Poesias

terça-feira, 30 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO VIII

Carmen Miranda e as famosas marchinhas de carnaval, eram ouvidas antes das apresentações.
Quando as crianças puderam apreciar a apresentação do circo, colocaram sua melhor roupa.
Felipe, um desses garotos, ficou encantado com a beleza da trapezista.
Empolgado, chegou a dizer aos amigos, que se tornaria trapezista de circo.
Os garotos riam do comentário.
Fato este que o deixava deveras aborrecido.
Não gostava que fizessem pouco de seus sonhos.
Sonhador, o garoto brincava de domador de circo. Imaginava-se enfrentando terríveis feras. Leões ferozes, tigres.
Em suas brincadeiras, era admirado por sua coragem e bravura.
Imaginava-se usando um bonito fraque, e dizia frases de efeito como esta:
- Agora, diante de seus olhos, um dos desafios mais impressionantes que se tem notícia. O desafio de um domador diante de inúmeras feras, preso em uma jaula.
Imaginativo, ficava a pensar em inúmeras estratégias para enfrentar as feras.
Seus amigos adoravam suas histórias.
Também adorava brincar de Tarzan, e de desbravador de segredos das florestas.
Em um das brincadeiras, denominou-se Livingstone.
Desbravador e aventureiro.
Fátima se preocupava com o temperamento excessivamente sonhador do filho. Dizia para Fábio que o filho deveria ter os pés mais calcados no chão.
No que Fábio retrucava que Felipe era apenas uma criança e que era natural este talento para exercitar a imaginação.
Dizia que o filho seria uma pessoa mais feliz, se pudesse vivenciar esta fase da infância, coisa que ele nunca pode fazer, posto que teve a necessidade de trabalhar desde cedo.
E assim o menino vivia uma infância despreocupada e feliz.
Ao colocar o garoto para dormir, Fátima costumava contar-lhes histórias de aventuras maravilhosas, que povoavam a imaginação do garoto, que se imaginava Peter Pan, desbravador, aventureiro.
Também das histórias do folclore brasileiro.
Quando o circo despediu-se da cidadezinha, o garoto ficou inconsolável.
Aborrecido, dizia que uma das poucas diversões que possuía, havia se acabado.
Fátima achava graça nisto.
Na escola, o menino tinha um desempenho mediano.
Fato este, que preocupava a mulher, que gostaria que o filho se tornasse advogado. Mas com notas assim, como isto seria possível? Pensava.
Nestes momentos, Fábio tentava tranqüilizar a esposa, dizendo que ainda era muito cedo para o garoto se preocupasse com um futuro de advogado.
Felipe, após a volta do colégio, se reunia com os coleguinhas de sua rua, para brincar de bolinha de gude, de futebol, de aventuras.
Decepcionado com a partida do circo, o garoto deixou um pouco de brincar de integrante do circo.
Contudo, quando o circo “Palácio dos Sonhos”, retornou a cidade, Felipe novamente se entusiasmou.
Animado, pediu aos pais para que o deixassem ir ao circo.
Insistiu tanto, que Fátima, para se ver livre da insistência do garoto, autorizou sua ida.
Feliz, o menino, tomou um banho demorado, penteou os cabelos passando-lhes brilhantina. Colocou um terninho, meia e sapatos lustrados.
Quando sua mãe o viu tão bem composto. Elogiou-lhe.
Disse-lhe que estava muito bonito.
Fábio, brincando, disse-lhe que parecia o próprio dono do circo.
Ao ouvir isto, Felipe encheu-se de orgulho.
Com efeito, usando suas melhores roupas, a família toda foi ao circo.
Lá, Felipe encontrou seus colegas de escolas, e os vizinhos.
Antes de entrarem no circo, ficaram a fantasiar o evento.
Todos estavam cheios de expectativas.
Mais tarde, entraram no circo.
Quando a atração finalmente iniciou-se, encantaram-se com o número do domador, enfrentando leões e tigres, bem como apresentando números com um elefante.
O domador foi entusiasticamente aplaudido.
A apresentação com os palhaços Feliz, Alegre e Contente, também foi muito aplaudida.
Em dado momento da apresentação os cômicos cantaram:
- Chegou, chegou, tá na hora da alegria. O circo tem palhaço. Tem, tem todo dia. O circo tem palhaço. Tem, tem todo o dia. Chegou, chegou, tá na hora da alegria.
As crianças gargalhavam.
Os garotos e as meninas se maravilhavam com um mundo de alegria e encantamento, mas os adultos também se maravilhavam com as apresentações.
O circo povoava a imaginação de todos.
Mais uma vez, a garotada se maravilhou com a apresentação da trapezista.
Miriam estava cada dia melhor.
De tão encantado com a apresentação do circo, Felipe não conseguia mais, prestar atenção nas aulas. Tornou-se disperso.
Certo dia, ao ver um dos garotos comentando sobre a beleza da trapezista, chamou-o para a briga.
Por esta razão os dois moleques rolaram pelo pátio da escola.
Razão pela qual foram advertidos e suspensos.
Quando Fátima tomou conhecimento deste fato, repreendeu o filho dizendo-lhe que estava de castigo e proibido de brincar com seus coleguinhas quando voltasse da escola.
Aborrecido, Felipe trancou-se no quarto.
Irritado, disse em voz bem baixa:
- Se a senhora pensa que vou ficar trancado aqui, está muito enganada. Eu vou ver o circo.
Com isto, o garoto pegou uma maleta e começou a colocar alguns brinquedos e roupas.
Quando Fátima surgia abrindo a porta do quarto, o garoto se jogava na cama e fingia dormir.
Vendo Felipe deitado na cama, de olhos fechados, acreditava que o garoto estava realmente dormindo.
Tanto que aproveitou para ajeitar o cobertor, e dar-lhe um beijo de boa noite, em seu rosto.
Ao sair do quarto, Fátima aproveitou para apagar a luz, a qual estava acesa.
Ao encontrar o marido na sala, após retornar de um dia de trabalho, comentou que Felipe estava de castigo.
Surpreso, o homem perguntou a razão de tamanha repreensão.
Fátima respondeu-lhe então, que Felipe havia sido suspenso em virtude de uma briga.
Fábio ficou espantado. Isto por que o menino era dócil.
A mulher respondeu-lhe que também não entendia.
Comentou que Felipe estava agindo de forma estranha, e que não conseguia entender o porquê.
Fábio, tentando tranqüilizá-la, disse que era apenas uma fase que iria passar com o tempo.
Nisto, o homem entrou no quarto de Felipe e lhe deu um beijo de boa noite.
Mais tarde, aproveitando que o casal se recolheu, o menino levantou-se, pegou sua maleta. Abriu a janela e depositou a mala em uma cadeira que utilizou para pular a janela.
Com a mala nas mãos, caminhou lentamente pelo quintal, e pulando o muro da casa, ganhou o mundo.
Caminhando pelas ruas da pequena cidadezinha, conseguiu chegar no circo.
Com efeito, quase todos os funcionários dormiam naquele momento.
Circulando pelo lugar, o menino tratou logo de se esconder, ao ouvir o barulho de pessoas conversando.
Refugiou-se num baú.
Cansado adormeceu.
Nisto, era providenciada uma nova mudança no circo.
Iriam todos ao amanhecer, para outra cidadezinha da região.
E assim, com o passar das horas, o dia amanheceu.
Com isto, de malas prontas, todos seguiram viagem.
Tempos depois, chegaram na nova cidade.
Quando Felipe despertou, tratou logo de sair do baú.
Sorrateiro, esgueirava-se para caminhar.
De longe, percebeu que os homens se organizavam para montar o circo. Ao olhar em volta, percebeu que nada ali lhe era familiar.
Foi quando notou que não estava mais em sua cidade natal.
Tal fato o deixou nervoso.
Nisto, quando se preparava para continuar vistoriando o local, sentiu uma mão em seu ombro.
Assustou-se.
Ao virar-se, deparou-se com um homem, que imediatamente perguntou-lhe o que estava fazendo ali.
Felipe, não conseguiu pronunciar uma só palavra. Apenas gaguejava.
Com isto, o homem insistiu na pergunta.
Felipe, trêmulo, disse que havia se perdido, e que não sabia onde estava.
Quando o homem o viu segurando uma maleta, perguntou-lhe se estava certo do que dizia.
Para ele, Felipe parecia confuso.
Diante disto, o homem conduziu o menor diante do dono do circo.
Odair surpreendeu-se ao ver o garotinho sendo conduzindo pelo funcionário.
Tanto que também perguntou-lhe o que fazia por ali.
No que o menino, articulando melhor as palavras, respondeu que havia se perdido e que não sabia onde estava.
Odair então, ao notar a maleta que trazia, perguntou-lhe o que estava fazendo com aquilo.
Felipe respondeu sua tia havia feito sua mala, e recomendado para que pegasse uma carona na estrada. Argumentou que seguiu o referido conselho, vindo a parar em uma estrada por onde caminhou por algum tempo, até chegar naquele lugar.
Ao ouvir o relato do garoto, o dono do circo não ficou muito convencido da história.
Mas como Felipe insistisse naquele relato, comentou com o homem que não poderia abandonar o garoto.
Como não existisse delegacia cidade, e como o garoto implorasse dizendo que queria ficar, pois não tinha para onde ir; Odair então, resolveu lhe dar hospedagem.
Felipe agradeceu e prometeu ajudar em tudo para o que fosse mandado.
Com isto, o menino ficou sob os cuidados de Mirtes e Miriam.
Odair, contou a mulher que o garoto havia se perdido e não sabia como voltar para casa.
Mirtes, um tanto desconfiada da história, argumentou que eles poderiam ter problemas com a polícia se os pais do garoto denunciassem seu sumiço.
Odair argumentou que o menino não sabia onde morava.
Comentou que Felipe lhe dissera que morava em um sítio com uma tia, e não sabia o nome da cidade que era mais próxima. Disse que esta tia o maltratava, e que não queria voltar.
Mirtes pediu para conversar com o garoto e Felipe lhe repetiu a mesma história triste que contara a Odair.
A mulher ficou comovida com a história.
Com isto, passou a cuidar do garoto.
Levou-o para sua barraca.
Com isto, logo que o menino entrou em sua barraca, Mirtes perguntou-lhe se estava com fome.
O menino respondeu-lhe que sim.
Mirtes serviu-lhe um pouco de arroz com carne e salada.
Felipe comeu avidamente.
Mais tarde, o garoto foi apresentado a sua filha Miriam.
Ao vê-la, ficou emudecido.
Mirtes ao perceber o deslumbramento de Felipe por sua filha, comentou que Miriam era uma moça muito bonita e muito mais velha do que ele.
Felipe ficou ruborizado.
Com o tempo, o garoto passou a cuidar da ração dos animais.
Admirava os leões, tigres e elefante à distância, admirado com a imponência dos animais.
Curioso, o menino perguntava ao tratador dos animais do que eles gostavam.
O homem explicou-lhe que o elefante gostava de esguichar água no próprio corpo para se refrescar.
Comentou que os leões e os tigres gostavam de comida fresca.
Felipe queria se aproximar dos animais.
No que foi impedido pelo tratador que lhe disse ser muito perigoso.
Tentando assustá-lo, contou que os dois últimos treinadores dos leões e dos tigres, ao tentarem se aproximar dos animais, tiveram um de seus braços decepado.
Ao ouvir isto, Felipe ficou chocado.
Mais tarde, perguntou ao domador, como poderia fazer para se aproximar dos animais com segurança.
Sorrindo, o domador dos bichos comentou que somente conhecendo um pouco os animais, saberia como se aproximar com segurança.
O menino, ao ouvir isto, ficou coçando a orelha.
Caminhando sozinho pelo circo, ficou a resmungar dizendo que para conhecer os animais, precisava se aproximar deles, e assim, se precisava se aproximar para conhecê-los, como poderia conhecê-los para poder finalmente se aproximar?
Distraído, acabou por quase esbarrar em Miriam, que vinha no sentido oposto.
Felipe, ao se ver diante da moça, olhando no chão, pediu-lhe desculpas.
Miriam sorrindo, perguntou-lhe se não gostaria de entrar no circo, e conhecer o picadeiro. Disse que estava treinando seu número.
O garoto concordou.
O menino, ao adentrar a lona, percebeu se tratar de um ensaio geral.
Encantado, observou o número de malabarismo, o trio de palhaços, o número do atirador de facas, o mágico, o domador e o treinamento com as feras.
Quando chegou a vez de Miriam ensaiar, o menino ficou encantado com jeito com que a moça deslizava pelo ar, sendo amparada por seu companheiro de trapézio.
Aquele parecia ser um momento de pura magia para o garoto.
Momento que se prolongou com sua gostosa sensação, por vários dias.
Felipe era puro encantamento por Miriam.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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