Poesias

quinta-feira, 1 de julho de 2021

CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 2

Nisso foi chegado o dia da grande festa.
Viriato parecia mais animado com a celebração, do que os próprios homenageados, os noivos.
Aparecida e Abílio, ao serem apresentados ao conde, ficaram cismados.
Isto por que, acostumaram-se com Viriato ainda muito jovem, a conviver com Lourenço. Os dois sempre foram amigos.
A certa altura, o moço começou a se comportar de modo excêntrico e Ordália começou a reprovar seus modos.
Aparecida comentou com Abílio, que se lembrava perfeitamente deste fato.
O casal então, conversando entre si, ao verem os modos arrogantes do conde, chegaram a concordar que ele fazia jus a péssima reputação que gozava.
Constantemente o homem era assediado na festa, não permanecendo indiferente às investidas.
Aparecida não gostou de seus modos.
Para completar, a mulher percebeu os olhares cúpidos que ele lançava para a sua Leonor.
Lourenço por sua vez, apaixonado que estava pela moça, e crédulo nas boas intenções do amigo, nada via. Acreditava piamente que Viriato estava feliz por ele estar feliz, e que assim, agia de forma desinteressada.
Lourenço e Leonor dançaram.
Estavam deveras felizes.
Viriato, a certa altura, pediu licença a Lourenço, pois gostaria de dançar com a noiva.
O moço, sem perceber as segundas intenções do conde, autorizou.
A moça, por sua vez, ficou visivelmente contrariada. Tentando se afastar de Viriato, Leonor tentou inventar uma desculpa para não dançar. Em vão.
O conde, elogiando a beleza da moça, conseguiu deixar Lourenço vaidoso.
Aproveitando-se da situação, puxou a moça para o meio do salão, e dançou com a moça.
Disse-lhe que de fato estava muito bela, e que tinha planos para ela e Lourenço.
Viriato, ao notar que ela procurava se afastar de seu contato, começou a se aproximar.
A certa altura, o homem disse que tudo já estava determinado, e que só cabia a ele esperar. Elogiando-a novamente, comentou que ela estava mais bela do que quando a conhecera.
Leonor ficou preocupada com aquelas palavras.
Viriato aproximou-se e beijou seu rosto.
Nisto, despediu-se, levando-a de volta a Lourenço.
Durante toda a festa, Viriato pareceu se divertir muito com os convidados, assim como com as convidadas.
Todos cearam, beberam, dançaram, se divertiram.
Leonor e Lourenço, permaneceram juntos boa parte da festa.
Aparecida e Abílio não tiraram os olhos da filha.
Os dois, aconselhando a filha, orientaram-na a não aceitar mais convites daquele senhor.
Aparecida afirmou que ele não lhe inspirava confiança.
Leonor por sua vez, parecia apreensiva.
Sua mãe, ao notar isto, perguntou logo o que ele lhe dissera.
Comentando que não gostou nem um pouco do jeito como ele a segurava para dançar, disse que ele poderia ser um homem perigoso.
A moça disse que o conde não lhe dissera nada demais. Apenas que ele desejava felicidades a ela e ao amigo.
Aparecida, no entanto, não ficou satisfeita com a resposta.
Porém, percebendo que aquele não era o local adequado para tratar do assunto, seguiu o conselho do marido, e deixou a questão de lado.
Sim por que, Aparecida, tentou arrancar da filha, detalhes da conversa. Deixou bem claro que tinha certeza que a filha estava lhe escondendo algo.
Sentindo-se pressionada, Leonor resolver afastar-se.
Lourenço, que conversava com alguns amigos, não percebeu que a moça se afastara dos pais.
Viriato, que tudo observava, em que pese parecer que estava entretido com a conversa com conhecidos, notou o fato.
Diante disto, pediu licença aos convidados, argumentando que precisava passar algumas instruções aos seus criados.
Desta forma, chamou Antero, seu servo mais fiel e determinou discretamente que ele e mais dois criados, levassem a moça para o jardim.
Leonor, então, adentrou um dos aposentos do castelo.
Nisto Antero e os outros serviçais, foram ao encontro da moça, que assustou-se com a presença inesperada de três empregados do conde.
Antero contou a moça, que Lourenço havia preparado uma surpresa para ela no jardim.
Leonor contudo, estranhou a conversa, e dizendo que mais tarde iria até o jardim, foi instada a fazê-lo.
Estranhando aquela situação, a moça argumentou que Lourenço a estava aguardando no salão, e que precisava voltar.
Antero aproximou-se então da moça, e disse olhando em seus olhos, que ela parecia abatida. Sugeriu-lhe assim, um pouco de ar fresco.
Leonor argumentou que aquela desora, só poderia sentir o sereno da madrugada.
Impaciente, percebendo que não conseguiria conduzir a moça por bem, Antero argumentou que ela precisava dirigir-se imediatamente ao jardim.
Leonor percebendo que haviam preparado algo para ela no jardim, insistiu em dizer que mais tarde iria até o local.
Ao notar que aquela conversa estava se estendendo demais, pediu licença a Antero, afim de que pudesse voltar ao salão.
Contudo, o homem obstou-lhe a passagem.
Leonor começou a ficar nervosa.
Tentando argumentar, disse que primeiro conversaria com algumas pessoas que a estavam aguardando no salão, e depois iria até o jardim.
Antero e os criados, continuaram obstaculizando a passagem.
Leonor ameaçou gritar.
Foi o suficiente para os homens investirem contra ela.
Antes mesmo que ela pudesse gritar, um dos criados colocou a mão em sua boca.
Outros dois criados seguraram e amarraram as mãos da moça, enquanto Antero, a amordaçava.
Depois, segurando um lenço, o qual foi colocado contra suas narinas, fizeram com que a moça ficasse desacordada.
Em seguida, enrolaram a moça em um pedaço de pano, colocando-a dentro de um baú.
O móvel foi tirado do aposento, e levado com a moça dentro, para fora do palácio.
Para os convidados que viram os três homens arrastando o móvel para uma carroça, aquela situação soou estranha.
No tocante aos gemidos da moça enquanto se debatia, os mesmos foram abafados pelo barulho da festa, o vozerio, as canções entoadas pelos menestréis.
Ninguém ouvira nada de estranho.

Em seguida, os homens subiram na estrada.
Leonor estava inconsciente.

Nisto, depois de cerca de meia-hora, Lourenço e Aparecida perceberam o sumiço da moça.
Preocupados, relataram o fato a Viriato, que pareceu chocado.
Tanto que mandou a criadagem para vasculhar todo o castelo em busca de Leonor.
Orientou os homens a também procurarem no jardim, em que pese a pouca probabilidade da moça se encontrar no local.
Viriato parecia muito prestativo.
No entanto, por mais que procurasse, nada de encontrar a moça.
Os pais e o noivo da moça, começaram a se preocupar.
Aflitos, decidiram interromper a festa.
Lourenço e os pais de Leonor, foram convidados por Viriato a dormirem por lá.
Dizendo que os auxiliaria na procura pela moça, argumentou que àquela hora, seria impossível localizar quem quer fosse em meio a escuridão. Contudo, assim que o dia clareasse, começaria a empreender buscas pela região.
Lourenço agradeceu o empenho do amigo em auxiliá-lo.

Nisto, depois de sumirem na estrada, os homens retiraram a moça do baú, deixando-a deitada e amarrada, dentro da carruagem.
Após, prosseguiram a viagem.
A moça foi levada a uma propriedade aparentemente abandonada, longe de qualquer vilarejo.
Viriato, depois de consolar o amigo, partiu ao encontro da moça.
Ansioso, não via a hora de encontrá-la.
Ao chegar na propriedade, Antero relatou que precisou sedar e amordaçar a moça, para que ela não gritasse e colocasse tudo a perder.
Ao ouvir isto, Viriato perguntou como ela estava.
Antero comentou que ela permanecia desacordada.
O conde perguntou se eles não a haviam machucado.
O serviçal respondeu que a moça devia estar com os pulsos marcados, mas fora isto, estava tudo bem.

Viriato foi então, ao encontro da moça.
Leonor permanecia inconsciente.
Embevecido, ficou a contemplar a moça.
Encantado, comentou que ela parecia um anjo ao dormir.
Nisto, ao perceber que os servos permaneciam no recinto, mandou-os se retirarem.
Viriato aproximou-se do leito.
Tocou nos cabelos da moça.
Sem saber direito como agir, deitou-se ao lado de Leonor.
Deitado, ficou a observar o seu rosto.
Tencionou tocar o rosto da moça, mas perdeu a coragem. Temeu acordá-la.
O homem ficou por mais de uma hora observando-a.
Leonor não despertava.
Preocupado, aproximou-se ainda mais da moça. Ao perceber que ela respirava, tranqüilizou-se.
Em seguida, segurou suas mãos.
Tudo parecia normal.
Nisto, depois de horas, a moça despertou.
Ao despertar, Leonor começou a se debater e a gemer.
Viriato, que esperava a moça acordar, pediu para ela se acalmar.
Dizendo que iria soltar suas amarras, respondeu que não adiantaria gritar, já que ninguém poderia ouvi-la.
Leonor pareceu se acalmar.
Nisto, o homem a se aproximou e soltou as amarras.
Leonor estava com os pulsos e os tornozelos amarrados.
Por fim, retirou a mordaça.
Nervosa, a moça perguntou onde estava.
Viriato recusou-se a responder.
Nisto, Leonor perguntou o que estava acontecendo.
Viriato respondeu-lhe que estava tudo bem. Dizendo que havia levado-a até ali para conversar, argumentou que tentou fazer tudo de maneira diferente, mas que ela não havia lhe deixado outra alternativa, a não ser tomar aquela atitude extremada.
Leonor ficou perplexa.
- O que o senhor quer de mim?
Viriato aproximou-se.
Tentou tocar o rosto de Leonor, mas a moça se afastou.
Ansioso, respondeu:
- Então não sabes?
Leonor estava confusa.
O conde começou a se aproximar dela.
A moça, ao notar a aproximação do homem, começou a se afastar.
E assim, quando Viriato se aproximava, a moça recuava.
Aflita, Leonor pediu para ele não se aproximar dela.
Viriato então disse:
- Não precisas ter medo! Eu não quero te fazer nenhum mal.
Leonor então, se escondeu atrás da cama.
Chorando, pediu para ele não se aproximar dela.
Viriato porém, não lhe dera ouvidos.
Com isto, a moça continuou se afastando, enquanto o homem tentava se aproximar.
E assim, Leonor correu até porta.
Porém, ao tentar abrir a porta, a moça percebeu que estava trancada.
Desesperada, começou a bater na porta, a tentar sacudi-la.
Começou a gritar.
Viriato, calmo, ficou de longe a observar a atitude desesperada da moça.
Nisto Leonor ficou a gritar, a implorar por socorro.
Em dado momento, o conde falou-lhe:
- Leonor, pra que todo este desgaste? Já não te disse que não adianta gritar? Ninguém irá te ouvir.
Leonor sentou-se na entrada do quarto, e tornou a chorar.
Viriato, aproximou-se da moça.
Assustada, Leonor levantou-se e correu para o outro lado do quarto.
Nisto, colocou suas mão nas costas. Percebendo que havia uma escultura num móvel, pegou o objeto sem que Viriato percebesse, e segurou-o com as mãos.
Nisto o homem foi se aproximando.
Leonor pedia para ele se afastar.
Viriato contudo, não lhe dava ouvidos.
Aproximava-se cada vez mais da moça.
Leonor, percebendo a aproximação, ao perceber que o homem tocava seus cabelos e o seu rosto, segurou firme a escultura que trazia nas mãos, levantou rapidamente o braço e bateu com o objeto em sua cabeça.
Zonzo, Viriato caiu no chão.
Leonor se afastou.
O conde tentando se recuperar do golpe, disse que aquilo era uma covardia. Tentando se levantar, apoiou-se nos móveis.
Irritado disse que providenciaria para que todos os objetos de decoração que guarneciam o aposento, fossem retirados.
Em seguida fitou a moça.
Leonor sentiu um arrepio de medo.
- Não pense a senhorita, que está livre de mim. Pode cuidar que eu volto. – disse em tom ameaçador.
Nisto, o homem pegou a chave e abriu a porta.
Saiu do quarto, trancando novamente o aposento.
Leonor então, aproximou-se novamente da porta.
Gritou para que abrissem-na.
Como ninguém a atendesse, a moça sentou-se em uma cadeira.
Ficou por longo tempo chorando, fitando a porta, na esperança de que alguém aparecesse.
Nada.
Mais tarde, ao se aproximar da janela, percebeu que as mesmas estavam emperradas.
Vasculhando o quarto, percebeu uma pequena janela que podia ser aberta, o que permitia a entrada de um pouco de ar.
A moça desesperada, começou a observar o quarto.
Nervosa, ficava a se perguntar onde estava, e como faria para retornar para casa.
Aflita, pensava em seus pais, em seu noivo. Acreditava que todos a estavam procurando.
Mais tarde, Antero lhe trouxe uma refeição.
A moça reconhecendo a expressão do servo, recordou-se que fora amarrada.
Atônita, Leonor perguntou-lhe por que havia feito aquilo.
Antero respondeu-lhe que apenas cumpria ordens.
Em seguida, abriu a porta e retirou-se.
Antes de sair, percebendo que ela parecia observar os seus gestos, comentou que não adiantaria tentar fugir já que havia dois homens vigiando a porta do quarto.
Nisto, Leonor ficou novamente sozinha.
Triste, não tocou na comida.
Amuada, deitou-se na cama, mas, nervosa, demorou a pegar no sono.
Quando finalmente adormeceu, o sono foi agitado.
Acordou inúmeras vezes durante a noite.
Chorava.
Perguntava-se a todo o momento, por que tinha que passar por aquilo. O que havia feito de tão errado para merecer este castigo.
Desesperada, jogou-se na cama e dormiu.
Ao despertar, percebeu que já haviam lhe trazido o café da manhã.

Viriato por sua vez, depois de se ocupar de seus afazeres em seu castelo, ao chegar no lugar onde Leonor estava, tomou logo ciência de que a moça não havia comido nada.
O conde perguntou então a Antero:
- Como ela está?
Antenor respondeu que ela chorou a noite e toda, e que tivera um sono agitado.
Ao ouvir isto,Viriato argumentou que com o tempo, ela acabaria aceitando os fatos.
Nisto, dirigiu-se ao quarto da moça.
Leonor ainda trajava a roupa que usara na festa.
Ao notar isto, Viriato respondeu-lhe que havia roupas nos baús.
Ansioso, ao perceber que o moça não havia tomado o café da manhã, disse-lhe:
- É bom você se alimentar. Vai precisar estar forte.
Leonor afastou-se da cama.
Escondendo-se atrás de um dos móveis que guarneciam o quarto, gritou para que ele fosse embora.
Viriato respondeu que pediria aos serviçais para providenciarem um banho para ela.
Leonor gritou dizendo que não aceitaria nada que viesse dele.
Ao ouvir isto, o homem ficou irritado.
Dizendo que ela teria que aceitar, comentou que havia coisas que precisavam ficar claras. Afirmou que dependia dela que as coisas caminhassem a um bom termo.
Leonor comentou que quando seus pais e seu noivo soubessem que ele a mantinha em cárcere privado, ele iria pagar por tudo o que estava fazendo.
Viriato achou graça.
- Tola! Você acha realmente, que eles podem fazer alguma coisa para ajudá-la?
Leonor ficou furiosa. Tanto, que esquecendo-se de sua condição de prisioneira, investiu contra o conde, o qual tratou logo de segurar o seu braço.
Assustada, a moça pediu para que ele soltasse o seu braço.
Viriato então, segurou seu braço com mais força.
A certa altura, Leonor deixou escapar uma expressão de dor.
Ao perceber isto, Viriato soltou o braço da moça.
Nervoso, o homem respondeu:
- A senhorita vai tomar o banho que o servo vai preparar, vai trocar de roupa e vai tomar o café. Vai ficar sozinha no quarto. Mais tarde, eu vou voltar. Temos muito o que conversar.
Leonor ficou parada.
Viriato saiu do quarto.
Minutos depois, um dos servos trouxe uma tina de madeira e aos poucos, foi enchendo o recipiente com água.
Quando a tina ficou cheia, o homem retirou-se do quarto.
Leonor ouviu o barulho da porta sendo trancada.
Contrariada, a moça tirou o vestido, e entrou na tina com a parte de baixo da veste.
Era o costume da época.
A seguir enxugou-se.
Trocou de roupa.
Antes disto, colocou um baú em frente a porta.
Não queria ser surpreendida.
Depois, pegou algumas frutas que estavam na bandeja.
Mais tarde, Viriato voltou ao quarto.
Leonor estava sentada na cama.
O moço ao vê-la tão quieta, ficou preocupado.
A moça parecia abatida.
Ao tentar aproximar-se, Leonor repeliu-o, se afastando.
Viriato disse então:
- A duração deste sofrimento só depende de você.
A moça não parecia estar bem.
Viriato olhou a bandeja. Notou que a moça havia comido muito pouco.
Nisto, continuou a falar:
- Eu entendo que esta situação não está sendo agradável para você, mas eu precisei agir desta forma. A senhorita não deixou outra alternativa. Já falei isto antes. Contudo, a sua situação pode ser melhorada. Não pense que eu faço isto por maldade. É só para que me ouça.
Leonor não parecia ouvi-lo.
Ao notar isto, Viriato perguntou se ela o estavam ouvindo.
Sem forças, Leonor balançou a cabeça afirmativamente.
O conde, aproximou-se da moça.
Leonor tentou repeli-lo, mas não tinha forças.
O homem foi até a porta, abriu-a. Chamando um dos seguranças, Viriato pediu para que Antero chamasse uma pessoa para examiná-la. Recomendou que assim que ela chegasse, que a mandassem subir, e que os homens que guardavam o quarto, anunciassem a chegada desta pessoa.
Nisto, voltou ao quarto. Não fechou a porta.
Viriato então, recomendou a moça, que ficasse na cama.
Dizendo que ficaria de longe observando-a, comentou que não precisava ter medo, pois não chegaria mais perto dela.
Nisto, chegou um médico.
Ansioso, Viriato ao ser informado da chegada do mesmo foi ao seu encontro, após, conduziu-o até o quarto onde a moça estava.
Desta forma, o médico examinou a moça.
Ao término do exame, respondeu ela precisava se alimentar bem.
Viriato surpreendeu-se com a prescrição médica. Perguntou:
- Só isto?
Ao notar o desdém do conde, o médico sugeriu aplicar umas sangrias na moça.
Viriato argumentou que não seria necessário.
Com isto o médico retirou-se do quarto.
Viriato foi ao seu encontro.
Pagou a consulta.
Puxou o médico em um canto.
Disse:
- Eu acredito que não preciso recomendar que não se comente sobre esta “visita”. Sinceramente, eu não gostaria de ver o senhor envolvido em problemas.
O homem entendeu.
Viriato lhe deu um saquinho com ouro.
O médico agradeceu e se retirou da propriedade.
Em seguida, Viriato subiu as escadas e retornou ao quarto, onde Leonor permanecia, deitada em sua cama.
Parecia dormir.
Aproximando-se da moça, o conde sentiu sua respiração.
Tocou-lhe o rosto. Leonor não reagiu.
Preocupado, atentou-se as palavras do médico, que disse que ela precisava se alimentar.
E assim, Antero, a pedido de Viriato, mandou preparar algo para Leonor comer.
Viriato permaneceu no quarto em que a moça estava.
O sono de Leonor foi intranquilo. Ficou o tempo todo a se mexer na cama, a balbuciar palavras.
Nisto ficou, até que exausta, dormiu profundamente.
Mais tarde, despertou.
Assustou-se ao perceber que Viriato a observava.
O homem, ao notar que a moça despertara, pediu a um dos vigias que mandasse chamar Antero.
Alguns minutos depois, o serviçal adentrou o quarto.
Trazia pão, frutas.
Leonor disse que não queria.
Viriato respondeu:
- Não quer, mais vai comer! Temos muito que conversar, e para isto, preciso que estejas bem. Disto dependerá sair, ou permanecer aqui.
Leonor tentou resistir.
Viriato ordenou então, que Antero segurasse os braços da moça.
O serviçal atendeu ao pedido.
Leonor pediu para que ele não o fizesse. Chorou.
Viriato, pegando uma das frutas, colocou-na boca da mulher.
Leonor cuspiu a fruta.
Furioso, o conde levantou a mão para ela, que escondeu o rosto com as mãos.
Tentando se controlar, o homem começou a conversar com ela.
Antero se afastou.
Dizendo que daquele jeito ela não poderia se encontrar com seus pais, comentou que só dependia dela sair daquela situação.
Nisso, colocou outra fruta em sua boca.
Leonor comeu a fruta aos poucos.
Ao terminar de digerir o alimento, o conde ofereceu-lhe outra fruta, mas a moça recusou.
Viriato não insistiu. Disse apenas que precisava conversar.
Nisto Antero retirou-se do quarto.
Nisto, começou dizendo que desde a primeira vez a vira se encantara com ela. Comentou que naquela festa em que ela dançara, encantara o salão, encantara a ele. Viriato comentou que não estava sendo leviano. Confessou que sempre teve tudo o que quis.
Indiscreto, o homem comentou que poderia ter a mulher que bem entendesse.
Ao ouvir isto, Leonor perguntou:
- Afinal de contas, o que o senhor quer de mim?
- Não percebestes ainda? – perguntou Viriato – Eu te amo.
Leonor ficou perplexa.
Ao notar a expressão de espanto no rosto da moça, Viriato começou a se explicar:
- Duvidas? Achas realmente que eu estou mentindo? Por que eu faria isto? Afinal de contas, eu posso ter a mulher que eu quiser.
- Se podes fazê-lo, por que cismastes comigo? Por que não me deixas em paz? – comentou aflita.
Viriato pousou sua mão sobre a mão da moça.
Leonor afastou-se.
Viriato então, ao notar que precisava deixar claro o seu intento, revelou que ela não sairia dali enquanto não fizesse o que ele queria.
A moça se fez de desentendida.
Viriato comentou então, que enquanto ela lhe resistisse, não poderia sair da propriedade. Que estaria o tempo todo sendo vigiada por seus homens.
Leonor ficou perplexa.
O conde se aproximando novamente da moça, revelou que ela estava proibida de ver seus pais, e que seu noivado com Lourenço estava terminado.
Ao ouvir isto, a moça caiu em prantos.
Revoltada dizia que nada estava terminado, e que Lourenço, assim como seus pais, provavelmente a estava procurando. Furiosa comentou que quando ele descobrisse onde ela estava, iria a seu encontro e que ele se arrependeria de tudo o que estava fazendo.
Viriato riu. Soltou uma sonora gargalhada.
Dizendo que se Lourenço o ameaçasse estaria perdido, conseguiu lançar terror em Leonor.
O conde acrescentou que se sofresse qualquer ameaça a sua integridade física, Lourenço estaria morto.
Ao ouvir isto, a moça ficou assustada.
Viriato tentou se aproximar da moça, que assustada, implorou para que ele não o fizesse.
Leonor foi se afastando, chorou, gritou.
Quando o conde se aproximou, a moça mordeu sua mão.
Viriato então afastou-se.
Furioso, comentou que ela se arrependeria do que fizera.
Leonor foi deixada trancada no quarto.
Nervosa, temeu que o conde tentasse fazer algo com seu noivo, ou mesmo com seus pais.
Aflita, imaginou Lourenço ferido.
Angustiada, ficou por três dias sem receber qualquer visita.
Isto só fazia aumentar sua ansiedade. Temia pelo pior.
Desta forma, resolveu observar o comportamento dos criados, a hora em que entravam e saiam do quarto. Muitas vezes fingia dormir só para não despertar suspeitas.
Percebeu então, que Antero tinha horários determinados para levar as refeições.
Notou que do outro lado da porta havia dois serviçais fazendo o serviço de guarda.
Olhando pela janela, o entorno, percebeu desolada, que estava em um lugar, onde raramente se via um passante.
A janela estava travada e só havia uma pequena fresta onde circulava o ar.
Fresta esta, pequena e estreita e pequena demais para que ela pudesse passar com o seu corpo.
Pensava o tempo inteiro: “Preciso fugir. Preciso sair daqui. Preciso avisar Lourenço e meus pais de que eles correm perigo. Preciso sumir da região.”

Nisto, Viriato retornara ao castelo.
Cauteloso, pensou que precisava se manter por algum tempo por ali. Não poderia levantar suspeitas.
Nos dias que se seguiram, visitou Lourenço e ofereceu ajuda para procurar Leonor.
Fingindo-se condoído com o sofrimento do amigo, comentou que lamentava muito o sumiço da moça. Argumentou que quem empreendera tal ignomínia, iria pagar com a própria vida.
Lourenço desesperado, revelou que faria qualquer coisa para encontrar a moça. Disse que seria até capaz de empregar tudo o que tinha para o fascínora, para que ele a libertasse. Para que não lhe fizesse nada de mal.
Fingindo consolar o amigo, Viriato, prometeu que iria se encarregar do problema, e do que dependesse dele, a moça dentro em breve estaria em casa. De volta aos braços de seu amado, e de sua família.
Lourenço, ao ouvir as palavras de conforto do amigo, agradeceu o empenho e a dedicação.
Aparecida contudo, não estava muito convencida da sinceridade de suas palavras. Dizia sentir algo de falso em tudo o que dizia.
Abílio, censurando a esposa, comentou que aquele não era o momento de ocupar a mente de Lourenço com suas implicâncias.
Aparecida então, percebendo que não seria ouvida, parou de prevenir Lourenço. Disse apenas para se mantivesse atento, e que tivesse cuidado.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.




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