Poesias

quinta-feira, 22 de julho de 2021

DELICADO - CAPÍTULO 22

Nervosa ao sair do apartamento de Roberto, Cláudia resolveu passar na casa de Lucindo.
Lá, contou o que se sucedera.
Percebendo o nervosismo da mulher, o rapaz, pediu para que ela se acalmasse. Ofereceu-lhe água com açúcar.
Cláudia chorava.
Em dado momento, mais calma, Cláudia pediu desculpas a Lucindo. Argumentou que não tinha o direito de incomodá-lo com seus problemas.
Lucindo por seu turno, argumentou que havia se colocado à disposição, e que ela fizera muito bem em procurá-lo para conversar.
Cláudia o observava com ternura.
Emocionada, agradeceu tanta gentileza.
Lucindo, ficou comovido.
Abraçou a amiga.
Mais tarde a mulher despediu-se de Lucindo, agradeceu sua paciência por ouvi-la falar de seus problemas, e convidou-o para visitar a família.
Lucindo argumentou que visitaria a família com uma condição.
Cláudia ficou surpresa com as palavras de Lucindo.
O moço argumentou que precisavam conversar sobre o que acontecera no parque.
Ao ouvir estas palavras Cláudia argumentou estar com pressa, disse que precisava voltar para casa, e resolver que medida legal poderia propor contra Roberto.
Lucindo disse que poderiam pensar juntos nisto.
Relatou ainda, que ela não iria inventar mais uma desculpa para fugir dele.
Irritou-se.
Argumentou que estava cansado de tanta indecisão.
Cláudia retrucou dizendo que não estava indecisa. Argumentou que estava estranhando o comportamento do amigo.
Lucindo então se declarou.
Segurando as mãos da moça, pediu para que se sentasse.
Disse que há anos vinha propondo que eles ficassem juntos para ver que o relacionamento poderia dar certo. Argumentou que ela sempre vinha com a conversa que seria melhor serem apenas bons amigos, e ele vinha aceitando aquela situação. Relatou que estava cansado de tudo aquilo. Mencionou que tentou gostar de outras mulheres. Investiu em vários e diversos relacionamentos, mas nenhum deles deu certo.
Cláudia ficou muda. Não sabia o que dizer.
Lucindo prosseguiu.
Disse que mesmo feliz em seus relacionamentos, com mulheres incríveis e adoráveis, sempre ficava a pensar como seria se eles tivessem ficado juntos. Revelou que esta ideia sempre ficou martelando em sua cabeça. Mencionou que ficava arrasado toda a vez que ela aparecia desfilando com um namorado novo, e parecia feliz, andando pelos lugares que ele frequentava.
A mulher, ao ouvir isto, pediu-lhe desculpas.
Disse que nunca tivera a intenção de feri-lo, e que se soubesse disto, evitaria encontrar-se com seus namorados nestes lugares.
Lucindo, diante das palavras de Cláudia, disse-lhe:
- Isto não importa mais! O que importa é o que daqui para frente.
Cláudia ao ouvir isto, ficou um pouco sem graça.
Lucindo segurou novamente as mãos da mulher.
Acrescentou que quando soube que ela finalmente iria se casar, ficou arrasado. Confessou que saiu para beber.
Cláudia ficou espantada.
Lucindo relatou então, um tanto constrangido, que ficou muito feliz ao saber que ela e Fabrício haviam dado um tempo no relacionamento. Finalizou que agora poderia ser o momento certo para ficarem juntos.
Cláudia tentou se desvencilhar de Lucindo.
Argumentou que precisava voltar para casa.
O homem não soltou suas mãos. Ao perceber que ela resistia, enervou-se.
A mulher se assustou.
Lucindo, percebendo que exagerara, pediu-lhe desculpas.
Firme porém, disse que ela havia correspondido seu beijo, embora tivesse ficado surpresa com o gesto. Comentou que ela não era indiferente a ele ou não teria ficado sem reação.
Cláudia começou a gaguejar.
Disse que eram amigos e que não queria estragar a relação bonita que eles tinham.
Lucindo rindo, disse:
- Que relação! Você só vem a minha casa quando precisa da minha ajuda. Eu mal frequento a sua casa, por que eu não consigo vê-la ao lado de outra pessoa... - disse tentando se acalmar, e acrescentou – A quem estamos tentando enganar? Isto não é uma relação... Relação é o que poderemos ter, se você claro, concordar com isto.
Cláudia não sabia o que dizer. Argumentou que havia sido pega de surpresa.
Lucindo rindo, retrucou:
- Ah, isso não! Não mesmo! Durante estes anos todos, você sempre soube do meus sentimentos.
Cláudia não sabia onde enfiar a cara.
Lucindo aproximou-se. Tentava olhar a mulher nos olhos.
Cláudia se esquivava.
O homem, pôs a mão em seu rosto.
Pediu para que ela não se escondesse. Argumentou que estava cansado de rodeios. Exigiu uma resposta. Pediu para que ela aceitasse o fato de que ele gostava dela, ou que o deixasse livre para viver sua vida. Argumentou que não era livre.
Cláudia argumentou que não podia ser responsável por sua vida.
Lucindo respondeu que mesmo assim ela era.
A mulher perguntou-lhe se não estava confundindo as coisas.
O homem ficou furioso.
- Que você não saiba o que quer, eu até consigo entender. Mas dizer que eu não sei o que quero, ou que estou sendo leviano, ou confundindo as coisas... Quando foi que eu brinquei com você, quando eu fui desleal ou desonesto?
Cláudia percebeu que ofendera o moço.
Pediu-lhe desculpas. Nervosa disse que não estava medindo as palavras e que se continuasse falando, iria acabar ofendendo-o mais. Disse que precisava voltar para casa.
Lucindo chorando, perguntou-lhe se mais uma vez ela iria dizer-lhe não.
Cláudia ficou penalizada. Abraçou o amigo.
Prometeu que não o faria mais esperar.
Lucindo ao ouvir isto, pediu para que ao menos tentassem.
Cláudia disse que precisava resolver sua relação com Fabrício. Argumentou que estavam separados, mas precisava resolver aquela situação.
Lucindo, procurando enxugar as lágrimas concordou. Pediu desculpas pela cena ridícula que ela presenciou. Argumentou que não gostaria que ela ficasse com ele por pena, mas sim por gostar dele.
Cláudia pôs a mão em seu rosto.
Prometeu que iria pensar no assunto, mas não poderia responder-lhe naquele momento.
Lucindo ao ouvir isto, ficou surpreso.
A mulher repetiu que iria pensar na proposta.
Nisto, pediu desculpas e saiu atabalhoada da residência do amigo.
Despediu-se apressadamente dos tios do moço, e entrou em seu carro, voltando para casa.
Seu tio, ao perceber que a moça saiu da casa, mais nervosa do que entrou, perguntou a Lucindo o que estava acontecendo.
O homem respondeu:
- Eu meti os pés pelas mãos! Ao invés de tentar acalmá-la, fiquei fazendo uma série de cobranças e exigências. Logo agora que ela está vivendo uma situação tão difícil.
Percebendo o nervosismo do sobrinho, Olegário percebeu que Lucindo havia mais uma vez se declarado a moça.
O homem já conhecia a história.
Sabia dos sentimentos do sobrinho, e sempre que ele ficava desolado com as negativas, aconselhava-o a investir em um outro amor.
Às vezes Lucindo o ouvia, mas os relacionamentos por um motivo ou outro, costumavam não prosperar.
Por diversas vezes, Olegário chegou a comentar com a esposa, que o sobrinho, devia sofrer muito com tudo isto. Ficava penalizado com isto.
Lucindo por sua vez, contou ao tio sobre o que haviam conversado.
Olegário ficou surpreso ao saber pelo sobrinho que Cláudia ficou de pensar no assunto. Percebeu o nervosismo da moça.
Lucindo também contou-lhe sobre o beijo no parque.
Olegário ouvia a tudo com atenção.
Ao final da conversa, percebendo o ar desolado do sobrinho, comentou:
- Ora, ora! Quem te viu, quem te vê! Você conseguiu! Finalmente você conseguiu balançar esta moça! Quem sabe a partir de agora, as coisas não começam a mudar?
Lucindo, que estava com os olhos cheios d'água, ao ouvir as palavras do tio, mudou o semblante.
- Será?
Olegário disse que viu o jeito que a moça saiu dali. Argumentou que nunca a tinha visto tão nervosa.
Lucindo argumentou que ela estava vivendo uma situação complicada.
Olegário ressaltou que já a viu passar por situações mais difíceis que aquela e não ficar tão nervosa como estava.
Lucindo parecia apreensivo. Dizia que já sabia que ela não iria ficar com ele.
Olegário disse que agora ele estava enganado, e que não deveria perder as esperanças. Chegou a pôr a mão no ombro do sobrinho e aconselhou-o:
- Se for preciso, beije-a de novo! Surpreenda-a. Mostre que você é um homem interessante!
Lucindo ficou pasmo com o conselho.
Olegário percebeu.
Comentou que de fato, preferia que ele se envolvesse com outra mulher, mas percebeu que ele estava irremediavelmente apaixonado pela moça. Assim, nada do que dissesse, seria ouvido por ele. Então, que partisse para o tudo ou nada. Falou para que ele deixasse Cláudia encantada.
Lucindo o observava com olhar de admiração.
Olegário disse-lhe para provocar a moça. Mostrar-lhe que tinha muito mais para oferecer-lhe. Disse que o sobrinho sabia muito bem, o que tinha que fazer.
Rindo, Lucindo comentou que o tio, com aquele jeito de homem sério, podia surpreender muita gente.
Olegário riu do comentário.
Disse que fazia o que podia.
O homem abraçou o sobrinho e disse que ele agora havia encontrado o caminho certo, e que acabaria conquistando o coração da moça.
Depois, olhando o sobrinho nos olhos, confessou que não acreditava que este dia iria chegar.
As palavras de Olegário encheram o moço de esperança.
Olegário porém, recomendou-lhe que fosse firme, e que não deixasse a moça enrolá-lo com desculpas. Por fim, comentou que estava orgulhoso dele, pois havia colocado a moça contra a parede, dando-lhe um ultimato.

Cláudia voltou para casa.
Ana ao vê-la, percebeu que a filha estava transtornada. Perguntou-lhe o que havia acontecido.
Cláudia porém, se esquivou da pergunta. Disse que estava cansada, e mais tarde conversaria.
Com isto, trancou-se no quarto.
Ana ficou preocupada.
Mas tarde, Cláudia revelou que conversou com Roberto e o avisou que não se casaria com ele.
Ana ao ouvir o relato da filha, ficou preocupada.
Disse que ele parecia ser perigoso. Pediu para que ela conversasse com Onofre sobre o ocorrido.
Cláudia prometeu que o faria.
Nos dias que se seguiram, a mulher agendou uma consulta com o causídico.
Onofre a instruiu.
Cláudia levou a cópia do boletim de ocorrência feito. Relatou as perseguições.
O homem comentou que precisava de testemunhas.
Cláudia prometeu que iria conversar com seus amigos e conhecidos.
Mais tarde, apresentou seu rol de testemunhas.
Cláudia tentou localizar Marcelo e Júlia, mas não obteve êxito.

Em outra conversa com Lúcio, Cláudia prometeu que assim que saísse a sentença do processo, iria alterar seu registro de nascimento, e contaria a todos que era sua mãe.
Lúcio ficou feliz com a novidade.
Cláudia deu-lhe um abraço.

A moça também conversou com Letícia.
Letícia contou sobre os passeios que fizera com o marido, e contou sobre o quanto estava feliz.
Cláudia relatou os últimos acontecimentos.
Letícia acrescentou a seguinte observação:
- As coisas não andam fáceis para você. Não é amiga?
Por fim, se abraçaram.

Na universidade, a moça continuou a ministrar suas aulas.
Tudo parecia estar tranquilo, até o dia em que Célio retornou as aulas.
Cláudia ao vê-lo na classe, ficou apreensiva.
Em dado momento da aula, orientou os alunos a procederem a leitura de um texto literário. Pediu licença, e disse que voltaria em cinco minutos.
Nisto saiu da sala.
Procurou Lucindo, que ministrava uma aula.
O homem demorou para perceber que Cláudia o esperava.
Por fim interrompeu a aula e foi conversar com a moça.
Ao vê-la, perguntou-lhe o que estava acontecendo.
Cláudia respondeu bem baixinho, que Célio havia voltado e estava na sala.
Lucindo ficou perplexo.
Chegou a comentar da cara de pau do garoto.
Porém, procurando pensar no assunto, aconselhou-a terminar a aula, e sair rapidamente da classe. Poderia dizer que hoje não teria como atendê-los, pois estava com pressa. Orientou-a a evitar ficar a sós com Célio.
Cláudia concordou.
Voltou à aula.
Ao término da aula, alguns alunos se aproximaram para tirar algumas dúvidas, mas Cláudia esquivou-se. Desculpando-se, disse que estava com pressa, e que não poderia ficar mais tempo.
Nisto saiu apressadamente da sala.
A mulher dirigiu-se a sala dos professores.
Aproveitou para ajeitar seus livros.
Cláudia chegou a ouvir passos, mas acreditou se tratar de outro professor.
Qual não foi sua surpresa ao se deparar com Célio.
O garoto dizia estar envergonhado pelo que fizera.
Cláudia, tentando se afastar, dizia que estava tudo bem.
No entanto, em que pese o rapaz dizer que queria se desculpar, mais e mais se aproximava da professora.
Cláudia procurava se afastar.
Em dado momento, o garoto conseguiu se aproximar e beijar a professora.
Cláudia reagiu. E finalmente conseguiu se desvencilhar do garoto.
Nervosa, começou a gritar com o garoto.
Perguntava-lhe o que estava fazendo? O que estava pensando?
Exigiu que ele saísse da sala ou chamaria os seguranças do prédio.
Célio, pareceu constrangido e saiu correndo da sala. Não sem antes, pedir desculpas.
Cláudia não entendeu o que se passou.
Minutos depois, Lucindo apareceu.
Comentou que demorou por que alguns alunos o interceptaram. Começaram a fazer uma série de perguntas.
Ao perceber que Cláudia estava nervosa, perguntou o que havia acontecido.
A mulher relatou-lhe os fatos.
Lucindo percebeu então, que não conhecia os garotos que o pararam nos corredores da universidade. Constatou que foi envolvido em um golpe. Preocupado, perguntou a moça se ela não havia percebido se havia mais alguém com Célio.
Cláudia respondeu que se havia, não tinha percebido.
Lucindo perguntou se havia alguém fotografando, ou observando.
Cláudia respondeu que estava sozinha na sala.
Lucindo resolveu levar a moça para casa.
Ofereceu-lhe uma carona em seu carro.

Dias depois, o reitor da universidade chamou-a para uma conversa.
Relatou que havia recebido uma denúncia de corrupção de menores, contra uma das professoras da instituição.
Cláudia ao ouvir isto, ficou perplexa.
O homem comentou que o aluno envolvido, era Célio, e que ele a havia denunciado.
A mulher parecia não entender o que estava acontecendo.
O reitor mostrou-lhe fotos e perguntou-lhe se ela se lembrava dos fatos.
Cláudia nervosa, tentou explicar-lhe que os fatos não ocorreram da forma descrita pelo aluno. Comentou que nunca assediou ninguém, e que nunca misturou seu trabalho, com seus assuntos particulares. Afirma que nunca se envolveu com nenhum de seus alunos, e que ele sim, a cercou em duas oportunidades, se aproveitando do fato de que estava sozinha.
O reitor, ao ouvir o relato da moça, comentou que seria muito difícil provar o que estava dizendo, pois ela própria dissera que não havia testemunhas.
Cláudia disse que em uma das oportunidades Lucindo viu o que estava acontecendo.
O reitor disse que iria conversar com ele.
Argumentou que diante do ocorrido, ela seria temporariamente afastada de seu trabalho, até que tudo fosse apurado.
Cláudia ao ouvir isto, ficou indignada.
O homem disse que precisava agir daquela forma para preservá-la.
Nisto informou-a que o aluno havia registrado uma ocorrência contra ela, e que seria instaurado um inquérito policial. Orientou-a a contratar um advogado pois se encontrava bastante encrencada.
Cláudia não podia acreditar no que estava ouvindo.
Atordoada, saiu da sala do reitor e se dirigiu a seu carro.
Quando ia apertar o botão para abrir as portas, ouviu alguém dizer que ela estava encrencada.
Ao olhar para trás, não viu ninguém.
Voltou para casa.
Nervosa, agendou uma consulta com Onofre.
A secretaria do causídico, ao perceber a gravidade da situação, resolveu passar a ligação diretamente para ele.
Onofre aconselhou-a a ir ao seu escritório depois das seis horas.
No horário combinado, a moça compareceu ao escritório e relatou todo o ocorrido.
Mencionou haver registrado uma ocorrência, aconselhada por Lucindo e por seus pais.
Onofre disse-lhe que havia procedido bem.
Orientou-a de que seria convocada a depor, e que ela devia estar preparada para contar exatamente o que havia acontecido.
Cláudia também revelou o encontro com Roberto, às perseguições. Chegou a dizer que desconfiava que Roberto poderia estar por trás daquela armação.
Onofre ouviu o relato com toda a atenção.
Mencionou que o homem era perigoso, e que seria necessário tomar uma medida judicial contra ele.
Cláudia mencionou que também registrou uma ocorrência contra ele.
Depois de alguns dias, finalmente conseguiu localizar Júlia e Marcelo, os quais se comprometeram a esclarecer os fatos.
A moça também conversou com os pais e contou o que havia acontecido.
Ana, ao ouvir o relato da moça, caiu em prantos.
Jacinto precisou acalmá-la.
Cláudia, tentando aparentar tranquilidade, prometeu que provaria que tudo não passou de uma armação. Disse aos pais que Roberto devia estar envolvido em toda a aquela confusão.
Jacinto ficou indignado. Chegou o homem de salafrário, mau caráter, bandido, e vários palavrões, como filho da puta, desgraçado, etc.

Mais tarde, Lucindo foi chamado para ir a sala da reitoria.
Ficou chocado ao saber do ocorrido, e mais ainda, ao tomar conhecimento do afastamento de Cláudia.
O reitor informou que ela continuaria recebendo seu salário, já que nada fora comprovado.
Lucindo por sua vez, confirmou que o rapaz perseguia a moça.
Quando o reitor perguntou do beijo, Lucindo respondeu que não estava presente. Mas afirmou que confiava em Cláudia e que ela nunca assediaria um aluno.
O reitor acrescentou que o aluno tinha dezessete anos, e que isto complicava bastante as coisas.
Lucindo ficou inconformado.
Disse que aquilo era um absurdo, e que a verdade iria aparecer.
Por fim, saiu da sala do reitor.

Mais tarde, Lucindo foi até a casa de Cláudia.
Contou sobre a conversa que tivera com o reitor.
A mulher insistiu em dizer que não fizera nada contra o garoto, e que tudo não passava de uma grande confusão.
Nervosa, chorou.
Nisto, procurando se acalmar, Cláudia revelou que conversou com seu advogado.
Lucindo, tentando acalmá-la, disse que aquilo não iria dar em nada. Argumentou que verdade iria aparecer. Dizia a todo momento para que ficasse calma.
Cláudia abraçou-o.
Ana passava pelo corredor quando viu a cena. Cuidadosamente fechou a porta do quarto.
Quando Lúcio perguntou de Cláudia, Ana pediu para que não fosse até seu quarto.
Jacinto ao saber que Lucindo estava no quarto de Cláudia, não gostou nem um pouco, mas Ana argumentou que a ocasião não se adequava a certos formalismos, e que nenhum dos dois era mais criança.
Lúcio ficou contente ao saber que Lucindo estava com Cláudia.

Por fim, a moça agradeceu o apoio, mas argumentou que ele devia estar querendo voltar para sua casa, já que estava tarde, e no dia seguinte ele teria que ir trabalhar.
Lucindo olhou o relógio.
Já era bem tarde.
Prometeu voltar.

Dias mais tarde, Cláudia recebeu uma intimação para prestar depoimento.
Onofre a havia instruído sobre o que deveria falar. Procurou tranquilizar a moça.
Cláudia foi acompanhada pelos pais.
Respondeu de forma sucinta, as perguntas que lhe fizeram.
Reafirmou que nunca assediou Célio, que mal o conhecia, e que ele a procurou no final das aulas, uma única vez.
Quando o delegado insinuou que ela estava tentando se eximir de responsabilidades, a mulher argumentou que era apenas uma professora, e que não estava ali para segurar ninguém pela mão. Afirmou que nunca usou de seu cargo para assediar ninguém, e que a acusação teria que ser provada.
Por fim, o delegado a liberou.
Os funcionários da delegacia, desconfiaram da versão do garoto. O escrivão rindo, comentou com ironia:
- O que uma mulher dessas iria fazer com um frango daqueles? É claro que ele está mentindo! Esta mulher não precisa assediar ninguém.
As pessoas que estavam por perto, caíram na risada.
O delegado também teve vontade de rir, mas procurou disfarçar.
Lúcio ao saber da acusação que pesava contra a mãe, ficou indignado. Dizia que aquilo era um absurdo.
Ficou nervoso. Chegou a chorar.
Ana e Jacinto tiveram que conversar com ele.
Mais tarde Cláudia conversou com o garoto. Disse que ele não precisava se preocupar que a verdade iria aparecer.
Lúcio estava preocupado com a possibilidade de Cláudia ser presa.
A mulher respondeu-lhe que isto não iria acontecer.
Lúcio por sua vez, tentava se acalmar.

Com efeito, Cláudia foi convocada mais uma vez para comparecer na delegacia.
A mulher foi acompanhada de seu advogado.
Ao chegar no local, verificou que lá estavam Célio, seus pais e o advogado.
A mãe do garoto fuzilou Cláudia com seu olhar.
A moça por sua vez, não se deixou intimidar. Olhou-a com indiferença.
Durante a acareação, o jovem se contradisse algumas vezes.
Onofre aproveitou o fato para argumentar que o depoimento do rapaz perdera o valor por tantas contradições.
Ora Célio dizia que os encontros também ocorreram fora da faculdade. Ora dizia que haviam se encontrado por diversas vezes na instituição. Dizia que nunca haviam sido vistos fora da faculdade. Outras vezes dizia que outras pessoas os viram juntos. Contudo, quando era instado a citar nomes, procurava desconversar.
Onofre tentou desqualificar o depoimento, mas o delegado e o advogado do rapaz, diziam que ele estava nervoso, e desta forma, confundia os fatos.
Ao ouvir as justificativas para tanta confusão, o homem ficou revoltado.
O delegado disse-lhe para se conter. Argumentou que ele estava se excedendo.
Onofre que estava de pé discutindo com o delegado, sentou-se.
Cláudia passou então a questionar a forma como o depoimento estava sendo conduzido.
Dizia para seu advogado que da forma como as coisas estavam sendo colocadas, ela seria condenada. Nervosa chegou a dizer que eles não tinham provas do que estavam dizendo. Mencionou que estava sendo vítima de uma armação, e chegou a perguntar a Célio se Roberto estava lhe pagando uma boa quantia para que mentisse daquela forma.
Onofre pediu a moça para que se sentasse. Pediu para que se acalmasse. Disse em tom baixo que as coisas iriam se resolver.
Cláudia no entanto, estava transtornada. Não conseguia ouvir as palavras do advogado.
Nervosa, chegou a insinuar que o delegado estava envolvido na armação.
Foi o bastante para ser dada voz de prisão por desacato.
Onofre ao ouvir as palavras do delegado, argumentou que ela estava nervosa, e que ninguém diante de tanta pressão e de tamanha injusta, conseguia ficar impassível. Argumentou que sua cliente era uma pessoa correta, e que em nenhum momento teve a intenção de ofendê-lo.
O homem contudo, não quis saber.
Nisto a acareação foi encerrada, e a moça permaneceu na delegacia.

Quando sua família soube do ocorrido, todos ficaram muito nervosos.
Ana queria ir até a delegacia conversar com o delegado.
Onofre argumentou que isto de nada adiantaria, e ela provavelmente também seria presa, se assim o fizesse.
Prometeu que tomaria as medidas legais cabíveis e Cláudia seria solta o mais depressa possível.
Trabalhou o dia inteiro em uma habeas corpus.
Embora não fosse sua especialidade, o homem prometeu auxiliar Cláudia no caso, pois estava convencido de sua inocência.
Cláudia, por sua vez, agradeceu-o por isto.
Durante em que permaneceu na delegacia, a moça ficou em uma saleta, e de vez em quando uma pessoa levava algo para ela comer.
Nervosa a mulher passou praticamente o dia inteiro sem se alimentar. Preocupada, só pensava em quando sairia dali.
Perguntava-se sobre o filho, pensava em como ficariam seus pais, quando soubessem do ocorrido.
Chegou até a chorar.
Sabia porém que Onofre tomaria as providências necessárias para tirá-la dali. Só não sabia quanto tempo isto demoraria para ocorrer.
Cláudia dormiu mal e ficou surpresa ao saber que seria levada para um presídio. Antes de sair da delegacia, argumentou que tinha direito a uma ligação. Relatou que eles não poderiam levá-la de um lugar para outro, sem que seu advogado tomasse conhecimento do fato.
Os policiais argumentaram que estavam cumprindo ordens, e que seria melhor para ela acompanhá-los de espontânea vontade.
Cláudia percebendo que eles fariam uso da força, se ela não saísse por bem, acompanhou-os. Quando um dos homens mencionou que ela precisava ser algemada, Cláudia se assustou.
Um dos policiais argumentou que isto não seria necessário, por que ela não oferecia perigo.
Nisto a mulher foi levada até uma viatura.
Durante o trajeto, a moça mal olhou para os policiais que a conduziam. Só procurava observar o caminho da viatura.
Nos olhos, raiva e tristeza.
Secou uma lágrima que teimou em cair dos olhos.
Ao chegar ao lugar, foi orientada a vestir um uniforme.
Cláudia entregou todos os seus objetos pessoais para uma funcionária do local.
Ao saber que teria que dividir sua cela com outras presas, argumentou que era apenas uma professora, que não havia cometido nenhum crime. Contou que segundo seu advogado, só poderia ser presa caso se comprovassem as acusações que pesavam contra ela, e mesmo assim, poderia recorrer em liberdade.
A carcereira riu.
Disse que estava apenas cumprindo ordens e que depois ela poderia conversar com seu advogado, afim de serem tomadas as devidas providências.
Cláudia foi empurrada para entrar no pátio.
Ficou em pânico ao se ver sozinha com outras presas.
Várias delas ficaram observando-a.
Cláudia sentiu-se incomodada. Pensava estar em pesadelo.
Procurando um lugar para ficar, sentou-se ao lado do muro. Olhava para todo os lados. Sentia-se acuada.
Começou a rezar baixinho.
Estava apavorada.

No dia seguinte ao comparecer na delegacia, o causídico soube que ela havia sido transferida para outro local.
Ao saber disto, o homem ficou indignado.
Argumentou que aquilo era uma arbitrariedade. Exigiu conversar com o delegado.
O homem ao ver o causídico, tentou não relatar onde a mulher estava presa, mas ao ouvir a palavra processo e imprensa, tratou logo de dizer-lhe o endereço do presídio.
Onofre argumentou que desacato é crime de menor gravidade, havendo a possibilidade de transação penal.
O delegado comentou que havia controvérsias quanto a este entendimento.
O causídico, retirou-se.
Dirigiu-se ao presídio onde a moça estava.
Onofre apresentou-se como advogado de Cláudia Antunes, argumentou que ela estava presa no local, e que precisa falar com sua cliente.
A funcionária ressaltou que não havia nenhuma presa com aquele nome no presídio.
Onofre se irritou.
Afirmou que o próprio delegado Agenor Rodrigues havia informado-o que ela estava ali, devido a uma transferência.
O homem relatou superficialmente o ocorrido e argumentou que se sua entrada fosse impedida, ele iria comunicar o fato na corregedoria da polícia, e localizaria o diretor do presídio para relatar o que estava acontecendo. Argumentou que ele deveria ter sido avisado da transferência.
A funcionária, ao perceber que se tratava de um advogado, tratou logo de lhe garantir a entrada. Comentou que precisava porém, localizar a presa.
Foi uma dificuldade, já que Cláudia foi levada para lá sem nenhum documento que comprovasse a prisão.
Onofre se deparou com mais uma ilegalidade. Mais uma para a coleção, pensou.
Depois de mais de uma hora, finalmente encontraram a moça.
Cláudia já estava em uma cela.
Para cada presa que entrava, diziam que havia lugares marcados. E para Cláudia, disseram que teria que dormir no chão, perto da latrina.
A mulher era medida em todos os lugares em que passava.
Cláudia estava apavorada.
Quando a chamaram para conversar com um homem, a mulher se assustou. Apreensiva, foi levada para uma saleta.
Ao ver Onofre, respirou aliviada. Emocionada, chegou a abraçar o advogado. Depois, pediu-lhe desculpas. Começou a chorar.
Onofre dizendo que entendia sua alegria, comentou que o delegado havia ultrapassado todas as medidas, e estava fazendo tábula rasa do código penal, jogando o diploma legal no lixo.
Nisto, disse-lhe iria protocolar um pedido de habeas corpus, pugnando por sua soltura. Disse -lhe que a prisão era ilegal, e que o juiz logo a liberaria.
Percebendo o quanto Cláudia estava assustada, pediu-lhe para que tentasse manter a calma. Comentou que talvez tivesse que ficar mais algum tempo naquele lugar.
Cláudia protestou.
Dizia que não aguentaria passar uma noite ali.
Onofre perguntou-lhe se alguém havia feito alguma coisa contra ela.
Cláudia disse que não. Mencionou que parecia que todas as presas a olhavam com raiva. Comentou que não conseguiria dormir ali.
Onofre ficou penalizado.
Chamou a carcereira. Perguntou-lhe onde era a cela de Cláudia.
A mulher respondeu-lhe que não podia dizer.
Onofre perguntou-lhe se não havia nada que pudesse fazê-la mudar de ideia.
A funcionária do presídio comentou que estava precisando de muita coisa. Disse que gostaria que seu namorado lhe desse sapatos novos. Contudo, o homem era pão duro.
Onofre entendeu o recado. Comentou que se ela não se importasse, poderia lhe dar o dinheiro que queria para o sapato. De forma desinteressada, disse.
Nisto, tirou algumas notas de sua carteira.
A mulher disse ao homem, que ele era muito generoso. Agradeceu. Disse que iria arranjar um colchão e um cobertor para que Cláudia pudesse dormir melhor.
Por fim, comentou que a hora da visita havia acabado.
Onofre despediu-se da moça. Pediu-lhe para que não se desesperasse. Comentou que todos em sua casa estavam preocupados com ela, mas estavam todos bem. Mencionou que não iria deixar que nada de errado acontecesse a ela. Com isto, despediu-se.
Cláudia agradeceu a ajuda.
Foi conduzida pela carcereira até sua cela.
A mulher antes, entregou-lhe um colchão e um cobertor.
Disse que procurasse dormir próxima dos beliches. Falou-lhe que qualquer anormalidade deveria chamá-la. Entregou-lhe uma caneca, e comentou que em caso de necessidade, era só batê-la na grade da cela, que ela entenderia o recado.
Cláudia ouviu a tudo com atenção.
Esperou as presas dormirem e após, procurou ajeitar-se o melhor que pode.

Lúcio soube mais tarde que a mãe fora presa.
Ana e Jacinto tentaram esconder os fatos do garoto, mas Lúcio colocou-os contra a parede. Argumentou que não era mais criança e que não podia mais ser enganado.
Nervoso, dizia que sabia que algo de errado havia acontecido.
Ainda mais quando Lucindo apareceu para visitar Cláudia, e Ana chamou-o para um canto e contou um tanto constrangida, alguma coisa para ele.
Lucindo ao ver o garoto, tratou de disfarçar, mas ao sair da residência, o garoto tratou de cobrar uma satisfação de sua avó.
Ana não teve outra opção, senão contar o que havia acontecido.
Lúcio ficou transtornado.
Chorou.
Jacinto e Ana tiveram que conversar com o garoto. Explicaram que Onofre estava cuidando do caso, e que logo logo ela seria solta.
No dia seguinte o garoto faltou a escola.
Lúcio abatido, comentou que não iria para a escola.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário