Poesias

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Para se Viver um Grande Amor - Capítulo 4

Cecília também se lembrou de momentos de sua infância, de como Flávio sempre a protegia, e de como sempre estava disposto a lhe ensinar alguma coisa.
Ensinou-lhe a brincar com bolinhas de gude.
Era ele quem posicionava as bolinhas na rua em frente a casa em que moravam e ficava ensinando como ela faria para ganhar o maio número possível de bolinhas.
Se irritava quando ela direcionava a bolinha que deveria acertar as demais, para o lado errado.
Dizia:
- Não é assim!
E demonstrava a ela como tinha que ser.

Cecília também brincava de faz-de-conta com Flávio. Gostava muito de um programa de humor que passava na TV nos anos oitentas.
Sempre que podia, passava as tardes imaginando-se ser apresentadora do programa.
Adorava a imitação do casal de jornalistas que apresentava o telejornal da casa onde moravam. Achava hilário.
Flávio adorava a “Tela Morna”, onde sempre era anunciado o filme: “A Coisa”.
Para assustar a irmã, Flávio erguia os braços, e seguia em direção a irmã, dizendo que era “A Coisa”, ou então “O Monstro da Lagoa Negra”.
Cecília então, fingia estar apavorada e começava a gritar e a correr gritando socorro, pois estava sendo atacada pela “Coisa”.
Gilberto, em uma dessas tardes gostosas, encontrando-se em casa, ao ver Cecília correndo em sua direção, perguntou o que estava acontecendo.
Cecília respondeu: - Nada não.
Só estava brincado.
Passando por ele, Flávio, ainda com os braços estendidos, dizia que ela não poderia escapar.
Gilberto, vendo os filhos brincando, caiu na risada.
Entrou em casa e começou a folhear um jornal.
Mais tarde eles passaram a dramatizar a novela “Fogo no Rabo” (paródia da novela “Roda de Fogo”, da rede Globo).
Flávio adorava imitar os miados do gato com fogo no rabo.
Cecília caía na risada.
A certa altura, Olívia chamou-o para jantar. Dizendo que a brincadeira devia estar muito boa, comentou que agora precisavam entrar. Que era hora de jantar.
Flávio reclamou que sempre o interrompiam no melhor da brincadeira.
- Vamos! Vamos! – insistiu Olívia.
Cecília também adorava brincar de boneca.
Quem não gostava da brincadeira era Flávio que dizia isto era brincadeira de menina.
E assim, a menina brincava sozinha com suas bonecas.
Cecília fazia de conta que elas eram suas filhas, brincava que elas estavam na escolinha. Brincava de fazer comidinha para elas, de dar banho e trocar a roupa de suas ‘filhas’.
Com efeito, os irmãos Cecília e Flávio, também brincavam com as crianças da rua.
Brincavam com seus vizinhos Antero, Jairo, Lúcio, Alice e Lara.

Pulavam amarelinha, brincavam de peteca, de jogo da velha (tentando fazer combinação de xis ou de bolinhas, ou pelo menos dificultando a vitória do adversário), de stop (onde elegiam várias categorias de coisas – como fruta, marca de carro, nome de cidade, etc. Depois todos estendiam as mãos depois de contarem a quantidade de dedos expostos. Esta quantidade determinaria a letra a ser escolhida. Exemplo, se ficassem expostos dez dedos, a letra escolhida era ‘Jota’ e tudo a ser colocados nas categorias teria que possuir a letra citada.).
Brincavam de pega-pega, de que em que mão que está (onde tentavam adivinhar em que mão estava o objeto escondido).
Era uma farra só. Brincavam a tarde toda.
No meio da tarde Olívia preparava um lanche para as crianças.
Todos se esbaldavam com os lanches e sucos preparados pela mulher.
Tais lembranças traziam algum alento ao seu coração.

Olívia por sua vez, também se angustiava com a falta de informação.
Ficava andando de um lado para outro. Estava preocupada.
Gilberto também parecia aflito e distante.
Mais tarde, quando a família foi liberada para entrar na UTI, os três ficaram penalizados com o que viram.
Ver o irmão e filho, inconsciente, imóvel, ligado a tubos, foi penoso para todos.
Até Gilberto ficou emocionado.
Independente de sua vontade, as lágrimas caíam de seus olhos.
Olívia vendo a tristeza do marido, comentou que ele ficaria bom.
O sofrimento de Cecília também era grande. Angustiada, não sabia o que fazer com aquele sentimento de impotência. De querer ajudar, mas sem saber o que fazer.
Certo dia, chorando, comentou com seu pai:
- Ele sempre me protegeu e eu agora não posso fazer o mesmo por ele!
Gilberto abraçou a filha.

Luciana Celestino dos Santos
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