Poesias

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 3

Nesse momento, Gilberto despertando de seu torpor, percebeu que sua mulher Olívia, se desmanchava em prantos.
Sem saber o que dizer, simplesmente abraçou-a. Enquanto ouvia a mulher soluçando, pensava em como estaria Flávio, se sobreviveria.
O casal permaneceu no hospital até amanhecer.
Olívia, que não queria sair de perto do filho, somente após muita insistência de Gilberto foi para casa. Aflito, o homem comentou que Cecília estava sozinha em casa, e que ela precisava saber o que havia acontecido.
A mulher porém, argumentava que Flávio não poderia ficar sozinho e que se houvesse alguma novidade gostaria de estar presente.
Gilberto respondeu então que ficaria no hospital e que havendo novidades, ele entraria em contato com ela pelo celular. Dizendo que ela poderia pegar um táxi para voltar para casa, comentou que não deixaria o filho sozinho nem por um minuto, e que ficaria rezando para que ele se recuperasse o quanto antes.
Olívia ficou com os olhos cheios de água. Emocionada, abraçou o marido. Comentou que depois dos filhos ele era a pessoa mais importante de sua vida.
Gilberto retrucou:
- Deixe disto!
Despediram-se e Olívia foi de táxi para casa.

No caminho ficou pensando em como diria a Cecília o que estava acontecendo. Estava vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida.

Nisto, Cecília, que já chegara em casa às seis da manhã, dormia profundamente. Mal poderia imaginar o que estava acontecendo, e que após alguns momentos, sua vida mudaria completamente.
Cecília, que também estava em uma festa, só tomou conhecimento do que ocorrera ao irmão, depois.
Passara a noite e parte da madrugada em uma festa de aniversário. Cléber estava fazendo anos.
Para não fugir a regra, na festa a trilha sonora foram sambas, entre eles enredos de escolas de samba paulistas e cariocas.
Animado o grupo cantou Cartola, “O mundo é um moinho”:

“Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça me bem amor
Preste atenção,
O mundo é um moinho
Vai triturar seus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir suas ilusões a pó

Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça me bem amor
Em pouco herdará só o cinismo
Quando notares estarás a beira do abismo
Abismo que cavaste,
Com teus pés...”

Animados, dispensaram o aparelho de som, cantando a música sem acompanhamento.
Foi uma bonita cena, em que Alessandro, Sandro, Cléber e Júlia, juntamente com Cecília, começaram a cantoria.
Todos os convidados pararam para ouvir.
O quinteto estava animado.

E a cantoria prosseguiu...

“A tristeza é senhora, Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura, a noite e a chuva que cai lá fora
Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece, no quando agora em mim

Cantando eu mando a tristeza embora
(Repete tudo acima)

O samba ainda vai nascer, o samba ainda não chegou
O samba não vai morrer, veja o dia ainda não raiou
O samba é o pai do prazer, o samba é o filho da dor
O grande poder transformador
(Desde Que O Samba É Samba – Caetano Veloso)”

Era bonito ouvir o grupo cantando.
E seguiu. A turma estava muito animada.
O som alimenta o espírito, comentou um Cléber animado, e já um pouco bêbado.

A cantoria continuou.

“Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei dos terreiros

Eu sou o samba sou natural aqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem leva a alegria para milhões
De corações Brasileiros

Mais um samba queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo do país
Viva o samba vamos cantando esta melodia
Pro Brasil feliz.
(A Voz do Morro - Composição: Zé Kéti)”

Festa boa, comemoração que se estendeu até a madrugada.
Regada com muita cerveja, salgadinhos.
A animação era tanta, que Cecília chegou tarde em casa.
Alessandro a levou de carro até sua casa.
A moça estava tão sonolenta, que nem percebeu que não havia ninguém na casa.
Atirou-se de roupa e tudo na cama e dormiu.
Dormiu um sono profundo. Estava embalada pela cantoria. Em sua cabeça ecoavam as canções de antigos carnavais que haviam cantando durante a festa.
Em seus sonhos, ficou a ouvir a seguinte canção :

“Hoje vou colorir toda a cidade
De alma pintada eu vou
Sou da Corte a fantasia
Trago o "novo mundo" de esplendor

A magia da floresta levei
Enfeitando esta festa cheguei
Puro na emoção, simples na paixão
Sonho e poesia em Ruão
Mon amour c'est si beau!
Esse jogo, essa dança (bis)
Tabajer, Tupnambôs

E lá nas margens do Sena
O Brasil a imagem
De nudez e coragem
Índios, marujos, enfim
Misturavam-se assim

Na mais linda paisagem
E a platéia no bis
Com a Imperatriz a delirar
Na França o bom selvagem
Deu o tom de igualdade
Fraternité, liberté

Sou índio, sou forte
Sou filho da sorte, sou natural (bis)
Sou guerreiro
Sou a luz da liberdade, carnaval
(Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajères (1994) - Imperatriz Leopoldinense (RJ) Composição: Márcio André, Alvinho, Aranha e Alexandre da Imperatriz)”

Esta foi uma das canções que a turma cantou durante a festa. A cada canção que cantava os ouvintes pediam para cantarem mais uma.
E assim, Sandro, Cléber e Júlia, prosseguiram a cantoria.
Algumas vezes Alessandro e Cecília prestavam um auxílio luxuoso.
Como disse Cléber parodiando uma música de Luiz Melodia.
Quando o moço disse isto, a platéia logo pediu para que eles cantassem “Juventude Transviada”.
Foi a deixa para que o quinteto começasse a cantar:

“Lava roupa todo dia, que agonia
Na quebrada da soleira, que chovia
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Eu entendo a juventude transviada
E o auxílio luxuoso de um pandeiro
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Cada cara representa uma mentira
Nascimento, vida e morte, quem diria
Até sonhar de madrugada, uma moça sem mancada
Uma mulher não deve vacilar

Hoje pode transformar, e o que diria a juventude
Um dia você vai chorar, vejo clara as fantasias
Composição: Luiz Melodia”

Resultado. Aplausos.
Embora tenham cantando quase todo o tempo, também conversaram.
Cecília adorou o ambiente. Conheceu outras pessoas ligadas ao samba.
Foi apresentada a alguns compositores de samba.
Entusiasmada, comentou com algumas pessoas que não conseguia compreender como uma coisa tão bonita e alegre poderia ser considerada marginal.
Sérgio comentou que sim, nos primórdios do samba, este gênero foi considerado como menor, como coisa de marginal mesmo. Disse ainda quem estava envolvido neste meio, era perseguido e mal visto.
Cecília comentou então, sorrindo, que ainda bem que as coisas haviam mudado.
O rapaz concordou.
Durante a noite foram feitos comentários sobre vários sambistas, como Clara Nunes, Geraldo Filme, Cartola entre outros.
Cléber comentou que havia muitos sambistas que levaram anos para gravar suas composições.
E em seus sonhos, a festa continuava.
A moça dormia a sono solto.

Olívia, tomada por uma grande angústia, ao perceber que a filha ainda dormia, começou a chamá-la.
Cecília, que dormia um sono pesado, demorou a acordar.
Ao fazê-lo, vendo sua mãe estacada ao lado de sua cama, espantou-se.
Afinal de contas, onde havia sido o incêndio? Chegou a perguntar.
Olívia retrucou dizendo que não era momento para brincadeiras.
Procurando coragem para dizer o que precisava dizer a filha, disse que Flávio não estava bem.
Cecília começou a ficar assustada.
- O que aconteceu com o Flávio, mãe? Está passando mal? – perguntou Cecília, sem imaginar a gravidade do que estava acontecendo.
Olívia começou então a chorar.
Foi quando Cecília percebeu que havia acontecido algo de muito grave.
Aflita, perguntou o que estava acontecendo.
Olívia a muito custo, procurando se acalmar, respondeu a filha, que Flávio havia sofrido um acidente, que havia sido operado, e que ela e Gilberto estavam no hospital, aguardando notícias sobre a recuperação dele.
- Meu Deus! – exclamou Cecília quase chorando. – E é grave a situação?
Olívia, comprimindo os lábios, meneou a cabeça afirmativamente.
Ao ouvir tais palavras, Cecília custou a acreditar.
Percebendo que a situação era séria, começou a chorar.
Olívia comentou então que precisava voltar para o hospital e que Gilberto não havia arredado pé de lá. Que ele precisava descansar.
Cecília desconsolada, pediu para ir também. Queria saber exatamente o que estava acontecendo.
Diante disto, tratou de se arrumar. Tomou um banho rápido.
Olívia também foi tentar se recompor um pouco.
Depois, ambas partiram de táxi para o hospital.
Quando Gilberto viu as duas mulheres chegando, tratou de abraçá-las.
Aflitas, perguntaram se havia alguma novidade sobre Flávio.
Gilberto respondeu que ninguém viera falar com ele. Respondeu que a espera era angustiante, mas que se ninguém viera falar com ele, era por que o rapaz estava respondendo a cirurgia. Disse que desde que chegara ao hospital, não parara de rezar.
Cecília comentou que faria o mesmo.
Ansiosa, perguntou como aquilo poderia ter acontecido ao irmão.
Gilberto respondeu que não sabia detalhes sobre o acidente.
Mais tarde, ao ouvir relatos de pessoas que presenciaram o ocorrido, tomaram ciência de que fora uma carreta que provocara o acidente.

Cecília ficou indignada. Dizendo que por culpa de um irresponsável seu irmão estava hospitalizado, comentou que desejava que o mesmo fosse localizado e punido pelo que havia feito.
Olívia e Gilberto porém, só sabiam pensar em Flávio. Para eles era a maior preocupação.
Cecília angustiada, começou a chorar.
Nisto apareceram policiais no hospital. Estava ali para tentar descobrir maiores detalhes sobre o acidente ocorrido com Flávio.
Fizeram perguntas aos médicos, aos pais de Flávio. Também fizeram perguntas as testemunhas.
Cecília ficou incomodada com a insistência dos policiais.
Tanto que ao ouvir as perguntas dos policiais, comentou que não sabia o que havia ocorrido por que não presenciara o acidente, e que tudo o que sabia foi o que seus pais descobriram por ouvir dizer, o que por sua vez, tinha sido informado pelos médicos.

Doutor Sílvio respondeu as perguntas dos policiais, dizendo que o rapaz havia chegado ao hospital bastante ferido, inconsciente, e em estado grave. Explicou que o moço precisou ser submetido a um procedimento cirúrgico. E que não estava em condições de ser submetido a um interrogatório.

Um dos policiais respondeu:
- Entendo!
Depois, os policiais se retiraram.

Mesmo assim, os pais de Flávio, Doutor Sílvio, e as testemunhas, precisaram comparecer na Delegacia, para prestarem seus depoimentos, para instruir o inquérito policial que fora instaurado para apurar o acidente.

Mas voltando ao hospital...
Cecília então começou a rezar. Precisava se acalmar e pedir proteção ao irmão.
E assim passou a rezar.
Gilberto resolveu acompanhá-la.
Olívia por sua vez, mesmo chorando, se esforçava para acompanhar as orações da moça.

Luciana Celestino dos Santos
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