Lúcio por sua vez, segurou seu chapéu nas mãos e feliz, jogou-o para o alto.
Depois de alguns minutos, retornou a casa de Valdomiro.
O homem ao ver o amigo com um sorriso nos lábios, perguntou-lhe se o encontro havia sido bom.
Lúcio sorriu para ele.
Valdomiro comentou que ele não precisava dizer nada, seus olhos diziam tudo.
Curioso, perguntou-lhe se estava com fome.
Foi neste momento que o moço percebeu que a tarde caía e que já era hora do jantar.
Lúcio respondeu que sim.
Indiscreto, Valdomiro comentou:
- Vejo que o amor não diminuiu seu apetite.
Com isto, o homem jantou.
Conversou com Leocádia, com Luzia, e com os outros filhos do casal.
Mais tarde, recolheu-se em sua rede.
A noite lhe pareceu especialmente diferente.
As estrelas pareciam brilhar mais, o luar estava mais bonito.
O moço adormeceu sorrindo.
Sonhou com Ludmila observando-o dormir.
Animado, comentou com Valdomiro, haver sentido a presença da mulher junto dele.
O colono falou sobre a sintonia que havia entre eles.
Brincando, disse que estava vendo um casamento acontecer, com toda a pompa e circunstância.
Lúcio sorriu.
Disse que no momento, estavam apenas se conhecendo.
Ao ouvir isto, Valdomiro se aborreceu.
Argumentou que Ludmila era uma mulher séria. Não era pessoa para apenas um conhecimento.
Lúcio concordou.
Razão pela qual mencionou que estavam namorando.
- Bem melhor! Muito embora ela se preocupe com nóis como uma mãe, eu vejo nela uma filha. – redargüiu Valdomiro.
Lúcio disse que Ludmila era uma pessoa muito especial.
Valdomiro concordou com o ponto de vista do amigo.
Lúcio então, respondeu que não relutaria em casar-se com ela, se fosse de sua vontade. Argumentou apenas, que era cedo para pensar nisto.
Valdomiro entendeu.
Com isto, jantaram.
Mais tarde, todos se recolheram.
Muito cedo, se levantaram para mais um dia de trabalho.
Lúcio, se preparou para mais um dia de trabalho.
Cuidou dos bois e dos cavalos, marcou os animais recém adquiridos com o emblema da fazenda.
Almoçou sua marmita e retomou seu trabalho.
Os homens trabalharam até o sol começar a se pôr.
Era assim, começava a trabalhar na alvorada, e seguiam jornada afora até o pôr-do-sol.
Por fim, Lúcio voltou para casa, junto a seus companheiros.
Cavalgando, brincavam entre si.
Era uma convivência saudável.
Ao chegar na casa de Valdomiro, o moço cumprimentou Leocádia e suas filhas.
Mais tarde, tomou um banho, nos fundos da residência de Valdomiro.
Em seguida, os filhos do colono se banharam.
Jantaram juntos.
Conversaram.
Falaram sobre a lida na roça, e Leocádia comentou sobre a necessidade de comprar víveres.
Valdomiro respondeu-lhe que poderia ir até a venda e comprar apenas o indispensável.
Mais tarde um dos filhos de Valdomiro pegou um violão e ficou cantando modas de viola.
Lúcio ao ouvi-lo, comentou que ele cantava muito bem.
O rapaz agradeceu o elogio.
Com efeito, a distração de muitos colonos, era ouvir o rádio, e ouvir as canções falando do campo, das dificuldades, alegrias e tristezas daquela vida.
Também adoravam os bailes realizados com certa regularidade na vila.
Os casais aproveitavam para dançar um pouco.
Os jovens lançavam olhares para as moças.
Todos dançavam.
Conversavam. Contavam as novidades.
Os homens bebiam juntos. Falavam das criações de animais, das colheitas.
Os moços conversavam sobre a beleza das moças, as músicas que gostavam.
Ludmila também aproveitava para de vez em quando, ir ao baile.
Viúva, sua presença era sempre comentada.
Muitas mulheres diziam que ela deveria guardar luto e não ficar freqüentando festas.
Lúcio invariavelmente, a convidava para dançar.
Certa vez, ao ver a patroa dançando com o peão, Emerson resolveu inquiri-la.
Indagou-lhe se estava acontecendo alguma coisa.
Ludmila, a sós, respondeu que no momento não estava acontecendo coisa alguma.
Sorrindo, colocou a mão em seu ombro e recomendou-lhe que fosse se divertir.
Lúcio, que havia se afastado para pegar um ponche para a fazendeira, ao se aproximar e ver o administrador da fazenda conversando com ela, perguntou se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que sim, estava tudo bem.
Emerson contrariado, pediu licença e retirou-se esbarrando em Lúcio, que não gostou do encontrão.
Foi o suficiente para que o copo com ponche, fosse vertido na camisa do moço.
Ludmila ao ver o acidente, pegou um lenço e emprestou-lhe.
Lúcio tentou limpar a roupa, em vão.
Ludmila então, comentou penalizada que a bebida manchara a roupa.
Nisto, uma mulher surgiu.
Dona Aparecida disse-lhe que pegaria emprestada uma camisa de seu marido.
Sugeriu-lhe então, que fosse até o banheiro para trocar a camisa.
Belchior o levou até sua casa.
Lá, Lúcio trocou de camisa.
Curioso, o homem perguntou que nunca vira Emerson tão agitado. Belchior comentou que ele estava há muito tempo sozinho, e que precisava encontrar uma mulher. Disse que não era bom um homem ficar muito tempo sem ninguém.
Lúcio perguntou se Emerson não era casado.
Belchior comentou que ele era viúvo, vindo a perder a esposa muito cedo. Comentou que o homem não chegou a ter filhos com a esposa.
Lúcio surpreso, disse que a história era parecida com a de Ludmila.
O homem concordou.
Indiscreto, chegou a dizer ter acreditado durante algum tempo, que ele estava interessado na fazendeira, mas que depois, ao ver Ludmila acompanhada, deixou de ter esta impressão.
Ao ouvir as palavras do homem, Lúcio perguntou quem fora companhia da mulher.
Belchior achou graça nas palavras enciumadas do moço.
Rindo, comentou que a companhia de Ludmila era ele.
Lúcio ficou envergonhado.
Constrangido, perguntou onde ficava o banheiro.
Belchior lhe indicou o caminhou.
Ofereceu-lhe uma camisa.
Lúcio encaminhou-se para o banheiro.
Lá, tirou a camisa manchada e trocou pela camisa limpa do homem.
Como a camisa fosse um pouco grande, o moço procurou ajeitar a roupa da melhor maneira possível.
Ao sair, agradeceu a Belchior.
Prometeu que devolveria a roupa devidamente lavada e limpa.
Belchior respondeu dizendo que não fora nada.
Nisto, o jovem voltou ao baile.
Ludmila dançava com Valdomiro.
Lúcio ao ver a dupla, pediu licença ao amigo e comentou que preferia que o término da dança fosse com ele.
Valdomiro agradeceu e se retirou.
Ficou ao lado da esposa, Leocádia.
Sorrindo, cumprimentou alguns passantes.
Disse a mulher que Lúcio e Ludmila faziam um belo par.
A mulher comentou que eles deveriam se casar logo.
Valdomiro concordou.
Mencionou que o relacionamento deles não era visto com bons olhos por muitas pessoas, e que um casamento para sacramentar a relação, faria todos se calarem e cessarem as maledicências.
Ludmila, com as mãos no ombro de Lúcio, e o rapaz segurando-a pelas costas, foram a atração do salão.
Dançaram juntos, boa parte da noite.
Foi justamente num desses bailes que o moço pediu a mulher em casamento.
Diante de todos os conhecidos de Ludmila, o rapaz sugeriu partilharem uma vida a dois pelo resto de suas existências.
Nervoso, bebeu um pouco de aguardente e ofereceu-lhe uma bonita jóia. Era um anel simples, somente para formalizar o compromisso.
Surpresa, Ludmila perguntou-lhe onde havia conseguido dinheiro para tanto.
Lúcio respondeu-lhe que se tratava de uma jóia da família, que havia servido de anel de noivado de sua mãe.
Emocionado, o moço comentou que no pouco tempo em que viveram juntos, seus pais foram muito felizes.
Brincando, disse apenas que gostaria de apenas, de poder viver muitos anos ao seu lado.
Ludmila, de posse da caixinha com a jóia, em suas mãos, agradeceu o presente.
Disse que fora uma das coisas mais singelas que alguém fizera por ela.
Lúcio retirou a jóia da caixinha e colocou o anel no dedo da moça.
Nisto, o moço perguntou a jovem se ela aceitava se casar com ele.
Ludmila respondeu trêmula, que sim.
Os convivas aplaudiram.
A fazendeira abraçou o moço.
Tempos depois, Ludmila e Lúcio casaram-se na igreja da vila.
Valdomiro conduziu a mulher até o altar.
A bela jovem trajava um vestido colorido.
Lúcio vestia um terno cinza, com uma flor na lapela.
Muitos criticaram o enlace.
Inclusive uma das filhas de Valdomiro.
O homem, ao saber disto, comentou que não estava interessado em ouvir maledicência. Argumentou que Ludmila era a patroa deles e que se Lúcio a pedira em casamento, era por que tinha amor nela e ninguém tinha o direito de fazer críticas.
As moças calaram-se então.
Com efeito, a cerimônia simples e bonita, encantou a muitos, que ficaram emocionados com a união do casal.
Jurema, ao lado do marido, acompanhou a cerimônia emocionada.
Foram muitos bailes, até acontecer o pedido de casamento.
Por diversas vezes, Lúcio buscou ponche para a moça.
Dançaram muito juntos.
Ludmila era só sorrisos na presença do moço.
Eles também se encontraram muito, a beira do rio.
Conversavam.
Abraços, beijos, brincadeiras.
Lúcio pescava.
Certa vez, assou um peixe para ela as margens do rio.
Lúcio e Ludmila caminhavam juntos, conversavam.
Cavalgavam. Apostavam corridas.
Gentil, Lúcio sempre a deixava ganhar as corridas.
Lúcio adorava beijá-la.
Ludmila agora, estava mais acostumada com o jeito impetuoso do moço.
Lúcio gostava de provocá-la, dizendo que ela voltaria a ser uma dona de casa.
Ludmila, sempre que ouvia estas palavras, dizia que jamais deixaria de cuidar das terras que tanto amava.
O moço ria.
Lúcio admirava Ludmila.
Conversando com a moça, respondeu-lhe que jamais a impediria de continuar de trabalhar com algo que amava tanto.
Ao ouvir isto, a jovem tranqüilizou-se.
Temia que ele colocasse obstáculos.
Por diversas vezes, chegou a dizer que nunca abandonaria a fazenda.
Lúcio comentou que também gostava daquele lugar.
Acrescentou que não tinha a menor intenção de transformá-la em uma rainha do lar.
Ludmila, ao ouvir estas palavras, comentou que às vezes ele parecia demasiado evoluído para aquelas terras e para aquele tempo.
Lúcio retrucava dizendo que tudo não passava de bobagem.
Constrangido, o moço foi abraçado por Ludmila, que dizia admirá-lo muito.
Lúcio ficou vermelho.
Ludmila achava graça quando o moço ficava encabulado.
Quando o rapaz visitava Ludmila na casa grande, levava flores para ela.
Jurema e Valdomiro permaneciam na sala, quando das visitas.
Diziam que a moça era livre, mas não ficava bem eles permanecerem a sós.
Lúcio por seu turno, tentava ficar a sós com a moça, chamava-a para um canto, mas Valdomiro sempre se aproximava e perguntava se estava tudo bem.
Desta forma, o casal só conseguia permanecer a sós, quando se encontravam na beira do rio.
Ninguém sabia dos encontros.
Juntos, compartilhavam da companhia um do outro, conversavam, dividiam sonhos, admiravam de forma contemplativa a paisagem.
O verde das paragens, o azul das águas do rio, as árvores, o canto dos pássaros.
Lúcio assobiava imitando o som dos bichos.
Ludmila ficava encantada com a habilidade do moço.
Em dado momento, ao conversarem sobre política, o jovem deixou escapar, que as pessoas no campo, costumavam ser muito exploradas e que já era tempo de se mudar as coisas. Comentou que havia uma revolução acontecendo na cidade grande, e que isto precisava se espalhar pelo campo.
Lúcio comentou que havia ligas camponesas, e campesinos empenhados em melhorar as condições de vida no campo.
Ludmila, ao ouvir isto, perguntou-lhe se achava que ela explorava seus empregados.
Lúcio respondeu que os camponeses eram obrigados a adquirir víveres na venda da fazenda.
Ao ouvir isto, a mulher respondeu que se fossem adquirir bens na venda existente na vila, teriam dificuldades de acesso ao local, e que não vinculava o salário dos trabalhadores a compra em sua venda.
Lúcio ao ouvir as palavras da fazendeira, concordou.
Mencionou que algumas pessoas faziam compras na vila.
Acrescentou contudo, que nem todos os fazendeiros faziam o mesmo. Relatou que as condições de vida no campo eram difíceis, e que os homens e mulheres que ali viviam, não deveriam viver como escravos.
Ludmila, ao perceber o gesto exaltado do moço, pediu para que ele se contivesse.
Recomendou-lhe que não comentasse aquele ponto de vista com ninguém. Disse que aqueles eram tempos difíceis, e que qualquer palavra mal colocada, poderia colocá-lo em uma situação delicada.
Nervosa, Ludmila perguntou-lhe se havia comentado com alguém sobre aquele ponto.
Lúcio respondeu-lhe que não.
Preocupada, a mulher perguntou-lhe se ele estava envolvido em alguma atividade política subversiva.
O moço, surpreso com a pergunta, respondeu-lhe que não.
Ludmila, colocando as mãos na boca do moço, disse:
- Você não pode dizer o que disse para mim, nem para sua sombra. Isto é muito perigoso! Tenha cuidado, não se envolva com isto.
Lúcio prometeu não se envolver com este tipo de atividade.
Com isto, o jovem procurou dissipar as preocupações da moça.
Começou a assobiar o campo das aves. Dizia que eram canoras.
Ludmila ficava a procurar a ave. De onde vinha o som que o moço imitava?
Com o tempo, o casal resolveu se casar.
Antes, o moço convidou Ludmila para um almoço.
Um almoço que foi preparado para Lúcio e a família que acolhera o rapaz.
No tocante ao enlace, haviam também insinuações veladas para o fato do moço ser um simples peão, e ela uma rica fazendeira.
Valdomiro e Leocádia, ficavam contrariados com a maledicência.
Lúcio por sua vez, não gostava das insinuações.
Por diversas vezes ameaçou brigar.
Não fosse impedido por Valdomiro, teria brigado com outros peões.
Com efeito, este era o único fato que aborrecia o moço.
Irritado, dizia a Valdomiro que não estava se casando por interesse.
Afirmava que Ludmila era uma mulher muito especial.
Com isto, depois da cerimônia de casamento, Lúcio pediu licença ao cocheiro que conduzira Ludmila até a vila. Disse que ele mesmo conduziria o animal.
O homem concordou. Seguiria dali de carro, acompanhado de moradores da fazenda.
Nisto o recém casado, conduziu a esposa de charrete.
A certa altura do caminho, o moço resolveu parar.
Ludmila, vestida de noiva, não compreendeu o que estava acontecendo.
Curiosa, perguntou por que haviam parado.
Lúcio aproximou-se da jovem e segurando sua mão, auxiliou-a descer da charrete.
Ludmila estava deslumbrante em seu vestido de noiva florido.
O moço também estava impecável.
Ludmila ao ser conduzida a um riacho, perguntou ao então marido, para onde ele a estava levando.
Lúcio disse que logo logo ela descobriria.
Caminhando, Ludmila mencionou que usava salto e que não conseguiria andar por aquelas paragens por muito tempo.
O jovem, percebendo o desconforto da moça, aproximou-se e segurou-a nos braços.
Ludmila, argumentou que não era necessário.
Lúcio respondeu que sim, era preciso.
Após alguns minutos, o moço apresentou-lhe o magnífico cenário.
Era o mesmo local onde se encontraram pela primeira vez, e que se reencontraram por diversas vezes.
Lúcio disse que aquele era o paraíso dos dois.
O lugar para onde poderiam correr sempre que quisessem reviver boas lembranças, e também onde viveriam outras ainda mais belas.
Sorridente, o moço comentou que fora muito feliz naquele lugar, e que gostaria de ser ainda mais feliz por ali. Comentou que era um homem de sorte por havê-la conhecido.
Foi então que Ludmila abriu um enorme sorriso.
Emocionada, chegou a chorar.
Por um momento temeu tanta felicidade.
Neste momento, o sorriso sumiu de seu rosto.
Ludmila comentou que sempre que estava vivendo um momento muito feliz em sua vida, acontecia algo para lhe tirar a felicidade.
Olhando para o moço com certa melancolia, disse-lhe que talvez não agüentasse sofrer uma segunda perda. Comentou que preferia ir embora primeiro, a ser viúva novamente.
Lúcio, ao ouvir estas palavras, retrucou dizendo:
- Deixa de bobagem! Ninguém aqui vai morrer tão cedo!
Nisto o moço aproximou-se da moça e a abraçou.
Lúcio cantou-lhe uma moda que ouvira no rádio.
Lá, dançaram ao ouvir do marulhar das águas, o gorjeio dos pássaros, o balançar das folhas no vento.
Antes de rumarem para a fazenda, receberam os convidados no salão paroquial da vila.
Cumprimentaram os convidados, que já os haviam felicitado na porta da igreja.
Dançaram juntos, cortaram o bolo de casamento.
Partiram.
Enquanto isto, os convidados dançaram, conversavam entre si.
Valdomiro comentou que os recém-casados estavam muito felizes.
Lúcio e Ludmila caminharam às margens do rio.
O moço recostou-se a beira de uma árvore.
Com isto, convidou a moça aproximar-se.
Ludmila, impecavelmente vestida e utilizando um salto, argumentou que não seria possível sentar-se na relva, usando um vestido de festa.
Ao ouvir isto, Lúcio levantou-se, e auxiliou a moça a retirar os sapatos.
Sem alternativa, só restou a moça, sentar-se.
Ludmila acomodou-se nos braços do moço.
Lúcio então, começou a fazer planos.
Disse que gostaria de ter muitos filhos. Que os ensinaria a gostar da vida no campo.
Ludmila ficava ouvindo.
Ouvindo e achando graça.
Depois, o moço carregou a moça nos braços até a charrete.
Ajudou-a a subir.
Antes de partir, colocou os sapatos nos pés da moça.
Em seguida, rumaram para casa.
Percorreram a estrada de terra, com muitas árvores, muito verde.
O caminho parecia aos dois, mais bonito do que de costume.
Ao chegarem a sede da fazenda, o moço perguntou a ela sorrindo:
- Está tudo diferente ou é só impressão? Parece que a casa está mais bonita, o caminho estava diferente!
Ludmila respondeu que a alegria fazia tudo ficar diferente.
Com isto, a beira da escadaria, o moço carregou a moça novamente nos braços.
A moça protestando, disse que não era necessário.
Lúcio argumentou que isto era necessário por que trazia sorte.
- Que remédio! – respondeu a moça.
O peão subiu então as escadarias da entrada da casa, levando-a nos braços.
Percorreu a varanda.
Adentrou as dependências do imóvel.
Passou pela sala, atravessou o corredor.
Enquanto caminhava, perguntou a moça se poderia levá-la para o quarto.
Ludmila pediu para colocá-la no chão.
Lúcio recusou-se. Disse que a levaria até o quarto. Razão pela qual perguntou onde ficava.
A mulher só restou dizer onde se localizava.
O rapaz a conduziu até o lugar.
Ao entrar no cômodo, deixou-a em frente a uma penteadeira.
Lúcio ficou encantado com a arrumação do lugar.
Embevecido, respondeu que nunca havia visto um quarto tão grande.
Curioso, perguntou se podia tocar na cama.
Ludmila respondeu que sim.
Tímido, o rapaz se aproximou, tocou o colchão, o qual considerou muito macio, e sentou-se na cama.
Rindo, comentou que estava afundando.
Nisto, deitou-se na cama.
Ao ver Ludmila de pé diante dele, perguntou se ela não iria se aproximar.
Ludmila estava encantada com o entusiasmo do moço.
Recordou-se que o moço há tempos, não sabia o que era uma cama.
Sorriu para ele.
Lúcio, sentou-se novamente. Começou então a pular na cama.
Ludmila comentou:
- Então estou diante de uma criança! Veja só, um homem feito desses, brincando como se fosse um menino!
Ao ouvir isto, o moço parou de pular.
A fazendeira, percebendo o constrangimento do moço, começou a rir.
Lúcio levantou-se e aproximando-se da mulher, segurou-a pelo braço.
Conduziu-a até a cama.
Ludmila ao ver-se ao lado de Lúcio, por um momento, ficou sem saber o que dizer e o que fazer.
O moço também ficou momentaneamente constrangido.
Entreolharam-se.
Em dado momento, o jovem rapaz comentou, rindo:
- Tanto tempo esperei por isto, e agora que realizei o meu maior sonho, eu não sei o que dizer, nem como agir.
Ludmila percebeu o nervosismo do moço.
Comentou que já fora casada antes, e que também não sabia como agir.
Lúcio pediu-lhe desculpas.
Ludmila por sua vez, respondeu que não havia o que ser perdoado.
O moço então, tomado de uma iniciativa repentina, segurou novamente a moça nos braços.
Deitou-a sobre a cama.
Em seguida, deitou-se a seu lado e aproximando-se, beijou-a.
Abraçaram-se.
Belo início para uma vida de amor.
No dia seguinte, o vestido de noiva estava pousando sobre um baú e o terno do moço estava ao lado do vestido, com os sapatos e acessórios próximos.
O casal dormia placidamente.
Lúcio acolhia a moça.
O moço, ao despertar, ao perceber que a moça dormia em seus braços, permaneceu deitado.
Ficou observando o sono da agora esposa.
Ludmila por sua vez, depois de algum tempo, acabou por despertar.
Ao acordar, recebeu de pronto um sorriso e um bom dia.
A mulher retribuiu a saudação e perguntou espreguiçando-se, se havia dormido bem.
Lúcio respondeu que sim.
Beijando-a, disse entre sorrisos que há tempos não se sentia tão bem.
Ao lembrar-se do quanto fora sozinho em sua vida, emocionou-se.
Com olhos lacrimejando, comentou que não era mais sozinho, que possuía uma família.
Ludmila também comoveu-se.
Respondeu-lhe que sabia exatamente o que era sentir-se sozinha no mundo, pois por muito tempo, ela também fora só.
Lúcio redargüiu então. Disse-lhe que nunca mais seriam sós. Animado, relembrou-se do projeto de ter filhos. Comentou que gostaria de ter muitos meninos e algumas meninas.
Ao ouvir as palavras do moço, a fazendeira riu.
Comentou que ainda era muito cedo para pensar em filhos.
Lúcio respondeu-lhe que agora deveriam se preocupar em tomar um bom café da manhã.
Mais tarde, devidamente compostos, o casal se encaminhou para a sala de jantar.
Jurema serviu-lhes um caprichado desjejum com frutas, pão feito na cozinha da fazenda, queijo, geléia. Havia suco de laranja, café.
Animada, a criada disse que era suco de laranja colhida na fazenda e que o café, também era produto do lugar.
Com isto, serviu a bebida em uma xícara, para o casal.
Lúcio e Ludmila agradeceram a gentileza.
Comeram pão, queijo fresco, geléia.
A todo o momento Jurema dizia que havia feito para eles, quase tudo o que havia na mesa.
Comentou animada que a geléia era uma especialidade dela.
Com isto, depois de devidamente servir o casal, a mulher despediu-se.
Ao sair, comentou que sabia que nestes momentos as pessoas gostavam de um pouco de privacidade.
Lúcio e Ludmila, ao ouvirem o comentário, começaram a rir.
A mulher bebeu café.
Lúcio serviu-se do suco.
Comeram mais um pouco.
Lúcio ofereceu um pedaço de pão, colocando-a na boca da moça.
Mais tarde, depois de ouvirem um pouco de rádio e conversarem a sós, o casal saiu para cavalgar pela fazenda.
Valdomiro, ao ver o casal passeando a cavalo, cumprimentou-os.
Lúcio e Ludmila retribuíram o cumprimento.
Mais tarde o homem comentou que a melhor coisa que eles fizeram foi se casar.
Leocádia concordou. Disse que eles eram muito sozinhos.
Valdomiro completou dizendo que agora não mais.
Passeando pela fazenda, Ludmila mostrou ao moço, um rio e uma pequena cachoeira.
Lúcio intrigado, comentou que não sabia que aquelas terras também lhe pertenciam.
Ludmila respondeu que poucas pessoas sabiam onde ficava aquele lugar.
O moço ficou encantado com o ambiente.
Perguntou a mulher se não poderia nadar um pouco.
Ludmila tomada de curiosidade, perguntou-lhe se sabia nadar.
Lúcio respondeu-lhe que sim.
A fazendeira retrucou dizendo que precisava providenciar um calção de banho para ele.
O rapaz ao ouvir isto, respondeu que não era necessário.
Ao ouvir isto, a mulher perguntou-lhe:
- E como o senhor pretender nadar? Vai molhar suas roupas e chegar encharcado em casa?
Lúcio ao ouvir isto, respondeu que poderia não molhar suas roupas e nadar.
Ludmila, retrucou:
- Mas que idéia? E se aparecer alguém?
Lúcio riu. Disse que estava só brincando. Jamais faria isto.
Ludmila respondeu que assim esperava.
Nisto o moço aproximou de seu cavalo. Desabotoou sua camisa, tirou sua calça, retirou os sapatos, e ficou apenas com uma peça.
Ludmila ao ver a cena, censurou-o.
Lúcio então, segurando a mulher pelo braço, pediu para que se despisse também.
Ao ouvir o pedido do marido, a jovem ficou perplexa.
O moço, percebendo a inibição da jovem, aproximou-se dela, e puxando-a, caminhou na direção dos cavalos.
Disse que não havia problemas, argumentou que ninguém os veria.
Ludmila relutou. Argumentou que não ficaria bem se alguém os visse se banhando seminus na cachoeira.
Lúcio argumentou:
- Vamos Ludmila! O que é que tem? Ninguém nos verá. Afinal de contas está tão quente. Temos todo o direito de nos refrescarmos... Anda, vamos. O que é que custa?
A fazendeira continuava reticente.
Lúcio puxou-a para junto de si e beijou-a.
Cochichando em seu ouvido, disse que a água parecia ser fresca, e a cachoeira bem convidativa.
Chegou a pedir:
- Vamos! Deixa de bobagem!
Diante de tal apelo, a moça acabou capitulando.
Retirou a camisa, a calça, as botas, permanecendo apenas, com uma combinação.
Lúcio então a conduziu até a margem do rio.
Caminharam até a cachoeira.
O moço foi quem primeiro mergulhou nas águas.
Ludmila entrou logo em seguida.
Nadou e mergulhou na cachoeira.
Lúcio jogou água em Ludmila.
A mulher pediu para ele parar.
Lúcio aproximou-se então de Ludmila, que estava de costas para ele.
Segurou-a pela cintura. Encostou seu rosto no rosto dela.
Ficaram juntos observando o movimento das águas.
O barulho das águas descendo das pedras.
Admiraram o azul do céu.
Mais tarde, descansando embaixo de uma árvore, Lúcio começou a observar as nuvens.
Brincou dizendo com que elas se pareciam. Uma lhe lembrava um rosto, uma paisagem, um animal.
A certa altura, Ludmila levantou-se. Disse que precisavam voltar para casa.
Lúcio indagou o porquê.
A fazendeira respondeu de pronto:
- Meu estômago está pedindo para voltar para casa.
Ao estas palavras, Lúcio admitiu que também estava com fome.
Animado, respondeu que da próxima vez que rumassem para lá, deveriam levar uma cesta de pequenique. Assim, não teriam que voltar para casa tão cedo.
Com isto, trataram de colocar suas roupas.
Cavalgando, voltaram para casa.
Quando viu o casal molhado, Jurema perguntou onde eles haviam ido.
Ludmila respondeu que estavam andando por aí.
Rosa, ao ver Jurema indagando a patroa, chamou-lhe a atenção.
Jurema ignorou a bronca.
Na cozinha, Jurema argumentou que só estava querendo ajudar.
Ludmila e Lúcio foram até o quarto trocar de roupa.
Almoçaram e depois ficaram ouvindo um pouco de rádio.
Ouviram modas de violas, notícias sobre o presidente Costa e Silva.
Lúcio, sempre que ouvia o nome do militar, ficava contrariado.
Ludmila, ao perceber isto, recomendou-lhe que fosse mais discreto em suas manifestações verbais. Argumentou que os tempos não eram fáceis, e que qualquer palavra mal colocada, certamente seria mal interpretada.
Lúcio ao ouvir estas palavras, retrucou dizendo que as coisas precisavam mudar. Dizia que as pessoas tinham muito medo das mudanças.
Ludmila, ao ver Rosa se aproximando, comentou que estava planejando adquirir mais alguns animais, e que para tanto talvez precisasse viajar.
Ao ouvir a palavra viagem, o moço ficou surpreso.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quarta-feira, 31 de março de 2021
CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 5
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário