Poesias

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 14

Nisto, enquanto Olívia trechos de um livro de poesias para Flávio, o moço começou a mexer os olhos.
Foi um leve movimento, mas foi o suficiente para chamar a atenção de Olívia.
Surpresa com a reação, tratou de ligar para Gilberto e para sua filha Cecília.
Porém, ao contrário do que imaginara, a reação de ambos foi de cautela.
Perguntando se não fora impressão dela, comentaram que era preciso cuidado, para não serem criadas falsas expectativas sobre o estado de Flávio.
Ao ouvir palavras tão céticas, Olívia ficou aborrecida.
- O que eles pensam? Que fiquei louca?
Dito isto, aproximou-se do filho e segredou-lhe ao ouvido que ele precisava reagir, ou perderia Letícia para Otávio.
Dias depois, Olívia notou que o rosto de Flávio estava contraído. Estranho! Parecia contrariado.
Ao perceber a mudança, Olívia assustou-se. Pensou: “Meu Deus! O que estará acontecendo?
Semanas depois, durante a sessão de exercícios rotineiros, o enfermeiro percebeu uma lágrima correndo de um dos olhos do rapaz.
Surpreso, Jair tratou logo de chamar Olívia.
A mulher ficou surpresa ao ver a lágrima correndo do olho de Flávio.
Emocionada, começou a chorar.

E assim, Flávio era constantemente exercitado pelo enfermeiro.
O homem movimentava as pernas e os brancos do rapaz.
Na cama hospitalar Flávio era constantemente mudado de posição.
Olívia e Cecília, assim como Gilberto, não se cansavam de contar histórias para o rapaz.
Era assim o dia-a-dia do moço.
Nesta época Letícia raramente visitava Flávio. De tanto insistir, Otávio conseguiu fazer com que Letícia se afastasse de Flávio.
Por esta razão a moça não sabia de nada do que se passava com o moço.
Não sabia que Flávio estava começando a reagir.

Ainda enciumado com o afeto que Letícia dedicava a família de Flávio, e as visitas ao rapaz, Otávio comentou que se sentia mal em se sentir ameaçado por alguém que não podia reagir. Que se sentia desconfortável em se descobrir gostando da ex-noiva de seu colega.
Mas argumentando que Flávio poderia nunca se recuperar, Otávio comentou com Carlos que não poderia perder a chance de ser feliz com Letícia. Dizia que ela era uma pessoa muito especial, e que não se encontram muitas pessoas como ela por aí.
Carlos concordou. Só não concordou com o fato de seu amigo estar investido na noiva de um colega de trabalho.
Mas Otávio respondeu que não podia escolher de quem gostar.
Com isto, Otávio, percebendo que estavam juntos há um certo tempo, propôs a moça que se casassem.
O moço, preparando um jantar para a moça, Karina, e para seus pais, aproveitou o ensejo para pedi-la em casamento. Ou melhor dizendo, encomendou um jantar.
Encomendou um medalhão ao molho madeira e arroz á grega. Como acompanhamento, um bom vinho. De sobremesa uma mousse de maracujá.
Karina escolheu usar uma calça social cinza e uma blusa salmão.
Letícia usou um vestido curto estampado rosa, de uma manga só. Prendeu os cabelos em um coque displicente, deixando à mostra o ondulado de seus fios compridos. No pescoço uma correntinha dourada com um pingente com a inicial de seu nome.
Ao vê-la Dominique elogiou a elegância de Letícia.
Enquanto ceavam, Otávio comentou que aquela era uma ocasião muito importante para ele. Dizendo que estava preparado para viver uma nova vida, comentou que estava disposto a dividir sua vida com outra pessoa.
Dominique comentou que seu filho estava muito enigmático.
Karina parecia apreensiva.
Com isto, após os convivas comerem a sobremesa, Otávio convidou a todos para um brinde.
Retomando a conversa do jantar, o moço comentou que quando dissera que pretendia dividir sua vida com outra pessoa, não estava brincando.
Com isto, foi até seu quarto e voltou com uma pequena caixinha.
Fazendo suspense, abriu vagarosamente a caixa mostrando um anel prateado com um imponente brilhante engastado em seu centro.
Dominique comentou que se tratava de um anel muito lindo.
Foi então que levemente hesitante, Otávio perguntou a Letícia se ela gostaria de se casar com ele.
Letícia constrangida, respondeu que não sabia se estava preparada para se casar.
Otávio visivelmente decepcionado, comentou que eles já estavam juntos a um bom tempo, e que já era hora dele unir sua vida a de alguém.
Marisa e Irineu – empregados – se ocuparam em servir bebidas aos convidados e guarnecer a mesa do jantar. Ao presenciarem a cena da rejeição, ficaram constrangidos.
Dominique e Olivier, em que pese a resposta da moça, ficaram felizes com a idéia de verem seu filho casado, e ao verem a decepção no rosto de Otávio, sugeriram que ele desse um tempo para a moça pensar.
Letícia então, sem ter alternativa, concordou. Prometeu que no prazo de um mês, daria uma resposta.
Dominique considerou a posição da moça acertada.
Ao ouvir um mês, Otávio tentou argumentar.
Karina percebendo que aquilo poderia não acabar bem, comentou que um mês era um bom prazo para que todos pudessem refletir sobre o pedido e ver se era realmente isto que queriam.
Otávio então retrucou dizendo que casar-se, era sim o que queria.
Karina emendou:
- Então está bem!
Ao saírem da casa de Otávio, Karina perguntou a Letícia, o porquê de um prazo tão longo para dar uma resposta.
A moça não quis responder.
Karina não insistiu.
Sabia porém, que Letícia não amava Otávio. Entendia o ponto de vista da filha. Para ela, Letícia via Otávio como tábua de salvação, com prêmio de consolação pela relação interrompida abruptamente com Flávio.
Certa vez, após Letícia começar a namorar Otávio, Karina comentou que ela não devia se envolver com o rapaz se ainda gostava de outro.
Letícia respondeu que não sabia o que ela estava dizendo.
Karina resolveu calar-se...

Nisto, aos poucos Flávio começava a dar pequenos sinais de melhora.
Ora era um olho que se contraía, uma lágrima que corria de seu rosto...
Um dia o rapaz mexeu uma das mãos.
Semanas mais tarde, balbuciou palavras desconexas.
Para a família, cada um desses pequenos progressos, eram um jorro de esperança para aquelas almas desesperançadas.
Até Cecília e Gilberto que eram mais céticos, começaram a acreditar que Flávio estava se recuperando.
Seria apenas uma questão de tempo para Flávio abrir os olhos e retomar sua vida.
Gilberto comentou que Flávio poderia retomar sua vida.
- Pena que não será de onde ele parou! – comentou Cecília.
- Mas será de onde for possível! – respondeu Olívia.
Com isto, conforme o tempo ia passando, Flávio, dava mais sinais de que estava se recuperando.
Realizava pequenos movimentos como mexer os olhos, os braços, a perna.
Até que um dia, aquilo que parecia impossível aconteceu.
Depois de uma discussão entre Olívia e Cecília, em que a moça criticava o fato de Letícia não visitar mais Flávio e que Olívia dizia que a moça iria começar uma nova vida com outro rapaz,
Flávio inesperadamente abriu os olhos.
Para surpresa das duas, o moço finalmente despertara.
Felizes as duas se colocaram ao lado do rapaz. Esqueceram-se da briga.
Atordoado, Flávio parecia desperto, mas não esboçava reação.
Este fato preocupou Olívia. Tanto que tratou de chamar o enfermeiro para ver o rapaz.
Jair observou os olhos do rapaz e passou a testar e seus reflexos. Depois começou a fazer algumas perguntas ao rapaz. Não sem antes perguntar se o rapaz o estava entendendo.
Flávio depois de um certo tempo, respondeu com dificuldade:
- Sim!
Este sim, encheu Cecília e Olívia de alegria.
Mesmo ansiosas em conversar com Flávio, as duas conseguiram se controlar e aguardar os procedimentos médicos.
Com isto, Jair perguntou como ele se chamava, onde morava, se sabia onde estava, o nome dos pais, estado civil, entre outras perguntas.
Embora com certa dificuldade, Flávio respondeu a todas as perguntas.
Cecília deu um beijo no rosto do irmão.
Nisto com o passar do tempo, Flávio foi aos poucos retomando suas atividades normais.
Como havia permanecido dois anos deitado em uma cama, precisou fazer fisioterapia para voltar a andar, e aos poucos começou a ingerir alimentos sólidos.
No início tinha dificuldades para falar, para escrever, precisava de ajuda para caminhar, para andar pelo apartamento. Também se lembrava dos acontecimentos recentes com dificuldades.
Aos poucos foi se informando sobre as transformações do mundo, neste tempo.
Pouco a pouco passou a ser estimulado com leituras de crônicas, romances, poesias, matérias jornalísticas.
Chocou-se ao tomar conhecimento dos dois anos em que ficara inerte em uma cama.
Tranquilizá-lo foi tarefa complicada.
Nisto, Flávio perguntava a família como andavam as coisas, como estavam todos – seus amigos, Letícia, etc.
Passou a ser visitado por seus colegas de trabalho, por Carlos, Vicente, Bruno, Leandro, Cleide e Francisco.
Aos poucos foi descobrindo que muita coisa havia mudado.
Com o tempo, começou a se abrir mais. Comentou sobre os sonhos que tivera, das sensações que sentira.
Certa vez chegou a dizer que teve a impressão de se ver fora do corpo.
Comentou que ao se ver naquela condição, que sentiu muito medo. Revelou que chegou a pensar que nunca mais voltaria. Pensou que estava morrendo, disse.
Disse que se sentia perdido, e que durante o tempo em que ficou aprisionado em uma cama, sonhou com a cidade a noite, com os lugares por onde passara, que estava com sua família, com sua mãe, seu pai, sua irmã, com Letícia, seus amigos, entre outros.
Quando o moço comentou de um sonho que tivera, percorrendo o centro de São Paulo, e que havia aparecido em sonhos para sua mãe, Olívia comentou que havia sonhado a mesma coisa.
Flávio ficou perplexo.
O moço disse que em um dos sonhos que tivera com Letícia, disse que ela não deveria se preocupar que ele estava voltando. Comentou que um dia sonhou que estava chorando, e que a moça perguntava o que estava se passando com ele.
Flávio comentou que os sonhos pareciam reais, que tinha sensação de que realmente estivera por aqueles lugares conversando com aquelas pessoas. Disse que não parecia que tinha limitações, que nos sonhos podia ser livre.
O rapaz disse ainda que muitos sonhos eram confusos.
Olívia comentou que aquela estranha coincidência só poderia significar uma coisa. Comentou que isto provava que ele não estava inerte, embora fisicamente parecesse que sim.
A mulher comentou que teve o mesmo o sonho e argumentou que aquilo não podia ser uma simples coincidência.
Quando contou do sonho para Cecília e Gilberto, ambos ficaram impressionados com o relato e comentaram que aquilo de fato era uma coincidência.
Gilberto comentou que talvez Flávio estivesse tentando dizer alguma coisa para ela.
Olívia argumentou que quando comentara o sonho que tivera com Flávio, Gilberto lhe disse que era apenas um sonho, e que não deveria se preocupar.
O que ela não sabia, era que ele também ficou impressionado com o sonho. Só não queria preocupá-la.
Cecília intrigada, chegou a dizer se não era o caso de pesquisar para saber o que aquilo queria dizer.
Olívia perguntou se havia necessidade disto.
A moça respondeu que talvez conhecendo melhor o assunto, isto poderia auxiliar Flávio a ser recuperar.
Gilberto concordou. Disse que pesquisar mal não faria.
Ao comentar com Alessandro ‘a coincidência’, o moço disse que o que acontecera fora uma viagem astral provavelmente, e não um sonho.
Curiosa, a moça perguntou mais detalhes.
Alessandro que entendia um pouco do assunto, começou a lhe explicar.
Comentou que se tratava de um processo de viagem extracorpórea. Disse que Flávio durante o período em que esteve preso a cama, tentou se comunicar com seus parentes. Daí a coincidência de sonhos de Flávio e Olívia.
Surpresa, Cecília comentou se não era um processo perigoso, no qual a pessoa poderia morrer ou não voltar.
Alessandro disse então, que havia um cordão de prata envolvendo o corpo material e o espírito, e que este cordão, ao sinal de qualquer perigo, trazia o espírito de volta ao corpo. Comentou ainda que o espírito era livre e que poderia ir para onde quisesse.
Percebendo o desassossego de Cecília, Alessandro comentou também que o espírito era acompanhado e via coisas que lhe eram franqueadas ver. Disse que todos os que realizavam viagens pelo plano astral eram conduzidas por guias espirituais que os protegiam e não permitiam que percorressem regiões com padrão vibratório inferior, ou seja, não caminhavam por caminhos perigosos.
Ressaltou que é mais perigoso caminhar entre os vivos, do que conhecermos a nós mesmos. Disse que este processo era feito de diferentes formas, e Flávio apesar de sua aparente inação, estava dando prosseguimento à sua vida. Estava procurando se conhecer melhor.
A moça perguntou-lhe por que não havia dito nada sobre isto para sua família.
Alessandro comentou que o ceticismo era muito comum em relação a este e outros assuntos. Dizendo que nem todos entendiam, e que se tratava de um tema envolto em muito preconceito, decidiu não comentar. Disse ainda, que não queria alimentar o preconceito de ninguém.
Cecília comentou então que não tinha o direito de censurá-lo por acreditar em algo que ela não entendia. Disse ainda que não sabia que ele conhecia do assunto.
O moço respondeu então que havia muitas coisas que ela não sabia a seu respeito. Disse fazendo graça e fingindo ser um tipo misterioso.
Cecília percebendo a gozação, mandou ele parar com a palhaçada.
Alessandro começou a rir.
A moça não gostou da brincadeira.
Com efeito, Cecília passou a pesquisar o tema na internet. Alessandro também empreendeu uma pesquisa a pedido da moça.
Quando se sentiu suficientemente esclarecida, resolveu conversar com Olívia e Flávio, que ficaram deveras interessados no assunto.
Com efeito, por várias vezes, Flávio revelou que sonhava muito, e que nestes sonhos, parecia que ele não estava ali jazendo naquela cama. Comentou que algumas vezes chegou a ouvir à distância o que ela, sua irmã, seus amigos, e Letícia diziam.
Comentou que por várias vezes tinha a sensação de estar fora do corpo.
Cecília, Gilberto e Olívia ouviam a tudo com muito interesse.
Com efeito, depois das explicações de Cecília e de também ter realizado uma pesquisa sobre o tema, Flávio começou a entender melhor o que havia acontecido.
Certa noite, o moço teve um sonho no qual dirigia o seu antigo veículo e inadvertidamente desviava de outro veículo, vindo a bater em um poste.
Resultado! Acordou assustado e gritando.
Olívia, que permanecia no apartamento do filho, foi até o quarto de Flávio para verificar o que estava acontecendo.
Lívido, Flávio comentou que havia sonhado com o acidente. Tremendo, não conseguia entrar em detalhes sobre o sonho.
Olívia abraçou-o e dizendo para que não assustasse, comentou que isto era sinal de que sua memória estava intacta. Feliz, a mulher comentou que tudo voltaria a ser como era antes.
Nos dias, meses que se seguiram, Flávio realizou muitos exercícios com Jair. Fisioterapia intensa.
Passou pelo médico.
O moço tinha ganas de retomar sua vida, queria voltar a trabalhar. Estranhou e muito a ausência de Letícia.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário