Certo dia, ao voltar do trabalho, Cecília ouviu um comentário maldoso de uma vizinha.
A mulher disse-lhe que ela havia se esquecido muito depressa de seu marido. Argumentou até, que já o havia trocado por outro.
Cecília não gostou do comentário.
Tanto que respondeu que não fazia comércio de seus sentimentos.
Nisto, retrucou dizendo que se ela não tinha o que fazer, deveria aprender a se ocupar de sua vida.
A vizinha fuzilou-a com os olhos.
Eli e Francisco, certo dia, brincando no parquinho, ouviram o mesmo comentário de uma criança.
Irritados, os dois avançaram contra a criança.
Não fosse a intervenção de Jurema – a empregada –, e o menino teria apanhado mais.
Quando a mãe do garoto tomou conhecimento da briga, foi tomar satisfações com Cecília.
Vociferando, disse que não aceitaria que os filhos de uma desclassificada, agredissem seu filho.
Cecília furiosa, respondeu que gente de bem não espalha comentários maldosos. Não se ocupa da vida dos outros.
Foi bastante para a mulher ameaçar agredi-la.
Jurema, ao ver a cena, segurou a mulher e a arrastou para fora do apartamento.
Como a vizinha a xingasse, ela tratou de chamar a mulher de barraqueira.
Nervosa, Cecília comentou com Jurema que não poderia continuar morando ali.
A empregada, pediu para acompanhá-la.
Cecília prometeu pensar no assunto.
Com isto, Fabrício voltou a visitar Cecília e seus filhos.
Temerosa, a moça pediu ao rapaz, para que não os visitasse mais.
Fabrício ficou surpreso com o pedido.
Tanto que insistiu para que a moça dissesse o que estava acontecendo.
Pressionada, Cecília respondeu que estava sendo hostilizada pelos vizinhos, e que isto estava causando problemas para os filhos, que a todo o momento se deparavam com comentários maldosos a respeito dela e de Fabrício.
Ao ouvir isto, o moço perguntou o tipo de comentários que eram feitos.
Constrangida, Cecília respondeu que estavam insinuando que estavam juntos.
Fabrício ficou vermelho.
Irritado, ameaçou ir tomar satisfações com os vizinhos, no que foi impedido por Cecília, que comentou que se ele o fizesse, deixaria a nítida impressão de que sua intenção era ocupar o lugar de Pedro.
Fabrício então, percebendo que esta atitude causaria problemas a ela e a seus filhos, procurou se acalmar.
Desculpou-se.
Porém, insistindo em visitá-los, comentou que se as visitas no apartamento vinham causando transtornos, poderiam se encontrar em lugares públicos.
Argumentou que estando ela em companhia dos meninos e de Jurema, não haveria problemas.
Cecília ficou de pensar no assunto.
Fabrício deixou-lhe um número de telefone.
Por fim, o moço abraçou os sobrinhos.
Brincou um pouco com eles.
Mais tarde, se despediu da moça. Voltou para casa.
Nos últimos tempos, Fabrício abandonara a vida boêmia.
Carlos e Angélica perceberam a mudança.
Elogiaram o filho.
Fabrício por sua vez, continuou dedicado ao trabalho.
De vez em quando, combinava um passeio com Cecília, Eli, Francisco e Jurema.
Iam ao cinema, passeavam em parques, caminhavam pelo centro de São Paulo.
Certo dia, foram vistos por conhecidos de Angélica e Carlos, que relataram o que viram para o casal.
Angélica e Carlos, chamaram a atenção do filho.
Nervoso, Carlos disse-lhe que ele não poderia agir daquela maneira, pois estava envergonhando a família.
Fabrício, achando graça na repreensão, argumentou que eles eram cômicos, pois se Pedro fizera tudo o que fizera e não fora repreendido da forma como deveria, por que ele deveria ser recriminado? Afinal de contas, em seu entender, não estava fazendo nada de errado.
Carlos respondeu-lhe então, que ele estava proibido de continuar visitando Cecília e seus filhos.
Fabrício por sua vez, respondeu que não iria atender a proibição. Falou que não era mais criança, e que era responsável por seus atos.
Argumentou que se Carlos tentasse impedi-lo de ver a moça, sairia de casa. Procuraria outro lugar para morar.
Nisto, virou as costas para pai.
Angélica ao ver o homem enervado, tentou acalmá-lo.
Disse-lhe que Fabrício retornaria a razão.
Contudo, em que pese este fato, Angélica sabia do interesse do filho pela moça.
Preocupada, imaginava que uma aproximação entre os dois, seria apenas uma questão de tempo.
Há tempos Angélica insistia para que o filho encontrasse uma boa moça e se casasse.
Fabrício porém, toda vez que ouvia a recomendação da mãe, desconversava dizendo que a tal moça ainda não havia aparecido. Insistia em dizer que não iria se casar apenas para agradar a família.
E assim, dava um beijo no rosto da mãe e se afastava.
Nisto, quando Angélica soube da briga dos irmãos, ficou ainda mais apreensiva.
Fabrício por sua vez, disse-lhe que não tinha com o que se preocupar. Argumentou que tinha apenas consideração pela moça.
Com isto, sempre que podia, Fabrício ia se encontrar com a moça.
Em dado momento, conforme já mencionado, a moça mudou de apartamento.
Isto por que estava cansada de tantas ofensas e perseguições.
Com efeito, sempre aparecia alguém para apontar-lhe o dedo e fazer insinuações sobre sua honestidade.
Certo dia, depois de ser novamente humilhada por uma vizinha, Cecília chorou no ombro de Fabrício, que a todo o custo tentou consolá-la.
Dizia para a jovem que não se importasse com as palavras maldosas.
Fabrício contava que uma coisa muito boa estava reservada para ela.
Cecília porém, não estava disposta a esperar por um milagre.
Conforme já mencionado, a mulher conversou com os filhos e partiu.
Não se despediu do amigo.
Com efeito, Jurema partiu logo depois. Ficou de resolver a questão do aluguel do imóvel.
Para tanto, Cecília passou-lhe uma procuração.
Quando Fabrício foi visitá-la, para sua surpresa, foi informado pelo porteiro do prédio, que Cecília não morava mais lá.
Ao ouvir as palavras, o homem ficou perplexo.
Como Cecília se mudara e não o comunicara?
Ficou decepcionado.
Porém, ao saber que seu pai foi conversar com a moça, e ameaçando-a, intimou-a a deixar o emprego, ou correria o risco de perder a guarda dos filhos, Fabrício ficou revoltado.
Como ele tivera coragem de fazer esta ameaça? Não bastavam todas as dificuldades pelas quais a moça estava passando?
Fabrício enumerou algumas situações em que a moça passou constrangimento unicamente por que decidiu tomar conta da própria vida e não depender de marido ou de sogro. Disse que a moça não estava cometendo nenhum crime, mas era como se fosse a pior das renegadas.
Carlos, ao ouvir o comentário, respondeu que ele estava assistindo muito filme de faroeste.
Fabrício respondeu que não estava brincando, e que Cecília merecia consideração.
Angélica como sempre, tentou acalmar os ânimos.
Dizia que eles eram pai e filho, e que não deviam se desentender nunca.
Mas não adiantou.
Fabrício estava aborrecido demais com seu pai.
Com isto, arrumou suas coisas e saiu de casa.
Carlos, ao perceber a resolução do filho, disse-lhe que não poderia mais continuar trabalhando na empresa.
Fabrício respondeu que já esperava por aquilo, e passaria no dia seguinte, no Departamento Pessoal, para acertar suas contas.
Angélica, ao ver o filho saindo de casa, insistiu para que ele pensasse melhor. Implorou para que ele não agisse de cabeça quente.
Fabrício contudo, disse que não poderia voltar atrás.
Assim, pegou suas malas, colocou-as dentro de seu carro, e partiu.
Voltando a partida de Cecília...
Antes de partir, a moça lembrou-se da visita inesperada do sogro, e da ameaça do mesmo tirar a guarda de seus filhos.
Nervosa, a moça, que já vinha conversando com os filhos sobre a possibilidade de se mudarem, retomou as conversas.
Isto por que, após as ameaças, precisava tomar uma providência.
Eli, mais velho, concordou com a idéia da mãe.
Cecília dizia-lhe que sob hipótese nenhuma, poderia contar a seus futuros coleguinhas, que ela havia deixado o marido para viver em outra cidade, ou os problemas que vinham enfrentando, continuaria os acompanhando.
Eli, concordou.
Decepcionado com o abandono de Pedro, considerava-o culpado por tudo o que estava vivendo.
Francisco, por sua vez, demorou para entender as razões da mãe. Mas ciente das dificuldades de continuarem em São Paulo, aceitou a idéia da mãe.
Cecília, desalentada, comentou certa vez com Jurema, que lamentava o fato dos filhos ainda tão pequenos, terem que enfrentar as agruras da vida.
Lamentando-se, comentou que se pudesse prever o futuro, jamais teria se casado com Pedro.
Teria escolhido um marido melhor. Alguém que não a abandonasse na primeira dificuldade que se apresentasse diante dele.
Jurema por sua vez, tentando consolá-la, comentou que se Pedro havia aparecido em seu caminho, era para que ela aprendesse a valorizar as coisas boas da vida. Insistia em dizer que aquilo era um ensino, e que fatalmente as dificuldades pelas quais vinha passando, dariam espaço a uma nova oportunidade.
Cecília achou a conversa da mulher, um tanto quanto estranha.
Jurema rindo, disse que sua mãe, sempre lhe dizia que quando todos os caminhos pareciam fechados, acabava encontrando uma nova via, um novo caminho. Mesmo que por estradas tortuosas, sempre encontrava um caminho para seguir, e que muitas vezes encontrou portas fechadas, caras amarradas. Caminhou por lugares lúgubres, por muito tempo, mas um dia chegou em uma estrada iluminada, que lhe afigurou um novo e bonito caminho para percorrer.
Jurema emocionada, disse que este caminho era repleto de flores, e que sua mãe, sorrindo para ela, disse que não havia espinhos.
Sorrindo, comentou que sua mãe lhe dizia que por mais difícil que as coisas fossem, por mais que parecesse que não havia saída, que quando todas as portas pareciam fechadas, sempre haveria uma fresta, um espaço, ainda que pequeno para se atravessar para um bom lugar. Só bastava que nós enxergássemos.
Segurando as mãos de Cecília, disse-lhe que sua mãe era uma pessoa de muita espiritualidade. Simples, mas de uma visão impar. Comentou que ela tivera uma existência difícil, mas mesmo nas maiores dificuldades, não abandonava o sorriso do rosto.
Enigmática, disse que Cecília atravessaria ainda, muitas dificuldades, mas teria um lindo caminho pela frente. Desde que não tivesse medo de enfrentar os obstáculos.
Sorridente, dizia que tudo fazia parte de sua trajetória de vida, e que não havia como fugir de certas circunstâncias.
Em seguida, desejou força a amiga, e prometeu que assim que se desembaraçasse de suas incumbências, iria ao seu encontro.
Cecília, aturdida com as palavras, ficou dias pensando nelas.
Antes de viajar, ao arrumar as malas e seus pertences; e durante a viagem que fez com os filhos.
Fabrício por sua vez, encerrou seu contrato de trabalho na empresa do pai.
Exigiu o pagamento de todas as verbas trabalhistas a que fazia jus.
Ameaçou exigi-las judicialmente se não fossem corretamente pagas.
Carlos contrariado, pagou os valores.
Angélica, ao tomar conhecimento de que o marido tencionara dificultar o recebimento das verbas rescisórias de Fabrício, censurou o marido.
Argumentou que não conserta algo que começou errado, perpetuando os erros.
Carlos então, retrucou dizendo, que Fabrício fora pago, e que não houve necessidade de nenhuma ação.
Fabrício por sua vez, tentou por todos os meios possíveis descobrir o paradeiro da moça.
Nisto, quando Carlos descobriu que Cecília saíra de São Paulo na companhia de seus netos, ficou furioso.
Ameaçou contratar um detetive para descobrir o paradeiro da moça.
Angélica tentou demover o marido da idéia, sem êxito.
Nisto, quando Fabrício soube da novidade, argumentou que dias após a partida da moça conversou com Jurema, a qual continuou no apartamento em que Cecília morou. Disse que assim que a viu saindo do prédio, perguntou-lhe para onde Cecília havia ido.
Jurema por sua vez, respondeu que não sabia do paradeiro da ex-patroa, e que só continuava no apartamento por que ainda não tivera como sair do lugar. Contou que estava procurando emprego, e que assim que arrumasse alguma coisa para fazer, iria se mudar novamente.
Aparentemente irritada, recomendou que ele e Carlos não incomodassem mais a família. Falou que não entendia o interesse da família Camargo em perseguir Cecília.
Argumentou que a moça não havia lhe informado para onde iria.
Ressaltou que nem o porteiro do prédio sabia de seu novo paradeiro.
Fabrício então, tentando utilizar um último recurso para auxiliar a moça, disse que após muito insistir, Jurema havia deixado escapar, que Cecília poderia ter ido para o Norte.
Carlos ficou surpreso.
Fabrício por sua vez, comentou que Cecília lhe dissera que era uma região com muito ainda a ser feito, e que possuía alguns parentes por lá.
Carlos não pareceu muito convencido.
Fabrício insistiu nisto.
Tanto que chegou a sugerir ao pai, que perguntasse aos pais da moça se aquilo não era verdade.
Angélica ao perceber a estratégia do filho, cumprimentou-o.
Argumentou que não era certo alguém querer tirar os filhos de uma mãe. Disse-lhe que se precisasse de ajuda, poderia contar com seu auxílio.
Fabrício segurou as mãos da mãe e beijou-as como que agradecendo.
Nisto, o moço se despediu da mulher, e desejou um até logo para Carlos.
Aflito, Fabrício tratou logo de avisar Eleanor e Irineu do que estava acontecendo.
Pediu-lhes insistentemente para que confirmasse a história do Norte, mas que não entrassem em detalhes sobre qual seria a localização dos parentes. Orientou-os a dizer que eram parentes distantes, e que não estavam dispostos a perturbá-los por conta de uma cisma à toa.
Por telefone, o moço comentou que Carlos ameaçara tirar a guarda dos filhos de Cecília, e que por esta razão, ela saíra de São Paulo.
Irineu ficou perplexo com a novidade.
O casal já acompanhava a tempos as mudanças na vida de Cecília.
Irineu prometeu confirmar a história.
Com efeito, por diversas vezes, Irineu e Eleanor, foram importunados por Carlos perguntando-lhes para onde a moça havia se mudado.
Irineu então recordou-se de que Fabrício também o procurara fazendo a mesma pergunta.
Ao perceber a aproximação da filha e do moço, tanto ele quanto Eleanor recomendaram a Cecília, para que se afastasse do moço.
Irineu chegou até a pressionar a filha a voltar para Pedro quando soube que o moço havia abandonado o lar.
Dizia-lhe que não ficava bem uma mulher abandonada pelo marido.
Nervoso, chegou a sugerir que a revolta de Pedro poderia bem ter se originado por uma falta de cuidado da parte dela. Chegou a dizer-lhe que sua preocupação em arrumar trabalho, havia feito com que negligenciasse o casamento.
Eleanor por sua vez, ao ouvir tais palavras, censurou o marido.
Comentou que Cecília não tivera culpa do que sucedera e que cedo ou tarde, ela e Pedro se entenderiam.
Todavia, o tempo passou, e o entendimento não chegou.
Fato este que contribuiu enormemente para a exasperação de Irineu.
Por conta disto, Irineu passou a evitar visitar a filha.
Eleanor tentou protestar, mas vivia sob a dependência do marido, e não pode se opor as suas ordens.
Com isto, passou a ver a filha, escondida do marido.
Eleanor aproveitava as ausências de Irineu para visitar a filha.
Com efeito, Irineu vivia lembrando-lhe que Márcia iria se casar, e que para isto, precisava zelar pela reputação da família.
Disse que Cecília estava excluída da família, e que para isto não havia remédio.
Ao ouvir tais palavras, Eleanor caiu em prantos.
Por diversas vezes, tentou convencer o marido de que estava sendo muito duro com a filha, mas o homem estava irredutível.
Agora porém, era diferente.
Fabrício dissera-lhe que Carlos tinha intenção de contratar um detetive para investigar o paradeiro de Cecília.
Com efeito, ao perceber a resistência do homem em acobertar a mentira, disse-lhe que era apenas uma estratégia para fazer com que Carlos tivesse mais dificuldade para encontrá-la.
Argumentou que nesse meio tempo poderia finalmente localizá-la e auxiliá-la a ficar em um lugar longe do alcance de Carlos.
Como Irineu insistisse em saber o porquê de tanto interesse, Fabrício respondeu que se importava com a sorte de Cecília e de seus sobrinhos. Comentou que não concordava com as atitudes de Carlos, e que não morava mais sob o mesmo teto que o pai.
Irineu por sua vez, um tanto aturdido com a novidade, contou os fatos a esposa.
Eleanor acabou convencendo-o a confirmar a mentira.
E assim, quando Carlos foi visitá-los, o casal confirmou a história, assim como Marta.
Mais tarde, após o telefonema de Fabrício, Eleanor ligou para Eduardo e contando-lhe o ocorrido, pediu para que confirmasse a história.
O moço concordou.
Eduardo, que a esta altura, já era pai de uma criança, comentou que seu sentimento nem chegava aos pés do que seria afeto de mãe, mas já sabia o quanto poderia ser doloroso separar um filho de uma mãe.
O rapaz prometeu que Roseli também confirmaria a história.
Com efeito Eduardo, ao contrário do pai, procurou confortar a irmã, ao saber do sucedido com Pedro.
Nervoso, assim que teve uma oportunidade, foi ter uma conversa com o moço.
Ocasião em que lhe disse tudo o que trazia atravessado em sua garganta.
Segurando o moço pelo colarinho da camisa que usava, disse-lhe que desde que o vira, percebeu que se tratava de um desclassificado, um sujeito ordinário, mas que a pedido de Cecília, não lhe deu um pontapé nos fundilhos, e o pôs para correr.
Pedro, ao ouvir os desaforos, tentou retrucar, no que Eduardo continuou dizendo:
- Pedro, você é um verme! Um covarde! Um rebotalho do mundo. Um resumo de tudo o que o mundo tem de mais execrável... Bêbado, mulherengo, vagabundo, vulgar. Mas o pior de tudo, não é o senhor possuir todas estas qualidades. – começou a concluir o rapaz, com ironia – O mais triste de tudo isto, é que você usou uma pessoa doce, uma garota amorosa, adorável, romântica, sonhadora... Uma virgem inocente para imolar em sacrifício de sua falsidade, de sua hipocrisia. Você usou a minha irmã para fingir ter uma coisa que não tens, que não possuís, que não és... E é por isto, que eu não te perdoou. Você é um canalha!
Nisto, Eduardo cuspiu no rosto de Pedro e empurrou-o no chão.
Roseli que o acompanhava no restaurante, ao presenciar a cena, encheu-se de aflição.
Pedro por sua vez, acompanhado de duas mulheres, humilhado, prometeu se vingar.
Vociferando Eduardo disse para não o ameaçasse, ou teria que cumprir a promessa.
Pedro então, foi auxiliado pelas mulheres a se levantar.
Pegando sua carteira, despejou um maço de notas sobre a mesa e saiu do restaurante.
Eduardo, ao retornar a sua mesa, disse a esposa, que aquele restaurante era muito mal freqüentado, e que por esta razão, não deveriam mais voltar ao local.
Com efeito, quando Eduardo soube que Fabrício também lhe dissera poucas e boas, ficou admirado com o amigo.
Tanto que assim que eles se encontraram, Eduardo o parabenizou pelo ato.
Disse-lhe que Cecília havia se casado muito mal, mas que se tivesse se casado com ele, seria muito feliz.
Com isto, conforme já mencionado, mais tarde, foi sua vez de acertar as contas com o moço.
Nisto, Irineu e Eleanor ficaram aborrecidos com ele, mas Eduardo retrucou dizendo que a conduta de Pedro era inaceitável. Não pelo fato de agora viver uma vida boêmia, mas por ter iludido Cecília a acreditar que ele era um homem de bem, coisa que nunca fora.
Nervoso, argumentou que Angélica e Carlos também não haviam sido honestos, pois esconderam isto deles.
Irineu ao ouvir isto, falou que se soubesse que Pedro era um traste, jamais teria concordado com o casamento.
Aborrecido, perguntou ao filho onde o traste de seu genro estava, pois precisava falar-lhe.
Preocupado, Eduardo tentou sonegar a informação, mas Irineu insistiu.
Disse o homem, que não iria agredir Pedro, muito embora o mesmo merecesse.
Com isto, o filho explicou ao pai, onde encontrara o moço.
Irineu dias depois, foi ao seu encontro.
Comentou com Eleanor, que deveria esperar algum tempo, pois o sujeito certamente evitaria o restaurante após o incidente com Eduardo.
Desta forma, esperou algumas semanas para ir procurá-lo no restaurante.
Caminhando pelos arredores, notou Pedro saindo de um escritório.
Depois de cerca de duas horas andando pelos arredores do restaurante, o homem percebeu que o genro fora abordado por dois rapazes.
De longe podia perceber que conversavam animadamente.
Nisto, após uns vinte minutos, o moço dirigiu-se para o restaurante.
Um funcionário veio lhe atender.
Irineu esperou um pouco e adentrou o restaurante.
Preciso, o homem esperou Pedro fazer seu pedido e começar a comer. Não queria que o moço fugisse. Precisava surpreendê-lo.
E assim o fez.
Calmamente, aproximou-se da mesa onde Pedro almoçava sozinho desta vez.
Perguntou-lhe como estava.
Pedro surpreendeu-se com a aproximação.
Perplexo, ficou segurando o garfo com comida, sem saber o que fazer.
Irineu perguntou-lhe se sabia como estavam os filhos.
Pedro continuou mudo.
Irineu disse-lhe então, que Cecília e seus filhos não estavam mais em São Paulo. Censurou o genro por não saber a localização de sua filha. Disse-lhe que estava no Norte, com alguns parentes.
Pedro perguntou-lhe, o que ele queria.
Irineu respondeu-lhe que queria muita coisa. Hombridade, dignidade, caráter.
Contudo, não poderia exigir estas qualidades de qualquer pessoa. Comentou que cada um só poderia oferecer aquilo que trazia dentro de si, e que só as melhores pessoas poderiam oferecer flores.
Irritado, respondeu que alguns canalhas só poderiam oferecer merda.
Pedro ficou chocado.
Irineu por sua vez, prosseguiu. Comentou que havia conhecido pessoas boas em sua vida, pessoas mesquinhas. Algumas até mesmo más. Contudo, nunca havia conhecido alguém tão egoísta quanto Pedro. Disse que em sua vida se deparou com pessoas capazes de tudo para alcançar uma posição de prestígio, mas que nunca vira alguém tão disposto a pisar na própria família para chegar a algum lugar.
Disse que Pedro além de irresponsável e leviano, era burro, pois dispersava a maior riqueza que havia adquirido em sua vida medíocre, por algo que nem sabia direito o que era.
Pedro tentou retrucar, no que Irineu mandou-o calar a boca.
O moço teve que se calar.
E Irineu continuou.
Disse-lhe que hoje ele poderia estar se divertindo muito, levando uma vida leve, despreocupada. Argumentou porém, que não acreditava em felicidades de cinema, aparentemente duradouras, mas frágeis. Comentou que um dia a vida lhe cobraria o que fizera com a esposa e os filhos. Um dia o remorso se apoderaria dele, mas aí seria tarde, por que talvez Cecília e seus filhos não estivessem dispostos a perdoá-lo, e ele teria que suportar sozinho todo o peso da amargura que causara aos seus.
Sorrindo, Irineu respondeu-lhe que o castigo viria a cavalo.
Dito isto, afastou-se.
Irônico, desejou um bom almoço a Pedro.
O jovem, furioso que estava, perdeu a fome. Pediu a conta e pagou o almoço, deixando a refeição pela metade.
Quando Irineu contou a esposa como fora o dialogo com Pedro, a mulher riu bastante.
Admirada, comentou que ele havia agido corretamente, posto que se tivesse agredido o rapaz, perderia a razão.
Irineu irônico, comentou que não tinha o direito de chutar um cachorro já abatido. Disse que Pedro já apanhara do cunhado e do próprio irmão.
Argumentou que nem Carlos concordara com o que ele fizera. Disse que Pedro teria que suportar o pior dos castigos, a solidão.
Eleanor concordou. Comentou que sentia um pouco de pena do moço, pois quando ele caísse em si, provavelmente seria tarde demais, e o remorso o corroeria por dentro.
Irineu respondeu que não sentia nem um pouco de pena.
Eduardo e Roseli, ao saberem da conversa de Irineu com Pedro, parabenizaram-no.
Irineu corrigiu-os dizendo que a conversa estava mais para um monologo que para diálogo. Completou dizendo que falara tudo o que estava preso em sua garganta.
Eduardo, por sua vez, visitou a irmã algumas vezes.
Antes da moça mudar de endereço, visitou-a.
Ao contrário do pai, apoiou a decisão da moça de trabalhar para sustentar a casa.
Eduardo aconselhou-a a não desistir de trabalhar, mesmo que para isto, tivesse que enfrentar hostilidade. Argumentou que se Pedro era um traste, e ela teria que mostrar que era o oposto dele.
Cecília chorou.
Roseli por sua vez, em conversas com Cecília, comentou que Eduardo era uma pessoa rara.
Isto por que, poucas pessoas naquele tempo pensavam daquela forma. Ainda mais os homens.
Eduardo, ao tomar conhecimento das ameaças de Carlos, criticou a posição do homem em querer tomar os filhos dela. Por esta razão, aconselhou-a a mudar-se para uma outra cidade, desaparecer por algum tempo.
Cecília comentou que temia que o sogro conseguisse tirar os garotos de sua presença.
Eduardo disse que ela deveria ter cuidado com Carlos. Insistiu na idéia de que ela deveria sair de São Paulo. Comentou que poderia ajudá-la a encontrar uma outra cidade para viver.
Jurema concordou com o conselho. Dizia a Cecília que ela deveria mudar de ares.
Eduardo também criticou a posição do pai em não mais visitá-la, apenas mantendo contato por telefone. Dizia que ele estava errado.
Mas ainda assim, aconselhou Cecília a relevar.
Argumentou que dificilmente um pai e uma mãe aceitariam uma separação, tendo em vista o estigma social que isto acarretava.
Eduardo, em conversas com o pai, criticou sua atitude, e disse que Cecília se ressentia disto. Argumentando que a irmã precisava de apoio e não do desprezo da família, acabou por discutir com o pai.
Razão pela qual se afastou um pouco da casa da mãe.
Eleanor aborrecida, comentou que com sua atitude, Irineu iria afastar todos os filhos.
Porém, com o tempo, e a necessidade de proteger Cecília, a família voltou a se aproximar.
Quando Cecília se ausentou definitivamente, Irineu ficou exasperado.
Começou a sentir saudade da filha e dos netos.
Aborrecido, chegou a comentar com a família por que ela não se despedira, antes de partir.
Eleanor ficava penalizada quando Irineu se relembrava das tardes passadas com os netos, as brincadeiras, as conversas.
Relembrava o casamento de Cecília, a separação, o desentendimento. As palavras duras que dirigira a ela.
Certo dia, chorando, perguntou se um dia Cecília iria perdoá-lo pelo que dissera.
Eleanor ao ver a cena, procurou ver o que estava acontecendo.
Irineu por sua vez, tentando disfarçar a emoção, disse que um cisco caíra em seu olho, e que por esta razão, estava lacrimando.
Eleanor fingiu acreditar.
Dias mais tarde, lembrou-se de haver criticado Cecília pelo telefone, sobre o término do casamento. Censurou-a por estar se encontrando com Fabrício.
Eduardo, por sua vez, ao saber da boa convivência que Cecília tinha com Fabrício, chegou a dizer ao pai que seria melhor que ela tivesse se casado com ele do que com Pedro.
Foi o bastante para deixar Irineu irritado.
Eduardo, ao tomar conhecimento das visitas de Fabrício a sua irmã, chegou a dizer-lhe que era com ele que Cecília deveria ter se casado.
Fabrício ao ouvir isto, ficou sem jeito.
Eduardo por sua vez, comentou que Fabrício era muito atencioso com Cecília.
No que o moço respondeu que Cecília era uma boa moça, e que adorava os sobrinhos.
Eduardo contudo, não ficou convencido.
Recordou-se de alguns eventos ocorridos quando Cecília ainda era noiva de Pedro.
Brincando, disse a esposa, que Fabrício poderia estar interessado em Cecília desde quando esta era noiva de Pedro.
Roseli por sua vez, recomendou ao marido, que não dissesse bobagens.
Samuel, o filho do casal, sorria para os dois.
Com Cecília, o tom da conversa, foi recomendando o namoro dos dois.
A moça ao ouvir isto, ficou chocada.
Chegou a comentar que não esperava um comentário daqueles vindo de seu irmão.
Argumentou que muitas pessoas levianamente faziam este tipo de comentário.
Eduardo, tentando se justificar, dizia que não estava querendo ser leviano. Apenas estava tentando fazer com que enxergasse uma nova possibilidade.
Nervosa Cecília insistiu para que não proferisse mais aquelas palavras.
Com efeito, Fabrício, trabalhava em outro local.
Ao sair do trabalho, tentava encontrar pistas do paradeiro da moça.
Certo dia, ao sair do emprego, encontrou Jurema se encaminhando para pegar o bonde.
O jovem, ao ver a mulher, passou a segui-la.
Fabrício entrou no ônibus, e acompanhou-a até uma rua num bairro distante.
Ao descer do ônibus, chamou-a pelo nome.
Jurema, ao virar de costas, percebeu que se tratava de Fabrício.
O homem então, perguntou-lhe novamente se ela de fato não sabia onde Cecília estava.
Jurema tentando se certificar de que Fabrício era de confiança, perguntou qual era seu interesse nisto, e se estava ali, a pedido de Carlos.
Fabrício respondeu que há semanas não conversava com seu pai, e que não morava e tampouco trabalhava mais com Carlos. Comentou então que desde que soubera que o pai ameaçou tirar as crianças de Cecília, rompeu com a família, somente mantendo contato com Angélica.
Jurema disse-lhe então, que não tinha idéia de para onde Cecília fora, mas que se ele era uma pessoa confiável, a resposta chegaria. Prometeu que assim que tivesse uma novidade, contaria para ele.
Fabrício ao ouvir isto, agradeceu e se afastou.
Dias depois, Jurema partiu.
Foi ao encontro de Cecília e dos meninos Eli e Francisco.
Cecília a esta altura, já havia encontrado trabalho como secretária em um escritório de contabilidade.
Para justificar o fato de ter filhos pequenos, dissera que era viúva, posto que o marido estava ausente há mais de três anos. Relatou que o homem havia viajado para o exterior e não mais voltara.
Paranhos, o dono do escritório, perguntou se ela havia tomado as providências cabíveis, no tocante a declaração de ausência do marido.
Cecília respondeu que ainda não.
Paranhos aconselhou-a a regularizar sua situação, posto que juridicamente ainda estava casada.
Solícito, o homem orientou-a a procurar um advogado o quanto antes.
Cecília, um pouco tensa, respondeu que tomaria esta providência assim que fosse possível.
Disse que estava tentando esquecer suas tristezas, e que por isto estava tentando refazer sua vida em outro lugar.
O homem compreendeu.
Cecília começou então, a trabalhar.
Anotava recados, agendava horários, organizava arquivos e pagamentos.
Os meninos freqüentavam uma escola pública da cidade.
Voltavam sozinhos para casa.
Quando Jurema finalmente se desincumbiu de suas tarefas em São Paulo, foi até a outra cidade.
Com isto, ao chegar a casa de Cecília, se deparou com Eli e Francisco, brincando no quintal.
Os meninos, ao verem a mulher, trataram logo de abrir o portão.
Jurema perguntou-lhe se estavam sozinhos.
Eli respondeu que a mãe estava trabalhando em um escritório da cidade e que só voltaria no final da tarde.
Jurema, ao abraçá-los, comentou que não estava ali de visita. Comentou que estava disposta a ajudar a cuidar deles.
Nisto os três adentraram a residência.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário