Antunes adorava ver a casa, com gente nova. Dizia que criança renovava a vida de todos os que a cercavam.
Quem não gostava da azafama, era Virgínia, sua afilhada.
Desconfiada, tentou arrancar de Antunes o porquê de Lourenço e Leonor havê-los acolhido.
Neste ínterim, Lourenço mencionou a necessidade de se ausentar. Dizia que não podia se demorar mais no lugar, ou Viriato poderia desconfiar.
E assim, repetindo o gesto feito ao chegar na morada de Antunes, Lourenço despediu-se de Leonor. Beijou-a.
Dias depois, partiu.
Leonor e Anselmo permaneceram na propriedade de Antunes.
Ao vê-la sozinha, Virgínia crivou-a de perguntas. Queria saber de onde viera, o que estava fazendo ali, por que não voltara com o marido ...
Antunes, percebendo que Leonor estava incomodada com as perguntas, pediu a afilhada para se calar.
Nisto, Leonor passava os dias entretida com os cuidados com Anselmo.
Tempos depois, Lourenço tornou a visitar-lhe.
O moço fizera novas visitas por mais três vezes.
Viriato, que espionava o antigo amigo, começou a estranhar suas ausências.
Certo dia, chegou a receber a visita de um ex-criado de Lourenço, que lhe confidenciou ter presenciado tempos atrás, algo inesperado.
O servo contou sobre um camponês que havia parado nas terras de Lourenço e adormecido no celeiro. Revelou que Lourenço fizera do camponês seu prisioneiro.
Nervoso, o conde perguntou-lhe quanto tempo fazia isto.
Trêmulo, Licurgo - o servo – respondeu:
- Algum tempo.
- Quanto tempo? – gritou Viriato.
- Uns dois anos.
- E por que só agora vieste me contar isto? – indagou Viriato segurando o homem pelo colarinho.
Nervoso, o homem explicou que dependia de Lourenço, e que não poderia se indispor contra ele. Argumentando que agora estava partindo para outra região, revelou que fora liberado por Lourenço. Comentou ainda que certa noite, avistou o moço vestido de camponês conduzindo uma carroça, acompanhado de uma camponesa e uma criança.
Revelou ainda, que viu Lourenço por diversas vezes sair a noite, e só retornar a sua casa dias depois.
Ao ouvir isto, Viriato esmurrou a parede.
Licurgo, ainda tremendo, perguntou quanto iria receber pela informação.
Viriato observou-o com raiva.
Furioso, gritou dizendo iria pagar nada.
Licurgo argumentou:
- Mas senhor, eu estou me arriscando. Se Lourenço descobrir o que eu fiz, estarei em sérios apuros. Preciso ter dinheiro para sumir daqui.
Viriato chamou Antero.
Em seguida, despejou sobre um baú, algumas moedas de ouro.
Licurgo apanhou as moedas sofregamente. Apressadamente recolheu a soma e agradeceu o conde.
Nisto, afastou-se.
Desta forma, Viriato passou intensificar a vigilância em cima de Lourenço.
Com efeito, ao descobrir que o moço se ausentava com bastante frequência de suas terras, mandou seus homens segui-lo.
Com isto, ao ser informado por seus seus homens, que Lourenço estava se encontrando com Leonor, o conde deu ordens para seus homens invadirem a propriedade de Antunes e retirarem a moça a força se preciso fosse.
Ardiloso, Viriato esperou Lourenço e Antunes, sairem para uma caçada.
Nisto, aproveitando o ensejo, seus homens invadiram a residência, e retiraram a moça.
Virgínia tentou impedir a ação dos homens, mas foi devidamente segurada.
Leonor se debatia.
Mais tarde foi levada a presença de Viriato.
Com os braços amarrados, Leonor foi empurrada até a sala onde o conde se encontrava.
Viriato viu a moça cabisbaixa.
Quanto a Anselmo, o menino permaneceu na propriedade de Antunes, graças a previdência de Virgínia, que ao perceber a invasão, pediu para uma das criadas levar a criança para os aposentos dos empregados.
Com isto, só a moça foi aprisionada.
O fato ficou conhecido em toda a região.
Quando Antunes e Lourenço voltaram da caçada, descobriram por Virgínia, que Leonor fora levada a força. Contudo, no tocante a Anselmo, o mesmo permanecia na residência de Antunes, em segurança.
Lourenço ficou transtornado.
Diante dos fatos, não havia dúvida que a moça fora levada por Viriato.
Furioso, o moço jurou resgatá-la a qualquer custo.
Antunes, percebendo a ansiedade do sobrinho, orientou-lhe a não agir com precipitação. Dizendo que o ajudaria a resgatar a moça, pediu para que não tomasse nenhuma decisão de afogadilho. Argumentou que uma decisão como aquela era séria demais para ser tomada no calor da raiva.
Lourenço porém, dizia que Leonor corria perigo nas mãos de Viriato.
Argumentava que não podia esperar.
Antunes contra-argumentou dizendo que se Viriato depois de quase dois anos ainda procurava a moça com tanto empenho, ele não lhe faria nada de mal. Mencionou que temia não por Leonor, mas por seu sobrinho, o qual ressalvou que deveria tomar muito cuidado com o conde.
Com isto, Antunes acompanhou o sobrinho em seu retorno as suas terras.
Virgínia também mencionou interesse em acompanhar o padrinho, mas Antunes argumentou que o assunto era sério, e que ela deveria se preocupar em cuidar de Anselmo.
Cauteloso, Antunes sugeriu ao sobrinho que mantivesse a criança em sua propriedade.
Disse que muito provavelmente Lourenço continuaria sendo vigiado por Viriato, e que desta forma a criança corria perigo.
Lourenço ainda aturdido, concordou.
E assim, tio e sobrinho viajaram juntos.
Ao chegar em suas terras Lourenço apresentou Antunes a Aparecida e Abílio.
Os pais de Leonor, ao tomarem conhecimento dos últimos acontecimentos, encheram-se de aflição.
Preocupada, Aparecida perguntou de Anselmo, no que Antunes explicou que a criança estava bem.
Abílio se afligia com o desaparecimento de Leonor, com a falta de notícias. Ficou surpreso ao saber que Aparecida sabia do paradeiro da filha.
Decepcionado, comentou que ela não confiara nele, que ficara em falta com ele.
Nisto Aparecida desculpou-se. Argumentou que quanto menos gente soubesse, mais segura Leonor ficaria.
Precisando conversar sobre os acontecimentos com seu marido, Aparecida pediu licença a todos.
Conduzindo Abílio para um lugar reservado, a mulher contou-lhe que Leonor ao fugir de Viriato, refugiou-se nas terras de Lourenço. Que a moça se disfarçara de camponês, para fugir de Viriato. Enfim dos meses de convivência isolada de todos. De seu casamento com Viriato e de sua nova fuga. Que a moça voltara a viver ao lado de Lourenço, e que tivera um filho com ele.
Ao ouvir o relato, os olhos de Abílio encheram-se de lágrimas.
Emocionado, Abílio ficou a dizer que tinha netos.
Triste, comentou que não lhe fora dado conhecer César.
Curioso perguntou onde estava Anselmo. Ansioso, argumentou que queria muito conhecê-lo.
Aparecida comentou que por segurança, o menino se encontrava sob os cuidados de uma afilhada de Antunes.
Aflita, pediu ao homem que não relatasse os fatos a ninguém.
Abílio prometeu ser discreto.
Enquanto isto, Lourenço e Antunes confabulavam, tentando encontrar uma forma de entrar no castelo de Viriato e retirar a moça de lá.
Em presença de Viriato, Leonor tinha os olhos cheios d’água.
Ao vê-la com a cabeça baixa, o conde exigiu que ela olhasse para ele.
Leonor então, levantou a cabeça.
Estava deveras triste.
Viriato então, começou a gritar:
- Estás feliz agora, depois de ter atirado minha reputação na lama? Estás contente em saber que por onde passo, sou constantemente apontado?
Leonor não proferiu uma só palavra.
Irritado, Viriato aproximou-se e, gritando, exigiu que ela dissesse alguma coisa.
A moça assustou-se com a atitude do conde.
Viriato percebendo isto, perguntou:
- Agora tens medo de mim?
Ao constatar isto, pareceu satisfeito.
Leonor ao vê-lo se afastar, pareceu mais tranquila.
O conde também percebeu isto.
Tanto que comentou amargurado:
- Além do temor a mim, também tens aversão ao seu marido? E ao seu filho, também?
Ao ouvir a palavra filho, Leonor pôs-se a chorar.
Viriato tentando feri-la, comentou que César não tinha mais mãe e tampouco lembrava de sua existência. O homem revelou que havia lhe dito que sua mãe o abandonara.
Leonor negou:
- Não, não, não. Eu não o abandonei. Eu amo o meu filho!
Viriato sorriu irônico.
Leonor então, enchendo-se de coragem, perguntou como ele estava.
O conde comentou que com quatro anos, era uma criança bastante esperta e altiva. Revelou que seu prazer era dar ordens aos filhos dos camponeses. Orgulhoso, comentou que ele já montava seu próprio cavalo.
Ao ouvir tais palavras, Leonor criticou a educação que estava sendo dada ao garoto.
No que Viriato retrucou:
- A partir do momento em que o abandonaste, abdicaste também de qualquer direito de mãe.
Leonor insistiu em dizer que não o havia abandonado.
Viriato retrucou dizendo que quem fugia no meio da noite, deixando tudo para trás, estava sim abandonando este tudo.
Leonor trêmula, respondeu que fugira para ter paz, coisa que nunca tivera a seu lado.
O conde por sua vez, sentiu-se profundamente magoado com estas palavras.
Tanto o era, que comentou:
- Muito me admira isto! Eu que sempre te adorei. Que sempre te tratei como uma princesa. Ou melhor, como uma rainha, condessa!
Ao ouvir a palavra condessa, Leonor ficou profundamente incomodada.
O conde, percebendo isto, comentou:
- Em que peses a sua contrariedade, ainda somos casados. Em que pese a sua falta de lealdade, a tua infidelidade, tu ainda és a condessa.
O homem preferiu estas palavras entremeadas de profundo ódio.
Por fim, ultimou o dialogo com a frase:
- Você é minha, condessa! E quem ousou por a mão em você, vai se arrepender amargamente.
Nisto, aproximou-se, e arrastando-a pelo braço, levou-a até o quarto.
Leonor tentou se desvencilhar do homem, mas quanto mais esforço fazia, mais Viriato pressionava seu pulso.
Viriato só parou de arrastá-la ao chegar na alcova. Lá, atirou-a sobre a cama. Fechou a porta.
Assustada, Leonor perguntou chorando, o que estava acontecendo.
Viriato não respondia.
A moça então, tentou sair do leito.
O conde proibiu-a.
Percebendo então, as intenções do homem, pediu para que ele não se aproximasse.
Em vão.
Viriato aproximou-se, rasgou seu vestido, mexeu em sua calça, e deitou-se sobre ela.
Diante da brutalidade do ato, e da violência do ato sexual forçado, gritou.
Gritou de dor e de desespero.
Mais tarde, saciado, o conde se levantou, recompôs-se e saiu do quarto, deixando-a sozinha.
A moça, ao ver-se só, chorou compulsivamente.
Mais tarde Antero trouxe-lhe uma refeição.
Leonor porém, não tocou na comida.
No dia seguinte Viriato dirigiu-se novamente ao quarto onde Leonor estava.
Assustada, a moça ao vê-lo tornou a chorar.
Viriato furioso, aproximou-se dela, começou a sacudi-la, gritando impropérios:
- Vagabunda! Ordinária! Eu te odeio. Você destruiu o sentimento mais bonito que já tive na minha vida. Nunca mais eu vou gostar de uma mulher como eu gostei de você. Mais você vai sentir na pele todo o mal que me causou.
Leonor gritou pedindo para que ele a soltasse.
Viriato continuou a gritar:
- Eu vou te ferir naquilo você tem de mais caro.
Nisto, começou a mexer em sua calça.
Leonor começou a chorar.
A moça tentou resistir as investidas de Viriato, mas não teve forças para fazê-lo.
Quando ainda a possuía, Viriato disse em seu ouvido:
- Não adianta me resistir. Eu disse que eu iria te ferir, e eu estou conseguindo. Você me destruiu, e eu vou fazer o mesmo com você!
Nisto, o homem permaneceu mais algum tempo sobre a moça, em seu leito.
Leonor tinha em seu rosto, uma expressão de dor.
Mais tarde, o homem retirou-se do quarto.
Ao ver que a moça não tocou na comida, sugeriu a Antero que levasse frutas para ela.
Leonor, ao se levantar da cama, percebeu que havia sangue nos lençóis.
Algumas horas depois, Antero levou-lhe frutas.
A moça dormia. Tinha os olhos inchados de tanto chorar.
Nisto, quando o conde novamente adentrou o quarto, notou que Leonor continuava dormindo.
Notou também, que a moça não havia comido as frutas.
Viriato aproximou-se de Leonor.
A fronte de Leonor estava molhada, seus olhos inchados. A moça estava abatida.
Ao tocar em seu rosto, percebeu que ela tinha febre.
Preocupado, resolveu permanecer no quarto. Sentou-se em um banco.
Contudo, conforme as horas passavam e Leonor não despertava, Viriato ficou tomado de preocupação.
Nisto, chamou Antero, o qual lhe informou que ao deixar a cesta com frutas no quarto, a moça já dormia.
Ao ouvir isto, Viriato ficou desesperado.
Nervoso, sentou-se novamente no banco, e colocando as mãos na cabeça, lamentou-se:
- Por que Leonor? Por que você me obriga a fazer isto como você? Logo eu, que te amo tanto?
Desolado, o moço começou a chorar.
Antero, presenciando a cena, disse que iria chamar um médico para examinar a moça.
Viriato segurou então a mão do serviçal, e implorou para que ele o fizesse logo.
Horas mais tarde, a moça foi examinada por um médico.
O doutor sugeriu compressas frias, alimentação e cuidado.
Aflito Viriato prometeu que seguiria todas as recomendações feitas.
Nos dias que se seguiram, o conde permaneceu ao lado da moça.
Insistia para que ela comesse.
Prometeu que em melhorando, poderia ver César.
Isto foi suficiente para que Leonor aceitasse toda a comida que era oferecida por Viriato.
Ansiosa, a todo o momento, perguntava do filho.
Viriato pedia-lhe paciência.
Certa tarde, o conde autorizou o encontro.
O homem, segurando a criança pela mão, levou-a até o quarto onde Leonor convalescia.
A moça, ao ver o menino tão crescido, começou a chorar.
César não a reconheceu.
Simpático porém, deixou a mulher se aproximar dele e lhe dar um abraço.
Aos poucos, Leonor passou a se ocupar com o menino, já que Viriato insistia em dizer que ela não estava totalmente recuperada.
Diante disto, levou tempo para que a moça pudesse se ocupar inteiramente do filho.
E assim, quando Viriato procurou-a novamente, Leonor pediu para que ele não a forçasse a fazer o que não queria.
Chorando pediu para que ele não fosse violento. Revelou que não aguentava mais sua brutalidade.
Leonor soluçava.
O conde, percebendo isto, prometeu a ela, não a possuíria mais contra a sua vontade.
Insistiu porém, para que fosse gentil com ele e que tudo estaria bem.
Enciumado, Viriato comentou que ela estava proibida de sair do castelo. Relatou que ela só sairia com ele para passear. Fora isto, poderia se ocupar de seu filho.
Nisto, saiu do quarto em que Leonor estava.
A moça então, tranquilizou-se.
Com o tempo, Viriato passou a mostrar mais dócil, gentil, afável.
Tudo para que Leonor voltasse a confiar nele.
E assim, passaram novamente a viver como um casal.
Abílio e Aparecida por sua vez, estava impacientes com a falta de notícias a respeito de Leonor.
Queriam saber se estava tudo bem, como estava sendo sua convivência com o conde.
Queriam conhecer o neto.
Neste ínterim, o casal foi levado a morada de Antunes, onde Abílio conheceu seu neto Anselmo, e Aparecida reviu a criança.
O homem ficou emocionado ao ver a criança.
Lourenço chorou ao rever o filho.
A criança estava bem crescida.
Virgínia comentou que Anselmo era bastante tagarela.
Todos riram.
Mais tarde, Lourenço e Antunes conversaram.
Pensavam em uma estratégia para retirar a moça do castelo.
Antunes recomendou que o moço aguardasse mais um pouco para agir.
Comentou que com o tempo o conde reduziria a vigilância em cima de Leonor e assim, ficaria mais fácil, retirá-la do lugar.
O moço contudo, estava impaciente.
Desta forma, foi questão de tempo, para Lourenço e Antunes colocarem em prática o plano de tirar a moça do castelo.
Lourenço pensou em levar também, o filho da moça.
Antunes porém, retrucou dizendo que era perigoso, e que a criança poderia gritar, chamando a atenção de todos no castelo.
Lourenço porém, argumentou que Leonor poderia não querer fugir do castelo, sem a presença do filho.
Antunes por sua vez, insistiu na idéia de resgatar apenas a moça.
Comentou que dificilmente conseguiriam retirar os dois do lugar, e que Viriato jamais aceitaria a idéia de ficar sem a mulher e o filho.
O moço contudo, era teimoso e insistiu na idéia de retirar os dois do castelo.
Nisto confabularam.
Teceram planos.
Lourenço e os pais de Leonor, estavam angustiados com a falta de notícias a respeito da moça.
O que aplacava um pouco o desespero destas pessoas, era Anselmo.
A doce criança conseguia, com jeito alegre e sorridente, afastar por alguns instantes, suas angústias.
O menino já balbuciava algumas sílabas, já caminhava.
Nos primeiros dias em que percebeu a ausência de Leonor, Anselmo chorou bastante.
Agora, parecia mais calmo.
Leonor por sua vez, em companhia de Viriato, ficava a ouvir o conde relatar as traquinagens de César.
Comentou que o garoto tinha jeito para mandar, e que era severo com os subalternos.
A moça não gostou de saber que o menino era ríspido no trato com as pessoas.
Incomodada, chegou a comentar com o conde, que César não poderia ser educado daquela maneira.
Viriato, contrariado, retrucou dizendo que não estava criando um fraco, e que César deveria sucedê-lo em tudo. Até mesmo na coragem.
Leonor fez menção de contraditar o marido, mas Viriato emendou dizendo:
- E eu não aceito interferências neste quesito. Quando ao resto, podes fazer como bem entender. Ensiná-lo regras de etiqueta, literatura. Menos ensiná-lo a ser fraco. Os serviçais devem ser tratados com dureza, ou então não trabalham.
Leonor mencionou então, que não sabia ler.
Viriato ficou curioso. Empenhado em agradar Leonor, perguntou-lhe:
- Não sabes mesmo? ... Mas gostarias de saber?
Leonor olhou-o intrigada.
- Como assim? – perguntou.
- Estou perguntando se gostarias de aprender a ler e a escrever.
Leonor ficou receosa de responder.
Viriato insistiu.
- Não gostarias?
Leonor assentiu com a cabeça.
O conde ficou satisfeito.
- Então estamos combinados, condessa. Vossa Senhoria aprenderá a ler e a escrever comigo. Prometo que serei um professor dedicado e paciente. Espero que você também retribua, sendo uma boa aluna.
Leonor respondeu que sim.
Viriato então, combinou de começarem os estudos no dia seguinte.
E assim se passaram os dias.
Viriato empenhou-se em ensinar as primeiras letras do alfabeto, os números. Depois começou a construir frases. Em seguida textos.
Dedicada, Leonor não se cansava de fazer perguntas ao homem, que atencioso, a tudo respondia com a maior paciência.
Nem parecia o mesmo homem cruel e implacável que mandava matar os inimigos, e maltratava servos insubordinados – em suas palavras. Homem lúbrico que usava as mulheres apenas para seu prazer.
Viriato parecia momentaneamente transformado.
Ao lado de Leonor, segurava sua mão para que conseguisse traçar suas primeiras letras. Lia trechos de livros, comentava sobre fatos históricos, lia sobre mitologia. As paixões de Zeus, a ira de Hera.
Leonor ficava encantada com as histórias que ouvia.
Aos poucos, começou a soletrar palavras, ler pequenos textos. Escreveu suas primeiras linhas, e ficou encantada ao se descobrir iniciada no mundo das palavras.
Notando que Leonor havia aprendido a ler, Viriato chegou a dizer:
- Perdi minha aluna.
Leonor começou a ler os livros que havia no castelo.
Admirou iluminuras – pinturas decorativas aplicadas as letras capitulares no início de códices – manuscritos todo trabalhados neste processo –, além de obras decoradas com ouro e prata, muito em voga naquele século.
Ao notar o crescente interesse da esposa por literatura, Viriato presenteou-a com uma Bíblia – primeira obra saída da prensa de Gutemberg.
O homem escreveu-lhe uma dedicatória. Pediu para que lesse.
A moça começou a ler: “Que este presente, fruto do prodígio de um homem, o qual transformou uma obra única, em exemplar a ser multiplicado, te traga conhecimento e entendimento sobre as coisas da fé. Do seu conde, Viriato.”
O homem, ao ouvir Leonor repetindo com clareza as palavras que escrevera, ficou satisfeito.
Vaidoso comentou:
- A senhora está lendo muito bem! E pensar que tudo isto é fruto de um trabalho meu. Meus parabéns!
Viriato segurou então, as mãos da moça.
O moço agradeceu por lhe proporcionar aqueles momentos juntos.
Leonor olhou-o surpresa.
O conde aproximou-se para abraçá-la.
Chorando, agradeceu por ter-lhe dado um filho e ter proporcionado a possibilidade de gostar de alguém.
Nisto, Lourenço e Antunes, tentando descobrir a melhor forma para retirar a moça do castelo, começaram a vigiar o castelo à distância.
Disfarçados de camponeses, avistaram Leonor caminhando ao lado de Viriato e brincando com o filho – César.
O menino corria lépido e fagueiro de um lado para o outro, segurando uma pequena carroça de madeira.
De longe, puderam ver Leonor e Viriato conversando com o garoto.
Mais, tarde, em sua propriedade, Lourenço comentou desolado, que Leonor parecia muito feliz ao lado do filho, e que o menino estava cada vez mais parecido com Viriato.
Antunes insistiu em dizer que seria complicado tirar os dois do castelo, e que tal empreitada chamaria muito a atenção.
Lourenço contudo, estava determinado a agir daquela forma.
Diante disto, passou a colocar seu plano em prática.
Primeiramente, colocou duas pessoas de sua confiança para trabalharem no castelo.
Com isto, passou a saber detalhes da rotina do casal, bem como dos hábitos da família.
Incomodado, descobriu que Leonor e Viriato dormiam no mesmo quarto.
Certo dia, espiando-a de longe, Lourenço observou que a moça segurava um livro entre as mãos.
Quando um dos serviçais de sua confiança lhe contou que Viriato ensinara-lhe a ler, Lourenço ficou intrigado.
Ao saber que Viriato era gentil com Leonor, Lourenço ficou possesso.
Antunes ao presenciar a cena, comentou que talvez a moça estivesse aprendendo a se conformar com os fatos, e que a melhor maneira dela ter paz, era vivendo bem com o conde.
Lourenço ficou com os olhos cheios d’água.
Dizendo que não podia aceitar aquilo como sendo verdade, comentou que Leonor fora forçada a viver com ele, que lhe tinha asco.
Antunes disse que, diante do quadro apresentado, a condessa, sim, a condessa – em que pese Lourenço não aceitar este fato –, estava tentando se acomodar aso fatos e se adequar as circunstâncias.
Ao ouvir isto, o moço bateu na mesa da sala de jantar.
Afirmou que a moça estava ali contra sua vontade. Disse que Viriato havia roubado a felicidade dos dois, e que deveria pagar por todo o sofrimento causado. Argumentou ainda que ele também tinha um filho com ela, e que ele também necessidade dos cuidados de Leonor.
A certa altura, Antunes perguntou-lhe se não era apenas orgulho ferido.
Lourenço furioso, respondeu que amava Leonor.
Com isto, continuou dando prosseguimento a seu plano.
Antunes ficou preocupado com a obstinação de Lourenço.
Enquanto isto, no castelo, Viriato se desdobrava em amabilidades para com Leonor. Atencioso, sempre a acompanhava em seus passeios, sugeria-lhe leituras, brincava com César.
Oferecia frutas para Leonor.
A condessa também se esforçava para retribuir as gentilezas.
Cuidava bem de César.
Também tentava não se mostrar tão indiferente a Viriato.
Ás vezes porém, batia-lhe uma grande saudade de seu outro filho – Anselmo.
No tocante a isto contudo, tinha que se conformar.
Viriato não podia saber que ela tinha outro filho. Filho este, fruto de sua relação com Lourenço.
Isto lhe afligia.
Viriato, percebendo sua inquietude, tentava descobrir o que estava se passando.
A moça porém, desconversava. Dizia que estava com dor de cabeça.
Certo dia, o conde ficou desconfiado, mas Leonor, dizendo-se indisposta, retirou-se para descansar em seu quarto.
Pediu para ficar sozinha.
Viriato pediu para que ela repousasse.
Mais tarde o homem levou-lhe frutas.
Leonor respondeu-lhe que estava bem.
Viriato abraçou a esposa.
Nos dias que se seguiram, Viriato comentou que eles fariam cinco anos de casados.
Empolgado, sugeriu a organização de uma grande festa para comemorar a data.
Irônico, comentou que queria que todos soubessem de sua felicidade.
Com efeito, quando Lourenço soube da festa, comentou animado, que aquela era a oportunidade ideal para arrebatar a moça, e retirar o menino do castelo.
Antunes ao ouvir tais palavras, pediu ao sobrinho, que tivesse cuidado.
Argumentou que em razão da festa, o castelo estaria cercado de atalaias e seria muito mais perigoso retirar a moça de lá.
Lourenço argumentou que a festa também distrairia o conde, que vaidoso, se ocuparia de apresentar a jovem e bela esposa a todos os nobres e influentes convidados de sua festa.
Com isto, o moço disfarçou-se de serviçal.
A distância, acompanhou os passos de Viriato.
Desta feita, como a presença dos convidados exigia, Leonor ficou sozinha, boa parte da festa.
Conversando com as esposas dos convivas, a condessa ouviu inúmeras vezes, que era uma moça de sorte.
César então, dormia profundamente em seu quarto.
Lourenço cuidava da limpeza dos aposentos.
A certa altura, esbarrou por acidente em Viriato, que ficou furioso com o criado.
Dizendo que aquela não era hora de fazer limpeza, mandou o homem se afastar.
Lourenço disfarçando a voz, desculpou-se, e continuando a limpar o salão, afastou-se.
No salão havia música, comida, bebida.
Vozerio.
A certa altura, Leonor resolveu se isolar em uma sala.
Lourenço percebendo isto, resolveu se aproximar da moça.
Acompanhado dos dois serviçais de sua confiança, o moço aproximou-se de Leonor, e sem lhe dizer qualquer palavra, colocou um lenço em suas narinas.
A moça por um instante se espantou com a presença de Lourenço.
Contudo, não teve tempo para esboçar qualquer reação, já que o moço a deixou desacordada.
Lourenço então, carregou a moça nos braços, e escondeu-a num cesto.
Os homens que o acompanhavam na empreitada, levaram a moça para longe do castelo. Driblando os sentinelas, colocaram o cesto em uma carroça.
Nisto, Lourenço subiu as escadarias do castelo, caminhou pelo corredor, adentrou todos os quartos, até descobrir onde César dormia.
Ao ver que a criança era ninada por uma criada, o homem esperou a moça retirar-se do quarto para retirar o menino do leito.
César, que estava adormecido, não percebia nada a sua volta.
Lourenço então, enrolou o menino em um pano, e retirou-o do castelo, sem que ninguém desse por sua falta.
Nisto, o homem seguiu até a carroça colocando a criança deitada.
Lourenço então, retirou-se da propriedade sem alarde.
Os dois homens ficaram na carroça segurando o cesto e a criança.
Nisto, quando a criada percebeu a ausência da criança, Viriato procurava Leonor pelo salão.
Entretido em conversas com os convidados, o homem só foi dar pela falta da moça, quando esta já estava muito longe do castelo.
Ao ser avisado que César não dormia em seu quarto, Viriato percebeu que a mulher e o filho haviam sido retirados do castelo.
Furioso, mandou todos os convidados se retirarem.
Dizendo que a festa havia acabado, exigiu que todos se retirassem. Comentou que Leonor havia adoecido, relatando que precisava ficar sozinho.
Nisto, os convidados foram se retirando.
Muitos desejaram melhoras a Leonor.
Mais tarde, ao ver-se sozinho, o conde ordenou a seus homens que vasculhassem todo o castelo, os arredores, a vila, as propriedades vizinhas. Enfim toda a região.
Nervoso, o conde gritou para que todos fizessem alguma coisa.
Furioso, gritou com a criada que cuidava da criança. Chamou-a de imprestável.
A moça chorou.
Gritou com os atalaias, chamou-os de incompetentes. Indagou por que eles não viram nenhuma movimentação estranha no castelo.
Lourenço por sua vez, rumou para sua propriedade. De lá, seguiu para a casa escondida na floresta.
Preparou o lugar para receber a moça e os dois meninos.
Organizou cada detalhe, cada passo, providenciou roupas e alimentos para todos.
Ciente do estava sendo planejado, Abílio e Aparecida se prontificaram em cuidar de Leonor e dos netos.
Quando finalmente o moço chegou com Leonor e César, Anselmo dormia profundamente em seu berço, sob os cuidados de Aparecida.
Abílio havia brincado durante toda tarde com o neto.
Leonor então, foi conduzida desacordada para um dos quartos.
César por sua vez, foi colocado em uma cama ao lado do berço em que dormia Anselmo.
Nisto, quando Leonor finalmente despertou, assustou-se.
Percebendo que não estava no castelo, ao ver Lourenço em sua frente, perguntou-lhe onde estava.
- Não reconhece este lugar? – indagou Lourenço.
Observando o ambiente, Leonor percebeu que fora levada até a casa na floresta, a propriedade de Lourenço.
Aflita, a moça perguntou como havia sido levada até lá.
Preocupada, perguntou de Anselmo. Chorando comentou que César precisava dela.
Lourenço então, tentando acalmá-la, comentou que tanto Anselmo como César, estavam junto com eles.
Feliz, comentou que seus pais também estavam lá para fazer-lhe companhia e cuidar das crianças.
Ansiosa, Leonor saiu do aposento e adentrou todas as portas, até encontrar os dois meninos dormindo juntos.
Ao vê-los dormindo, tranquilizou-se.
Lourenço ficou satisfeito ao ver a moça contemplando o sono das crianças.
Mais tarde, a moça banhou-se. Trocou os trajes de festa que ainda usava.
Ao encontrar-se com Lourenço, comentou aflita que ele havia se arriscado e que se Viriato os pegasse, estariam todos mortos. Inclusive seus pais.
Leonor então afligiu-se.
Lourenço comentou que Viriato jamais os descobriria.
Prometeu que ficaria com ela por alguns dias.
Revelou ainda, que havia ordens expressas para não deixar nenhum estranho adentrar a propriedade.
Viriato contudo, usando de sua influência, conseguiu autorização para adentrar a propriedade de Lourenço.
Aborrecido porém, nada encontrou.
Por conta disto, invadiu a propriedade de Antunes, igualmente sem sucesso.
Nervoso, começou a se embebedar.
Certo dia, mesmo sob os protestos de Antero, o homem saiu para uma caçada, onde se feriu.
Antero, ao ver o homem sendo trazido por dois homens, ficou impressionado.
Mandou levar o conde para seus aposentos.
Lá Antero, pode verificar a extensão do ferimento.
Até ser conduzido ao castelo, o conde havia perdido muito sangue.
O ferimento era profundo.
Preocupado, Antero mandou chamar um médico.
Durante toda a madrugada, o conde teve febre, calafrios, delirava.
Por diversas vezes, chamou por Leonor, perguntava do filho.
A certa altura, aflito, chegou a dizer em meio a frases desconexas, que não podia morrer, que ainda não era a hora.
Antero ao ver o patrão naquele estado, pedia para que se acalmasse.
Leonor por sua vez, brincava com os filhos.
Com o tempo, foi explicando as crianças, que eles eram irmãos, filhos de pais diferentes.
Abílio e Aparecida por sua vez, estavam felizes por estarem em companhia dos netos.
Sabiam que estavam pondo suas vidas em risco, mas não se importavam com isto.
E assim, ajudavam a cuidar dos meninos.
Abílio contava histórias de reis e de princípes desbravadores de terras, descobridores de tesouros. Homens valentes e corajosos que a tudo enfrentavam.
César sorria para o homem.
Anselmo, com quase dois anos, ficava entretido com seus brinquedos.
César, a todo o momento perguntava do pai. Estranhava o fato de Leonor e Lourenço estarem juntos.
A mulher por sua vez, não sabia o que dizer ao filho.
Aparecida resolveu explicar a criança que Leonor havia se separado de Viriato, e que agora ele teria uma nova família.
Chorando, o menino respondeu que não queria outra família, que já tinha a sua.
Ficou toda uma tarde amuado por conta disto.
Com febre durante a noite, a todo o momento o menino falava:
- Papai! Papai!
Aflita, Leonor não sabia mais o que fazer.
Nisto, a criança foi melhorando.
Aos poucos, Lourenço tentou se aproximar da criança, mas o menino, desconfiado, perguntava:
- Quando eu vou ver o papai?
Lourenço não sabia o que dizer.
Abílio comentou certa vez com a esposa, Aparecida, que Lourenço havia criado um grande problema para ele e para Leonor.
Aparecida temia o pior.
Antunes por sua vez, havia aconselhado Lourenço por diversas vezes, a não agir com precipitação.
Abílio recordou-se desta circunstância.
Percebendo a preocupação do marido, Aparecida segurou sua mão.
Nisto, Lourenço aproveitava para conversar com Leonor e dar atenção a seu filho Anselmo, e tentar se aproximar de César.
Com efeito, o menino não era propriamente hostil, mas estava desconfiado.
Toda vez que Lourenço se aproximava para conversar, o garoto se afastava.
César só gostava da companhia da mãe, dos avós, e de Anselmo.
Por ser o mais velho, César adorava dar ordens a criança.
Bravo, dizia que Anselmo tinha que obedecê-lo.
Contudo, em que pese a rispidez com que tratava os criados no castelo de seu pai, César não era hostil com Anselmo. Mas não se furtava de chamar a atenção do mesmo, quando a criança não fazia o que ele queria.
Com Anselmo, César brincava de guerreiro.
O garoto era sempre o dono do castelo e Anselmo o seu fiel escudeiro.
Nisto o menino ficava a dar ordens a criança.
Leonor achava graça nas broncas que César passava em Anselmo.
Contudo, nos primeiros dias, o menino não aceitou bem a presença de Anselmo.
Vivia reclamando do fato de ter que dividir seu quarto com outra criança.
Leonor conversou então com o filho.
Explicou-lhe que as coisas haviam se precipitado.
Que não voltaria a viver com Viriato, e que eles não poderiam voltar a viver no castelo.
Ao ouvir estas palavras César chorou, esperneou.
Conforme já dito anteriormente, durante algumas noites teve febre e chamou pelo pai.
Leonor ficou preocupada com isto.
Aparecida então, ajudou-a a cuidar do menino, e dizendo palavras de conforto, tranquilizou-o.
E assim, como já dito, com o passar dos dias, César melhorou.
César ficava a brincar com seu irmão, Anselmo.
Viriato por sua vez, piorava.
Quase todos os dias tinha febre e delírios.
Invariavelmente chamava Leonor e o filho.
Antero estava cada vez mais preocupado.
Ao perceber que o estado do conde se deteriorava, decidiu por conta própria dar prosseguimento as buscas por Leonor.
Nervoso, exigiu que os homens de Viriato continuassem a procurar a condessa.
Dizia que quando ele se recuperasse, não gostaria nem um pouco de saber que eles se quedaram inertes. Gritava que o conde não estava morto.
Com isto, os homens voltaram a realizar as buscas.
Aflito, Antero prometeu a Viriato que ele veria Leonor, nem que fosse pela última vez.
Ao notar que o estado do conde se agravava, Antero resolveu tomar parte nas buscas.
Não sem antes deixar uma pessoa de sua inteira confiança para cuidar de Viriato.
E assim partiu.
Junto com os homens de confiança do conde, partiu.
Os mesmos, invadiram as terras de Lourenço, vasculharam sua propriedade.
Mesmo com ordens expressas, os homens entraram nas terras, invadiram a residência de Lourenço.
Antero ficou transtornado ao perceber que não havia vestígios do homem na propriedade.
Furioso, ameaçou incendiar a mata que existia na propriedade.
Diante disto, preparou os homens para novamente se dirigirem a propriedade de Antunes.
Dias depois, Antero constatou decepcionado, que Lourenço e Leonor não estavam lá.
Virgínia, ao ver a residência sendo novamente invadida, assustou-se.
Antunes por sua vez, enfrentou o homem.
Dizendo que Lourenço não se encontrava no lugar, comentou que fazia meses que não via o rapaz.
Antero não pareceu acreditar.
Todavia, ao ser liberado para vasculhar o castelo, teve que aceitar o fato de que o moço não estava lá.
Antero contudo, não se deu por vencido.
Prometeu a si mesmo, que faria todo o possível, que moveria céus e terra, mas que encontraria a moça, e a levaria diante do conde.
Lourenço por sua vez, ao tomar conhecimento de que suas terras foram invadidas, ficou furioso.
Abílio, ao tomar conhecimento dos fatos, aconselhou o homem a retirar Leonor, César e Anselmo do lugar.
Comentou que enquanto permanecesse ao alcance do conde, eles não teriam paz.
Lourenço também ficou preocupado. Ao saber que os homens de Viriato invadiram a propriedade de seu tio Antunes, percebeu que a situação ficava cada vez mais complicada.
Aflito, a cada vez que saia do esconderijo, para cuidar de suas terras, Lourenço tentava se certificar que não estava sendo seguido.
Antero, sequioso de notícias do homem, acabou encontrando um camponês disposto a lhe passar informações sobre a rotina da casa.
Assim, cada vez que Lourenço retornava a sua residência, Antero era informado dos passos do homem.
Intrigado, ficou a se perguntar o que moço fazia nos momentos de ausência, para onde se dirigia. Refletindo sobre a situação, concluiu que o rapaz só poderia estar escondendo a mulher e a criança em alguma propriedade. Talvez na casa de algum dos camponeses que trabalhavam naquelas terras.
Decidiu então, orientar o campônio a seguir Lourenço.
Argumentando que sabia ser generoso, exigiu que o homem não perdesse o rapaz de vista.
O camponês concordou.
E assim, passou a seguir o rapaz.
Desta forma, foi questão de tempo para o campônio perceber que Lourenço adentrava a mata fechada.
Genésio ficou surpreso com a descoberta, mas pensando na recompensa, resolveu seguir o homem à distância.
Nervoso, cavalgou pela mata.
Cauteloso, fez de tudo para Lourenço não perceber sua presença.
Cansado, o moço só queria chegar em seu refúgio e descansar nos braços de sua amada Leonor.
Nisto, Genésio continuou acompanhando o moço.
A certa altura, teve que apear do cavalo e seguir a pé, segurando o animal pelas rédeas.
Caminhou por lama, trilhas estreitas.
Quando Lourenço finalmente chegou até a casa, bateu a porta, vindo a ser recebido por Aparecida.
Genésio se espantou com o que viu.
Nisto Lourenço adentrou a casa.
O camponês ficou durante algum tempo, observando de longe a morada.
Cauteloso, não deixou ninguém notar sua presença. Como aliada, a escuridão da noite.
Ninguém apareceu.
Nisto o campônio seguiu pela mata escura, até sair do campo de visão dos moradores da casa, para só então, acender um lampião e sair da mata.
Desabituado a seguir pelo caminho, conseguiu retornar a sede da propriedade, com a ajuda dos rastros deixados pelos cavalos. Genésio seguiu Lourenço à distância.
Mais tarde o campônio dirigiu-se ao castelo, onde dias depois, relatou a um ansioso Antero, que sabia para onde Lourenço ia todas as vezes em que se ausentava de sua residência.
Relatou que seguiu o homem pela mata, até chegar em uma casa, onde Lourenço foi recebido por Aparecida.
Nervoso, Antero perguntou se ele havia visto Leonor.
O homem balançou a cabeça negativamente.
Antero pagou Genésio.
Oferecendo algumas moedas, orientou-o a retornar ao castelo. Relatou que pretendia ir até lá, e que o camponês o acompanharia. Comentou que ele poderia ganhar muito mais, sendo leal a ele.
- As ordens! – respondeu Genésio, se afastando.
Nisto, Antero foi se ocupar de Viriato, que estava cada vez mais abatido.
O conde havia perdido muito sangue.
Aflito, Antero pediu para ele ter paciência. Disse-lhe que Leonor voltaria brevemente.
Dias mais tarde, Antero e alguns homens adentraram as terras de Lourenço.
Com isto, Antero adentrou a propriedade, e acompanhado de Genésio, rumou mata adentro, em busca de Lourenço e Leonor.
Fizeram o trajeto a noite, visando não chamar a atenção.
Cavalgaram durante toda a madrugada.
Quando Antero se aproximou da residência, chamou os homens, os quais começaram a forçar a porta.
Lourenço que estava dormindo em seu leito, ao lado de Leonor, levantou-se sobressaltado.
Nisto, os homens de Viriato arrombaram as portas do imóvel.
Lourenço desceu a escadas.
Antero, ao vê-lo, falou:
- Ah, quanto tempo! Onde está Leonor? Onde está o menino?
Lourenço ficou petrificado ao ver os homens de Viriato invadindo a casa.
Aflito, tentou resistir a invasão, tentando impedir que os homens subissem as escadarias.
Abílio, ao ouvir Lourenço discutir com alguns homens, acordou assustado.
Nervoso, dirigiu-se ao lugar de onde vinham as vozes.
Ao lá chegar, deparou-se com a seguinte cena: Lourenço sendo ameaçado por Antero, que apontava uma arma para ele.
Abílio, percebendo o perigo, pediu ao moço, para que não reagisse.
Antero respondeu então:
- Enfim, uma pessoa com bom senso!
Nisto, Antero empurrou Lourenço, que foi ao chão.
E assim, ele e os homens entraram em todos os quartos. Despertaram Aparecida. Ao entrarem no quarto onde os meninos dormiam, Antero ficou espantado.
Nisto, foi ao quarto onde Leonor dormia.
Ao ouvir barulhos de passos pelo quarto, a moça acordou assustada.
Diante de Antero, a mulher soltou um grito.
Antero pediu para ela se acalmar.
Dizendo que sabia que as duas crianças que dormiam no aposento ao lado eram seus filhos, comentou que ela tinha muito a perder se não entrasse em acordo com ele.
Leonor não compreendia.
O homem relatou então, que Viriato estava muito mal. Dizendo que o conde em seus delírios chamava por ela e pelo filho, comentou desesperado, que havia visto o homem chorar, se lastimando pela ausência da esposa. Revelou que o homem se ferira em uma caçada.
Aflito, Antero deixou escapar que acreditava que o conde se ferira intencionalmente.
Leonor, ao tomar consciência do que estava acontecendo, ficou apreensiva.
O criado, percebendo isto, comentou que não estava ali para fazê-la prisioneira. Argumentou que estava ali apenas para fazer a última vontade de seu senhor, a quem muito estimava.
Cercada pelos homens, só restou a moça seguir Antero.
Para tanto, colocou um vestido.
A pedido de Antero, Leonor pegou César.
E assim, partiram.
Antes de ir, a moça chorou.
Abraçada a Lourenço, comentou que precisava partir.
Lourenço tentou em vão, impedir a partida, mas foi aconselhado por Abílio e Aparecido a deixar a moça ir.
O moço porém, estava desconfiado.
Contudo, não havia o que fazer.
E assim, Leonor e César partiram.
Com isto, ao ver os homens de Viriato se afastando, Abílio comentou com Lourenço, que ele devia agradecer o fato de ainda estar vivo.
Aparecida acrescentou que o conde deveria estar mal mesmo, ou então então, estariam todos mortos.
Nisto, Leonor e César caminharam pela mata, com os homens de Viriato.
Ao chegarem no castelo, a moça foi conduzida ao leito do conde.
O homem ardia em febre.
Chorava e chamava por ela.
Leonor ficou chocada com a cena.
Temerosa, demorou a se aproximar.
Antero então, adentrou o quarto, e dizendo ao moço que Leonor estava ali, pediu para que ele se acalmasse.
Aos poucos Leonor foi se aproximando.
Pediu para ele ficar bem.
Alguns dias depois, a mulher resolveu levar o menino para visitar o pai.
Sob os cuidados de Leonor, Viriato recobrou a consciência.
Ao despertar, surpreendeu-se com a presença de Leonor.
Febril, perguntou se era ela mesma que estava ali.
Leonor resolveu se aproximar do homem.
Aflito, Viriato segurou seu braço. Disse quase sem voz, que eles tinham muito o que conversar.
Antero que adentrava o aposento, tentou acalmar o patrão.
Recomendando-lhe que descansasse, disse que a moça não iria partir, e que ele teria todo o tempo do mundo para conversar com ela.
Viriato tentou argumentar com o criado, mas não tinha forças.
Mais tarde, César foi visitar o conde.
Na primeira visita, ao ver o pai inconsciente, quis se aproximar para despertá-lo. No que foi impedido por Leonor, que argumentou que Viriato precisava descansar.
Contrariado, o menino obedeceu a mãe.
Na segunda visita, César encontrou o pai consciente.
Espontâneo, contou que ninguém deixava vê-lo e que estava com saudade.
Antero, temendo que o menino dissesse coisas inconvenientes, a todo o momento dizia que o conde precisava se alimentar e que ele poderia ir brincar.
César retrucava dizendo que ainda era muito cedo.
Quando Leonor adentrou o quarto, o menino finalmente foi convencido a deixar o quarto.
Viriato por sua vez, num fio de voz, prometeu que mais tarde os dois iriam brincar juntos, e que não haveria ninguém para atrapalhar.
César foi então brincar.
Assim, Leonor colocou panos úmidos sobre a cabeça do conde.
Auxiliava-o a ingerir alimentos líquidos.
Por saber ler, passou a ler para ele.
Fazia-o beber as infusões preparadas por Antero, e dizia-lhe que ele iria melhorar, em que pese o pessimismo do moço.
Lourenço por sua vez, ao ver-se distante de Leonor, estava amuado.
Triste, apenas a companhia do filho Anselmo o alegrava.
Abílio, embora feliz em companhia do neto, estava muito preocupado com Leonor.
Aflito, a todo o momento dizia a esposa que não sabia o que esperar do conde.
Lourenço por sua vez, tencionou invadir o castelo de Viriato para retirar Leonor de lá.
No que foi desaconselhado por Abílio, e impedido por Antunes.
O homem, ao saber dos últimos acontecimentos, foi ter com o sobrinho.
Lourenço chorou ao contar que os homens de Viriato haviam levado Leonor.
Lamentando-se disse que nunca mais a veria.
Antunes não sabia o que dizer.
Enquanto isto Leonor continuou a cuidar de Viriato.
Colocava compressas frias sob sua fronte para diminuir sua febre. Ministrava infusões preparadas por Antunes. Servia-lhe alimentos líquidos.
Como sabia ler, aproveitava ler para ele alguma coisa.
Certa vez, ao receber nova visita de seu filho César, o menino deixou que escapar que não via a hora de voltar para casa, em que pese haver conhecido seu irmão.
Viriato ficou chocado ao ouvir tais palavras.
César, sem perceber isto, contou que Anselmo era muito desobediente. O menino contou que como era o mais velho, cabia a ele dar ordens ao irmão mais novo.
O conde ficou perplexo.
Nisto a criança começou a brincar. Corria de um lado para o outro do aposento com seu carrinho de madeira.
Antero ao ouvir a algazarra, insistiu para o menino ir brincar em outro lugar.
Dizendo que o conde precisava descansar, pediu ao menino para não perturbar o doente.
César contrariado, respondeu:
- Tá bom!
E saiu do quarto.
Quando Antero aproximou-se do leito em que Viriato convalescia, percebeu que o conde havia piorado.
A fronte do homem estava lívida, e banhada em suor.
Aflito, Antero saiu apressadamente do quarto, só retornando acompanhado por Leonor.
A mulher assustou-se ao perceber que Viriato havia piorado.
Diante disto, pediu para que fossem providenciadas compressas frias.
Viriato delirando, começou a chorar.
Desiludido, passou a dizer palavras desconexas. Chamava por Leonor, dizia o nome de Lourenço. Falava em traição e deslealdade. Dizia que havia cometido uma falta grave.
Agitado, o homem se lembrava de sua vida.
De seu gênio destemperado, das mulheres que passaram por sua alcova.
Da perseguição a Leonor. Do tiro disparado contra Lourenço. Dos anos de convivência com Leonor.
De César. Da revelação da criança.
Sentiu-se sem amor. Enfim constatou que Leonor só havia ficado a seu lado por temor, e nos últimos momentos, estava a seu lado talvez por piedade e sentimento de culpa.
Furioso e desolado, sentiu-se traído.
Chorava. Dizia:
- Ela nunca me amou!
Lágrimas caíam de seus olhos.
Leonor não sabia mais o que fazer.
Antero decidiu que o médico deveria ser chamado.
Quando o homem chegou ao local, examinou o conde.
Pessimista, disse que o homem estava morrendo.
Ao ouvir isto, Leonor ficou chocada.
Antero implorou ao médico que fizesse todo o possível para salvá-lo.
O médico respondeu que poderia tentar diminuir um pouco sua febre, nada mais.
O criado resolveu sair do quarto.
Ouve quem dissesse tê-lo visto chorando.
Nisto o médico ficou administrando compressas, com vistas a diminuição da febre de Viriato. Ministrou uma bebida, a qual Leonor auxiliou o conde a ingerir, levantando sua cabeça.
Após algumas horas, ao perceber que a febre havia abaixado, o médico se despediu, e recomendou que Viriato não fosse incomodado por ninguém.
Disse que diante de seu estado de saúde, não deveria sofrer perturbações.
E assim, Leonor continuou a cuidar do conde.
Ao despertar, percebendo que a esposa permanecia de vigília, o conde tentou balbuciar algumas palavras.
A moça pediu a ele, para que não se esforçasse.
No que Viriato retrucou:
- Você não entende! Eu preciso falar... Antes que seja tarde demais.
Leonor percebeu que os olhos do conde estava cheios d’água.
Viriato então, pediu para que ela o ouvisse.
Insistiu para que ela não o impedisse de falar. Pediu para não ser interrompido.
Leonor por sua vez, dizia que ele deveria descansar e que em outra oportunidade, poderia conversar, falar o que quisesse.
Viriato então, começou a falar:
- Eu sei que não fui um bom homem... Que não fui um bom marido... Que não fui um bom pai... Sei que maltratei muita gente. Fiz mal a muitas pessoas. Usei as mulheres. Maltratei-as. Inclusive a que mais amei...
Nisto, os olhos do conde, tornaram a se encher de água.
Leonor tentou interrompê-lo.
No que o homem pediu:
- Por favor! Me deixe falar. Permita-se uma caridade para com um homem que não foi nem pouco caridoso contigo... Eu sei que das minhas faltas. Sei que tudo o que estou sofrendo é consequência dos meus erros, da minha imprudência.
Trêmulo, Viriato contou que sabia que ela tinha outro filho, mais novo que César.
Ao ouvir isto, Leonor ficou chocada.
Nisto o conde prosseguiu:
- Não temas! Eu não vou te repudiar por isto. Já era de se esperar que junto de Lourenço, pensasse em constituir uma nova família. Num ambiente onde houvesse amor e alegria... Coisa que nunca tiveste comigo.
Leonor tinha os olhos cheios d’água.
Viriato com suas mãos trêmulas, segurou o braço de Leonor.
Aflito, olhou-a nos olhos e implorou perdão. Dizendo que sentia sua vida se findar, implorou para que ela o perdoasse. Dizia que estava arrependido por fazê-la tão infeliz. Argumentou porém, que mesmo sabendo que ela não o amava, sentia-se inteiramente feliz a seu lado.
Relatou que um dos momentos mais bonitos que vivera a seu lado, foi quando ensinou-a a ler. Comentou que sentiu que naquele momento havia dado o melhor de si. A coisa mais sublime que tinha a oferecer.
Chorando, Viriato revelou que muito embora tenha sido lascivo, que a amava muito, e que sentia muito por não ser correspondido.
Leonor se aproximou para consolá-lo, mas Viriato recusou o gesto.
Disse que não queria ela fizesse mais nada por piedade.
A moça respondeu-lhe então, que lamentava muito seu sofrimento.
Viriato disse que era muito tarde para ele.
Comentou mais uma vez que a amava, e que só se arrependia da havê-la forçado a fazer o que não queria, mas que não se arrependia de nenhum dos momentos felizes que viveu ao lado dela.
Aflito implorou para que ela o perdoasse, disse que aquela simples frase, poderia mudar todo um histórico de maldades, de dores e de sofrimento.
Leonor por sua vez, disse que o perdoava.
Os olhos de Viriato se iluminaram por um breve instante.
Nisto, o homem pediu para que chamasse Antero e mais três homens de sua inteira confiança.
O conde então, ditou-lhes seu testamento, indicando os três homens como suas testemunhas e Antero como o responsável pelas disposições testamentárias.
Mais tarde, ao ver-se a sós com Leonor, disse-lhe que ela era a mulher mais bonita que havia visto.
A moça colocou novamente uma compressa sob sua fronte.
O homem adormeceu.
No seguinte, o conde voltou a delirar. Dizia febril que Lourenço fora traiçoeiro, mas que ele fora ainda mais desleal com o amigo.
Chorando, pedia perdão.
Lourenço então, a pedido do conde dirigiu-se até o palácio.
Lá se deparou com um conde fraco, abatido.
O oposto do homem que conhecera.
Viriato conversou então com Lourenço.
Relatou-lhe que sabia que possuía um filho com Leonor.
Que seu filho César havia contado tudo.
Pediu-lhe desculpas por haver tirado Leonor dele. Relatou que havia se apaixonado por ela e que sabia que ela amava o amigo. Mesmo assim, se interpôs entre os dois, adiando a relação do casal.
Ao ouvir estas palavras, Lourenço ficou perplexo.
Viriato relatou que estava morrendo, e que não esperava que Leonor ficasse sozinha. Comentou que se lamentava por deixar seu filho sem pai, em que pese saber que ele ficaria em boas mãos.
Triste, pediu para Lourenço se aproximar. Pediu-lhe perdão.
Perdão este que o moço disse não estar em condições de conceder.
Viriato chorou.
Lourenço fitava-o com mágoa.
O conde então, se acalmando, disse que esperava por aquela reação. Relatando que na posição de Lourenço, também teria dificuldade em perdoar, comentou que carregaria para sempre consigo, o peso de suas faltas.
Aflito pediu a ele, que se não era possível perdoar, que ao menos cuidasse de seu filho. Dizendo que César não tinha culpa de suas maldades, comentou que ele poderia fazer do menino, uma pessoa melhor do que ele jamais fora.
Os olhos de Lourenço ficaram marejados.
Incomodado, o homem disse que precisava sair do quarto.
Ao chegar no corredor, Lourenço encostou-se em uma parede. Chorou.
Nisto, foi a vez de César visitar seu pai.
O menino, percebendo que aquela seria a última vez que veria seu pai, não parava de chorar.
Viriato, percebendo isto, comentou que ele não deveria chorar. Argumentando que homens não choram, revelou que havia fraquejado.
César então, correu para abraçá-lo.
O conde disse-lhe:
- Nunca se esqueça de uma coisa! Ainda que te sintas muito sozinho, nunca se esqueças que eu te amo muito. Sempre! Você foi a coisa que eu mais desejei neste mundo.
César continuava chorando.
Viriato então, sentindo faltar-lhes a forças, chamou por Leonor.
César foi retirado aos berros do quarto.
Viriato num fio de voz, ao ver Leonor se aproximando, fez um último pedido.
Implorou-lhe que cuidasse de César e que ficasse junto de Lourenço.
Ao proferir estas palavras, a moça notou que o conde estava contrariado.
Por derradeiro, pediu-lhe um último beijo.
Beijo este o qual argumentou, o faria se sentir mais em paz.
Leonor chorando, aproximando do homem, permitiu que o conde lhe beijasse os lábios.
Depois disto, o homem virou o rosto para o lado.
Não se mexeu mais.
Leonor, espantada, percebeu que Viriato não mais respirava.
Aflita, chamou Antero, que confirmou a morte do conde.
Leonor fechou os olhos de Viriato...
Antero, abalado, providenciou flores e tudo o mais que fosse necessário para o enterro de seu patrão.
Viriato foi velado por ele, Lourenço, Leonor, César, Anselmo, Aparecida, Abílio, Antunes, Virgínia, e alguns homens de confiança.
Nenhum outro proprietário de terras quis participar de seu velório.
Viriato era um homem temido e odiado.
Morreu como vivera. Só.
Durante o enterro, Antero disse que muito embora a aparência e os gestos fossem de um homem duro e cruel, Viriato era um homem bom, fato este que só a poucos fora dado conhecer.
Com os olhos marejados, Antero fez questão de abrir a cova e enterrar seu patrão.
Estranhamente, o criado tinha carinho pelo conde.
Uma das poucas pessoas a gostar dele.
César por sua vez, chorou copiosamente durante o velório e posterior enterro.
Lourenço então, aproximou-se do menino e contou-lhe que seu pai estava indo para um lugar muito melhor do que aquele no qual vivera seus últimos momentos, e que o estava observando do céu.
César chorando perguntou:
- É verdade?
Lourenço confirmou.
Com isto, aos poucos, os dois se aproximaram. Ficaram amigos.
Semanas mais tarde, o menino levou flores ao túmulo do pai.
Lourenço e Leonor passaram a viver juntos.
Antunes e Virginia, convidaram o casal para viver em outras terras.
Lourenço e Leonor, estavam dispostos em começar suas vidas em outro lugar.
Diante disto, o moço comentou com César, que não tinha mais interesse em ficar na região. Dizendo que aquelas terras lhe traziam lembranças tristes, sugeriu ao menino vender suas terras e as terras onde ficavam o castelo. Argumentou que haviam nobres interessados naquelas propriedades.
César não gostou da idéia. Dizia que queria muito continuar visitando seu pai.
Lourenço disse-lhe então, que quanto a isto, não haveria problema. Sempre que quisesse visitar o pai, teria autorização dos novos donos para atravessar as terras.
Assim, com o tempo, acabou por convencer o menino.
E assim, Lourenço e Leonor venderam as terras, vindo a adquirir uma nova propriedade próxima as terras de Antunes. Era a maior propriedade que havia na região.
César e Anselmo seriam os herdeiros desta.
Mais tarde, o casal se casou, e teve mais um filho, de nome Lúcio.
Certo dia, Lourenço e Leonor, juntamente de César, Anselmo e Lúcio, foram visitar as terras que um dia foram de Viriato.
César depositou flores no túmulo do pai.
Mais tarde, o casal acompanhou o casamento de Virgínia com um nobre.
Aparecida e Abílio, também haviam sido convidados.
Agora não havia mais distância a separá-los. Todos viviam juntos.
Durante a noite, Leonor sonhou com Viriato.
Atormentada, lembrou-se dos momentos de sofrimento que vivera a seu lado e chorou.
Lourenço, ao perceber isto, tratou de consolá-la.
Abraçando-a, prometeu que Viriato nunca mais iria assombrá-la.
Com isto, foram celebradas missas para o conde.
Leonor ainda sentia tristeza pelo que havia passado, mas a cada dia, o sentimento de pesar diminuia.
A moça gostava de caminhar pelas terras em que vivia ao lado do marido e dos filhos.
Gostava de contemplar o horizonte.
Agora podia dizer que era feliz.
O sol lindo, iluminava a tarde...
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 1 de julho de 2021
CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 7
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