Poesias

sexta-feira, 19 de março de 2021

A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 32

Enquanto Roberta finalmente conseguiu contatar Leonardo, foi informada que ele havia se ferido ao realizar uma matéria, em pleno campo de batalha; Josie por sua vez, ficou por quase uma semana sem receber qualquer ligação de Olavo.
Aborrecida, nos primeiros três dias, pensou que em razão da correria, o moço se esquecera de ligar.
Contudo, como os dias iam passando, Josie começou a se preocupar.
Lucineide aconselhou a amiga a ligar para o moço.
Foi o que Josie fez.
Olavo contudo, não atendia as ligações.
Por fim, a moça recebeu uma ligação dos pais de Olavo.
Josie, ao ouvir a voz de Otaviano, perguntou aflita, se estava tudo bem.
Silêncio do outro lado da linha.
A moça, nervosa, insistiu:
- Alô! Está tudo bem?
Otaviano, percebendo que precisava dizer alguma coisa, comentou que os planos para o fim de ano estavam cancelados. Não haveria festa, e o convite para ir até o Sul não poderia se realizar.
Josie ficou perplexa.
Nisto o homem, enchendo-se de coragem, respondeu que Olavo sofrera um acidente de carro, enquanto dirigia para a vinícola, numa das estradas que davam acesso a região. Contou que durante a noite, enquanto dirigia pela estrada sem iluminação, foi fechado por um carro, vindo a bater em outro e a capotar.
Como não conseguisse dizer mais nada, Josie concluiu que Olavo não sobrevivera ao acidente.
Nisto Vilma, ao ver o marido chorando pegou o telefone e confirmou que Olavo falecera.
Em choque, Josie despediu-se da mulher e desligou o telefone.
Lucineide precisou consolar a amiga, que estava em prantos.
Roberta por sua vez, tentou consolar Josie, mas ela também precisava de ajuda, já que não sabia da gravidade do estado de Leonardo.
Lucineide estava atordoada. Ora precisava acalmar Roberta, dizendo que provavelmente não acontecera nada demais com Leonardo; ora passava ora consolando Josie, que perdera o noivo inesperadamente.
Roberta ao perceber que Josie precisava de ajuda, ofereceu-se para acompanhá-la no funeral de Olavo.
Lucineide espantou-se com a gentileza.
Comentou emocionada que não esperava um gesto tão nobre de sua parte, ainda mais em um momento complicado de sua vida.
No que a moça respondeu:
- Talvez por isto mesmo eu estou me oferecendo, já que minha vida está tão tumultuada. Eu acho que oferecendo apoio para alguém que está precisando mais de ajuda do que eu, vou conseguir por minhas idéias no lugar.
O olhar de Roberta estava cheio de angústia.
Lucineide por sua vez, conversou com Medeiros.
Comentando que ambas precisavam se afastar por alguns dias, perguntou se ele poderia autorizar uma licença para as duas.
O homem, ao tomar conhecimento dos fatos, disse que estavam liberadas para ficar o tempo necessário no Sul e acompanhar o funeral do jovem.
Chocado, Medeiros desejou condolências a Josie. A Roberta, recomendou juízo e tranqüilidade, pois acreditava que o ferimento de Leonardo não devia ser grave.
Quanto a Lucineide, disse-lhe que era uma boa amiga e que se Josie e Roberta não estavam bem, não poderiam ficar sozinhas.
Medeiros recomendou que ela acompanhasse as moças.
Lucineide ficou surpresa.
O homem respondeu que ela havia dado mostras suficientes de profissionalismo, e que nunca abusara de sua confiança. Razão pela qual estava ganhando alguns dias para viajar.
A jovem agradeceu.
Nisto o trio, tratou de arrumar as malas para viajar para o Sul.
No aeroporto de Porto Alegre, pegaram um táxi para a rodoviária. De lá, seguiram para a cidade onde Olavo morava.
Quando chegaram a rodoviária da cidade, foram recebidos por amigos da família que conduziram o trio até a propriedade.
Josie, ao adentrar o galpão onde o corpo estava sendo velado, percebeu que o caixão estava lacrado.
Vilma, desolada, abraçou a moça chorando e dizendo que não pudera ver o filho pela última vez.
Depois Otaviano veio falar-lhe. Estava arrasado.
Josie se fazia de forte, mas ao lado das amigas, caía em prantos.
Desesperada, dizia que pela terceira vez na vida, havia perdido o chão.
Triste, comentou que desde que perdera seus pais, nunca sentira uma dor tão grande.
Roberta abraçou a amiga e disse que a dor iria passar.
Comentou que ela jamais se esqueceria de Olavo, mas que aquele sofrimento não era eterno.
Lucineide também consolava a amiga dizendo que Olavo estava bem, em um bom lugar.
Longe das maldades do mundo.
Atenciosa, Lucineide, consolou Vilma e Otaviano dizendo que alguém que fizera tanta gente feliz, só poderia estar em um bom lugar.
Emocionada, Vilma abraçou a moça.
Chorou.
Roberta por sua vez, sempre que se via a sós, procurava ligar o celular e verificar se havia alguma mensagem.
Mas nada.
Lucineide, ao dar um calmante a Josie, procurou ver como Roberta estava.
Perguntou-se havia conseguido algum contato com Leonardo, no que a moça respondeu que não.
Lucineide tentando tranqüilizá-la disse-lhe que se houvesse uma piora no estado do moço, ela seria informada.
Nisto, abraçou Roberta, que se desmanchou em lágrimas.
Com isto a moça respondeu que sentia muito mal de estar preocupada consigo, quando via Josie se acabar de tanto chorar pela perda de alguém tão caro. Comentou que se não fosse tão leviana, Leonardo não teria brigado com ela e poderia estar bem na Europa.
Lucineide respondeu-lhe que sua culpa era infundada, já que Leonardo sempre fez o que quis. Comentou que ela própria dissera que mesmo antes das brigas e do desentendimento que tiveram, o moço trabalhara como correspondente de guerra. Argumentou que ele tinha gosto por aventura.
Nisto, insistiu para que Roberta se acalmasse, pois tudo ficaria bem.
Roberta abraçou-a e agradeceu a amizade.
- Não por isto. – respondeu Lucineide. – Você sabe que independente de nossas brigas, eu gosto de você de graça.
No dia seguinte, Josie acompanhou o funeral de Olavo.
O moço foi enterrado no cemitério da cidade.
Josie e Vilma levaram camélias para serem jogadas no caixão do moço.
Otávio estava inconsolável.
Ao ver Josie, tratou de ir ao seu encontro, e chorando, comentou que deveria estar mais presente.
Josie respondeu que ele não poderia adivinhar o que aconteceria, posto que ninguém esperava por isto.
A moça começou então a chorar.
Otávio, dizendo que muito embora pudesse parecer, ela não estava sozinha.
Comentou que muito embora Olavo tivesse partido, dizia que não gostaria de perder o contato com ela. Argumentou que vê-la, fazia lembrá-lo de bons momentos ao lado do irmão.
Ao ouvir as palavras do moço, Josie começou a chorar.
Visando consolá-la, Otávio a abraçou.
Nisto a família seguiu até o cemitério, onde acompanhou a colocação do caixão no jazigo da família.
Antes do lançamento das pás de terra sobre o caixão, Josie e Vilma jogaram flores.
A despedida foi triste para todos.
De volta para casa, Vilma estava impassível.
Otaviano por sua vez, estava com os olhos cheios de lágrimas.
Otávio tentava consolar os pais, em vão.
Como estava de férias da faculdade, o moço resolveu tomar a frente dos negócios da família.
Negociou a produção da vinícola, tratou das vendas pela internet. Tudo para que os negócios não ficassem parados.
Nos dias que se seguiram a partida do irmão, Otávio manteve contato com Josie, dizendo que estava preocupado com os pais. Insistia para que a moça assim que pudesse, fosse visitá-los. Falava que sentia falta do irmão.
Em um de seus contatos com a moça via skype, disse que iria enviar-lhe um email com as fotos e as gravações que Olavo havia feito com ela.
Josie agradeceu o cuidado.
Quando abriu o email e viu as fotos, caiu em prantos.
Assistir o vídeo era ainda mais triste. Olhar as imagens do moço, era como tê-lo vivo ainda.
Lucineide, ao ver a amiga entregue ao desânimo, disse que ela não deveria tornar a ver aquelas imagens. Não enquanto estivesse abalada com a despedida do moço.
Josie chorando, dizia sentir muita saudade do rapaz.
Argumentava que não estava agüentando mais sentir tanta dor.
Roberta por sua vez, nos dias que se seguiram, finalmente descobriu a gravidade dos ferimentos do marido.
Leonardo, havia ferido uma das pernas.
Segundo foi informada, havia o risco de amputação.
Ao ouvir isto, Roberta ficou chocada. Ficou a se perguntar como ele devia estar.
Aconselhada por Lucineide, a moça viajou para a Europa para se encontrar com o moço.
Ao chegar na Europa, a moça enviou um email para Lucineide, dizendo que a situação do moço era pior do que pensava.
Leonardo estava abatido, todo machucado e com o problema na perna.
Como havia ferido os olhos, passava o tempo com uma proteção no rosto.
Ao ser visitado por Roberta, o moço esperneou dizendo que preferia ficar sozinho.
Ao vê-la se aproximar, disse que ela o havia abandonado.
Roberta perguntou-lhe como estava.
Irônico, Leonardo disse que estava bem.
Agressivo, disse que ela devia estar brincando para fazer uma pergunta tão cretina. Em tom de choro, argumentou que ela deveria estar se divertindo ao vê-lo tão destruído.
Roberta por sua vez, respondeu que ele não era o único que deveria se sentir castigado pela vida.
Nisto, comentou que Josie havia perdido o noivo em um acidente de carro. Disse que a amiga não pode nem se despedir do moço. Nem a um último abraço tivera direito. Ressaltou que para a morte não havia jeito, mas que a situação dele poderia ser revertida.
Triste, Leonardo comentou que não gostaria de viver pela metade, e que não queria que ninguém tivesse pena dele.
Gritando, pediu para Roberta se afastar.
A moça, desconsolada, partiu.
Chorou em um canto do hospital.
Mas não desistiu do moço.
Nos dias que se seguiram, Roberta visitou-o, sem se identificar.
Quando o jovem perguntou-lhe o nome, procurou disfarçar a voz, dizendo que estava ali para ver um paciente, mas que ao vê-lo sozinho, resolveu ir até seu quarto fazer-lhe companhia.
Leonardo agradeceu o gesto dizendo que estava sozinho na Europa.
Comentou amuado, que nem a ingrata da esposa, se importara de verdade com ele.
Enquanto isto, aos poucos Josie retomou seu trabalho na redação.
Insistiu com Medeiros para que a designasse para um trabalho importante. Comentou que sentia necessidade de se ocupar.
Medeiros, ao notar os olhos tristes de Josie insistiu para que descansasse por mais alguns dias.
No que Josie retrucou dizendo que estava cansada de pensar em Olavo, e que não agüentava mais se dar conta do vazio que ele havia deixado.
Argumentou que Roberta precisara se afastar para resolver problemas pessoais e que a redação estava desfalcada.
Pediu, insistiu para que o chefe a deixasse trabalhar. Disse que o trabalho faria com que ocupasse o tempo e se esquecesse de seus problemas.
Ao constatar que Josie estava determinada, Medeiros perguntou-lhe se estava disposta a viajar para outro país e fazer uma ampla matéria sobre sua cultura, história, lugares turísticos.
Os olhos da moça brilharam.
Josie respondeu que sim.
Nisto Medeiros comentou que há tempos estava pensando em realizar uma matéria sobre o Egito, mas nunca encontrava a oportunidade para fazê-la. Ora o orçamento, que não permitia uma viagem internacional, ora não havia gente apta a tal trabalho.
Comentou então que o orçamento para a viagem era curto, e que precisava de alguém criativo para driblar as dificuldades da viagem.
Confessou que havia pensado inicialmente em seu nome para o trabalho, mas diante dos últimos acontecimentos, resolvera poupá-la.
Josie retorquiu dizendo que não queria ser poupada.
Argumentou que precisava se esquecer dos seus problemas.
Medeiros disse-lhe que este era o tipo de coisa que não se esqueceria facilmente.
Josie fingiu não ouvir.
O homem então, percebendo que a moça estava resolvida, concordou.
Sim, Josie iria para o Egito, realizar uma matéria para a revista.
Medeiros então, providenciou passagens e hospedagem para a moça.
Comentou que ela ficaria em um bom hotel, mas que estivesse preparada para conhecer o lugar. Disse que o país, assim como o Brasil, tinha muitos contrastes, pobreza e riqueza, entre outras coisas que ela iria descobrir com a viagem.
Josie argumentou que estava preparada para tudo.
Nisto, o homem desejou-lhe boa viagem.
Josie agradeceu.
Nos dias que se seguiram, Josie fez pequenas matérias para a revista.
Tratou também, de preparar suas malas para a longa viagem que faria para o Egito.
Lucineide, ao tomar conhecimento de que Josie faria uma longa viagem para o exterior, perguntou se ela estava realmente certa do que estava fazendo. Comentou que ela havia acabado de sofrer uma perda e que talvez devesse se poupar um pouco.
Josie por sua vez, argumentou que estava cansada de chorar. Disse que gostaria de voltar a viver.
Lucineide percebendo que a amiga se agarrava àquela oportunidade como a uma tábua de salvação, abraçou-a. Desejou-lhe uma boa viagem e recomendou que fizesse um bom trabalho.
Curiosa, Lucineide perguntou-lhe quem a acompanharia no trabalho.
Josie respondeu que por ser fotografa, viajaria só.
A moça ficou chocada.
Percebendo isto Josie recomendou-lhe que não ficasse preocupada.
Argumentou que falava bem o inglês, e que por lá havia muitos receptivos e guias, que a conduziriam em segurança pelas ruas da capital e paisagens do país. Asseverou que Medeiros lhe passou alguns telefones, entre eles, seu celular, e que em caso de emergência, poderia ligar para ele.
Ao ouvir isto, Lucineide tranqüilizou-se.
Por fim, disse que também poderia ligar para ela, e que se sentisse não estar em condições de concluir a viagem, deveria ligar para ela, que trataria de conversar com Medeiros.
Josie sorrindo, respondeu que não havia este risco.
Estava determinada.
Com isto, na data ajustada, dirigiu-se ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde pegou um vôo para a África.
Lucineide e Medeiros acompanharam a moça até a fila de embarque.
Antes de partir, a moça conferiu seus pertences, seus equipamentos profissionais: como câmera e filmadora.
Os equipamentos eletrônicos levava juntamente com sua bagagem de mão.
Durante a viagem, contemplou as nuvens, a geografia, as imagens como se fora fotografias de satélite.
Com efeito, ao chegar no continente, precisou fazer uma escala.
E assim, pegou um outro avião para o Egito, numa companhia aérea do próprio país.
Procedimento este, que foi um pouco demorado.
Razão pela qual Josie resolveu tomar um café em uma das lanchonetes que havia no aeroporto.
Aproveitou para abrir seu guia sobre o Egito, e ler algumas matérias sobre o país.
Nisto, finalmente foi possível adentrar em um novo avião.
Josie prosseguiu em sua viagem.
Ao descer do avião, dirigiu-se ao salão de desembarque onde retirou suas malas e saiu do aeroporto.
Ao chegar na capital do Egito, a moça pegou um táxi.
Dirigindo-se ao motorista em inglês, pediu para que ele a deixasse no hotel onde havia uma reserva para ela.
Durante o percurso deparou-se com construções luxuosas, mas também muita pobreza e miséria.
“Como Medeiros me dissera”. Pensou.
Também sentiu uma certa adrenalina com o modo de dirigir do taxista. Ora o homem avançava bruscamente os sinais; ora percorria velozmente ruas e avenidas, além de realizar conversões perigosas.
Josie sentiu o coração aproximar-se da boca.
Por várias vezes dirigiu ao motorista:
- Be carefull!
- Maalêsh! – retrucou o motorista.
Josie, que havia lido no guia, que a expressão significava “Deixa pra lá, ou Dane-se”, pensou que somente Deus realmente poderia protegê-la.
Com isto, ao fim de cerca de meia hora de adrelina, o homem a deixou em frente ao hotel em que ficaria hospedada.
Ao chegar no hotel, pagou o taxista com o dinheiro local.
Ao perguntar o valor da corrida, a moça se assustou com o preço.
Contrariada, pagou o valor que considerou exorbitante.
Antes de viajar, Josie dirigiu-se a uma casa de câmbio. Comprou um pouco de libra egípcia, para arcar com suas despesas de viagem.
Com efeito, o homem a auxiliou com as malas, levando sua bagagem até a recepção do hotel.
- Shukran! – agradeceu a moça.
O homem, com um gesto cerimonioso, afastou-se.
Com isto, ao chegar na recepção, Josie preencheu uma ficha em inglês.
A seguir, foi conduzida a seu quarto.
Um funcionário carregou sua bagagem, depositando-a em um carrinho, e levando-a até seu quarto.
Ao deixar as malas no quarto, o rapaz estendeu a mão como se esperasse uma gorjeta.
Josie, ao perceber isto, respondeu em inglês que lhe daria cinqüenta piastres.
O jovem fez-lhe um gesto de mesura e retirou-se.
Josie ficou observando o quarto. A cama, o guarda-roupa.
A moça, ao se dirigir ao banheiro, percebeu louças antigas.
Procurou então, abrir as torneiras. Lavou o rosto.
Resolveu tomar um banho.
Água quente.
Com o calor que fazia, resolveu molhar os cabelos.
Ensaboou o corpo.
Por fim, desligou o chuveiro.
Enrolada em uma toalha, a moça pode constatar que estava bem instalada.
Trocou de roupa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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