Felipe ao tomar conhecimento disto, comentou que Leila devia estar bastante aborrecida com a imposição.
Osvaldo comentou então que poderiam conversar a sós.
Porém, mesmo à distância, ficaria de olho neles.
O moço agradeceu o voto de confiança.
Com isto, aproximou-se da moça, que não fez questão de cumprimentá-lo.
Felipe aproximou-se dela, e segurou suas mãos. Pediu-lhe para que olhasse para ele.
Leila não fazia questão de atendê-lo.
Permaneceu indiferente olhando para os móveis, a parede da sala. Menos para ele.
Impaciente, Felipe segurou seu rosto.
Leila assustou-se com o gesto brusco.
Nervoso, Felipe comentou que ela estava sendo caprichosa e que não tinha o direito de maltratá-lo daquela maneira.
Leila irritada, exigiu que ela a soltasse.
Felipe porém não a atendeu.
Disse que somente a soltaria quando ela lhe dissesse com todas as letras, que não gostava dele, e que ele poderia sumir de sua vida, pois não se importava.
Leila relutou em repetir aquelas palavras. Argumentou que ele estava pedindo para ser humilhado.
Felipe no entanto, insistiu.
Irene ao ver a cena, tencionou intervir, mas Osvaldo aconselhou-a a não ir até a sala.
Comentou sorridente que algo lhe dizia que eles acabariam por se entender.
Irene comentou que Felipe estava sendo bruto com sua filha.
Osvaldo retrucou que bruto não, apenas enérgico.
Leila então, mirando-o, ao notar que Felipe não desistiria, disse-lhe que não interessada em casamento, ainda mais com ele, depois de tudo o que ele fizera. Comentou que se ele mentira para ela uma vez, quem garante que tal fato não ocorreria outras vezes?
Felipe olhando-a nos olhos, prometeu que não.
Disse-lhe que estava arrependido, e que estava interessado em construir o relacionamento deles em bases sólidas.
Nisto, percebendo a mágoa da moça, Felipe relatou que contou aos pais sobre seu interesse em casar-se e que eles estavam interessados em conhecê-la.
Leila desviou os olhos dele.
Nisto, soltando a moça, Felipe argumentou que ela não respondera suas perguntas.
Leila respondeu que não sabia o que dizer.
Felipe então segurou novamente seu rosto.
Disse que só desistiria dela se tivesse certeza absoluta de que ela não tinha interesse em casar-se com ele. Com isto, insistiu para que ela dissesse que não gostava dele.
Leila afastando suas mãos, disse para que a deixasse em paz.
Nervoso, Felipe aproximou-se dela e falou-lhe que se ela não gostava dele poderia dizer-lhe.
Argumentou que agüentaria sofrer mais uma decepção. Relatou que não seria a primeira vez que passaria por aquilo. Falou apenas, que seria a primeira vez que ouviria um não de alguém de quem tinha muita estima, muito afeto.
Ao ouvir isto, Leila perguntou-lhe por que estava insistindo tanto nisto. Mencionou que com o dinheiro que possuía, poderia ter qualquer mulher que quisesse.
Felipe respondeu-lhe que qualquer mulher, poderia ser realmente isto, uma mulher qualquer. Até mesmo uma interesseira, uma golpista, alguém somente interessada em seu dinheiro.
Leila indagou se fora por isto que ele omitira que era rico.
Nervoso, Felipe respondeu que estava cansado de explicar que tudo fora resultado de uma série de mal entendidos, e que nunca tivera a intenção de enganá-la. Argumentou que nunca lhe passou pela cabeça que ela era uma interesseira.
Sorrindo, o moço comentou que gostou dela desde o início.
Teimoso, Felipe comentou que se ela relutava tanto em dizer-lhe o que estava pedindo era por que não o desgostava, e assim sendo, não havia motivo para não se casar com ele.
Leila, ao ouvir isto, enervou-se.
Argumentou que ele não estava em condições de realizar pré-julgamentos.
Nervosa, gritou que não gostava dele.
Tal fato chocou Felipe, que magoado, pediu para que ela continuasse.
Nisto, Leila respondeu com os olhos cheios de água e quase gaguejando, que não queria se casar com ele, que ele não significava nada para ela.
Em seguida, começou a chorar.
Felipe ao perceber isto, abraçou-a.
Começou a chorar também.
Nervoso, começou a pedir-lhe desculpas. Disse que nunca lhe esconderia nada.
Comentou que se ela queria fazer a tão sonhada faculdade, poderia fazê-la, não se oporia.
Irene, ao presenciar a cena, sorriu cúmplice para o marido.
Curiosa, perguntou-lhe como sabia que eles se entenderiam.
Osvaldo respondeu que não sabia. Apenas tinha uma forte crença de que tudo daria certo.
Dias mais tarde, a família da moça foi convidada para conhecer a casa do moço.
Irene, Osvaldo e Leila usaram suas melhores roupas.
Encantaram-se com a imponência do palacete da família Oliveira.
Ao entrarem na casa, foram recepcionados pelo mordomo, que os convidou para adentrarem a casa e se instalarem na grande sala.
Solícito, o homem perguntou se gostariam de beber algo.
Osvaldo agradeceu, mas respondeu que não.
Perguntou onde estavam os donos da casa.
O mordomo respondeu que logo eles desceriam para conversar com eles.
Com efeito, primeiro apareceu Fábio que cumprimentou a todos.
O homem encantou-se com a beleza da noiva do filho.
Disse a moça que compreendia por que Felipe havia se encantado tanto com ela.
Leila agradeceu o elogio.
A seguir, eis que surge Fátima, que também elogiou a moça, e o bom gosto em se vestir. Recomendou que todos se sentisse à vontade, pois estavam em casa.
Com isto, Fátima ofereceu um licor aos convidados.
Uma criada serviu a todos.
Por último, Felipe se apresentou aos convidados.
Pedindo licença a todos, pediu para sentar-se ao lado de Leila.
Osvaldo e Irene, concordaram.
Brincando, Fábio comentou que ele precisava formalizar o pedido, já que pedira Leila em casamento, de uma forma pouco usual.
Felipe então, segurando a mão direita da moça, sorriu ao perceber que ela sustentava o solitário com o qual a havia presenteado durante o jantar no Rio de Janeiro.
Mais tarde, Felipe reiterou o pedido de casamento aos pais da moça, os quais concordaram com a proposta.
Leila por sua vez, e pela primeira vez, respondeu que sim. Aceitava casar-se com ele.
O aceite foi aplaudido por todos.
Para o jantar, Fátima mandou preparar uma refeição simples.
Irene, ao perceber a simplicidade da ceia, agradeceu a atenção da anfitriã. Disse que de fato, não sabia utilizar aquela enorme quantidade de talheres.
Sorrindo Fátima respondeu que aprender era uma questão de tempo.
Simpática, comentou que não nascera rica, e que ao receber a herança do filho, precisou aprender. Relatou que para isto, foi assessorada por parentes e profissionais.
Irene ficou perplexa. Tanto que perguntou:
- Você já foi pobre como nós?
- Nós já fomos pobres, sim. Hoje temos dinheiro em virtude de uma herança de Felipe. Mas o dinheiro já foi contado em nossas vidas. Já tivemos nossas dificuldades, as quais não foram poucas. Dificuldades de todo o trabalhador brasileiro. A senhora deve saber disso!
Irene, ao tomar conhecimento disto, ficou encantada. Comentou que desde o início percebera que ela não era uma mulher arrogante.
Osvaldo perguntou a Fábio se ele já trabalhara em fábrica.
O homem respondeu que sim.
Ao término do jantar, Felipe pode ficar um pouco a sós com Leila.
Passearam pelo jardim da mansão.
Leila comentou durante o passeio, que os pais dele eram muito simpáticos.
Felipe concordou.
Relatou que eles foram pobres, e que ele só soube o que era ter dinheiro, depois dos dez anos de idade. Daí em diante passou a estudar em internatos, e até no exterior. Precisava ser preparado para administrar a fortuna que herdara. Formou-se em direito, e quando finalmente terminou os estudos, tinha um grupo empresarial para administrar.
Comentou que as empresas foram montadas por seu tio Epaminondas, e que seu pai também tinha seu comércio, seus negócios, independentes da fortuna dele.
Felipe comentou que através de um empréstimo de parte de seu patrimônio, seu pai conseguiu amealhar patrimônio. Foi tão bem sucedido no empreendimento que conseguiu devolver o dinheiro emprestado, e hoje não precisa da ajuda financeira de ninguém para sustentar um bom padrão de vida.
Leila ficou impressionada com o relato.
Felipe mostrou-lhe uma bonita fonte que havia no jardim.
Comentou que se tratava de uma bela mansão onde passara alguns bons momentos de sua vida. Contou que em criança, brincou muito em meio àquelas plantas. Que foi muito feliz ali.
Felipe e Leila, caminharam de mãos dadas.
Quando retornaram a sala, Irene e Osvaldo chamaram a moça.
Comentaram que a visita se alongara e que precisavam voltar para casa.
Osvaldo argumentou que precisaria trabalhar no dia seguinte, e que precisava acordar cedo.
Fátima e Fábio lamentaram a despedida, mas compreendendo o fato, despediram-se da família.
Fábio comentou que precisavam se encontrar mais vezes.
Osvaldo concordou. Mencionou que ocasião para isto, não faltaria.
Felipe despediu-se de todos.
Quanto a Leila, pediu para ficar um pouco a sós.
E assim, afastando-se um pouco de todos, conduziu a moça a entrada da casa e abraçou-a.
Olhando-a nos olhos disse que ficaria com saudades.
Leila riu.
Despediram-se.
Dois meses depois, Felipe e Leila casaram-se.
Epaminondas foi o padrinho do casal, acompanhado de sua esposa.
Colegas de Felipe, amigos das famílias, colegas de trabalho de Leila, todos compareceram ao casamento.
A imprensa fotografou o casal.
A foto do casamento ilustrou a coluna social de um dos jornais da capital.
Leila fez a almejada faculdade.
Tornou-se braço direito do marido, no Grupo Oliveira.
Para desespero de Fábio e Osvaldo que achavam que ela deveria ficar na casa montada para o casal, administrando o lar, e cuidando dos filhos que viriam.
E os filhos vieram.
Dois.
O tempo passou e Felipe continuou trabalhando a frente da empresa.
Todos os anos, no dia onze de agosto, se encontrava com os colegas da faculdade.
Reuniam-se para confraternizarem.
Contavam anedotas. Falavam dos tempos de faculdade, do tempo em que Felipe freqüentou o teatro com bastante freqüência, de seu interesse pela carreira artística.
Todos riam.
Com o tempo, começaram as ausências.
Colegas que faleceram.
Todos lamentavam as ausências.
Os mais chegados se entristeciam.
Mas a vida prosseguia.
O Felipe ainda permaneceu por muitos anos, cuidando da empresa.
Até passar a administração dos negócios para os filhos.
Trabalhou por mais de quarenta anos na empresa.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quarta-feira, 31 de março de 2021
CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XVIII
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