Contou que não a censurava pelo ocorrido. Comentou que o rapaz que fizera isto com ela, este sim era um canalha.
Florinda pediu a Ester, que providenciasse um copo de água com açúcar para a moça.
Cláudia bebeu a água.
Florinda aconselhou-a descansar, pois o dia seguinte seria longo.
Cláudia contudo, não conseguiu dormir direito.
Acordou sonolenta.
Estava um pouco abatida.
Ana insistiu com a filha para comesse um pouco.
Na mesa farta da cozinha, havia frutas diversas: mamão, melão, melancia, salada com frutas diversas, morango, queijo feito no sítio, muçarela, mortadela, pão caseiro, geleia de laranja e de morango caseiras, doce de leite caseiro, manteiga, croissant - receita de Ester. Além, de leite fresco, sucos de laranja, limão, e vitaminas feitas de morango e coco, também caseiros, além de pães feitos na propriedade.
Florinda dizia que montar um lauto café da manhã daqueles dava um trabalhão, mas que o esforço compensava quando via todos comendo as iguarias servidas com satisfação.
Ana olhou para a filha e comentou que seria uma desfeita ela não comer nada do que lhe era oferecido.
Cláudia, então se serviu da salada de frutas e de uma vitamina de morango.
Depois, seguiram para a cidade.
No consultório, a moça foi devidamente examinada.
Ana mostrou os exames realizados pela filha em São Paulo.
O médico observou os exames, mas pediu mais exames.
Disse que avaliando o quadro geral, o médico respondeu que tudo parecia estar bem.
Cláudia e Ana agendaram os exames.
Os dias que se seguiram, Cláudia realizou vários exames.
Na chácara a moça aproveitava para passear pelo lugar.
Colhia frutas no pé.
Ajudava a colher frutas e condimentos, temperos no pomar.
Aprendeu a ordenhar as vacas, a recolher os ovos das galinhas.
Adorava observar os pavões, os patos, os gansos e os pintinhos.
Ana perguntava a Florinda se não era perigoso ela ficar tão perto dos animais.
Florinda disse que os gansos eram para garantir a segurança da propriedade, e que Cláudia não deveria ficar muito perto deles, pois eram agressivos.
Ana não gostou nada quando a filha tentou subir numa árvore para colher uma fruta.
Comentou que ela estava abusando da sorte.
A moça também aproveitava para tomar banho de piscina.
Na chácara havia três cavalos e uma cocheira.
Ana proibiu a filha de andar a cavalo.
Fato este que deixou Cláudia contrariada.
Quando chegou o carnaval, Florinda não cabia em si de contente.
Cercada dos três filhos e netos, além de alguns agregados, a casa estava repleta.
Cafés da manhã mais elaborados, com creme de mamão, abacate, torradas, geleias, sucos e vitaminas, além de pães, queijos, manteiga, croissant’s e pães doces, leite. Tudo produzido na chácara.
Nestes dias, até os filhos e maridos ajudavam nas receitas e preparativos.
Flores e arranjos eram feitos para deixar a mesa ainda mais enfeitada.
Os homens ajudavam na lida, em cuidar da horta, na segurança.
A chácara era toda circundada por uma cerca, repleta de primaveras de diversas cores e hibiscos simples e dobrados. Tudo muito lindo.
Pássaros cantavam nas janelas dos quartos.
Damas da noite perfumavam o lar.
Reunidos, a família jogava cartas.
Os rapazes jogavam bola em um gramado.
Florinda havia instalado traves no local, e os moços jogavam bola.
Na piscina, às vezes era instalada uma rede, e se jogava polo.
Florinda mencionava o interesse em montar um salão de jogos em um quarto pavimento a ser construído, além de construído um parquinho para os bisnetos, e um mini campo de golfe.
Ana comentou que ela não parava um instante sequer.
Licínio comentou que era por isto que estavam vivos. Dizia que viver é mover, que a vida é mudança e movimento.
Ana concordou.
Nos dias na chácara, quando não estava no centro da cidade, realizando exames, Cláudia aproveitava para curtir o lugar, passeava pelo sítio chegando a ir até a porteira. Visitava o pomar, o jardim, a horta, as plantações, onde havia um espantalho, o lago, o pasto, o local onde ficavam as criações.
Aproveitava para ler bastante, estudava, mesmo estando longe da faculdade. Lia livros de literatura. Assistia filmes na tevê e com o vídeo cassete.
Florinda elogiava a dedicação da sobrinha, dizia que ela era muito estudiosa.
Mencionou que ela seguia todas as recomendações médicas. Ajudava nas lidas da chácara. Chegou até a auxiliar na cozinha, na arrumação da casa.
Ana também lavou e guardou muita louça, ajudou a pôr a mesa, e até preparou algumas refeições.
Cafés da manhã, almoço, lanches da tarde com vários chás, pães, geleias, torradas, frutas, sucos e vitaminas, além de cereais, jantares. Tudo era muito farto.
A cristaleira na sala de jantar, com suas louças delicadas, que eram utilizadas em ocasiões solenes.
E assim, alguns jantares e almoços eram preparados com todo o requinte.
As pessoas vestiam suas melhores roupas, riam, se divertiam, conversavam, debatiam, falavam bobagens.
Alguns bebiam pouco além da conta.
Florinda, se divertia com estas reuniões.
Até baile de carnaval foi organizado, com concurso de fantasias.
Ana providenciou uma fantasia para a filha. Até mascara tinha. Cabelos presos enfeitados de mini rosas em botão, colhidas do jardim, um tecido amarrado no corpo, imitando os trajes gregos, pulseiras nos braços, acima dos cotovelos. E cinto dourado. Sandálias brancas.
Florinda ao ver a sobrinha neta, comentou que ela estava muito linda.
No baile, havia borboletas, com asas coloridas e saias de tule, sereias, rabo feito de renda, toda estilizada, piratas, malandros cariocas, princesas europeias, Peter Pan, Saci Pererê, Iara com corpo de pássaro. Aliás, havia umas três pessoas fantasiadas de pássaros, e uma de rosa.
No jardim, foram lançados confete e serpentina.
As pessoas dançavam, sambavam.
Quem deu o veredicto, foi Licínio, que apurou os votos.
E a vencedora foi a Iara, com seu corpo de mulher, e suas asas de pássaro, lembrando as mais belas lendas brasileiras.
A moça foi aplaudida por todos.
Ninguém se sentiu prejudicado com a escolha.
Cláudia se divertia com tudo, e se divertindo, se esquecia dos problemas.
Ana ficava feliz em ver a filha novamente animada.
Dizia se sentir aliviada. Comentou que há muito tempo não via a filha tão feliz.
Florinda ficou feliz com o comentário.
A família também aproveitou para curtir a bela piscina, e as crianças se esbaldaram com a piscina infantil, com os animais.
Cláudia brincava de boneca com as meninas, jogava bolinha de gude com os meninos.
Florinda, comentou que a moça levava muito jeito com crianças.
Mais tarde, os filhos, netos e agregados, aproveitaram para se despedir.
Carros e mais carros saíam da chácara.
Até que a casa ficou praticamente vazia de novo.
Florinda sentia um misto de alívio pelo dever cumprido, e saudades por não ver mais aquela confusão, o barulho das vozes, as gritarias, algazarras.
Enfim, deixou a confusão de sentimentos de lado, e tratou de organizar uma força tarefa para limpar a bagunça.
Florinda, Ana, Cláudio, Licínio, Ester, seus filhos, marido e demais caseiros, aproveitaram para fazer uma limpeza completa na casa.
Foram lavadas, muitas louças, roupas de cama, toalhas de banho, de mesa. A prataria foi polida, as panelas ariadas, os ambientes varridos, e limpos com um pano perfumado e úmido, as janelas foram limpas, os móveis também. Roupas lavadas e estendidas.
Tamanha a quantidade de roupa, foi preciso utilizar os varais externos.
Varais inteiros de roupas, brancas, coloridas.
Depois de secas, as roupas foram dobradas e passadas.
Tudo cuidadosamente guardado em gavetas perfumadas.
A casa brilhava de limpa, perfumada e organizada.
Florinda ficou satisfeita.
Era a dona da casa, mas não parava de trabalhar.
Levantava bem cedo e só parava no final do dia.
Ana admirava a tia. Dizia que a mulher era uma guerreira, a mente sempre trabalhando.
Na quarta-feira de cinzas, todos foram dormir muito tarde.
Cláudia, colocou uma camisola, puxou o lençol e deitou-se na cama.
Ficou pensando em como estariam as coisas na faculdade.
Mais tarde, Cláudia tomou conhecimento de que Letícia a procurou em busca de notícias preocupada com o seu sumiço.
Ana contou a filha, que as pessoas sentiam sua falta.
Ao saber disto, Cláudia se emocionou.
Resolveu escrever uma carta para a amiga.
Ana recomendou-lhe não contar sobre a gravidez.
Letícia recebeu a carta.
Nela Cláudia justificava sua ausência em razão de estar acompanhando a mãe em um tratamento de saúde.
Relatou que precisaria ficar um longo tempo afastada. Por fim, pediu para a amiga se cuidar, e desejou felicidades a ela e a Sandro.
Ao receber a carta, a moça respondeu a amiga.
Pediu mais informações sobre o estado de saúde de sua mãe, disse sentir saudades. Desejou melhoras a Ana e o seu mais pronto restabelecimento. Comentou que Lucindo perguntou por ela.
Quando a moça recebeu a carta, Ana quis logo saber das novidades.
Cláudia não leu a carta para a mãe, mas comentou que Letícia acreditou na história da doença.
Chateada, a moça comentou que não gostava de mentir.
Aborrecida, Ana advertiu-a:
- Cláudia, não comece!
A moça então se calou.
Com isto, mais consultas se seguiram, exames.
E o doutor elogiando o estado clínico da moça, dizendo que seria uma gravidez tranquila.
E assim foi.
Cláudia auxiliava nos afazeres domésticos.
Lia, estudava, tomava banhos de piscina.
Com o tempo a barriga começou a aparecer.
Ana, Cláudia e Florinda, foram as compras.
Quem dirigiu o carro não foi Licínio que acordara um pouco indisposto.
Mauro, um senhor de cerca de quarenta anos, conduzia o carro.
Procuraram lojas com roupas para grávida e roupas e objetos para compor o enxoval do bebê.
A esta altura, Cláudia já havia realizado sua primeira ultrassonografia, e descoberto que seria um menino.
Pensando no assunto, decidiu que o menino se chamaria Lúcio.
As mulheres ficaram o dia inteiro na rua.
Cláudia experimentou roupas em diversas lojas.
Como fosse uma grávida esbelta ficou um longo tempo usando suas roupas, sem precisar compras roupas novas.
Com isto, a moça adquiriu três calças com elástico, com corte clássico, duas saias, dez batas, quatro vestidos.
Ana empolgada, comprou vários macacões em diversos tamanhos, banheira, carrinho, chocalhos, muitas fraldas de pano, carrinho, babadores, mamadeiras, toalhas, cobertores, berço, alguns brinquedos, calças plásticas, shampoo, sabonetes, pomadas, calças, blusinhas, casaquinhos, toquinhas, meias, sapatinhos de tricô, e de couro.
Cláudia perguntou a mãe se ela não estava exagerando.
Ana disse que estava revivendo o nascimento da filha, nesta nova criança e que gostaria que tudo fosse muito especial.
Almoçaram em um restaurante da cidade.
E ao final da tarde, estavam repletas de sacolas.
Os braços de Ana, Cláudia, Florinda e Mauro foram poucos para tantas compras.
Chegaram exaustas na chácara.
Cláudia passou o resto do dia organizando as compras.
Isto depois de um jantar, com frango assado e batatas, suco de laranja e manjar com calda de ameixa como sobremesa.
Ana separou o que precisava ser lavado.
Recomendou que as roupinhas do bebê fossem lavadas.
Cláudia sugeriu que o menino se chamasse Lúcio.
Ana comentou que Lúcio era um bonito nome.
Ao ver o entusiasmo da mãe, a moça se entristeceu.
Ana ao perceber isto, comentou que ela não estava perdendo um filho, e sim ganhando um irmão. Disse que estava fazendo isto para protegê-la e para que pudesse continuar com seus estudos, sem nenhum prejuízo, garantindo seu futuro.
Argumentou que ela veria a criança todos os dias, e que poderia ajudar na criação de Lúcio. Só não poderia contar que era sua mãe.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
quarta-feira, 21 de julho de 2021
DELICADO - CAPÍTULO 6
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