Viriato, sozinho em seu castelo, ficava a pensar em Leonor.
Lembrou-se do dia em que viu pela primeira vez, dançando no salão do castelo.
Recordou-se da festa de noivado da moça com Lourenço.
Suspirou ao relembrar-se dos momentos em que a jovem fora sua prisioneira, em uma residência afastada do castelo.
Reviveu seu casamento com a condessa. Sua noite de núpcias.
Ao cair em si, percebeu que estava só.
Triste, dirigiu até o leito de César, onde ficou a contemplar a criança.
Sussurrando para o menino, o homem jurou a si mesmo, que traria de Leonor de volta.
Brincando com a criança, dizia-lhe que sua mãe iria voltar.
Nisto, Lourenço e Leonor, abraçados que estavam, passaram a se olhar.
Depois de muito chorarem, os jovens começaram a se olhar.
Em seguida, começaram a sorrir.
Lourenço aproximou-se da jovem e pediu-lhe perdão.
Nisto, o homem tornou a chorar.
Leonor acariciou seus cabelos.
Lourenço, que havia se ajoelhado aos pés da moça, passou a olhá-la nos olhos.
Em seguida, levantou-se. Aproximou seu rosto, do rosto de Leonor.
O homem tocou no rosto da moça.
A seguir, beijou-a.
A condessa se espantou com o gesto do moço.
Surpresa, fez menção de perguntar a ele, o porquê de sua atitude.
Lourenço, no entanto, percebendo o intento da moça, pôs a mão em seus lábios.
Pediu a ela para que não dissesse nada.
Com isto, tornou a beijar seus lábios.
Tocaram-se.
Lourenço deitou a moça no chão.
Amaram-se.
Adormeceram abraçados.
Ao despertarem, vestiram-se.
Lourenço então, ao lembrar-se do fato de que Viriato procurava a moça, ficou tomado de preocupação.
Aflito, disse-lhe que o conde a procurava e que ele precisava encontrar uma forma de retirá-la de suas terras e deixá-la em segurança.
Leonor ficou nervosa ao ouvir estas palavras.
Lourenço, percebendo isto, pediu a moça para que ela não se afligisse.
Dizendo que estava a seu lado, afirmou que não deixaria que ninguém os separassem novamente.
A moça tranqüilizou-se um pouco, ao ouvir tais palavras.
Lourenço então, disse-lhe que providenciaria algo para comer, e a noite, quando todos estivessem dormindo, voltaria para conversarem.
Nervoso, pediu para que ela tivesse paciência, e que permanecesse quieta, ali.
Leonor disse-lhe que não sabia como sair dali, já que fora conduzida vendada.
Lourenço ao ouvir isto, insistiu para que a moça não tentasse sair.
A jovem respondeu que permaneceria ali.
O moço despediu-se então da moça.
Repetiu que no dia seguinte, voltaria para conversar.
Por fim, recomendou-lhe que não se identificasse como Leonor, comportando-se como se fora realmente um estranho que estava tentando justificar sua aparição, como alguém que estava perdido.
Leonor concordou.
Nisto, Lourenço se afastou.
A moça procurou então, esconder seu cabelo.
No dia seguinte, um criado trouxe-lhe uma lauta refeição, e recolheu os alimentos que estavam espalhados no sótão, bem como a cesta despedaçada.
Leonor, que estava faminta, dirigiu-se a cesta com toda a avidez.
Viriato por sua vez, continuava a procurar a moça.
Desconfiado, o conde mandou seus homens vigiarem os passos de Lourenço.
O homem por sua vez, ao notar que suas terras foram novamente invadidas por homens de Viriato, exigiu que os homens se afastassem.
Dizendo que nem o rei tinha o direito de invadir suas terras de maneira tão acintosa, respondeu que o conde já havia vasculhado sua propriedade em busca de Leonor, nada encontrando.
Irritado, Lourenço insistiu para que os homens saíssem de suas terras. Ameaçando apelar para uma intervenção junto ao rei, o moço acabou por convencer os criados de Viriato a se afastarem.
Os homens por sua vez, disseram que sairiam de suas terras, mas que nem por isto, estavam impedidos de vigiar a entrada e a saída de sua propriedade.
Quando Viriato soube deste fato, ficou furibundo.
Dizendo que ele não tinha o direito de impedir o encontro de sua mulher, chegou a gritar dizendo que ele iria se arrepender.
Antero, ao perceber o destempero do conde, pediu para que os homens se retirassem do recinto.
Em seguida, disse ao moço para se acalmar.
O serviçal sugeriu para que o conde vigiasse Lourenço, quando saísse de sua propriedade.
Tranqüilo, disse que cedo ou tarde, Lourenço seria desmascarado. Argumentou ainda, que se Leonor estivesse em seu poder, este fato seria descoberto.
Viriato retrucou gritando, que não poderia esperar tanto tempo assim, para descobrir a verdade. Argumentou que queria resolver logo sua situação.
Antero pediu paciência ao nobre.
Mais tarde, Lourenço voltou a sua residência.
Ao perceber que toda a criadagem havia se recolhido, foi ao encontro de Leonor no porão.
Nos dias que se seguiram, novos encontros no porão.
Nestes encontros Lourenço e Leonor contavam sobre suas vidas.
Aflita, a moça revelou que sentia falta de seu filho, e que antes de fugir, prometeu que iria buscá-lo.
Ao ouvir isto, Lourenço constatou que a vida de ambos, nunca mais seria como antes.
Leonor, percebendo que o moço ficara incomodado, argumentou que embora preferisse esquecer a forma como ele fora concebido, alegou que César era seu filho, e que o amava muito.
Enciumado, Lourenço perguntou se Viriato significava alguma coisa para ela.
Leonor respondeu que não. Dizendo que era mãe, argumentou que muito embora o menino fosse filho de Viriato, também era seu filho.
Triste, Lourenço comentou que chegou a pensar que aquela criança poderia ser sua. Revelou que tinha inveja de Viriato. Comentou que ele tivera o privilégio de ter um filho com ela, coisa que ele não havia conseguido.
Leonor o observava.
Lourenço então, tomado de uma resolução, respondeu que eles iriam sair do porão.
Aflita, Leonor comentou que eles não poderiam levantar suspeitas. Argumentou que provavelmente Viriato estava vigiando seus passos, e que seria arriscado para ele, retirá-la de lá.
Lourenço respondeu-lhe que possuía uma outra residência em um lugar afastado.
Comentou que costumava passar algumas noites no lugar, quando se estendia em suas cavalgadas pelas terras, ao cair da tarde. E assim, quando não era mais possível chegar em casa, dormia no lugar. Lá não havia criados, e tampouco bisbilhoteiros.
Surpresa, Leonor comentou que não sabia da existência do imóvel.
Lourenço revelou que nem mesmo Viriato conhecia a residência.
Comentou que somente Cícero – seu pai – conhecia a propriedade. Revelou que nem mesmo sua mãe sabia da localização da casa.
Receosa, Leonor perguntou ao moço, como faria para transportá-la para fora da residência, sem que a criadagem percebesse.
Lourenço comentou que tivera o cuidado de esconder sua presença de todos os que viviam na casa.
Comentou que apenas dois servos de confiança sabiam de sua presença. Justamente os homens que a viram dormindo no feno. Contudo, acharam que se tratava apenas de um prisioneiro.
Cauteloso, Lourenço recomendou aos homens que não comentassem sobre a presença do prisioneiro na vila, nem com seus conhecidos e familiares.
Lourenço revelou que de madrugada, a liberaria do porão. E assim, quando todos estivessem dormindo, ele a esconderia em um baú, e se encaminhariam para a residência.
Leonor, ao ouvir a palavra baú, sentiu uma palpitação.
Nervosa, perguntou se realmente era necessário que ela se escondesse em um lugar tão claustrofóbico.
O homem, respondeu tristemente que sim.
Tentando porém, amenizar o sofrimento da moça, revelou que seriam poucos momentos de tortura, para uma grande felicidade.
Emocionado, comentou que durante estes quase três anos em que vivera distante dela, não conseguiu se fixar em ninguém e que ela era a mulher de sua vida.
Combinando com a moça a data da fuga, Lourenço alertou-a de que deveria ser rápida e silenciosa.
Nisto os dias se passaram, e finalmente Lourenço empreendeu a fuga de Leonor.
De madrugada, adentrou a passagem secreta que dava acesso ao porão, e chamou a moça, que rapidamente o atendeu.
Lépidos, saíram do porão.
Leonor entrou no baú que estava num dos salões da residência.
Em seguida, o homem, auxiliado por uma roldana, conduziu o móvel até uma carroça.
E assim, partiu a cavalo, até a residência.
Lourenço percorreu plantações, passou por casas de camponeses, ladeou um riacho, atravessou uma mata. Percorreu uma trilha. Desviou-se da lama.
A certa altura, precisou apear do cavalo, seguir a pé, segurando as rédeas do animal.
Nisto, quando o dia estava quase clareando, Lourenço chegou até o lugar.
Ao chegar na residência, olhou em volta para certificar-se de que esta tudo bem.
Percebendo a impossibilidade de haver vivalma rondando, Lourenço, abriu o baú, e embrulhando a moça em lençóis, carregou-a nos braços, até a residência.
O homem só a pôs no chão, ao adentrar o imóvel.
Em seguida, apressadamente, fechou a porta.
Aproximando-se da moça, retirou os lençóis que a envolviam, e perguntou se estava tudo bem.
Leonor, um tanto fatigada, respondeu que sim.
Lourenço estendeu então, seu braço para a moça, e conduziu-a até o quarto.
Ao chegar no lugar, o moço sugeriu que ela abrisse os baús.
Leonor atendeu prontamente o pedido.
Ao abri-los, qual não foi a surpresa da moça ao encontrar vestidos, chapéus, adornos para cabelo, lençóis.
Encantada, a moça disse:
- Você guardou tudo!
Lourenço comentou que durante todos estes anos, acalentou a esperança de que tudo poderia mudar. Nunca aceitou plenamente a história do casamento com Viriato.
Revelou que guardara tudo o que fora o seu enxoval.
Leonor abraçou o moço.
Lourenço preparou então um banho para a moça, que em seguida trocou seus trajes.
Exaustos, os dois se puseram a dormir.
Mais tarde, Leonor preparou uma refeição para Lourenço.
Finalmente sentia-se leve.
Somente uma coisa a fazia sentir-se triste. Não poder conversar com seus pais, e não poder conviver com o filho, César.
Lourenço ao perceber seu ar de tristeza, respondeu-lhe que ela devia ter paciência. Argumentando que aquela situação não era para sempre, prometeu-lhe que juntos encontrariam uma solução para aquele impasse.
Abraçando-a, pediu para que tivesse paciência, posto que no momento não poderia fazer nada, ou despertaria a atenção de Viriato.
Leonor tentou se acalmar.
Nisto, a moça e Lourenço almoçaram.
Mais tarde a moça dançou para o homem.
Cantaram, sorriram.
Lourenço declamou-lhe alguns versos.
Leonor começou então, a correr pela casa.
Lourenço alcançou-a. Abraçaram-se.
Beijaram-se.
O homem, segurando Leonor nos braços, disse-lhe que sempre imaginou-se ao lado dela, feliz, como estava sendo naquele momento.
Encantado levantou-se e segurando a moça nos braços, conduziu-a para o quarto.
Mais tarde, dizendo que precisa despistar a todos, argumentou que precisava vistoriar suas terras e voltar para casa.
Respondeu que precisava ser discreto.
Preocupado, Lourenço perguntou se ela ficaria bem sozinha.
Leonor respondeu-lhe que sim.
O moço disse-lhe então, que ninguém aparecia por ali, e que a noite só ouviria os sons da mata.
A jovem respondeu-lhe que não haveria problemas.
Em seguida, o homem despediu-se pesaroso.
Com o coração apertado, Lourenço partiu.
Deixou o baú na residência.
Ao retornar a sede da propriedade, Aparecida interpelou-o preocupada.
Lourenço respondeu que perdera o sono durante a noite, e que por esta razão, resolveu sair bem cedo, para percorrer suas terras.
Dizendo que estava exausto, informou que iria recolher-se sem cear.
Ao adentrar seu aposento, o homem deitou-se em seu leito e dormiu.
Em seus sonhos, recordou-se dos momentos que passara ao lado de Leonor.
Dos beijos, de quando deitou-a no leito, se beijaram, se abraçaram, se amaram.
Ainda dormindo, esboçou um sorriso.
No dia seguinte, depois de percorrer sua terras, o homem dirigiu-se a casa escondida na mata.
Ao chegar a noite, foi recebido por Leonor, que o abraçou.
Conversaram, cearam.
Leonor havia preparado uma lauta refeição para Lourenço.
Muitas velas adornaram a mesa.
Feliz, Lourenço cantou-lhe uma trova.
Leonor dançou novamente para ele.
Novas carícias, afagos.
E assim, passaram-se meses.
Sempre que podia, Lourenço visitava a moça.
Contudo, para não despertar suspeitas, o moço o fazia de forma esporádica.
Certo dia, ao servir Lourenço, Leonor sentiu mal estar.
Ao notar que a moça poderia cair, o jovem acorreu em seu encontro.
Segurou-a nos braços.
Aflito, o homem conduziu a jovem até o quarto. Deitou-a na cama. Ajeitou os travesseiros.
Preocupado, o homem disse-lhe que precisava encontrar alguém de confiança para examiná-la.
Dizendo que ela poderia necessitar de cuidados médicos, ficou desesperado.
Leonor, ao perceber isto, tentou tranquilizar o amado.
Disse-lhe que estava tudo bem. Comentou que o mal estar havia passando.
O homem contudo, continuava nervoso.
Tenso, disse-lhe que não partiria enquanto não melhorasse.
E assim, Lourenço permaneceu durante toda a noite ao lado da moça.
Durante o dia, a moça não conseguiu alimentar-se. Dizia sentir enjôo.
Diante disto, o moço insistiu para que a moça tomasse uma sopa.
Leonor contudo, ao sentir o cheiro da comida, passou mal.
Isto fez com Lourenço ficasse ainda mais nervoso.
Com isto mais uma vez, passou a noite em vigília.
Por conta do mal estar da moça, o moço não conseguiu dormir.
Porém, ao perceber que a moça havia melhorado um pouco, Lourenço disse-lhe que a deixaria a sós por algumas horas, mas que voltaria com alguém, para examiná-la.
Leonor, ao ouvir tais palavras, ficou nervosa. Dizendo que estava tudo bem, argumentou que não precisava trazer ninguém.
O homem, ao perceber a aflição da moça, comentou que não traria nenhum estranho, e que ela não corria perigo de ser encontrada com Viriato.
Olhando-a nos olhos, disse-lhe para não ficar preocupada.
Nisto, o homem montou em seu cavalo e voltou para a sede de sua propriedade.
Ao chegar no imóvel, Aparecida percebeu a preocupação do homem, que chorando, acabou revelando, que sabia onde estava Leonor, e que a moça não estava nada bem.
Aparecida perguntou então como a filha estava se sentindo.
Nervoso, Lourenço relatou os sintomas.
Ao ouvir as palavras do moço, Aparecida desconfiou do que se tratava.
Censurou o moço.
Dizendo que a filha era casada com Viriato, criticou o fato dele haver escondido a moça. Aborrecida, comentou que ele deveria ter-lhe contado que sabia onde Leonor estava.
Diante disto, perguntou ao moço onde ela estava.
Lourenço tentou desconversar, mas Aparecida insistiu em ver a filha.
O homem, percebendo que a agitação da mulher poderia chamar a atenção dos demais criados, pediu para que ela se dirigisse a seu aposento.
Conversando a sós com a mulher, prometeu levá-la consigo.
Combinou com Aparecida, de sairem da sede de madrugada.
Nervoso, o homem pediu para a mulher não contar a ninguém o fato, nem mesmo a Abílio – seu marido.
Cautelosa, Aparecida concordou. Prometeu que não contaria nada a ninguém.
Nisto, Aparecida levantou-se de madrugada. Vestiu-se.
Em seguida, encaminhou-se para o salão da residência.
Lourenço já a aguardava.
Aparecida e Lourenço seguiram para o estábulo.
Lourenço auxiliou-a mulher a subir no cavalo, ajeitou a trouxa com roupas, e igualmente montou no animal.
Com isto, seguiram até a casa escondida na mata.
No caminho, Lourenço pediu-lhe segredo.
Aparecida afirmou que não tinha interesse algum em prejudicar sua filha.
Ao chegarem na casa, Aparecida percebeu a filha dormia profundamente.
Preocupada, notou que Leonor estava um pouco abatida.
A calmaria porém, durou pouco.
Leonor, despertou, e ao notar que Aparecida a observava, ficou feliz.
Tanto que abraçou a mãe.
Contudo, ao analisar sua situação, a moça começou a ficar nervosa.
Aflita, disse que Lourenço não devia tê-la trazido.
Argumentou que quanto mais gente soubesse onde estava, mais vulnerável estaria, e mais facilmente seria descoberta. Comentou também, que ele não tinha o direito de expôr sua mãe daquela maneira.
Aparecida então, passou a tranquilizá-la.
Leonor contudo, tornou a sentir-se mal, necessitando dos cuidados de sua mãe.
Lourenço parecia intranquilo.
Aparecida, percebendo isto, chamou o jovem a um canto. Pediu-lhe delicadamente que aguardasse no salão.
Ao ouvir isto, o moço tentou argumentar, mas Aparecida, dizendo que ele estava deixando Leonor nervosa, pediu para ele se acalmar. Dizendo que sua filha precisava de tranquilidade, pediu para que ele fosse espairecer um pouco.
Lourenço concordou.
Nisto Aparecida cuidou da filha.
Nos dias que se seguiram, Aparecida ficou a cuidar de Leonor.
E assim, a moça foi melhorando.
Ao retornar a sede da propriedade, Aparecida respondeu que precisou sair as pressas para cuidar de uma camponesa enferma, e que não deu para avisar Abílio.
Como a mulher não melhorava, o que seria uma visita rápida, se estendeu por alguns dias.
Abílio, ao ouvir explicações da esposa, tentou argumentar.
Aparecida porém, dizendo que a situação exigia uma resposta pronta, argumentou que no momento não pensou direito. Tanto que partiu sem avisar.
Aborrecido, o homem disse-lhe que ficou preocupado.
Contudo, convencido da história de Aparecida, Abílio pediu que uma próxima emergência, fosse avisado.
Com isto, esporadicamente a mulher ia visitar Leonor.
Lourenço estava deveras feliz com a idéia de ser pai.
Ao descobrir por Aparecida, que Leonor estava grávida, Lourenço ficou inicialmente surpreso.
Aos poucos porém, o moço foi tomado de uma alegria...
Quem não ficou nem um pouco feliz com a notícia, foi Aparecida.
A mulher, ao perceber que Leonor esperava um filho, comentou com Lourenço, que aquilo não era nada bom. Dizendo que quando Viriato descobrisse o fato, despejaria toda sua fúria sobre a moça, relatou que o homem nunca poderia saber sobre este filho.
Lourenço argumentou que Viriato nunca descobriria isto. Crédulo, dizia a Aparecida que Leonor estava a salvo das loucuras do conde.
Aparecida porém, não parecia muito convencida disto.
A mulher parecia preocupada.
Abílio percebeu isto.
Aparecida contudo, desconversava. Dizia que sentia saudades da filha. Que sofria com sua ausência, sua falta de notícias.
Seu marido sabia que Aparecida só dizia meia verdade. Porém, percebendo que não adiantava insistir, chegou a conclusão de que deveria esperar que ela se manifestasse. Que ela dissesse o que estava acontecendo.
Com isto, sempre que precisava se ausentar, a mulher avisava o marido.
E assim, a mulher pode acompanhar a gestação da filha.
Conversando com a moça, disse-lhe que finalmente estava perto dela, já que Viriato não deixava ninguém chegar perto de sua propriedade.
A barriga de Leonor estava cada dia maior.
Em suas conversas com Lourenço e sua mãe, a moça não poupou críticas a Viriato. Disse que ele era cruel, instável, que tudo deveria sair conforme seu gosto, e que na menor contrariedade, transformava a vida de todos, em um inferno.
Contou que sofreu maus tratos, que sofreu agressões físicas, e que resolveu fugir ao perceber que o conde poderia matá-la.
Chorando, Leonor revelou que nunca amou o conde, muito embora tenha tentado ter uma boa convivência com ele. Triste, relatou que sentia saudade de César.
Aparecida comentou por sua vez, que tinha vontade de conhecer seu neto.
Lourenço era todo cuidados com Leonor.
Abraçava a mulher, beijava sua barriga, colocava a cabeça em seu ventre.
Certa vez, disse-lhe que já conseguia imaginar o rosto da criança.
Carinhoso, o homem dormia abraçado a moça.
Quando Leonor entrou em trabalho de parto, Lourenço deixou seus afazeres de lado.
Permaneceu do lado de fora do quarto, aguardando o momento do nascimento da criança.
Angustiado, aflito, Lourenço esperou por horas.
Quando finalmente escutou o vagido da criança, o homem correu em direção ao quarto.
Leonor havia dado luz a um menino.
Aparecida enrolou a criança em pano e entregou a Lourenço.
O homem, um tanto quanto desajeitado, segurou a criança.
Ao segurar o recém-nascido no colo, Lourenço começou a chorar.
Feliz, contou que quase perdeu as esperanças de um dia voltar a se unir a Leonor.
A seguir, o homem entregou a criança a Aparecida.
A mulher limpou a criança.
Depois, auxiliou a filha a se recompor.
Trocou os lençóis da cama.
Ajudou a filha a trocar de roupa.
Mais tarde, ao observar o menino dormindo, Lourenço sugeriu a Leonor, que o bebê deveria se chamar Anselmo.
A moça, exausta, concordou com o nome.
Lourenço, estava feliz.
Nos dias que se seguiram, Aparecida permaneceu ao lado da filha.
Lourenço por sua vez, sempre que podia, visitava o filho.
Mais fortalecida, Leonor sugeriu a mãe, que retornasse a sede da propriedade. Dizendo que sua ausência prolongada, poderia levantar suspeitas, comentou que Viriato poderia ainda estar vigiando seus passos.
Aparecida disse-lhe então, que Lourenço espantara os homens de Viriato de suas terras, ao mencionar se teriam autorização para invadir a propriedade alheia.
Ao ouvir isto, Leonor se tranquilizou.
Contudo, aconselhou a mãe e Lourenço a terem cuidado.
Aparecida retornou a sede.
Enquanto isto, Anselmo se desenvolvia. Com o passar dos meses, passou a engatinhar, balbuciar, emitir sons. Até que um dia disse o nome da moça.
- Lolô!
Leonor ficou deveras feliz. Julgou que a criança tentava pronunciar seu nome.
Com o tempo, Leonor auxiliou o menino, em seus primeiros passos.
Alguns meses depois, a criança começou a caminhar sozinha.
Enquanto acompanhava o desenvolvimento de Anselmo, Leonor se recordava dos primeiros passos de César, de quando lhe dava comida na boca.
Triste, pensava que seu primeiro filho, devia estar crescido, e que ela não pode acompanhar seu desenvolvimento.
César estava com três anos e meio.
Nisto, Lourenço, ao realizar compras no armazém, soube por Teobaldo, que o conde andava cada vez mais taciturno.
Sombrio, só saía do castelo acompanhado do pequeno César.
Segundo os circunstantes, Viriato satisfazia todos os caprichos do pequeno.
Certo dia, Lourenço avistou o conde e a criança.
Viriato ao vê-lo bem e disposto, perguntou-lhe como ele se sentia em separar uma mãe de seu filho.
Lourenço, procurando evitar confusão, não respondeu.
Foi o bastante para Viriato chamá-lo de covarde.
O jovem contudo, não respondeu a provocação.
Colocou as mercadorias em sua carroça e partiu do vilarejo.
Furioso, o conde ameaçou partir no encalço do moço, mas Teoblado, recomendando-lhe que tivesse cuidado com seu filho, insistiu para ele esquecesse a desavença.
O dono do armazém argumentou que se ele não descobrira o paradeiro da moça, era por que provavelmente Leonor não estava com Lourenço.
Viriato furioso, atirou a taça do vinho que bebia, contra a parede.
César, que brincava com as crianças da vila, não assistiu ao gesto.
Mais tarde, pai e filho rumaram para o castelo.
Lourenço ao visitar a moça, ficou encantada com os progressos do filho.
Leonor também estava contente. Contudo, deixou escapar que estava com saudades de César.
O moço comentou que pelo que vira na vila, o menino estava bem.
Ao ouvir tais palavras, a moça perguntou-lhe onde ele vira a criança, como ele estava, se estava sendo bem tratado, etc.
Lourenço notando a ansiedade da moça, explicou-lhe que o menino corria alegre, brincava feliz com outras crianças.
Contou que César estava crescido e muito parecido com Viriato.
Leonor, ao lembrar-se há quanto tempo estava longe do filho, se perguntou se César ainda se lembrava dela.
Pensando nos horrores que Viriato devia dizer a seu respeito para o filho, comentou desolada que talvez tivesse perdido seu filho para sempre.
Lourenço ao perceber uma lágrima caindo de seu rosto, enxugou-a com a mão.
Prometeu que iria ajudá-la a resgatar o filho. Pediu apenas que ela tivesse um pouco de paciência.
Em seguida, beijou seu rosto.
Mais tarde, a mulher brincou com seu filho Anselmo, ao redor da casa.
Lourenço, ao vê-los junto, sorriu.
Leonor segurava o filho colo, balançava-o.
Diversas vezes ficou a observar a mulher a acalentar o filho, cantar para ele dormir. Contar-lhe historinhas.
De vez em quando Aparecida vinha visitá-los.
Preocupada com sua filha, a mulher comentou com Lourenço que ela não poderia permanecer eternamente isolada.
Dizendo que este proceder prejudicaria também a criança, sugeriu que ela fosse transportada para outro lugar.
Lourenço, que desejava ter a mulher sempre junto de si, resistiu a idéia. Argumentando que ali ela tinha tudo o que precisava, disse que era muito arriscado tirar uma mulher e uma criança do local.
Aparecida por sua vez, comentou que seu marido estava desconfiado, de suas constantes ausências.
Pensando nisto, Lourenço concluiu que até seus empregados notaram que ele andava mudado.
Aparecida sugeriu que ele a levasse para a casa de uns seus parentes.
Lourenço concordou.
Preocupado, disse apenas que precisava pensar em qual seria a melhor maneira de levá-la dali com seu filho. Aflito, disse que não poderia expôr Leonor ao risco de ser pega por Viriato.
Aparecida concordou.
Mais tarde, Lourenço conservou com Leonor sobre isto.
Preocupado, argumentou que Anselmo precisava conviver com outras pessoas.
Ao ouvir isto, Leonor ficou tensa.
Lourenço comentou então, que ela e Anselmo precisavam ir para um lugar mais seguro.
Leonor concordou.
Nos dias que se seguiram, Lourenço ficou a pensar em um plano para retirar Leonor e Anselmo da propriedade.
Preocupado, chegou a conclusão de que a melhor estratégia era vestir a mulher com trajes simples, assim como o menino.
Trajando-os de camponeses, Lourenço arrumou uma carroça e de madrugada retirou a mulher e a criança de sua propriedade.
Homem, disfarçado, também vestiu-se de camponês para não chamar a atenção.
Percorrendo estradas durante toda a madrugada, Lourenço ficava todo o tempo olhando para trás.
Estava preocupado. Temia ser seguido.
Quando finalmente chegou na morada de seus parentes, ficou mais tranquilo.
Ao deixar Leonor na casa de seu tio, o moço pesaroso, despediu-se dela e do filho.
Antunes ao ver Lourenço vestido como camponês e acompanhado por uma mulher e uma criança, chamou-lhe a atenção.
Diante disto, Leonor e Lourenço, tiveram que explicar-lhe o que se passava.
Dizendo que havia se casado com a moça, e que ela estava sendo perseguida por Viriato, um antigo pretendente, Lourenço falseou a verdade, no intuito de preservar a moça. Aflito, disse que a moça estava vivendo escondida em suas terras há quase um ano e meio, e que poucas pessoas sabiam de sua presença.
Antunes perguntou surpreso, como ele havia feito para esconder a criança.
Lourenço comentou que a moça e a criança viviam em uma propriedade afastada.
Antunes perguntou-lhe então:
- Mas se a moça é sua esposa, por que este tal de Viriato, a persegue?
Lourenço tentou explicar que o homem era louco e obcecado pela moça. Comentou que quando ainda eram noivos, o homem chegou a raptar Leonor, e que ela precisou fugir para se libertar de seu jugo.
Ao ouvir estas palavras, Antunes afligiu-se.
Argumentou que talvez não pudesse abrigar a moça e a criança em sua residência.
Lourenço ficou espantado.
Antunes disse-lhe então, que recebeu a notícia que um sujeito chamado Viriato, estava a procura de um moça chamada Leonor, e que esta era sua esposa.
Ao ouvir isto, a moça começou a chorar.
Lourenço, ajoelhou-se diante do tio e implorou para que ele abrigasse sua família.
Antunes constrangido, chamou a criadagem.
Ordenou-lhes que conduzissem o casal e a criança para um dos quartos reservados aos visitantes.
Nisto Leonor e Lourenço, segurando Anselmo nos braços, seguiram os criados.
Mais tarde, mais adequadamente trajados, apresentaram-se novamente diante de Antunes.
O homem então, exigiu maiores explicações de Lourenço.
O moço nervoso, explicou então que mentira. Mentira para preservar a honra de Leonor, já tão aviltada por Viriato. Revelou-lhe que dissera meia verdade, por que de fato não era casado com a moça, muito embora o desejasse ardentemente. Dissera contudo, que o enlace não se deu em virtude de um obstáculo oposto pelo próprio Viriato, que realmente veio a raptá-la, transformando sua vida num inferno.
Transtornado, Lourenço lhe contou que Leonor lhe confidenciou as ameaças e a tortura psicológica sofrida, seu desespero, e a fuga que empreendeu visando fugir do cativeiro e reencontrá-lo.
Lourenço relatou que fora noivo da moça, e que sua desdita começou quando Viriato lançou seus olhos sobre Leonor.
Nervoso, disse que foi ferido por Viriato, e que Leonor ao fugir do conde, foi ao seu encontro. Nisto ao vê-lo ferido, Leonor foi capturada ao sair da propriedade dele. Sem alternativa, ao receber ameaças de Viriato, não restou-lhe outra alternativa, a não ser casar-se com o conde.
Leonor casou-se então com o homem. Teve um filho dele.
Contudo, certo dia, o homem num ataque de ciúmes e fúria, agrediu a esposa, quase a matando estrangulada.
Leonor então, relatou que fugira novamente, para preservar sua integridade física. Cavalgou e depois caminhou durante toda a madrugada. Até que chegou num celeiro, vindo a dormir.
Quando despertou, deparou-se com Lourenço e seus criados. Foi aprisionada por ele, e só mais tarde ele veio a descobrir que era ela quem vestia trajes de camponês.
Lourenço completou dizendo que ao descobri-la, sentiu muita mágoa pois se sentia enganado. Ao descobrir a verdade, ficou tomado de ódio, mas cheio de esperança de viver o amor que lhe fora negado. E assim, viveram escondidos, e tiveram Anselmo.
Antunes ficou perplexo com o relato. Dizendo que já sabia que Leonor era esposa de Viriato e que tinha um filho com ele, relatou que ficou decepcionado com a falta de confiança de Lourenço nele.
Ao ouvir tais palavras, o moço ficou aliviado.
Antunes revelou que a fama de Viriato era a pior possível. Comentou que ao saber que o conde se casaria com uma camponesa, lamentou sua sorte.
Nisto, o homem abraçou o sobrinho.
Ao aproximar-se de Leonor, disse-lhe que ela também era sua sobrinha.
Nisto, o casal passou a viver como uma verdadeira família.
Antunes tratava a todos muito bem.
Estava encantado com Anselmo.
Lourenço e Leonor viveram dias felizes naquele lugar.
Anselmo adorava observar o riacho que havia próximo da residência, e Leonor e Lourenço cavalgavam pelos campos.
Tudo transcorria na maior tranquilidade.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 1 de julho de 2021
CANTIGAS DE AMIGO – TROVAS LÍRICAS - Capítulo 6
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