Poesias

quinta-feira, 1 de julho de 2021

CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 1

SÉCULO XV

Esta história, tem muitas facetas.
Trata-se da história de um conde, homem poderoso, rude.
Afeito as coisas materiais, orgias, luxúria, lascivo e sensual.
Sem o menor pudor, adorava cobiçar as mulheres, solteiras ou do próximo.
Adorava festas.
Foi exatamente em destas festas, que Viriato – o conde, conheceu Leonor, uma jovem que estava acompanhada de seu noivo.
A jovem bela, atraiu logo a atenção do homem cúpido.
Viriato se encantou por aquela moça que dançava no salão, ao lado de seu noivo, Lourenço.
Lourenço era o conselheiro e amigo do conde.
Viriato, porém, só tinha olhos para a moça.
Interessado na moça, o conde começou perguntando aos convidados da festa, quem era aquela jovem que dançava daquele jeito tão alegre.
Foi então que ele descobriu que a moça era noiva de seu melhor amigo, Lourenço.
Tal fato, no entanto, não produziu qualquer mudança em seu interesse.
Tanto é, que assim que assim que Lourenço se afastou da moça, Viriato se aproximou de Leonor.
Tentando se mostrar gentil, comentou que ela dançava muito bem.
Leonor, agradeceu o elogio.
Viriato por sua vez, observando a moça mais de perto, percebeu o quanto era bonita.
Visando mostrar-se galante, o homem comentou que sua dança só não era mais bela do que ela própria.
Leonor ficou sem jeito.
Viriato então, tentando encontrar uma deixa para alongar a conversa, respondeu que ela não precisava ficar sem jeito. Argumentou que toda a beleza deve ser exaltada, sem qualquer pudor. Disse que sua dança evocava muita beleza e sensualidade.
Viriato então, tentou segurar o rosto da moça.
Intento interrompido por Lourenço, que procurava a moça, e que a vê-la conversando com seu amigo Viriato, tratou logo de ir ao seu encontro.
Lourenço por sua vez, segurou a moça pelo braço. Dizendo que estava muito feliz com o compromisso firmado com Leonor, comentou que estava ansioso pela celebração do himeneu.
Viriato demonstrou interesse pela conversa do amigo.
E assim, enquanto Lourenço exibia toda sua alegria para seu amigo, Viriato não se cansava de dirigir olhares para Leonor.
A moça, percebendo isto, começou a ficar incomodada.
Lourenço por sua vez, nada percebia.
A certa altura, animados pela bebida, alguns convidados chamaram o casal para dançar.
Viriato ficou só, acompanhando os movimentos da moça de longe.
Enfeitiçado, observava a moça interessadamente.
Leonor e Lourenço tornaram a dançar juntos.
Viriato chegou a comentar com um conviva, que Leonor mais parecia uma princesa.

Lourenço e Leonor não poderiam imaginar o quanto suas vidas seriam transformadas por aquele encontro.
Viriato, aproveitando a festa, pediu a Viriato para dançar com sua noiva.
Leonor, incomodada com o jeito com que o homem a olhava, tentou recusar o pedido, mas Lourenço, dizendo que não havia problemas em aceitar o convite, deixou-a sem alternativas.
E assim, Leonor se viu compelida a dançar com o moço.
Viriato entre um gesto e outro da dança, aproveitou para parabenizá-la pelo enlace. Comentou que ela era uma das noivas mais belas que ele já havia visto.
A moça sem jeito, agradeceu o elogio.
A dança continuou.
Viriato continuou a olhá-la com olhos cúpidos.
Lourenço conversava com alguns convivas e não percebeu as intenções do amigo.
Ao término da dança, Leonor despediu-se de Viriato, mas o moço, dizendo que precisava falar-lhe algo, segurou seu braço.
Nisto, outra música foi tocada, e Viriato, pediu que a moça o acompanhasse em mais uma dança.
Leonor então, continuou a dançar com o conde.
Ao término da dança, o moço lhe disse baixinho, para encontrá-lo em alguns minutos. Comentou que reteria Lourenço, solicitando que lhe informasse novos lugares para vender os produtos agrícolas produzidos, entre outros assuntos de interesse.
Leonor tratou logo de se afastar do conde.
A moça então, caminhou em direção ao noivo, mas Viriato, percebendo isto, tratou logo de puxar o amigo para um canto do castelo. Dizendo que precisavam conversar sobre assuntos do interesse de ambos, argumentou que precisavam descobrir novos locais onde pudessem vender os excedentes agrícolas produzidos em suas terras.
Lourenço, percebendo a ansiedade do amigo, perguntou se ele não gostaria de deixar aquele assunto, para ser discutido em outra oportunidade.
Viriato respondeu que não. Dizendo que o assunto era urgente, comentou que a situação era grave. Insistiu em falar que o tema era de suma importância. Estratégico.
A esta altura, um de seus servos veio chamar-lhe. Dizia que Viriato precisava resolver com urgência, uma questão inesperada.
Viriato, pedindo para que Lourenço o aguardasse, comentou que resolveria rapidamente a questão. Argumentou que precisavam decidir o assunto logo.
Nisto, Viriato, pediu para que o criado servisse as iguarias da festa, para o moço.

Aproveitando o ensejo, Viriato foi ao encontro de Leonor.
A moça por sua vez, tentando se esquivar do conde, ficou a conversar com os convivas.
Viriato então, dirigiu-se ao salão onde a festa acontecia.
Ao ver que Leonor permanecia no salão, notou que a conquista seria mais difícil do que imaginava.
Diante disto, disse para si mesmo, que lhe aprazia as conquistas difíceis.
Razão pela qual olhou fixamente para a moça.
Auxiliado por um servo, mandou um recado para Leonor.
O servo então, pediu licença aos convidados, e dizendo que Lourenço precisava conversar com a moça, encaminhou-a um dos aposentos do castelo.
Leonor foi até uma das salas do castelo.
O servo, ao deixar a moça no aposento, tratou de fechar as portas do ambiente.
Viriato, que a esta altura já estava no aposento, levou algum tempo para se apresentar.
Leonor, surpresa com a situação, perguntou de Lourenço.
Viriato perguntou:
- Lourenço? Que Lourenço?
- Como que Lourenço, senhor? O meu noivo, onde ele está? – indagou Leonor.
Assustada, a moça dirigiu-se a porta do aposento.
Viriato colocou a mão em seu ombro, e lhe disse então:
- Esqueça este noivo! Eu posso te proporcionar algo melhor, uma vida mais confortável.
Leonor ficou horrorizada com a proposta.
Espantada, a moça argumentou:
- Como o senhor pode dizer isto? Afinal, Lourenço não é seu amigo?
Viriato respondeu que o seu interesse por ela, havia suplantado a amizade de Lourenço. Disse que seu afeto era muito grande, para abrir mão daquele sentimento.
Leonor não aceitou a proposta. Disse que amava Lourenço, e que nunca faria algo que pudesse magoá-lo.
Viriato ficou furioso.
Segurando a moça pelo braço, disse que ela não podia recusar sua proposta. Vaidoso, argumentou que nenhuma mulher havia resistido às suas investidas. Atrevido, chegou a dizer que com ela não seria diferente.
Leonor, tentou em vão, se desvencilhar do moço.
Diante da força do homem, Leonor, tentando manter a calma, pediu a ele:
- Por favor! Solte o meu braço.
Viriato, porém, segurava o braço da moça com mais e mais força.
Tensa, Leonor protestou:
- Conde! O senhor está me machucando! Por favor, solte o meu braço!
Furioso, o homem respondeu:
- A senhorita sabe que está em posição de inferioridade comigo? Que se eu quisesse, eu poderia conseguir tudo o que quero, ainda que a força. E a senhorita nada poderia fazer para me impedir.
Leonor começou então a chorar.
- Por favor! Me solte! Eu prometo, não conto nada a ninguém! Só me deixe sair daqui. Pelo amor de Deus! – pediu suplicante.
Viriato, percebendo o desespero da moça, e aproveitando-se da situação, pediu para a moça se acalmar. Dizendo que não estava ali para alvoroçá-la, pediu desculpas pelo inconveniente.
Ofereceu-lhe então um lenço para enxugar as lágrimas.
Leonor tentou recusar o lenço, mas Viriato, mais rápido, enxugou o rosto da moça. Depois, guardou o lenço consigo.
Assustada, a moça se desvencilhou do moço, e abrindo a porta com dificuldade, saiu correndo do aposento.
Viriato por sua vez, em que pese não ter conseguido realizar seu intento, ficou feliz por ter conseguido algo de Leonor. Ainda que fosse apenas suas lágrimas, deixadas em um lenço.
Por algum tempo, ficou com o lenço entre as mãos. Sentado em uma cadeira, ficou perdido em pensamentos.

Em dado momento, lembrando-se que havia deixado Lourenço esperando-o, tratou de ir ao seu encontro.
Desculpando-se, disse que o assunto inesperado, o retivera mais tempo do que esperava.
Lourenço, impaciente, disse que precisava conversar com Leonor.
Viriato então, argumentando que o assunto poderia ser deixado para depois, disse para ele ir logo conversar com a noiva. Dizendo que uma mulher bonita como ela não poderia ficar muito tempo sozinha, sugeriu que ele ficasse atento, ou poderia ser trocado por outro.
Lourenço, ficou um pouco incomodado com aquelas palavras.
Porém, sem imaginar que o sentido daquelas palavras pudesse ser outro além de uma brincadeira, deixou sua zanga de lado. Tratou logo de ir conversar com a moça.
Leonor aflita, o aguardava no salão.
Nervosa, pediu para sair da festa.
Lourenço não compreendeu a reação da moça.
Porém, percebendo que aquele não era o lugar adequado para tratar daquele tema, concordou em ir embora.
Contudo, argumentou que antes, precisava se despedir do amigo, o dono da festa.
Ao ouvir isto, Leonor disse que não seria necessário.
Lourenço porém, retrucou dizendo que Viriato era seu amigo, e que sair da festa sem se despedir, poderia soar como uma desfeita, e que isto não era bom.
Nisto, sem alternativa, Lourenço levou sua noiva ao encontro do conde, com vistas a se despedirem.

Viriato, que a esta altura, retornava ao salão, conversou com alguns convivas, e pedindo silêncio, disse que precisava dizer algo aos noivos. Foi então que, procurando-os pelo salão, localizou o casal indo ao seu encontro.
Viriato começou a dizer que estava muito feliz por receber em sua festa, o casal Lourenço e Leonor. Dizendo que eles estavam noivos, propôs que fosse realizada uma festa para oficializar as esponsais, naquele castelo.
Lourenço, a seu turno disse que já fora planejada uma festa para celebrar o noivado, em sua propriedade, e que não havia necessidade de Viriato se ocupar de um assunto tão banal.
O conde por sua vez, respondeu que nada havia de banalidade no evento, já que se tratava da celebração do amor, entre duas pessoas muito caras a ele. Seu amigo de longa data Lourenço, e sua nova amiga, Leonor, a encantadora moça, que acabara de conhecer.
Leonor ficou perplexa. Assustada, não sabia o que pensar.
Nisto, todos aplaudiram as palavras do conde.
A Lourenço, só coube então, aceitar o convite do amigo.
Viriato então, ao tomar conhecimento de que o casal já estava de partida, sugeriu que eles pernoitassem no castelo, e que ao raiar do dia, partissem.
Lourenço comentou, que precisava conversar com Leonor a respeito. Confidenciou que a moça parecia nervosa.
Viriato respondeu por sua vez:
- Não se preocupe! Provavelmente são coisas de pouca monta a que as mulheres dão muita importância! Fique! Amanhã vocês poderão partir ao nascer do sol, e em casa conversar sobre estes assuntos que tanto a afligem.
Leonor parecia pálida.
Lourenço, ao voltar-se para a noiva, percebeu esta circunstância.
Viriato também.
O conde então, chamou um dos criados, e discretamente pediu para que conduzisse a moça a um dos aposentos, para que pudesse descansar. Visando não chamar a atenção, sugeriu que Lourenço a acompanhasse.
Leonor tentou recusar a ajuda, mas Lourenço, argumentando que ela não parecia bem, sugeriu para que eles pernoitassem no castelo.
Desta forma, sem ter como recusar a oferta, Leonor aceitou ser conduzida a um dos aposentos.
Nisto, o casal foi acompanhado por um dos servos, até o interior do castelo.
Leonor sentou-se na cama.
Lourenço, preocupado com a moça, perguntou se estava tudo bem.
Leonor nervosa, respondeu trêmula, que sim.
O moço porém, não ficou convencido.
Leonor todavia, insistia em dizer que estava tudo bem. Em que pese seu olhar assustado.
Lourenço então, percebendo que a moça não queria explicar o que havia ocorrido, parou de indagá-la.
Viriato por sua vez, adentrou o aposento em que o casal estava, parou em frente a porta e chamou o amigo.
Lourenço pediu licença a moça e saiu do quarto, acompanhado do amigo.
Caminhando juntos pelo corredor do castelo, Viriato sugeriu que ele e sua noiva permanecessem por mais alguns dias.
Dizendo que precisava conhecer melhor a moça, comentou brincando que ela deveria passar por seu crivo, e somente depois de sua aprovação, Lourenço poderia se casar com ela.
Lourenço achou graça na aparente piada do amigo.
Agradecido com o convite, o moço achou por bem recusá-lo, argumentando que possuía alguns afazeres a serem realizados em sua propriedade, e que a moça precisava voltar para a casa de sua família.
Ao chegar neste ponto, Viriato, profundamente curioso, perguntou sobre os parentes da moça.
Lourenço comentou que Leonor era uma belíssima camponesa, filha dos criados que cuidavam da propriedade da família. Relatou que Aparecida e Abílio – os pais de Leonor – era serviçais de confiança de seus pais. Praticamente pessoas da família. Diante disto, para que ele conhecesse Leonor, foi um passo.
Encantado, Lourenço relembrou cada detalhe do primeiro encontro que teve com a moça.
Leonor auxiliava os pais no trabalho da propriedade.
Dizia que quando a moça era criança, já acompanha os pais nos afazeres e na lida, mas que ele, sempre ocupado, nunca havia reparado nela.
Porém, quando lançou os olhos sobre ela, Leonor cantava uma bela canção.
Caminhava pelos campos, trazendo alguns víveres em uma cesta de vime.
Revelou que ficou fascinado com a imagem da jovem.
Lourenço comentou que ela estava especialmente bela neste momento. Revelou que partir daí, decidiu que ela seria sua esposa.
Viriato, perguntou então, se os seus pais, não se opuseram a isto, já que se tratava de uma moça de origem humilde.
Lourenço respondeu que não. Dizendo que seus pais não se importavam com convenções, ressaltou que ambos sempre gostaram muito da moça.
Viriato então lembrou-se que os pais de Lourenço não tinham origem nobre.
Lourenço concordou. Relatou que Seu Cícero e Dona Ordália, apesar de toda a riqueza que possuíam, eram pessoas simples, e que não tinham origem nobre, em que pese a existência de parentes longínquos com grande influência.
Curioso, Viriato perguntou detalhes sobre o encontro de Lourenço com Leonor.
Lourenço respondeu:
- Mas eu já disse tudo.
- Mas diga de novo! – insistiu Viriato.

Lourenço entrou relembrou-se do encontro, da simplicidade e ingenuidade da moça. Leonor caminhava de pés descalços, cabelos soltos. O sol dava a seu semblante um lindo reflexo. A moça cantava e dançava com o cesto de vime.
Quando Aparecida a viu caminhando vagarosamente, tratou logo de chamá-la. Mandou que se apressasse posto que os patrões estavam no palácio, e que havia hora para as refeições.
Leonor pediu desculpas pela demora.
Lourenço, que a observava de longe, e ouvira sua canção, aproveitou para adentrar a cozinha.
Aparecida, ao perceber a aproximação do moço, chamou mais uma vez a atenção da filha.
Lourenço, ao ver a mulher censurando com a filha, pediu para que ela não brigasse com a moça. Dizendo que seus pais só comeriam mais tarde, comentou que não havia necessidade de preparar a refeição tão cedo.
Disse isto, e ficou a contemplar a moça, que ao perceber isto, passou a se ocupar de mexer uma panela que estava sob o fogão de lenha.
Lourenço então bebeu um copo de água.
Mais tarde, quando a refeição foi servida, o moço fez questão de cumprimentar Leonor, que servia os patrões.
Elogiando a moça, perguntou aos pais se fazia muito tempo que ela vivia naquela propriedade.
Cícero e Ordália, achando graça na pergunta, responderam que ela vivia ali desde que nascera.
Lourenço perguntou por que permanecera tanto sem perceber aquela beleza.
Ordália comentou que como ele só pensava em trabalhar, havia se esquecido de olhar em volta.
Lourenço respondeu então, que passaria a observar mais as coisas.
Nisto, assim que teve uma oportunidade, conversou com a moça.
Leonor contudo, em um primeiro contato, ficara tímida com sua presença.
Aparecida por sua vez, dizendo que eles deviam saber se colocarem em seus devidos lugares, custou a aceitar a aproximação.
Não fosse Abílio argumentar com a mulher, dizendo que se a própria família do rapaz não se opunha a aproximação, não deveriam ser eles a se oporem. E Aparecida não teria aceitado o envolvimento de Lourenço com sua filha Leonor.
Por fim, a mulher acabou concordando com a relação dos dois.
Com isto, Lourenço passou a se encontrar com a moça.
Insistente, o moço venceu a timidez de Leonor.
Aproveitando os poucos momentos em que se livravam do cerco de Aparecida e de Ordália – que também zelava pela moça – Lourenço, em certa oportunidade, conseguiu roubar um beijo de Leonor.
Distraída, a moça não pode oferecer resistência.
Surpresa, Leonor perguntou por que ele fizera aquilo.
Lourenço respondeu atrevido:
- Me deu vontade!
Nisto, o moço puxou a moça para perto de si e deu-lhe um abraço.

Ao ouvir a história, Viriato ficou profundamente impressionado com a moça. Talvez mais do que já estava antes.
Curioso, perguntou como estava tudo em sua propriedade.
Pesaroso, Lourenço comentou que após o falecimento de seus pais, tudo passara para suas mãos.
Relatou que a despeito de fazer quase um ano que ocorrera o acidente de carruagem que os vitimara, ainda sentia muita saudade deles.
Viriato, fingindo interesse disse:
- De fato! Deve ser muito difícil perder assim, de uma hora para outra, pessoas tão caras.
Lourenço então, percebendo um certo ar de tristeza do amigo, respondeu:
- Mas a sua vida também não foi fácil! Também perdeste teus pais muito cedo!
Nisto, Viriato, percebendo que o amigo iria censurá-lo, argumentou:
- Nem comece! Eu já sei o que vais dizer. Que eu tenho que mudar minha vida, arrumar uma mulher, viver como homem de bem, indo todos os domingos na igreja, seguindo todas as determinações do catolicismo.
Lourenço retrucou:
- Não! Nada disso! Eu sei que debaixo dessa couraça de homem mundano, existe alguém que precisa desesperadamente de alguém. Desejo do fundo de meu coração, que encontres uma boa mulher e se case com ela.
Viriato riu:
- Eu? Casado? Logo eu?
- Não digas isto. Um dia você vai encontrar uma pessoa muito especial. É só saber procurar.
Viriato comentou que ao que parecia, ele não teve que procurar muito para encontrar Leonor.
Lourenço sorriu.
- Não precisei procurar muito, mas ainda assim, levei a vida inteira para encontrá-la. Foi o encontro de uma vida.
- Uau! Percebo uma declaração de amor! O amor parece estar no ar. – disse um ridente Viriato.
Lourenço, percebendo o adiantado da hora, lembrando-se que Leonor a esperava, e que Viriato tinha uma festa o aguardando, comentou que precisava se retirar-se.
Viriato então, despediu-se do amigo, solicitando que se encontrassem no dia seguinte.
Lourenço concordou.

Nisto Viriato voltou para sua festa.
Ao adentrar novamente o salão, foi cercado de algumas mulheres.
Viriato contudo, não se interessou pelo assédio.
Conquistador, vivia sempre cercado de mulheres.
Desta vez porém, parecia distante.

Cícero e Ordália, conhecedores da péssima reputação do moço, viviam recomendando a Lourenço que diminuísse sua convivência com Viriato.
Lourenço porém, argumentando que ele era seu amigo, dizia que sempre foram como irmãos. Ademais possuíam negócios em comum, não sendo razoável desfazer a sociedade.
Ordália então, percebendo que não conseguiria afastar o filho da convivência de Viriato, pediu para o filho se preservar.
Lourenço comentou então, que não aprovava o comportamento lascivo de Viriato, mas que isto não diminuía a amizade dos dois.

Lourenço por sua vez, ao retornar ao aposento onde Leonor ficara, percebeu que a moça adormecera.
Ficou então a contemplar o sono da moça.
Mais tarde, retirou-se do quarto.
Também se recolheu.
Antes de sair, cobriu o corpo da moça com uma manta. Encostou a porta.

Ao término da festa, Viriato bêbado, foi até seu aposento.
Lembrando-se porém que Leonor e Lourenço estavam no local, o moço dirigiu-se ao aposento onde Leonor estava.
Caminhando cuidadosamente pelo corredor, abriu a porta do quarto cuidadosamente.
Ao notar que a moça dormia, Viriato aproveitou para aproximar-se.
Ficou a observar a moça.
Porém, ao ouvir um ruído no corredor, assustou-se. Razão pela qual saiu apressadamente do quarto, batendo a porta.
Lourenço ao ouvir o barulho da porta, saiu do quarto em que estava. Dirigiu-se ao corredor.
Viriato se escondeu em um dos aposentos.
Preocupado com a noiva, Lourenço se encaminhou para o quarto em que Leonor estava. Adentrando o aposento, percebeu que a moça continuava dormindo.
O moço então, ajeitou a manta que cobria o corpo da moça.
Observou-a durante algum tempo. Depois, voltou para o quarto.
Nisto, Viriato, ao notar que não havia ninguém no corredor, vendo tudo silenciado, dirigiu-se a seu quarto.
Ainda bêbado, jurou a si mesmo que Leonor ainda seria dele. Prometeu a si mesmo que faria o que fosse necessário para isto.
Arrogante, prepotente, não sabia o que era um não.
Tanto que não aceitou o fato da moça não ter se rendido aos seus encantos.

Homem lúbrico, estava acostumado a ter todas as mulheres que quisesse.
Por diversas vezes, o homem foi visto saindo furtivamente de algumas casas do lugarejo, assim como foram vistas, diversas mulheres frequentando seu castelo, e segundo dizem, sua cama.
Viriato também era um homem cruel.
Por diversas vezes fora implicado em assassinatos de homens se opunham aos seus negócios, ou lhe ofereciam ameaças a seu projetos, ou à sua segurança material.
Alguns desses assassinatos era socialmente aceitos. Outros eram vistos como satisfação de um desejo de se satisfazer com sangue.
O conde, por esta razão, possuía inúmeros desafetos.
Por esta razão, os falecidos pais de Lourenço, desaconselhavam a amizade entre os dois.
Certo dia, o casal chegou a comentar com o filho, que não reconheciam o mais o moço. Diziam que Viriato havia se transformado em outra pessoa muito diferente do menino que conheceram, antes de perder os pais, e ter que cuidar sozinho, de uma grande fortuna.
Lourenço sempre tentava convencer os pais que ele estava apenas perdido, precisando de uma orientação.
Ordália por sua vez, chegou a comentar:
- Espero que nunca te arrependas de tentar ajudar este homem, meu filho!

Viriato por sua vez, sabia disto. Tanto que nos últimos anos de vida de Cícero e Ordália, evitava frequentar a propriedade da família do amigo.
Lourenço, sempre dizia ao amigo, que nada havia mudado.
Viriato sabia porém, que as coisas haviam mudado.
Isto por que Ordália lançava costantes e duros olhares de reprovação ao seu comportamento.
Cícero a criticava por isto, mas a mulher, dizendo que não conseguia evitar, argumentava que estava muito decepcionada com o rapaz.
Certa vez, chegou a dizer a Viriato, que sabia que ele era um bom moço. Mas que infelizmente no momento, mais parecia um lobo, usando a pele de um cordeiro, fingindo ser algo, que não era, ou que já havia perdido.
Obviamente, o moço não gostou das palavras, e por esta razão, não mais tornou a frequentar o lugar.
Viriato chegou a ficar com raiva da mulher.
Murmurejando, chegou a chamar-lhe de bruxa.
Mas, amigo que era de Lourenço, nada fez contra a mulher.
Dizia ranjendo os dentes, que a sorte de Ordália, era ser mãe de seu melhor amigo.
Razão pela qual, sempre se mostrava agradável aos olhos de Lourenço, o qual nunca percebera as maldades do amigo.
Lourenço, ingênuo, preferia dar lugar a dúvida, do que acreditar que seu amigo era mal. Irremediavelmente, condenado a maldade.

Bêbado, Viriato não conseguia elaborar nenhuma estratégia para enredar Leonor.
A certa altura, caiu em sua cama e adormeceu.
Quando despertou, o sol já adentrava as janelas, invadindo o quarto.
Um raio de sol iluminou o seu rosto e Viriato acordou sobressaltado.
Preocupado, julgou que já era tarde e que Lourenço e Leonor já haviam partido.
Levantou-se de súbito da cama.
Diante da rapidez do gesto, sentiu uma profunda dor de cabeça.
Nisto aproximou-se de uma tina com água, e lavou o rosto. Ajeitou seu cabelo.
A seguir, balançando uma sineta, chamou um seu criado.
O homem, tratou de providenciar algo para vestir.
Nervoso, Viriato perguntou se Lourenço e Leonor já haviam partido.
O criado respondeu que ainda não.
O conde respirou aliviado.
Diante disto, Viriato apressou-se em se arrumar.

Em seguida dirigiu-se a sala de jantar.
Nisto, Lourenço o aguardava para tomar café junto com o amigo.
Viriato tratou logo de cumprimentá-lo.
Com efeito, após trocarem algumas palavras, Viriato perguntou de Leonor.
- Onde está a moça?
Lourenço apontou então para o jardim.
Leonor contemplava a beleza do lugar. Parecia estar fora do mundo.
Viriato então, resolveu ir até o jardim. Com isto, convidou Lourenço para passear pelo local.
Chegaram calmamente.
Leonor, que estava absorta em pensamentos, não percebeu a aproximação. Tanto que assustou.
Percebendo isto, Lourenço abraçou a moça e pediu-lhe desculpas.
Sorrindo, a moça disse que apenas estava distraída.
Viriato ao ver Lourenço com os braços na cintura da moça, ficou incomodado.
Fingindo porém ser simpático, o conde resolveu então, chamá-los para tomarem um café da manhã.
Dizendo que já era hora de se alimentarem, Viriato insistiu para que ambos entrassem.
Nisto os três se dirigiram-se a sala de jantar.
Comeram frutas, pão caseiro, tomaram suco.
Lourenço, fez Leonor experimentar uma fruta que a moça não conhecia. Para tanto, colocou um pedaço de fruta em sua boca.
Com isto, Leonor experimentou a fruta e sorriu para Lourenço.
Viriato ficou incomodado com a cumplicidade do casal.
Contudo, constatando que não poderia ser antipático, resolveu chamar a atenção de Lourenço para outra questão.
Dizendo que precisavam discutir sobre seus negócios, Viriato comentou que tinha algumas idéias para expandir suas terras e seus ganhos, e que ele, se o quisesse, poderia participar de tudo aquilo também.
Lourenço agradeceu então a deferência do amigo, que se lembrou dele para seus projetos. Argumentou porém que eles precisavam de mais tempo para trabalharem a questão.
Viriato comentou então, que ele e sua noiva poderiam voltar a sua propriedade, quando quisessem.
Lourenço respondeu que, diante dos preparativos para seu casamento, iria sobrar pouco tempo nos próximos meses para cuidar de outros assuntos que não fossem seu matrimônio.
Ao ouvir isto, Viriato ficou visivelmente desapontado.
Leonor, ao término do desjejum, dirigiu-se novamente ao jardim. Deixou os amigos conversando sozinhos.
Viriato sugeriu então, que eles fizessem uma festa de comemoração ao noivado, e que se quisessem, poderiam realizar o casamento no castelo. O conde argumentou que sua propriedade era mais imponente, mais vistosa, e que ali, eles poderiam chamar mais convidados.
Lourenço comentou então, que não poderia fazer isto. Alegando que seria um abuso de sua boa vontade, respondeu que havia planejado uma festa simples, bem ao gosto de Leonor.
Viriato retrucou:
- Como assim? Festa simples? Ah não! Nenhuma mulher deseja uma festa de casamento simples. Todas querem luxo, fausto. Se Leonor não te disse isto, é por que ela deve ser muito tímida. Imagine só ... uma linda festa, um belíssimo vestido. Duvido que a sua Leonor não aprecie um bom divertimento. Qualquer mulher iria adorar.
Lourenço ficou sem argumentos.
Ao notar isto, Viriato prosseguiu:
- Vamos amigo, pense com carinho em minha proposta. Converse com sua noiva. Diga-lhe que é um presente que eu ofereço para o meu estimado amigo. Caro Lourenço, eu duvido que diante destes argumentos, Leonor não se convença e concorde em celebrar as duas cerimônias aqui. Até por que se ela não aceitar, estará fazendo uma desfeita. Ficarei aborrecido.
Por fim, soltou uma boa risada.
Lourenço riu também.
O moço prometeu ao conde que conversaria sobre o assunto com Leonor reservadamente, na primeira oportunidade que tivesse.
Viriato sorriu.
Nisto, Lourenço comentou que precisava partir, que já estava ficando tarde.
Viriato insistiu para que ele permanecesse mais um pouco no castelo.
O moço porém, dizendo que precisava cuidar de sua propriedade, comentou que precisava levar sua noiva de volta para sua família.
Diante disto, o conde não insistiu.
E assim, Lourenço foi buscar Leonor no jardim.
Abraçou-a novamente. Feliz, o moço comentou que já estava sentindo saudade dela, antes mesmo deixá-la com seus pais.
Leonor achou graça naquelas palavras.
Viriato, que tudo observava de longe, chegou a sentir raiva de toda aquela felicidade. Invejoso, dizia a si mesmo que Leonor ainda seria dele.
Pensando nisto, dizia que Lourenço acabaria encontrando uma outra moça para ele, e viveria feliz sem Leonor.
Nisto, Lourenço voltou do jardim, segurando Leonor pelas mãos.
A seguir, o moço ajudou a noiva a subir na carruagem.
Viriato despediu-se então do casal.

Ao chegar em sua propriedade, Lourenço deixou Leonor aos cuidados de Aparecida e Abílio.

Em seu castelo, Viriato por sua vez, maquinava fórmulas para conquistar Leonor.
Estava disposto a ir até as últimas consequências para conquistar a moça.
Planejou sequestrá-la.

Nos dias que se seguiram, Lourenço conversou com Leonor a respeito da possibilidade de realizar uma festa de comemoração ao noivado, no castelo de Viriato.
A moça ao ouvir a proposta, imediatamente tencionou recusar.
Lourenço contudo, dizendo que Viriato era um seu grande amigo, comentou que ele se recusasse a realizar pelo menos esta festa no castelo, seria uma desfeita. Argumentando que não podia magoar ou ferir a suscetibilidade de um amigo, Lourenço respondeu que não faria a festa de casamento lá, apenas uma comemoração do noivado.
Sem alternativa, Leonor acabou concordando em realizar uma festa no castelo de Viriato. Argumentou porém, Lourenço não poderia se afastar nem um só minuto dela.
O moço, ao ouvir a proposta, ficou surpreso com a excentricidade do pedido.
- Afinal de contas, por que isto? – perguntou.
Leonor explicou então, que tinha medo de ficar sozinha em um lugar tão grande.
- Mas você não estará sozinha. Neste dia, o castelo estará repleto de convidados. Muita gente. – argumentou Lourenço.
Leonor insistiu em pedir para não ficar sozinha no local.
Lourenço, percebendo a angústia da moça, respondeu:
- Se o problema é este, você não estará nunca sozinha. Eu estarei lá o tempo todo. Ademais, seus pais também estarão lá.
Leonor então, ao ouvir tais palavras, sentiu-se mais tranquila.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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