Poesias

sexta-feira, 30 de julho de 2021

SOCIEDADE ALTERNATIVA - CAPÍTULO 12

Com isso, a despeito do tratamento que dedicava as filhas de Thereza, Lindolfo procurava agora, ser cuidadoso com os filhos havidos de seus casamentos.
Ao contrário do que ocorrera em seu primeiro enlace, passou a estar presente na vida dos filhos.
Aliás, quando do nascimento de Linda – sua segunda filha com Andréia –, Lindolfo ficou extremamente feliz.
No entanto, Lígia – que até o momento era a queridinha da casa –, ficou enciumada. Acostumada a ser o centro das atenções, percebeu que havia perdido o posto de xodó da família.
Por conta disso, passou ficar rebelde e mal criada. Sempre que sua mãe lhe dava uma ordem, Lígia teimosa, insistia em não obedecer. Para complicar, vivia fazendo pirraça com Leandro, nesta época com quase dois anos.
Por ser menor, Leandro vivia levando a pior. Dessarte, Lígia, ao perceber isso, passou a mais e mais, implicar com ele.
Enfim, ela judiava muito do menino.
Ademais, sempre que não havia ninguém por perto, Lígia aproveitava também, para azucrinar o bebê. Constantes vezes interrompeu seu sono, e a fez chorar muito.
Andréia, ao perceber as maldades da filha, tratou logo de lhe impingir um castigo. Em razão da malcriação praticada, Lígia estava proibida de sair com os irmãos.
No entanto, tal castigo só piorou as coisas. Lígia estava impossível.
A menina, que nesta época estava com quatro anos, vivia infernizando a vida dos irmãos.
Essa fase complicada, só se encerrou, quando Andréia, percebendo o ciúme de Lígia em relação a Linda, resolveu conversar com a menina.
Cautelosa, fez questão de ressaltar, que, apesar de haver mais uma menina na família, isso não a excluía de nada. Sempre seria a princesinha da casa, a despeito de não ser mais a única filha do casal.
Disse ainda, que ela e Lindolfo, nunca deixariam de gostar dela.
Mesmo assim, depois dessa conversa, Andréia ainda precisou conversar muito com a filha, para convencê-la de que o que dizia, era a verdade.
Isso por que, várias vezes após essa primeira conversa, surgiram pequenas rusgas com Leandro.
Mas, depois de várias conversas, as coisas se acalmaram um pouco.
Com isso, as brigas se tornaram menos constantes, e Lígia passou a não mais perturbar a irmã.
Além disso, após algum tempo, Lígia acabou se afeiçoando a sua irmãzinha. Interessada em ajudar, chegou até a auxiliar a mãe a cuidar do bebê.
Lorena – a filha mais velha de Lindolfo, na época com quatorze anos – e Lara – com treze –, eram verdadeiras auxiliares de Andréia. Sempre que as babás estavam atarefadas, as duas trocavam as fraldas da menina, davam-lhe mamadeira, e a colocavam para dormir.
Luís – doze anos –, mal parava em casa. Vivia em casa de amigos, brincando até altas horas da noite.
Tal fato, no entanto, não agradava nem um pouco Lindolfo. Por isso, passou a limitar as saídas do filho, que a respeito disso, ficou desapontado. Mas, obediente, não discutiu.
Por esta razão, Lindolfo sempre dizia para a esposa:
-- Esse menino, nunca me dá trabalho. Quem dera, Lorena e Lara fossem assim também.
Mas Andréia, argumentando que os filhos nunca são como a gente quer, dizia que isso era impossível. Afinal as pessoas são diferentes. E não se poderia exigir que os filhos agissem com os pais gostariam. Isso por que, nem os próprios pais eram do jeito que os filhos queriam.
Entretanto, Lindolfo, não concordava com isso. Mas, para encurtar a conversa, deixava o assunto de lado.
Isso, por que ele já estava cansado de discutir com as filhas. Conforme o tempo passava, mais rebeldes, Lorena e Lara ficavam. Argumentando que já eram moças, insistiam em sair de casa.
E, apesar de não ser o padrão de comportamento das meninas de sua idade, teimavam em sair a noite. Alegando que precisavam conhecer os pontos noturnos da cidade, queriam ir as festas noturnas, conhecer pessoas.
Mas Lindolfo, alegava que elas ainda eram muito novas para isso. Por conta disso, os três chegavam a ter brigas feias.
Lorena e Lara, emburradas, chegavam a ficar dias sem falar com o pai. Mas isso, não o demovia da idéia de proibi-las de sair.
No que Andréia concordava. Afinal, ainda eram duas crianças. Conforme fossem crescendo, aí sim poderiam sair à noite. No momento, ainda não estavam prontas.
Além disso, Leonardo – com oito anos – e Lúcio – com seis – eram alvos fáceis da influência e do comportamento das duas.
Em razão disso, surgiram os primeiros atritos entre Andréia, Lorena e Lara.
Lorena e Lara, aborrecidas com a madrasta, passaram a tratá-la com uma estranha.
Apesar de terem sido, praticamente criadas por Andréia, passaram a tratá-la muito mal. Primeiro, dispensando a forma carinhosa como sempre a trataram, passaram a chamá-la pelo nome.
Ao perceber isso, Andréia não se deu por vencida. Apenas disse para as duas que:
-- Meninas! Apesar de não serem minhas filhas, eu sempre gostei muito de vocês. Mas isso não quer dizer, que vocês tenha o direito de me destratar, e muito menos, tentar me intimidar. Por isso, digo e repito, vocês não vão sair se o pai de vocês não concordar com isso, e eu não vou tentar convencê-lo a mudar de idéia. Também, não vou aceitar provocações. Se vocês não querem mais me chamar de mãe, é um direito de vocês. Quanto a isso, eu não posso fazer nada.
Contudo, conforme os dias se passavam, Lorena e Lara aproveitavam cada vez mais, para passarem menos tempo em casa.
Assim, como Luís fizera, as duas passaram a ficar mais tempo em casa de amigas.
Lindolfo, ao perceber isso, tomou a mesma atitude que havia tomado com o filho. Assim, passou a limitar suas saídas.
Contudo, a teimosia das duas, tornou mais difícil sua decisão. Lorena e Lara, ao dizerem que não iam obedecê-lo, obrigaram Lindolfo a colocá-las de castigo.
Assim, por semanas, só sairiam de casa para irem até a escola, e nada mais.
Para se certificar disso, Lindolfo pediu a esposa que as levasse e buscasse.
Diante disso, as duas não tiveram saída.
Compelidas a cumprir o castigo, só lhes restou aceitá-lo. O que no entanto, não contribuiu em nada para a boa convivência em casa. Lorena e Lara, entraram na fase da rebeldia. A qual só iria piorar, com o passar dos anos.
Com isso, quando nasceu o sexto filho do casal, de nome Augusto, Lorena e Lara já estavam com dezesseis e quinze anos, respectivamente.
Luís, com quatorze anos, demonstrava mais interesse em sair com os amigos.
Lindolfo, ao perceber isso, tratou de deixar o filho realizar alguns passeios com os amigos. No entanto, quanto a sair a noite, Luís ainda era muito jovem. Mas Lindolfo prometeu-lhe que dentro de alguns anos, teria idade suficiente para tanto.
Tal fato, contudo, não o animou nem um pouco. Mas, apesar disso, Luís acatou os desejos do pai. Esperaria uma autorização para sair a noite. Enquanto isso, passearia com os amigos, pela cidade.
Entrementes, ao deixar o filho sair com os amigos, Lindolfo arrumou uma grande briga com Lorena e Lara. Afinal, depois de as ter proibido de sair com amigas, como podia deixar Luís o fazer?
Aborrecidas com isso, Lara e Lorena exigiram que o pai lhes deixasse sair a noite. Afinal já tinham idade suficiente para isso.
Diante desse quadro, Lindolfo acabou concordando. No entanto, as meninas só sairiam, quando ele autorizasse. Portanto, tais saídas não seriam constantes.
Mas, diante do progresso alcançado, Lara e Lorena não tinham do que reclamar. Haviam conseguido muito mais do que esperavam.
E assim, aceitaram as imposições paternas.
Animadas diante da possibilidade de sair a noite, foram logo pedindo a Lindolfo que as deixasse ir em uma festa que seus amigos da escola estavam organizando.
Lindolfo, cansado que estava de brigar com as filhas, foi logo concordando. No entanto, fez logo uma exigência.
Não queria que as duas chegassem muito tarde. Por isso Lindolfo, estipulou que deviam estar de volta, a meia-noite e meia, no máximo.
E assim, animadas, as duas irmãs, passaram a tarde inteira escolhendo a roupa com a qual iriam para a festa. Felizes com a concordância do pai, foram animadíssimas para a festa.
Lá dançaram, se divertiram, e conversaram com os amigos da escola.
Quando retornaram para casa, de carona com outros amigos, não cabiam em si de contentes. Agitadas, passaram a noite inteira falando da festa.
Como dormiam no mesmo quarto, puderam conversar durante toda a madrugada, sem serem interrompidas.
Diante disso, só foram dormir as quatro horas da manhã.
Assim, devidamente prevenida pelo marido, sobre a festa, Andréia não as acordou no horário de costume. Deixou-as dormir até tarde.
Ao saber da novidade, Andréia disse ao marido:
-- Que bom que você concordou com isso. Afinal de contas, agora elas já tem idade para isso.
-- É eu sei. Mas é difícil se acostumar com isso.
-- Mas você vai ter que se acostumar. Além disso, você vai ver. A convivência nesta casa, vai melhorar muito depois disso.
-- Eu espero. – disse Lindolfo.
Leonardo e Lúcio nesta época, estavam com dez e oito anos, respectivamente. Lígia, estava com seis, Leandro com quatro anos e Linda com dois anos.
Os cinco – filhos do casal –, ao não terem mais de presenciar as brigas do pai com as irmãs mais velhas, também se acalmaram, e deram um pouco de sossego as babás.
Enfim, a convivência familiar, conforme a própria Andréia havia dito ao marido, melhorou muito depois que ele resolveu deixar as meninas saírem.
E Assim, durante alguns meses, a convivência entre todos foi ótima.
Contudo, quando Lorena arrumou namorado, as coisas se complicaram na família.
Lindolfo, ao saber da novidade, ficou muito aborrecido. Afinal, segundo ele, sua filha não fora criada, para se envolver com um vagabundo.
Por isso, quando a moça apresentou o rapaz para a família, novamente os conflitos entre ela e seu pai vieram a tona.
Diante do fatídico quadro, Andréia não sabia o que fazer.
Acostumada a ver as brigas dos dois por conta de festas e saídas noturnas, nunca imaginou que o marido criaria problemas por conta de um simples namoro.
Aliás, por conta disso, Andréia foi acusada pelo marido, de estar colaborando com Lorena. Todavia, ela não sabia do referido namoro.
Por conta disso, diversas vezes, tentou explicar ao marido, que nunca tinha ouvido sequer comentários a respeito de um suposto namorado, quanto mais, que esse seria apresentado para a família. Andréia também, insistiu em dizer que ficou tão surpresa quanto ele, ao saber da novidade.
Mas Lindolfo não quis saber. Acreditando que a esposa auxiliou Lorena na história, foi logo a acusando, sem nem ao menos ouvir seu lado na história.
Aborrecida com isso, em dado momento, Andréia desistiu de tentar se explicar. Por esta razão, finalmente lhe disse:
-- Você acredita em quem quiser, eu é que não vou mais perder meu tempo, tentando lhe dizer, que eu não tenho nada com isso.
Por conta disso, aliás, Andréia chegou a dormir no quarto dos hóspedes.
Essa foi a primeira briga séria do casal.
Apesar disso, em menos de um mês, a confusão foi desfeita.
Lindolfo, ao perceber que havia sido injusto com a esposa, tratou logo de se desculpar. Amoroso, foi logo a convidando para almoçar em um bom restaurante.
Animado, preparou um espetáculo. Vestiu seu melhor terno, comprou flores e uma bela jóia. Queria impressionar.
No entanto, desculpar-se, não foi tão fácil assim.
Isso por que, as desculpas até foram aceitas, mas para isso, Lindolfo teve que se empenhar muito. Durante horas a fio, ficou a bater na porta do quarto de hóspedes, tentando se explicar. Mas Andréia era dura de se convencer. No entanto, depois de horas insistindo, Andréia, não teve alternativa. Conforme Lindolfo não ía embora, teve que ouvi-lo.
E assim, ao entrar no quarto e convencê-la de que estava arrependido pela atitude intempestiva, finalmente foram ao restaurante.
Contudo, Andréia, vaidosa que era, pediu-lhe que esperasse se arrumar.
E assim, a mulher passou um bom tempo em seu quarto, escolhendo a melhor roupa para vestir.
A seguir, os dois, devidamente trajados para a ocasião, foram até um restaurante na cidade vizinha.
Animados, só voltaram para casa, tarde da noite. Afinal, depois de tanto tempo casados, precisavam ficar um pouco a sós.
Depois de doze anos casados, precisavam de um tempo só deles.
Nesse período, Letícia, Líliam e Léa, estavam com quase quatorze anos.
Por conta disso, Thereza resolveu organizar uma bela festa de aniversário.
Afinal, desde que nasceram, as meninas tiveram poucas oportunidades de comemorarem seus aniversários.
Isso por que, apesar de Lindolfo ajudar financeiramente a mãe das meninas, em certas épocas, o dinheiro que vinha, era suficiente apenas, para cobrir as despesas básicas.
A casa mesmo, só foi comprada, por que Lindolfo, engenheiro de formação, a obteve em retribuição a um favor concedido. Assim, ele conseguiu comprá-la por um valor menor que o de mercado. Ademais, devido a localização da mesma, não se poderia mesmo cobrar muito, dado que a região, não era das mais valorizadas na cidade.
No entanto, apesar disso, por Lindolfo já possuir um família constituída, os gastos com a moradia, eram muito pesados. Assim, não restava dinheiro para muita coisa além do essencial para as trigêmeas. Dinheiro este que ele entregava para Thereza.
E assim, durante os primeiros anos de vida das trigêmeas, Thereza, para conseguir sustentar as filhas, teve até que trabalhar. Isso por que, o dinheiro que Lindolfo lhe dava, era quase todo gasto na casa. E também por que, manter uma casa, demandava o pagamento de impostos, aquisição de mobílias, etc. Além disso, dado o valor da casa, – que mesmo não sendo alto, era considerável – Lindolfo ficou desfalcado. Por meses a fio, o rapaz mal tinha dinheiro para lhe dar.
Com isso, durante muitos anos, Thereza trabalhou para cuidar das filhas.
Dedicada também procurou estudar. Depois, por estar se saindo bem na profissão, Thereza resolveu continuar trabalhando.
Por conta de seu trabalho, conseguiu criar as três filhas, mobiliar sua casa, pagar suas contas, comprar um carro, e até, continuar estudando. Assim, depois de algum tempo, por não precisar mais da ajuda financeira de Lindolfo, Thereza tratou logo de abrir uma poupança, e guardar o dinheiro das filhas. Também passou a fazer alguns investimentos. 
É, nos últimos cinco anos, era isso que vinha fazendo com o dinheiro que dele recebia.
Ele que aliás, nunca deixou de lhe mandar dinheiro. Nunca as visitou depois que romperam, mas ele sempre cumpriu com o acordo que fizera.
Mas, a despeito disso, Thereza procurou levar sua vida para frente. Com dificuldades, chegou até a cursar a Universidade de Arco Verde. Mas, por conta das filhas, acabou não terminando o curso.
Entretanto, agora que suas filhas estavam maiores, estava decidida a voltar a estudar.
Até porque, conscientes agora de que para a mãe, era importante ter um diploma, não criariam obstáculos para isso. Maduras, até a apoiaram.
Isto porque, ao verem que a mãe crescia na profissão que escolhera, não tinham por que dificultarem as coisas.
Mesmo já sendo gerente em uma loja, na cidade vizinha, Thereza sabia que podia crescer. No entanto, precisa ter um diploma universitário nas mãos. Daí o súbito interesse em cursar administração.
Além disso, não era mais criança e sabia que, apesar da ajuda do ex-amante, não poderia contar eternamente com isso, pois também precisava fazer alguma coisa por si mesma. E assim resolveu voltar a estudar.

Luciana Celestino dos Santos
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