Poesias

sexta-feira, 30 de julho de 2021

SOCIEDADE ALTERNATIVA - CAPÍTULO 11

Este, quando nasceu, foi cercado dos mesmos cuidados com que todos os seus irmãos foram.
Nessa época, os filhos do primeiro casamento de Lindolfo, já estavam bastante crescidos. Lorena, já era uma mocinha com doze anos. Lara, com seus onze anos, já queria sair mais com seus amigos. Nessa fase aliás, começaram os atritos de Lindolfo com as duas.
Já Luís, com dez anos, este não dava trabalho. Apesar de viver muito próximo as duas, passava a maior parte do tempo com seus irmãos menores.
Leonardo – com seis anos – e Lúcio – com quatro – viviam disputando a atenção de Luís, para que este participasse de suas brincadeiras. Por conta disso, viviam às turras um com o outro. Isso fazia Andréia lembrar-se do relacionamento de Luís com sua irmã, Lara. Como os dois meninos, ele e Lara viviam brigando, procurando chamar a atenção de Lorena. Para ela, era divertido ver que isso era a repetição de uma cena que ela já conhecia. Por isso, acostumada, só intervinha quando julgava necessário. Assim, deixava que eles se entendessem. Afinal eram irmãos.
E assim, as brigas, da mesma forma que começavam, acabavam. Apesar de muito briguentos, os dois se adoravam, e não podiam ficar muito tempo separados que logo um ia procurar o outro.
Os dois eram realmente muito parecidos com Luís e Lara.
Mas, com o passar dos anos Luís e Lara, passaram a se tolerar mais. Acostumados agora, com suas amizades na escola, preferiam mil vezes, ficar com os amigos, do que em casa. Por isso, constantemente, faziam passeios com seus amiguinhos.
Tal fato, deixava Leonardo e Lúcio desapontados. Afinal de contas, para eles, Luís era seu melhor amigo. Não conseguiam entender como ele podia preferir ficar com outras pessoas do que com eles.
A despeito disso, não gostavam quando Lígia – de dois anos –, entrava em suas brincadeiras. Sempre dizendo que ela era muito pequena e chorona, os dois a afastavam das brincadeiras.
Andréia, ao perceber isso, tratou de chamar a atenção dos dois. Mas não forçou-os a aceitar Lígia. Isso porque, dado o fato de serem dois meninos, temia que eles pudessem judiar da irmã. Por isso, sempre que surgia uma oportunidade, pedia a Lorena que brincasse com ela.
Paciente, – a filha mais velha de Lindolfo – constantemente distraía a irmã, com suas brincadeiras. Apesar das rusgas com seu pai, Lorena sempre teve paciência com os irmãos. Mesmo com Lara, se relacionava muito bem. Já com Luís, por este ter um temperamento pacato, a convivência era muito mais fácil.
Dócil, Luís se dava bem com todo mundo. Com exceção de Lara, raramente tinha brigas com os irmãos.
Já Lara, ao contrário dos irmãos, era muito rebelde e mal-criada.
Andréia, no entanto, não compactuava com isso. E a despeito disso, sempre se relacionou muito bem com a menina. Por isso, apesar de saber que Lara tinha um temperamento difícil, nunca cansou de dizer, que ela era muito carinhosa com ela.
Às vezes também, Lara, quando percebia que ninguém a olhava, aproveitava para curtir os irmãos menores. Variadas vezes, Andréia a viu brincando com Lígia e Lúcio. Ao observá-los a distância, ficava comovida com a dedicação de Lara.
Mas, é claro que tais cenas, não eram muito freqüentes. No entanto para ela, Lara estava fazendo um grande progresso. Afinal, nunca fora paciente com os irmãos!
Por esta razão, Andréia achava que a enteada, merecia um voto de confiança.
Ademais, sempre que aconteciam os aniversários dos irmãos, e sempre que podia, Lara ajudava Marlene e Bernadete, a distraírem as crianças.
Principalmente agora. Com sete crianças na casa, a residência da família Oliveira Jardas, mais parecia uma creche. Por isso, toda a ajuda era pouca.
Contudo, Andréia não podia se queixar. Os três primeiros filhos de Lindolfo eram muito prestativos. Lorena e Luís, sempre se ofereciam para cuidar dos irmãos.
Já Lara, só se oferecia para ajudar, com percebia que realmente era necessária. No mais, evitava ter muitos cuidados com os irmãos. Mas, a despeito disso, nunca negou ajuda. Sempre que lhe pediram, procurou auxiliar a todos.
Nesse aspecto, mesmo Lindolfo, sempre que estava em casa, ajuda também, a cuidar das crianças.
Contudo, suas três filhas, Letícia, Líliam e Léa, que nesta época tinham dez anos, estas, nunca receberam nenhuma atenção do pai.
Sentidas com isso, viviam perguntando a mãe, Dona Thereza, quem era o pai delas, e por que este nunca a ia visitar.
Por passarem por toda a infância ouvindo comentários sobre a atitude do pai, sabiam que este, era um homem importante na cidade. Curiosas, depois de algum tempo, chegaram até, a descobrir que este, auxiliava financeiramente a família. Por essa razão, acreditavam que ele soubesse delas e para se desculpar pela ausência, dava dinheiro a sua mãe, para que esta não contasse a elas, quem era ele. Por isso, nos últimos tempos, viviam cercando a mãe de perguntas.
Atordoada, Dona Thereza já não sabia mais o que fazer.
Impaciente, sempre que era interpelada pelas filhas, a respeito de seu passado, sempre se negou a contar o que acontecera. Como desculpa, sempre dizia que fora abandonada pelo pai delas, que covardemente a deixou sozinha, com três filhas para criar.
No entanto, tal resposta, nunca as deixou satisfeitas. Apesar de terem sido muito bem cuidadas durante infância, por sua mãe, as três queriam saber quem era seu pai.
Isso também, por que, na escola, eram constantemente alvo de piadas e brincadeiras maldosas. Esse aliás, um aspecto complicado na vida da família.
Durante todo esse tempo, Dona Thereza perdeu as contas de quantas vezes viu as meninas voltarem chorando da escola. Cansada disso, resolveu tomar uma atitude.
Foi até a escola, e intimou as professoras das filhas para que reagissem contra isso. Afinal a escola, apesar de gratuita, já recebera muito dinheiro de Thereza, que contribuíra financeiramente, para implementar mudanças na mesma.
Diante disso, as referidas mestras, se encarregaram de pessoalmente resolver o problema.
Assim, depois de algum tempo, as brincadeiras maldosas e as provocações, praticamente se encerraram.
Sob pena de tomarem uma advertência, os alunos tiveram que parar com as brincadeiras de mal gosto.
Dessarte, sem terem que aturar brincadeiras sem graça, as trigêmeas finalmente passaram a participar efetivamente das brincadeiras da escola.
Enturmadas, chegaram a convidar colegas da escola para brincar e estudar em casa.
Apesar de morarem longe da região central da cidade, utilizando condução, se podia chegar, tranqüilamente ao lugar.
Mas, seus coleguinhas em grande parte, possuíam carro e boa condição social. Contudo, nunca foram visitá-las. Mas, sempre que podiam, convidavam as trigêmeas para visitarem suas casas. E assim, passavam tardes inteiras brincando.
Brincavam com os brinquedos dos colegas e também nos quintais das casas deles.
Porém ao final, as meninas tinham que voltar para casa, e assim, o motorista, ou mesmo a mãe dos seus colegas, se encarregavam de levá-las.
Nisso, ao verem uma bela casa, pintada de amarelo, em uma das inúmeras ruas da periferia de Arco Verde, ficavam admiradas. Diferente do que haviam imaginado, não se tratavam de simples pobretonas. As meninas moravam numa casa boa, muito maior do que muitas casas da região central da cidade.
Encantadas, as pessoas, quando eram convidadas para entrar, freqüentemente aceitavam. Movidas pela curiosidade, queriam entrar e conhecer a casa. E assim, tomavam um cafezinho, comiam bolo, conversavam e perguntavam sobre a vida de Thereza.
Geralmente, impressionadas com o tamanho da casa, começavam perguntando:
-- Nossa, Dona Thereza! Realmente sua casa é uma beleza! Há quanto tempo ela foi construída?
-- Há mais ou menos, uns dez anos. Na época em que me mudei para esta região, mais ou menos. – respondia.
-- Então as meninas nasceram aqui?
-- Não. Quando elas nasceram, eu morava em uma casa muito pobre. Mas meu marido, antes de fugir, me deu dinheiro suficiente para comprar uma boa casa. Por isso, quando nasceram as meninas, percebendo que precisava de uma casa grande, ao encontrar essa casa sendo construída, resolvi comprar. Era de um lugar assim, que as meninas precisavam.
-- Mas você apresentou o dinheiro na hora?
-- Sim. O canalha antes de fugir, me deixou um bom dinheiro.
Algumas vezes, procurando dar uma alfinetada em Thereza, as madames insinuavam sobre a história de um amante.
No que ela, acostumada com as provocações, respondia insinuando também, que os maridos de algumas senhoras, constantemente eram vistos saindo de algumas casas da periferia. Logicamente, ela não mencionou nomes. Ao contrário, procurou até dizer que não era o caso delas.
Mesmo assim, ao comentar sobre isso, Thereza as faziam mudar os rumos da conversa.
E assim, as mulheres passavam a falar dos filhos, e de como sua criação era difícil.
Nesse ponto Thereza sempre comentava que as meninas foram criadas por ela.
Desde que nasceram, as meninas só tiveram os cuidados dela.
Foi então que Thereza contou que era ela que, com a ajuda de vizinhas, cuidava das três. Trocava fraldas, dava banho, colocava para dormir, etc.
Thereza recordando-se dos primeiros tempos, comentou que admirou-as quando as viu darem seus primeiros passos, e ao balbuciarem suas primeiras palavras.
Encantada e apaixonada pelas meninas, sabia de cor, cada detalhe da vida delas, e a despeito de serem trigêmeas e idênticas, nunca as confundia. Sabia perfeitamente quem era quem ali.
Por sinal, em razão da semelhança, sempre tentaram enganá-la. Contudo, nunca conseguiam. Dona Thereza conhecia muito bem as filhas. Nunca se enganaria, ou confundiria uma com a outra. Era muito atenta.
E invariavelmente, a conversa terminava nesse ponto.
Dessa forma, de pergunta em pergunta, as mulheres acabaram conhecendo um pouco mais sobre a vida de Thereza.
Entretanto, nunca conseguiram descobrir, o que mais interessava. Quem era o pai das meninas. Suspeitando que era um homem influente na cidade, viviam especulando sobre isso. Mas nunca conseguiram ter certeza.

Luciana Celestino dos Santos
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