Isabela ficou encantada com a história.
A beleza de história, assim como sua crueza, a haviam tocado profundamente.
Admirada, comentou que não poderia imaginar o quanto uma pessoa poderia impingir de sofrimento a uma outra pessoa.
Triste, comentou que a história a encantara, mas também a incomodara.
Relatou que em dadas passagens, sentia como se aquilo fosse contra ela.
No que Antonio relatou:
- E você não tem a menor idéia do que isto quer dizer?
Atônita, Isabela comentou que se sentia como se fosse a personagem da história.
Relatou que não gostava de Viriato, em que pese sentir pena dele.
Curioso, Antonio perguntou o que ela sentia a respeito de Lourenço.
Isabela comentou que sentia muito carinho por ele. Acreditava que ele merecia o amor de Leonor.
A moça comentou então, que se estivesse no lugar de Leonor não aguentaria tanto sofrimento. Argumentou que morreria de tristeza.
Antonio por sua vez, respondeu que ela era mais forte do que pensava. Dizendo que ela havia passado por situações muito difíceis em sua existência anterior, relatou que sabia de sua história.
Isabela ficou surpresa.
Nisto o homem contou que havia visto uma criança ser deixada na porta de uma casa por um estranho.
Antonio relatou que o homem que havia deixado a criança, estava a cavalo. E assim que percebeu rumores próximos a porta, saiu a galope.
E assim, dois moços se depararam com um cesto, no qual havia uma criança dentro.
O bebê dormia.
Os homens por sua vez, ficaram espantados com a descoberta.
Ao verem um estranho a galope, concluiram que esta era a pessoa que havia deixado a criança na frente da casa. Mas ao cogitarem segui-lo, o homem sumiu como por mágica.
Com isto, os irmãos resolveram criar a criança.
Viviam brigando para saber quem cuidaria da criança. Quem lhe alimentaria, trocaria suas roupas, lhe daria banho.
Intrigados, perguntavam-se como alguém podia ter coragem de abandonar tão bela criança.
Os irmãos educaram a menina.
Nisto a criança cresceu, se tornando uma moça.
Ao ouvir isto, Isabela chorou, reconhecendo que aquela era sua história.
Surpresa, perguntou como ele poderia saber daquilo.
Antonio respondeu que a terapia não dizia respeito apenas a fatos ocorridos em outras vidas, mas também, a coisas não inteiramente resolvidas no presente.
Comentou que em outra encarnação, ela havia sido uma dançarina.
Descreveu sua vida, relatando que todas as noites dançava para os homens, os quais lhe davam algum dinheiro.
Alguns mais ousados, a assediavam com propostas para passar a noite com eles.
No que a moça se recusava. Seu nome era Esmeralda.
Nisto, certa noite surgiu um homem que acompanhou avidamente seus passos, sua dança, seu gestual.
Hipnotizado com sua dança, o homem a seguiu ao sair do salão, e ao vê-la chegando em sua humilde morada, ofereceu-lhe muito dinheiro para passar a noite com ele.
Sérgio – era seu nome.
A moça recusou-se.
Nisto o homem ofereceu jóias.
Nova recusa.
Nervoso por se sentir contrariado, o homem perguntou-lhe o que desejava para atender ao seu pedido.
A moça relatou então que ele deveria encontrar uma boa mulher e se casar com ela.
O homem, ao ouvir as palavras de desdém, não gostou, e segurando a moça pelo braço, exigiu que ela atendesse ao seu pedido.
A moça, percebendo que o rapaz não estava brincando, comentou que ele poderia lhe ajudar a quitar um débito que possuía com os vendedores da região.
Ao ouvir isto, o moço respondeu que já havia lhe oferecido jóias.
No que ela respondeu que não bastava oferecer-lhes dinheiro. Também teria que ser confirmado o pagamento da dívida para que não sofresse novas cobranças.
E assim o moço foi ter com os homens.
Em alguns casos, teve que empregar a força para conseguir a quitação dos débitos.
A seguir, a moça exigiu jóias.
O homem, generoso, deu tudo o que possuía para moça.
A mulher porém, não atendeu aos seus caprichos.
Fato este que o deixou furioso e sequioso de vingança.
A moça, ao se ver com tantas jóias, resolveu fugir da região.
Isto porém, não foi o bastante para que depois de algum tempo, o homem a encontrasse rica e despreocupada.
Esmeralda havia encontrado uma forma de aumentar seu ganho.
Casou com um homem muito rico e poderoso.
Furioso, Sérgio, ao vê-la casada com um homem rico, encolerizou-se e cheio de ciúmes, matou-a a apunhaladas.
O rapaz ao ver a moça desfalecida no chão, encheu-se de tristeza.
Correu em direção ao corpo e chorou sobre ele.
Dias depois, o moço foi encontrado morto, deitado a uma cama, sem nenhum sinal de violência.
Ao término da história, Isabela pôs-se a chorar.
Antonio – o terapeuta –, relatou então, que a história de Leonor não era apenas uma bonita narrativa.
Era algo muito vívido, e nada mais era do que um resgate, por faltas anteriores.
Isabela porém, recusava-se a acreditar.
Dizendo que não havia sentido naquilo, comentou que sua vida ia muito bem e que não havia motivos para acreditar em tamanha bobagem.
No que Antonio retrucou:
- Pois bem. Se não havia motivos para isto, por que procurar a minha ajuda?
Isabela tencionou sair da sala, mas Antonio a reteve.
Dizendo que boa parte de seu sofrimento havia acabado, comentou que muito embora isto fosse uma realidade, a moça ainda iria encontrar o moço, mais uma última vez.
Ao ouvir isto, a moça chorou.
Dizendo que se a convivência com esta pessoa era tão ruim, não podia entender por que era sempre obrigada a encontrá-lo.
Antonio ao perceber seu tormento, comentou que agora o encontro seria mais calmo, e que eles finalmente se entenderiam.
Nisto, a moça saiu da sala.
Aturdida, Isabela ficou caminhando e pensando em tudo o que vira e ouvira nas últimas horas.
Finalmente sentou-se em um banco de praça. Começou a chorar.
Um rapaz que passava pelo lugar, perguntou-lhe se precisava de ajuda.
Isabela respondeu que não.
Nisto, voltou para casa, onde os dois irmãos que a criaram, a aguardavam ansiosos.
Um parente muito distante de ambos, havia chegado.
Era jovem, regulando a mesma idade da moça.
Isabela ficou intrigada ao perceber que eles tinham muito em comum.
Logo ficaram amigos.
Quando descobriu que o novo amigo possuía um caráter enérgico, lembrou-se das palavras de Antonio.
Isabela porém, achando tudo aquilo muito absurdo, deixou o assunto de lado.
Nunca contudo, deixou-se de admirar com aquilo que considerava uma coincidência. E muitas delas ocorreram, depois de conhecer o moço.
Mas este é um outro assunto...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 1 de julho de 2021
CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 8
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