Diva e Odair, ao tomarem ciência de que o compromisso de Carlos e Angélica estava definido, animaram-se.
Diva começou a imaginar o casamento do filho, como seria o vestido de Angélica.
Odair, ao perceber a empolgação da esposa, comentou que esta era uma preocupação dos pais da noiva.
A mulher por sua vez, comentou que gostaria de dar alguns palpites, se fosse possível. Argumentou que se não tinha uma filha mulher para casar, tinha o direito de dar sugestões no casamento do filho.
Odair achou graça.
Carlos então, segurando as mãos da mãe, comentou que conversaria com Dona Ângela sobre isto.
Risonho, comentou que este era um assunto para as mulheres, e que ele não se intrometeria.
Odair emendou dizendo:
- Sábias palavras, meu filho!
Nisto Diva comentou que este casamento deveria ser um casamento para marcar a cidade de São Paulo.
E assim, foi marcada a data do jantar de noivado.
Angélica parecia alheia a tudo.
Triste, passava horas sentada num banco, instalado no jardim de sua casa.
Parecia contemplar o nada.
Ângela vê-la por diversas vezes com aquele olhar perdido, sem interesse por nada, comentou com o marido, que estava preocupada. Argumentou que parecia que Angélica estava desistindo de tudo.
Francelino, que também estava preocupado, tentou tranqüilizar a esposa. Tentando disfarçar sua expressão aflita, dizia para a esposa que aquilo passaria com o tempo, que Angélica estava precisando de um novo interesse em sua vida, e que isto mudaria com o casamento.
Aflita, Ângela comentou com o marido, que se perguntava a todo o momento se estava fazendo a coisa certa.
Francelino respondia sempre que sim.
Contudo, em que pesem as palavras de conforto do marido, Ângela continuava preocupada.
Angélica não tinha apetite.
Nervosa, Ângela insistia para que a filha se alimentasse. Dizia que ela acabaria ficando doente.
A moça porém, estava cada vez mais indiferente.
Ângela então, sugeriu a filha, para que fossem juntas ao cinema.
Angélica porém, respondeu que não estava interessada.
Nisto, Ângela comentou que estava sendo exibida uma fita com o artista que ela adorava, o tal de Rodolfo Valentino.
A jovem, ao ouvir isto, perguntou qual era a história.
Sua mãe respondeu que precisavam ir ao cinema para saber.
Percebendo um certo interesse da filha no filme, insistiu para irem.
Angélica respondeu desanimada disse que seu pai não as deixariam irem.
- Quanto a isto minha filha, não se preocupe! Eu me encarrego de convencê-lo. Nem que ele precise ir junto. Prometo!
Desta forma, a mulher conversou com todo o jeito com Francelino, que inicialmente refutou a idéia, mas ao saber que a filha estava um pouco mais animada, acabou se deixando convencer.
Comentou porém, que iria acompanhá-las, e quanto a isto, não deveriam se opor.
Ângela concordou. Animada, disse que contaria a filha, sobre o passeio.
Mais tarde o trio foi ao cinema.
Angélica encantou-se com a história.
Ângela por sua vez, comentou que finalmente entendia por que sua filha e suas amigas ficaram tão empolgadas com o moço.
O ator realmente era encantador. Comentou a mulher, deixando o marido enciumado.
Francelino retrucou que não entendia o que as mulheres viam num sujeito tão efeminado.
Foi o suficiente para ouvir os protestos da filha e da esposa, que argumentavam que ele apenas era gentil e sensível.
Nisto, ao saírem do cinema, qual não foi a surpresa da moça, ao ver Herculano flertando com outra moça, na pracinha na saída do cinematografo.
Francelino ao ver a cena, ameaçou ir tomar satisfações com o rapaz, mas Ângela, advertindo-o do escândalo, orientou-o a não fazê-lo.
Angélica por sua vez, começou a chorar, e só não saiu correndo por que Ângela segurou seu braço e orientou-a a não deixá-lo ter o gostinho de vê-la chorando.
Com isto, deu-lhe um lenço, e fez com que a filha enxugasse o rosto.
Em seguida, instruiu a filha para que passasse pela praça como se não tivesse visto o moço.
Angélica seguiu as recomendações da mãe.
Herculano percebeu a aproximação, notando que Angélica não lhe dirigira sequer um olhar.
Francelino porém, lançou-lhe um olhar furioso.
Herculano levantou-se assustado. Convidou sua acompanhante para irem para outro lugar.
Ao chegar em casa, Angélica recolheu-se para seu quarto.
Ângela por sua vez, temeu que a filha se fechasse novamente.
Porém, para sua surpresa Angélica estava um pouco mais animada. Comentou que gostara do filme.
Ângela comentou que o rapaz era realmente muito bonito.
Angélica riu.
Nas semanas que se seguiram, a moça recebeu algumas visitas do noivo e de seus pais – Diva e Odair.
Carlos, sempre que podia, aproveitava para conversar a sós com a moça.
Sempre com o aval de Ângela e Francelino.
Angélica, ao ser convidada para ir até o escritório com o moço novamente, tentou argumentar que não era necessário.
Sua mãe contudo, ressaltou que não havia problema.
Carlos segurou então a mão da moça, conduzindo-a até o escritório.
Ao entrar no recinto, pediu licença a todos. Fechou a porta.
Pôs-se a conversar com Angélica.
Disse-lhe que estava ansioso pelo reencontro. Aproximou-se da moça, tocou-lhe as mãos. Confidenciou que não via a hora de estarem casados.
Angélica nesta época, parecia indiferente a tudo, fato este que Carlos notou.
Percebendo isto, insistiu em dizer que não adiantaria agir daquela maneira. Argumentou que não iria desistir do casamento, e que ela seria feliz ao seu lado, de qualquer maneira.
Nisto, Carlos tomou a moça pelos braços. Fitando-a, percebeu que seu olhar estava vazio, fato este que o deixou deveras preocupado.
Tanto que começou a perguntar:
- O que está acontecendo? O que se passa? Ainda pensas naquele cafajeste?
Angélica permanecia calada.
Carlos então, aproximou-se novamente, e balançando-a, perguntou:
- Vamos, responda-me: O que está acontecendo?
Angélica pediu para que ele a soltasse.
Nervoso, Carlos respondeu que só a soltaria, quando lhe dissesse o que estava acontecendo.
Enciumado, chegou a perguntar se ela ainda estava se encontrando com o tal sujeitinho.
O moço tornou a chacoalhá-la.
Angélica respondeu então que não. Que nunca mais vira o sujeito. Dizendo que estava indisposta, perguntou se tinha licença para sair.
Carlos ficou contrariado.
Percebendo porém, que Angélica estava trêmula, novamente pediu-lhe desculpas. Segurou um de seus braços e ajudando-a a levantar-se, perguntou se havia lhe machucado.
A moça então, procurando se desvencilhar do moço, respondeu-lhe que não.
Nisto, saiu do escritório, esbarrando nos móveis, e encaminhou-se para as escadas, vindo a se trancar em seu quarto.
Nesta ocasião, Carlos insistiu para tornar a ver a moça, mas Ângela, dizendo que a filha não havia passado bem, comentou que de fato, precisava descansar.
Preocupado, o moço perguntou o que ela tinha.
Ângela respondeu que ela estava nervosa com o casamento.
Ao ouvir isto, Carlos sorriu.
Observando o casal pelo olho mágico, por um instante, a mulher teve ímpetos de invadir o escritório. Contudo, percebendo que o casal precisava se entender, achou por bem deixar que Angélica resolvesse o inconveniente sozinha.
Por fim, lembrando-se da cena que espiara no escritório, Ângela, tentando manter a calma, recomendou a Carlos que tivesse paciência com Angélica, que aos poucos ela acabaria se acostumando com a idéia do casamento.
Odair e Diva, que o acompanhavam, a esta altura, recomendaram o mesmo.
Dizendo que Angélica estava passando por uma grande mudança em sua vida, comentaram que para as mulheres a mudança é mais intensa do que para os homens.
Ângela concordou.
Carlos então, tranqüilizou-se.
Ângela, tentando se desculpar, disse que havia mimado muito a filha, a ponto de não havê-la preparado de forma adequada para o casamento.
Nas visitas que se seguiram.
Angélica estava menos impassível.
Aconselhada por Ângela, deixou que Carlos se aproximasse um pouco mais, sem oferecer tanta resistência.
Com efeito, ao ouvir o conselho da mãe, a moça ficou tomada de espanto.
Ângela disse-lhe então, que ela faria um ótimo casamento, e que Francelino estava muito satisfeito com o futuro enlace.
Sentindo-se pressionada, Angélica acatou os conselhos da mãe.
Nisto, ao se ver a sós com Carlos, Angélica ficou sentada em um canto da sala com de costume.
Preocupado, Carlos perguntou-lhe se estava melhor, no que a moça respondeu maquinalmente que sim.
Sem jeito, o moço novamente pediu-lhe desculpas pelos gestos agressivos, argumentando que estava tomado pelo ciúme.
Angélica respondeu que não tinha problema.
Nisto o moço, comentou que nas próximas semanas estariam oficialmente noivos, e dali a poucos meses, casados.
Ao ouvir isto, Angélica levantou-se subitamente do sofá.
Aflita, perguntou:
- Casados?
- Sim. – respondeu o moço.
Percebendo o olhar de preocupação da jovem, Carlos segurou sua mão, dizendo-lhe que não precisava se preocupar com isto, que a cerimônia seria preparada com o todo cuidado, que os preparativos da festa de noivado estavam ao encargo de Ângela e Diva, e que a eles só cabia apreciarem o momento.
Nisto, beijou a mão da moça.
Ansioso, disse que ela deveria esquecer qualquer lembrança do passado, e que eles seriam muito felizes.
Ao ouvir isto, Angélica começou a chorar.
No que Carlos segurou o seu rosto assustado e pediu-lhe para que não chorasse mais.
Nisto, beijou seu rosto. Abraçou-a.
Sentido, disse novamente que gostava muito dela. Que sabia de seu caráter, que era uma moça de bem, muito honesta.
Angélica continuou a chorar.
Nisto Carlos ofereceu-lhe um lenço.
Angélica pela primeira vez, disse-lhe que ele era muito gentil com ela, mais do que ela merecia. Comentou que sentia-se mal por está-lo enganando, já que ainda pensava em tudo o que Herculano havia lhe feito. Nervosa, confessou que o vira na saída do cinematografo, quando fora ver a fita de Rodolfo Valentino, acompanhada de seus pais.
O moço ficou surpreso com a revelação. Enciumado, disse que o tal safardana, era muito atrevido, e que merecia uma lição.
Angélica então, segurando sua mão, pediu para que não fosse tomar satisfações com o moço. Dizendo que não se importava mais com Herculano, contou que preferia esquecer o que se passara, e que a enchia de vergonha.
Nisto, tornou a chorar.
Nervoso, Carlos não sabia o que fazer. Andava de um lado para outro da sala.
Até que decidiu novamente se aproximar da moça.
Chorando também, disse-lhe que estava surpreso e feliz com sua sinceridade, e que pela primeira vez, sentira que estava no caminho certo. Abraçando-a, disse-lhe que ela era a mulher certa para ele, e que se tivera maturidade para assumir seu erro, não havia mais nada que o impedisse de se casar.
Nisto, fitou-a novamente e beijou-a.
Seguindo o conselho da mãe, Angélica, não se opôs.
Ângela ao espiar o casal, ficou satisfeita ao presenciar a cena.
Nisto Diva perguntou de Ângela.
Carlos, a sós com Angélica. Ao sentir que era correspondido, ficou feliz.
Mais tarde, ao lado de Ângela, Francelino, Diva e Odair, não paravam de olhar para Angélica.
A moça por sua vez, parecia mais conformada com a situação.
Fato este que deixou Francelino feliz.
Semanas mais tarde, quando a filha estava prestes a se tornar noiva de Carlos, Francelino comentou que fazia muito gosto naquele casamento, e que ela seria muito feliz ao lado do jovem.
O homem comentou que exigiu isto do moço, sem o quê, o casamento não se realizaria.
Nisto, pediu desculpas a filha, por ser tão rígido, argumentando que qualquer nódoa na reputação de uma moça, e era o fim de sua felicidade. Comentou que sabia que o fato ocorrido semanas atrás fora um deslize, e que ela agira daquela forma, devido a falta de malícia, e ao certo excesso de fantasia.
Angélica ficou com os olhos cheios d’água.
Francelino então, segurando suas mãos, disse-lhe que aquilo era passado, e que se Carlos tinha por obrigação fazê-la feliz, e que ela também deveria assumir este compromisso diante de todos.
Sem outra opção, a moça concordou.
Luciana Celestino dos Santos
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Poesias
quinta-feira, 4 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 5
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