Poesias

terça-feira, 30 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XIII

Fátima então, tentando apaziguar os ânimos, respondeu-lhe que poderiam escrever uma carta anônima, mencionando a conduta infiel de Cíntia, e que mais tarde, poderiam mencionar o hotel onde aconteciam os encontros.
Fábio argumentou que Felipe poderia não acreditar nas cartas e mostrá-las a moça.
Fátima retrucou dizendo que este seria um risco que precisariam correr.
Com isto, resolveram arriscar.
E assim, utilizando a caligrafia de uma conhecida, Fátima ditou cartas anônimas ao filho.
Quando Felipe recebeu a primeira carta, estranhou o fato de não ter sido mencionado endereço do remetente, apenas o destinatário.
Curioso, pegou o envelope. Abriu a correspondência no quarto.
Ao ler a missiva, descobriu tratar-se de uma correspondência, colocando em dúvida a honestidade e o caráter de Cíntia.
Fato este que o deixou deveras irritado.
Nervoso, rasgou a carta e jogou-a no lixo.
Resmungando, diziam que eram apenas intrigas, não havendo nada de sério naquelas palavras levianas.
Contudo, conforme os dias passavam, o moço continuava a receber cartas anônimas.
A certa altura, fora colocado na correspondência, o endereço do hotel onde aconteciam os encontros.
Felipe ficou nervoso.
Cíntia, percebendo a mudança de comportamento do moço, passou a lhe perguntar se estava tudo bem na empresa.
No que Felipe, tentando desconversar, dizia que sim.
Com isto, o casal saía para dançar em boates.
Cíntia, acompanhada do moço, chegou até a ser fotografada.
Sua imagem ilustrou uma coluna social.
Com efeito, ao ver sua foto estampada em um jornal, a jovem ficou muito satisfeita.
Envaidecida, recortou a matéria e guardou-a em uma pasta.
Certa vez, ao sair com a moça para jantar, no momento em que dançavam, um dos freqüentadores da casa esbarrou nela e derramou vinho em seu vestido.
Cíntia, ao perceber o descuido, gritou:
- O que você fez com meu vestido, sua desastrada?
Como a mulher se desculpou, Cíntia irritou-se.
Disse que ela não deveria dançar segurando taças de vinhos nas mãos e que queria ser indenizada pelo prejuízo.
Como a mulher se recusasse a efetuar o pagamento do estrago, Cíntia puxou-a pelos cabelos.
Felipe, tentando contornar a situação, tentou dizer que elas não precisavam brigar.
O moço ao perceber que Cíntia esbofeteara a moça, ficou chocado.
Cíntia, ao notar que havia se excedido, tentou contornar a situação, mas Felipe naquele momento, começara a ver como a moça era realmente.
Foi o bastante para se encorajar a se dirigir ao hotel mencionado na epístola apócrifa.
Felipe encaminhou-se para o hotel, relutante.
Custava a acreditar que Cíntia pudesse ser tão leviana.
Em dados momentos, pensou em desistir do intento.
Mas reuniu coragem e se encaminhou para o lugar.
Lá, ficou a aguardar a chegada de Cíntia.
Cerca de meia hora após, eis que a moça surge acompanhada de um rapaz.
Felipe ficou perplexo.
A poucos metros de distância, o casal caminhava de mãos dadas.
Pareciam felizes.
Tentando se controlar, o moço esperou o casal subir.
A seguir, perguntou na recepção, se havia quartos vagos.
Subornando o funcionário, perguntou qual o quarto que o casal que acabara de subir.
O rapaz respondeu:
- Trezentos e seis.
Felipe, oferecendo mais dinheiro, perguntou se havia possibilidade de ficar em um quarto próximo.
Atendido, o moço ficou instalado em dos quartos ao lado.
Tentando expiar o que acontecia no quarto ao lado, encaminhou-se para a janela, de onde viu o casal se abraçando.
Atento a cada ruído, a ansiedade aumentava.
A certa altura, chamou o funcionário que levava comida para o quarto do casal e propondo um acordo, pediu para vestir seu uniforme e ficar em seu lugar.
O sujeito, ressabiado, relutou em concordar, mas ao ver uma gorda soma de dinheiro sendo colocada em cima da bandeja, acabou capitulando.
Felipe argumentou que caso perdesse o emprego, o indicaria para um amigo. Relatou que conhecia alguns comerciantes donos de pequenos hotéis e pensões.
Diante disto, o funcionário vestiu as roupas de Felipe e o moço se fez passar por funcionário do hotel.
Trêmulo, se encaminhou para a porta do quarto onde estava o casal. Apertou a campainha.
Quem o atendeu foi o rapaz, o qual recomendou que depositasse a bandeja em cima da mesa.
Cíntia por sua vez, saiu do banheiro perguntando onde havia colocado seu sapato.
Qual não foi sua surpresa ao se deparar com Felipe vestido de garçom.
A moça estava visivelmente descomposta, ajeitando o vestido, penteando os cabelos, e procurando seu sapato.
Cíntia, ao vê-lo, ficou perplexa.
Gaguejando, perguntou-lhe o que fazia ali.
Felipe furioso, argumentou que era ela, quem devia explicar o que estava fazendo ali.
Cíntia respondeu trêmula que havia sujado seu vestido e que estava tentando arrumá-lo.
Felipe não acreditou na conversa.
Irritado, respondeu que não era idiota e que a vira adentrar o hotel acompanhada do rapaz.
Comentou que já havia visto seus modos grosseiros, e que custou a acreditar que era leviana a este ponto. Furioso, disse que jamais se casaria com uma mulher ordinária e que o compromisso entre os dois, estava desfeito.
Cíntia, ao perceber isto, tentou insinuar um falso arrependimento.
Inicialmente argumentou que fora levada pelas circunstâncias, a se envolver com o rapaz, mas que amava a ele, Felipe. Somente a ele.
Contrariado, o moço respondeu que estava enojado.
Antes de retirar-se do quarto, disse que ela não ousasse procurá-lo, ou ele faria questão de desmoralizá-la publicamente. Argumentou que antes de prejudicá-lo, ela seria a maior prejudicada. Falou que não se importava em ser apontado na rua, se fosse para livrar incautos de uma armadilha.
Com efeito, ao sair, bateu a porta do quarto.
Transtornado, o moço entrou em seu carro, e arrancou a toda a velocidade.
Nervoso, dirigiu por horas, até parar em um parque.
Lá, desceu do carro e ficou caminhando.
Enquanto andava, se recordava do encontro no hotel, da prova da infidelidade de Cíntia, da raiva e da mágoa que estava sentindo.
Triste, em dado momento, sentou-se em um banco e começou a chorar.
Fátima e Fábio, ao notarem a ausência do filho, ficaram cheios de preocupação.
Felipe não tinha o hábito de virar as madrugadas longe de casa.
No tocante a isto, o moço somente retornou ao lar, na tarde do dia seguinte.
Abatido, não contou a ninguém onde havia passado a noite.
Comentou apenas, que descobrira toda a verdade sobre Cíntia, e que não tinha interesse em saber daquela vagabunda por perto.
Deixou o uniforme do hotel jogado em um canto do quarto.
Após sentar-se em um parque, adquiriu novas roupas. Percebeu que havia ficado com o uniforme do funcionário.
Dias depois, o traje foi devolvido ao funcionário.
Quanto a Felipe, o moço passou a se dedicar cada vez mais ao trabalho.
Com isto, passou a ficar mais horas no trabalho.
Mais tarde, procurou conversar com Itamar – primeiro noivo de Cíntia, com Olacir.
Viu fotos da jovem com o amante.
Cauteloso, pediu para guardar as mesmas. Respondeu que em caso de necessidade, poderia fazer uso delas.
Fátima e Fábio, pesarosos com o ocorrido, lamentaram o fato de Cíntia não ser a pessoa certa para ele.
Com o tempo, aparentemente recuperado, o moço, passou a sair com outras garotas, mas não possuía nenhuma namorada.
Tal fato vinha preocupando Fátima, que dizia ao filho que nem todas as mulheres eram levianas com os homens.
Felipe por sua vez, afastou-se da convivência com a família.
Dizia freqüentemente que não tinha hora para voltar.
E assim, o moço seguia vivendo sua vida.
Freqüentava as boates da capital.
Em um desses ambientes, avistou uma moça vestida com um bonito vestido amarelo.
Estava acompanhada de outras jovens e de um grupo de rapazes.
Felipe, acompanhado, ficou admirado com a jovem, mas acreditando que ela já possuía namorado e tendo em vista estar acompanhado, decidiu não se aproximar.
Dias depois, procurando um presente para a mãe, o moço entrou em uma loja de perfumes, onde para sua surpresa, se deparou com a jovem que vira na boate.
Encantado com a moça, ficou conversando com ela.
Perguntou-lhe o que ela sugeriria de presente para uma senhora.
A jovem respondeu que um perfume com aroma marcante, mas sem ser muito forte, poderia combinar com ela.
Nisto, a moça apresentou fragrâncias para o moço apreciar.
Abriu frascos de perfumes expostos, para que pudesse escolher dentre as fragrâncias.
Felipe apresentou-se. Perguntou o nome da atendente simpática.
A jovem respondeu:
- Leila.
- Belo nome! – emendou o rapaz.
Nisto, o moço perguntou-lhe se gostava do trabalho, se gostava de perfumes.
Por fim, agradeceu a sugestão e comprou dois frascos de perfumes diferentes.
Retirou-se.
Leila mais tarde, respondeu que aquele dia estava fazendo boas vendas.
Comentou que até um motorista de madame foi até a loja comprar perfume para uma senhora.
Felipe mais tarde, presenteou sua mãe com dois perfumes diferentes.
Fátima, que fazia anos, adorou os presentes do filho.
Para agradecer a gentileza, ofereceu-lhe uma mouse de sobremesa.
Fábio por sua vez, ofereceu jóias e flores para a esposa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário