Poesias

quinta-feira, 4 de março de 2021

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 6

Quando finalmente chegou a data da festa de noivado, Carlos ficou agitado.
Nervoso, queria estar bem vestido para a ocasião.
Cuidadoso, tratou de encomendar um fraque para um bom alfaiate, por ocasião do casamento.
Odair brincou dizendo que o filho queria impressionar a noiva.
Ângela por sua vez, também fez questão de encomendar um vestido de festa para a filha.
Nisto, percebendo a necessidade de um enxoval para a moça, comentou que as duas precisariam passar mais vezes na modista.
Angélica por sua vez, argumentou que não precisava.
Sua mãe contudo, dizia que isto era importante sim.
Desta forma, só cabia a ela acatar.
E assim, as duas mulheres saíam quase todas as tardes para irem a modista.
Ângela encomendou vários vestidos para a filha.
Havia um porém, que era muito especial. Era o vestido que seria usado na festa de noivado.
Quando foi feita a última prova, Ângela aplaudiu.
Ao ver a filha com a roupa, disse que o noivo iria ficar encantado.
Mais do que já estava, se é que isto era possível.
Quando finalmente chegou o momento da festa, Angélica parecia bastante nervosa.
Ângela dizia que ela tinha que ficar calma, posto que não estava indo para a forca.
Com isto, foram chegando os convidados.
Ansioso, Carlos ficava a todo o momento falando para seus pais se apressarem.
No que Odair argumentou que Angélica não iria fugir.
Ao ouvir isto, Carlos ficou intranqüilo. Insistiu para que seus pais se apressassem.
Desta forma, chegaram cedo.
No entanto, somente quando a sala de visitas da família abrigou todos os convidados, e que finalmente Angélica desceu, acompanhada de seu pai, é que o moço tranqüilizou-se.
Carlos, que estava deveras ansioso, sorriu ao ver a moça.
Antes, mesmo que Angélica terminasse de descer a escadaria, lá estava ele, com a mão estendida.
Francelino comentou sorrindo, que não queria segurar vela.
Todos os convidados riram.
Nisto, Carlos e Angélica, acompanhados de Francelino, cumprimentaram os convidados.
Depois, a moça abraçou sua mãe, e cumprimentou Diva e Odair.
Diva chegou a lhe perguntar se estava nervosa com o evento.
Angélica respondeu com ar preocupado, que estava sim.
Carlos então, disse-lhe que também estava nervoso.
No que Francelino disse que era muito natural.
Nisto, todos começaram a contar sobre o momento em que ficaram noivos, do nervosismo da data, das festas de casamento.
Angélica e Carlos escutavam a tudo com muita atenção. Inclusive os conselhos.
Todos tinham uma fórmula pronta para a boa convivência.
Durante as conversações foram servidos vinhos, champagnes, licores, destilados.
Os convidados dançaram, assim como os noivos.
Como já sabia que Angélica adorava os filmes da época, Carlos pediu para que colocassem na vitrola, uma gravação de uma música gravada por Rodolfo Valentino.
A moça ficou surpresa. Perguntou-lhe se era verdade que o próprio Rodolfo Valentino havia gravado a canção.
Carlos respondeu-lhe que sim. Comentou que conseguira a gravação com um amigo que viajara aos Estados Unidos e lhe escreveu uma missiva contando a novidade. Interessado, pediu ao amigo, para que trouxesse uma cópia da gravação.
Nisto, tirou o acetato da embalagem e colocou-o no instrumento. Começou a girar a manivela.
E assim, começou a sair um som, com um pouco de ruídos.
Angélica se encantou.
Carlos estendeu-lhe a mão, convidando-a para dançar.
A moça concordou. Colocou suas mãos no ombro do rapaz.
Carlos segurou sua cintura. Dançaram.
Francelino e Ângela contemplaram a cena, visivelmente emocionados.
O homem enxugou uma lágrima do rosto.
Odair e Diva, ao verem o casal emocionados, comentaram:
- Linda cena, realmente!
- Me desculpem a indiscrição, mas eu sempre achei que eles ficariam juntos. A filha de vocês e o nosso Carlos, formam um casal lindo. Ele são a justa medida um do outro. É o que penso. – finalizou Odair.
Francelino respondeu que concordava. Só lamentava que sua filha tivesse demorado tanto tempo para entender isto.
No que Odair atalhou:
- Talvez o que tenha prejudicado esta aproximação, tenha sido justamente o fato de nós termos apresentado o Carlucho a ela. Se Angélica tivesse conhecido nosso filho em outra circunstância, tenho certeza de que ela o teria olhado com outros olhos. – nisto, observou o casal valsando. – Olha só que coisa mais linda! Nunca vi casal tão harmônico.
Diva, comentou então:
- Querido, não exagere! Eles de fato são lindos juntos, mas há outros casais bonitos na festa.
- Tem razão. Desse jeito os anfitriões ficarão ofendidos.
Ângela riu.
Enquanto dançavam, Carlos conversou com Angélica.
Disse-lhe que a festa estava muito bonita, e que ela era a mulher mais bonita do salão.
A moça sorriu.
Em seguida, o moço lhe disse, que aquela pequena surpresa que havia oferecido, era uma pequena mostra do que ela teria, ao optar por viver com ele. Comentou que quando tinha uma idéia na cabeça, não desistia de colocá-la em prática, e só se convencia disto, quando tudo ficava perfeito.
Sorrindo, comentou que esperava que seu casamento nunca ficasse perfeito. Por que somente assim, teria uma desculpa para mudar as coisas.
Ao término da dança, Francelino sugeriu uma valsa, e com isto, músicos começaram a tocar.
Angélica, que já atravessava o salão, foi delicadamente puxada pelo braço. Mais do que depressa, Carlos convidou-a novamente para dançar.
Enquanto os demais casais trocaram de pares, Angélica e Carlos, foram os únicos que dançaram juntos a noite inteira.
O grande momento porém, foi o jantar.
Por isto, antes que as iguarias passassem a serem servidas, Carlos sacou de seu bolso uma delicada caixinha.
Um pouco nervoso, pediu para que os músicos parassem de tocar.
Disse que como era esperado, tinha algo de muito importante a dizer. Nisto, falou que já conhecia Angélica de vista há algum tempo, mas que ela não lhe dera atenção. Contudo, como era muito insistente, resolveu tentar novamente, e que, para sua sorte, desta vez, obtivera êxito.
Foi a deixa para que os convidados começassem a rir.
Continuando, disse que estava muito feliz por finalmente poder se enforcar.
Novos risos.
Por fim, disse que ir para o cadafalso não seria nenhum sacrifício, pois estaria muito bem acompanhado para o evento.
Gargalhadas.
Diva, ao ouvir tais palavras, pediu ao filho para que tivesse compostura. Afinal de contas, onde já se viu, chamar o casamento de cadafalso, dizer que estava indo para a forca. Até por que, não fora ele mesmo quem tomou a iniciativa de pedir a moça em casamento?
Nisto, o moço disse que só estava brincando, e que Angélica não se ofendera com a brincadeira. Comentou que estava apenas tentando amenizar a gravidade da ocasião, já que tanto ele, quanto Angélica estavam bastante nervosos.
Por fim, abriu a caixinha, exibindo um bonito anel de brilhantes, e finalmente perguntou aos pais da moça, se eles consentiam em oferecer a mão da moça para ele.
Francelino respondeu então, que ele tinha o consentimento para desposar sua filha.
Carlos ofereceu a jóia para Angélica, que demorou para estender sua mão.
Ângela precisou dizer a filha:
- Angélica! A mão!
Sem graça, a moça estendeu sua mão, e finalmente Carlos colocou a jóia em seu dedo anelar direito.
Neste momento, os convidados aplaudiram.
Pediram discurso.
Carlos então, disse que estava feliz demais para dizer o que quer fosse, pois tudo o que dissesse não seria suficiente para expressar a alegria que estava sentindo.
Nisto, o moço sentou-se.
Novos aplausos.
Francelino pediu para que os músicos, voltassem a tocar.
Desta feita, o jantar foi regado a vinhos, carnes, fartura, e música.
Depois do jantar, houve danças.
As moças trataram logo de ver o bonito anel de Angélica.
Lúcia e Cláudia, comentaram que invejavam a sorte da amiga, elogiando o noivo e a beleza do anel que havia ganhado de presente.
A noiva agradeceu os elogios.
Lúcia então, tentou se desculpar por haver contado a Ângela sobre Herculano.
Angélica respondeu que não conhecia nenhum Herculano. Visivelmente incomodada, pediu licença.
Lúcia tentou insistir, mas Cláudia aconselhou-a a esquecer o assunto. Dizendo que se Angélica não  queria se lembrar, para que insistir.
Lúcia então, calou-se.
Nisto, Angélica ficou sozinha encostada em uma das colunas da entrada da casa.
Carlos, percebendo que a moça estava distraída, falou bem baixinho, que seria capaz de pagar por seus pensamentos.
Ao ouvir isto, Angélica riu.
Carlos falou então, em tom de brincadeira:
- Então não te peguei de surpresa? Que pena!
Dançaram então pela última vez na noite, sozinhos.
A moça tentou recusar o convite, mas Carlos, dizendo que sentiria ofendido com a recusa, intimou-lhe.
Enquanto isto, os convivas começaram a se despedir.
O moço olhava fixamente para Angélica.
Quando Carlos aproximou-se para beijar a moça, Ângela apareceu chamando pelo casal.
Precisavam se despedir dos convidados.
Desta feita, os noivos cumprimentaram os convidados, que não se cansaram de felicitá-los pelo futuro enlace.
As mulheres comentavam com Angélica, que ela estava se encaminhando para um bom casamento. Diziam que ela era uma moça de sorte.
Ao ouvir tais palavras, Angélica sorria.
Carlos por sua vez, também recebia os cumprimentos dos convivas.
O moço estava deveras feliz. Sentia-se o homem mais sortudo do mundo. Afinal, era uma das poucas pessoas que conhecia que pode escolher, a moça com quem se casaria.
Diva e Odair por sua vez, eram só orgulho.
O casal não se cansava de elogiar a boa escolha do filho.
Diziam que Angélica era uma ótima moça, vinda de uma ótima família.
Com isto, aos poucos, a sala de visitas e a sala de jantar da família Andrade, foi esvaziando.
Os convivas pouco a pouco, saíam do salão.
Francelino e Ângela estavam satisfeitos com o jantar.
Abraçaram a filha.
Angélica também foi abraçada por Diva e Odair, que a parabenizaram pelo noivado. Disseram que estavam muito felizes.
Em seguida, a moça encaminhou-se para a entrada na casa, onde recostou-se numa das colunas. Contemplava o movimento dos carros, a partida dos convidados. Admirava as esculturas do jardim.
Por sua vez, ao perceber a ausência da noiva, Carlos passou a procurá-la pelos cômodos da casa.
Encaminhou-se para o escritório, deparando-se com um ambiente escuro e vazio. Procurou-a na sala de jantar.
Nisto, lembrou-se da entrada da casa, onde encontrou Angélica pensativa, entretida com seus pensamentos.
Aproveitando a ocasião, o moço foi se aproximando lentamente.
Finalmente, aproximou seu rosto do rosto da jovem.
Angélica surpreendeu-se com o gesto.
Neste momento, Carlos segurou seus pulsos. Disse-lhe olhando-a nos olhos, que aquele era um dos momentos mais felizes de sua vida.
Angélica virou-se. Antes, desvencilhou-se delicadamente do moço.
Carlos então, olhou-a intrigado.
Com isto, a jovem perguntou-lhe por que a havia escolhido.
O jovem respondeu que para certos encontros, não havia explicação.
Os olhos de Angélica, encheram-se de lágrimas.
Carlos abraçou-a.
A moça correspondeu ao gesto.
O jovem, percebendo isto, sorriu. Por alguns instantes, sentiu uma profunda paz, e a certeza de que estava no caminho certo.
Francelino e Ângela, acompanhados de Diva e Odair, acompanharam a cena à distância.
Ficaram emocionados.

Luciana Celestino dos Santos
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