E assim, mesmo quando saíam acompanhados de suas namoradas, sempre combinavam de se encontrarem em algum lugar. E foi assim que assistiam juntos a filmes e peças de teatro. Sempre que podiam, também davam uma esticada em algum restaurante, ou mesmo em alguma festa que estivesse acontecendo.
Isso porque, de vez em quando, os universitários organizavam uma festa na cidade. Para tais comemorações, qualquer coisa servia como pretexto. O que lhes interessava era a comemoração, independente do motivo. Aliás, para boa parte dos estudantes universitários, viver longe dos olhares vigilantes dos pais, era o melhor que a cidade podia lhes oferecer.
Muitos deles, aliás, não estavam interessados no curso que freqüentavam. Vários deles só se interessaram em estudar em Arco Verde, para terem a liberdade de fazerem o que quiserem.
No entanto, deixemos as explicações de lado e continuemos a narrativa.
Assim, quando os quatro percebiam que havia uma festa acontecendo na cidade, aproveitavam para dançar um pouco e conhecer pessoas novas. Mesmo quando não podiam ficar muito tempo, não perdiam a oportunidade e entravam no salão da cidade, nem que fosse para ficar só um pouco.
Isso, em razão das moças, pois estas tinham hora certa para estar em casa. Por serem amigas, seus respectivos pais, não se incomodavam que não fossem acompanhadas por outra pessoa da família. Acreditavam que, por saírem acompanhadas, uma tomava conta da outra. Daí a desnecessidade de preocupação.
Contudo, não obstante a segurança de seus pais, as mesmas tinham hora certa para estar em casa. Tal cuidado era praxe na época.
Mas, a despeito de todos os cuidados, Dona Marta, Seu Roberto, Dona Cleide e Seu Reginaldo, estavam encantados com Maurício e Rodrigo, namorados de Adriane e Celeste, respectivamente.
Os pais das moças perceberam, assim que foram apresentados aos rapazes, que se tratavam de pessoas corretas. Não pareciam nem de longe com certos cafajestes, que usavam da qualificação de estudante universitário, para ficarem paquerando as moças que lá iam estudar.
Não, Maurício e Rodrigo eram diferentes. Sempre corretos com os pais de suas respectivas namoradas, nunca deram motivos para que estes pensassem o contrário.
E assim, ao longo de quase um ano e meio de namoro, Rodrigo resolveu acertar compromisso com Celeste. Por ser ainda universitário e estar prestes a ingressar no quarto ano do direito, não estava ainda, em condições de se casar. Precisava primeiramente, se formar e depois arrumar um emprego. Entretanto, como sentia-se muito apaixonado por Celeste, sentiu-se na obrigação de se comprometer mais seriamente.
Assim, ajustados, Rodrigo e Celeste decidiram que se casariam assim que o rapaz concluísse a faculdade e arranjasse um emprego.
Cientes de que no começo, encontrariam dificuldades, estavam certos de que podiam contar com Cleide e Reginaldo, os pais da moça.
Além do mais, Celeste, que também estudava, estava prestes a ingressar no terceiro ano do curso de letras, e diferente das moças da época, fazia questão de se formar. Desde que entrou na faculdade, começou a fazer planos. Pretendia, com o diploma na mão, especializar-se em literatura luso-brasileira e a partir daí, lecionar no colégio da cidade.
Desde criança, sonhava com o magistério, e desse sonho não abria mão.
Por isso, quando o assunto casamento veio a tona, tratou logo de deixar bem claro, que, de forma alguma, abandonaria a faculdade. Mesmo depois do casamento.
Ao ouvir isso, o rapaz ficou satisfeito.
Tal fato, por não ser comum na época, causou espanto a moça. Desconfiada, ela insistiu em dizer que não desistiria do curso, por nenhum motivo.
No que Rodrigo, manteve sua posição.
Diante disso, só coube a Celeste, concordar com o compromisso e organizar um almoço de noivado, no qual o rapaz, pessoalmente, pediria sua mão.
Participando da comemoração, não poderia faltar os amigos Maurício e Adriane, bem como os pais dela, Dona Marta e Seu Roberto.
Como era de se esperar, Rodrigo se atrapalhou todo. Embora tivesse ensaiado durante várias semanas, no momento em que teve de fazer o pedido, por estar muito nervoso, acabou se atrapalhando e perguntando:
-- Posso me casar com sua filha?
Todavia, apesar de não ser esta a frase mais adequada a um pedido de noivado, Seu Reginaldo, assentiu concordando. Por fim, disse brincando:
-- Muito embora eu não saiba por que a pressa em se casar com minha filha... Pode sim, pode se casar com Celeste. Eu só espero que você me dê tempo suficiente para ao menos, ela arrumar um traje adequado para a ocasião.
Ao ouvir isso, todos riram. Inclusive o rapaz, que depois do pedido, ficou mais calmo.
Após o pedido, eis que surge Dona Cleide, trazendo em uma bandeja de prata, com oito taças com champagne, para comemorar o pedido.
E assim, com uma taça na mão, todos passaram a brindar, comemorando o pedido e desejando sinceramente, que o enlace se desse em breve.
Contudo os noivos, ao perceberem a agitação em torno do casamento, trataram logo de explicar, que o mesmo só se realizaria depois que Rodrigo se formasse.
Muito embora estivessem ansiosos para que o casamento se realizasse, sabiam que isso demoraria um pouco para ocorrer.
Desta forma, depois dos brindes e dos devidos esclarecimentos, foram todos para a copa, e se deliciaram com o almoço caprichado preparado por Dona Cleide e sua filha.
Estava tudo muito bom.
Tão bom, que Rodrigo, ao se despedir da agora noiva, comentou:
-- Desculpe. Eu acabei me atrapalhando na hora de fazer o pedido. Estraguei tudo, não foi?
Compreensiva, Celeste, disse:
-- Não tem problema. Você não estragou tudo. Apesar do tropeço, você foi ótimo.
Ao ouvir isso, o rapaz sentiu-se aliviado. Agradecido com a generosidade de Celeste, foi logo lhe pedindo um beijo.
E assim, com um beijo, despediu-se da moça.
Ao retornar ao Conjunto Residencial Arco Verde, encontrou Lindolfo de saída.
Gentil, foi logo cumprimentando o amigo, que disse:
-- Soube que você está para noivar com Celeste, meus parabéns. – comentou efusivo.
-- Sim. Mas eu já estou noivo. Acabei de pedir a mão dela, há algumas horas.
Ao perceber que cometera uma gafe, Lindolfo, procurando se desculpar, comentou:
-- Me desculpe. Eu realmente não sabia que o pedido ia ser hoje. Se fosse mais atento, eu poderia ter te acompanhado.
-- Não tem problema. O Maurício me fez companhia, assim como Adriane. Ótimas pessoas por sinal. Sempre presentes quando se precisa.
Sentindo-se diretamente atingido pelas palavras de Rodrigo, Lindolfo desculpou-se novamente, e saiu.
Realmente, Lindolfo havia se afastado dos amigos. Depois que se desentenderam por conta de uma briguinha boba, nunca mais foram tão próximos como antes.
Quanto mais o tempo foi passando, mais e mais foram se distanciando. Principalmente quando Lindolfo arrumou uma namorada.
Isso porque, enquanto namorou a garota, esqueceu-se completamente dos amigos.
Aliás, o fato dele ter uma garota, só serviu para que surgissem atritos entre eles.
Folgado como era, diversas vezes, esquecendo-se que o apartamento não era só dele, chamava a namorada para para dormir em seu quarto. Fato este extremamente incômodo para os rapazes, já que eles sabiam qual era a finalidade disso.
Constrangidos, não sabiam se cumprimentavam a moça, quando esta resolvia ficar para tomar café, ou simplesmente ficavam calados.
Em dado momento, a freqüência das estadas da moça tornou-se tão inconveniente, que Maurício e Rodrigo resolveram alertar o amigo. Seu comportamento em relação a eles, já estava beirando o insuportável. Isto é, há muito tempo já deixara de ser simplesmente, inconveniente.
Por isso, resolveram dar um ultimato. Ou Lindolfo resolvia a situação, ou os dois sairiam do apartamento.
Como já estavam enturmados, poderiam muito bem, sair de lá e irem morar com os novos colegas. Aliás, alguns deles já os haviam convidado para morar com eles. Cientes de que a situação de ambos não era boa, os colegas insistiam para que deixassem Lindolfo de lado.
Mas gentis recusavam. Alegavam que era só uma fase do moço.
Contudo, a atitude do amigo, nos últimos tempos, se tornara extremamente inconveniente. Já estavam saturados da convivência com o rapaz.
Lindolfo era muito temperamental e instável. Para agravar, não se importava nem um pouco se suas atitudes incomodavam os amigos.
Assim, diante do quadro instalado, não restou a Lindolfo senão, arrumar um outro lugar para namorar.
Entretanto, depois de alguns meses, rompeu com a então namorada e passou a ter alguns casos, com algumas estudantes da cidade.
Diversas vezes, Rodrigo, Maurício, Tiago e Roberto, avistaram Lindolfo com diferentes garotas.
Muitas vezes, em menos de um mês, Lindolfo já havia tido duas ou três namoradas.
Contudo, depois do que acontecera com uma de suas garotas, nunca mais levou uma delas para casa.
Como não tinha condições de manter o apartamento sozinho, não podia se indispor mais ainda com os amigos. Por isso, rapidamente, acatou as exigências dos companheiros de apartamento, e passou a levar suas namoradas para outro lugar.
No entanto, a despeito de uma atitude mais correta, ao menos com os amigos, nunca mais a amizade voltou a ser o que era antes.
Desapontados, Maurício e Rodrigo, deixaram de ter Lindolfo, como amigo.
Por isso a convivência, depois de tanta desconsideração para com eles, reservou-se apenas àquele pequeno apartamento.
Isso por que, sempre que podiam, depois das aulas, aproveitavam as tardes, estudando, se não na biblioteca da universidade, no apartamento dos amigos então.
Ademais, quando encerravam seus estudos diários, antes de irem para casa, aproveitavam para passar, cada qual, passava na casa de sua namorada. E assim ficavam alguns minutos conversando.
Geralmente conversavam e trocavam idéias sobre o dia que passou, e como tinham estado. Aproveitavam também para combinar um passeio mais tarde. E assim, quase todos os dias, saíam para passear.
Nesses passeios, aproveitavam para passear pela cidade, caminhar. Conversavam, e depois de três horas, levavam as moças para casa.
Moças essas, que se conheciam desde crianças. Portanto eram amigas de longa data.
Confidentes uma da outra, logo que uma arrumou namorado, foi logo contar para a outra.
Fato este que, muito contribuiu para que a amiga solteira, logo arrumasse namorado. Isso por que, devido exigências paternas, quando uma filha saía, alguém deveria ir junto para vigiá-la. E assim, tendo a amiga da namorada como vigia, o namorado, percebendo que não teria sossego, tratou logo de convidar um amigo, para fazer companhia nos passeios.
E assim, o amigo, ao conhecer melhor a vigia, foi logo se interessando pela moça e logo passou a namorar firme com esta.
Assim, depois de algum tempo, passou a ser dois casais de namorados. O que facilitou sobremaneira os encontros e passeios de todos.
Diante disso, Celeste, ao combinar o noivado com Rodrigo, foi logo contar a amiga a novidade. Feliz que estava, tinha que contar a alguém e foi a Adriane que contou.
Por esta razão, ela e sua família estiveram presentes no almoço de noivado.
Ademais, ao se certificarem do compromisso ajustado, Adriane foi a primeira a se oferecer para ajudar a amiga a montar o enxoval.
Mesmo estando o referido enxoval quase completo, Adriane, bem como Dona Cleide e Seu Reginaldo, estes foram logo providenciando para que Celeste incrementasse seu enxoval com mais algumas peças.
Ademais, Dona Cleide cismou que as peças pertencentes aos vários jogos de lençol que a moça guardava, deviam ser todas bordadas com as inicias dos dois. Por isso, animada com a idéia, passava tardes inteiras bordando.
Dessarte, precisavam ainda, comprar louças e os demais objetos que guarneceriam a casa.
A respeito disso, Celeste, ao perceber o extremo interesse que seu noivado provocara em sua mãe e na amiga, imediatamente advertiu-as de que o casamento ainda demoraria para acontecer. Por isso, não deveria ter pressa. Afinal de contas, teria tempo de sobra para fazer tudo com calma.
Mas, independente das argumentações de Celeste, as duas pareciam indiferentes as mesmas. Parecia até que, era o casamento das duas.
Realmente, dada a animação em que preparavam tudo, nem parecia que era Celeste quem ia se casar. Muito pelo contrário.
Curiosamente, aliás, sempre que sua mãe, ou mesmo sua amiga, a acompanhavam em alguma loja, a vendedora, percebendo a animação delas, sempre achava que estas, é que iam se casar.
Luciana Celestino dos Santos
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