Mais tarde, a moça resolveu caminhar pelas ruas do Cairo.
Usava calças, fato este que chamou a atenção dos habitantes da cidade.
Calçava mocassins, e vestira uma blusa de manga curta.
Também usava um chapéu, para tentar se proteger do calor, ou então, do sol.
Alguns homens dirigiam-lhe gracejos que a moça não compreendia.
Expressões como “mabçuta” – que exprime contentamento ao se dirigir a uma mulher; “va habibiti” – meu amor.
Josie observava os olhares de encantamento com certa apreensão.
Com isto, um homem idoso aproximou-se, dizendo-lhe em inglês que todos a olhavam por que usava calças compridas.
Josie, ao voltar-se para trás, percebeu o homem.
O mesmo apresentou-se.
Disse se chamar Fabrício.
A moça, ao ouvir o nome português, perguntou-lhe em vernáculo, se sabia falar português.
Como o homem demorasse para responder, fez a mesma pergunta em inglês.
Fabrício então, respondeu que sim, falava português, e que assim como ela, era brasileiro.
Josie abriu um sorriso. Apresentou-se.
Nisto o homem pediu licença. Perguntou-lhe se estava há muito tempo na cidade.
Josie respondeu que havia acabado de chegar.
Fabrício disse que deveria ter cuidado em sair sozinha. Divertido, perguntou-lhe se já havia sido abordada por um egípcio.
A moça respondeu que fora as expressões ouvidas há poucos minutos, que não.
No que homem respondeu:
- Pois se prepare, pois isto cedo ou tarde acontecerá! Os egípcios são muito galanteadores, principalmente quanto souberem que você é brasileira.
Josie riu.
Fabrício conversando com a moça, disse que estava no país há alguns anos.
Comentou que há décadas não tinha notícias de seus familiares, e que viajar para um país distante, fazia com que a dor e a saudade parecessem menores.
Ao ouvir isto, Josie sentiu-se entristecer. Seus olhos ficaram cheios d’água.
Fabrício, percebendo isto, desculpou-se.
Disse que não tinha direito de trazer a tona, fantasmas que eram apenas seus.
Josie por sua vez, retrucou dizendo que aquilo lhe parecia muito familiar.
O homem ao ouvir tais palavras, disse:
- Vejo que você carrega uma grande dor.
Josie então, tentando desconversar, enxugou as lágrimas e disse que o país parecia muito interessante.
Fabrício, ao notar que a moça não queria tocar em um assunto que parecia doloroso para ela, resolveu mudar o rumo da conversa. Comentou que sim, era um país fascinante.
Nisto o homem convidou-a para tomar um café.
Josie, faminta que estava, pediu um lanche.
A moça depois de alguns minutos, foi servida de um pão achatado e redondo, tendo como recheio carne de cordeiro cortada em tiras bem finas, acompanhado de salada e tahina – pasta feita de gergelim. O recheio é enrolado no pão sírio. E o prato é conhecido como Schawarma.
Sugestão de Fabrício, ao notar que a moça estava com fome.
Josie adorou o lanche.
Comentou que a carne era macia e saborosa.
Fabrício por sua vez, respondeu que sempre que queria comer uma comida rápida e saborosa, se servia do lanche.
Gentil, perguntou a moça se ela fazia idéia do que gostaria de conhecer primeiro.
Josie respondeu que havia visto mapas, guias, pesquisado em sites. Argumentou que gostaria em primeiro lugar, de conhecer a cidade do Cairo, o Nilo, sua arquitetura, seus prédios.
Comentou chegou a ver o Nilo quando se dirigia do aeroporto para o hotel onde estava hospedada.
Fabrício comentou que deveria fazer um passeio às margens do rio.
Atencioso, prontificou-se a acompanhá-la em seu primeiro passeio. Disse que estava de folga, e que não haveria nenhum problema nisto. Acrescentou que ela também poderia contratar um guia, se achasse necessário.
Josie agradeceu.
A moça estava hospedada em um hotel em estilo moderno. Lugar próximo as construções mais tradicionais da cidade.
Acompanhada de Fabrício, a moça observou de longe algumas mesquitas.
O homem explicou-lhe que a religião era algo muito presente em boa parte das culturas, e que com os islâmicos não era diferente. Comentou que havia necessidade de uma mesquita sempre próxima de onde as pessoas moravam.
Josie comentou que eram lindas construções, com arcos compostos de inúmeras curvas, cheios de detalhes, com impressionantes torres – conhecidas como minaretes.
Enquanto caminhavam, passaram por algumas tendas e se depararam com vendedores extremamente galanteadores e insistentes.
Irritado, o homem respondia a todo o momento:
- No thank’s!
Aconselhou Josie a caminhar apressadamente pelo corredor.
Os vendedores insistiam em vender suas mercadorias aos turistas.
Josie, desacostumada com aquele ambiente, achava graça.
Rindo, comentou com Fabrício que não compreendia nada do que diziam.
O homem, retrucou dizendo que também não. Contudo, ao ver os homens exibindo suas mercadorias, percebeu logo que estavam tentando vender os objetos. Argumentou que se tratava de uma prática comum. Ressaltou que os egípcios são useiros e vezeiros em empurrar objetos inúteis aos incautos turistas.
Tanto que aconselhou a moça a ter cuidado em suas compras, já que os egípcios sempre empurravam o preço de seus produtos para as alturas. Argumentou que sempre que ela fosse comprar algo, deveria pechinchar.
Josie ouvia o homem com toda a atenção.
Enquanto caminhavam juntos, a moça deparou-se com uma profusão de aromas. Alguns agradáveis, outros nem tanto.
Nisto, a jovem parou em frente uma loja onde eram vendidos temperos.
Josie respondeu que só podia ser de lá que vinham os agradáveis aromas que estava sentindo.
Fabrício, ao perceber uma vendedora se aproximando, sugeriu que ela apertasse o passo.
Por fim, levando-a para um lugar um tanto distante dali, o homem comentou que lojas e tendas vendiam os temperos que enchiam o ar de aromas agradáveis.
E assim, apontou para a moça outros comércios onde eram vendidos temperos.
Josie comentou então, que o cheiro agradável dos temperos contrastava com o ar de abandono das ruas, que tinham um aspecto sujo, de abandono.
Fabrício concordou.
Caminhando um pouco mais, Josie e Fabrício se depararam com um outro aspecto da cidade. O seu lado moderno, com prédios em estilo ocidental.
A moça respondeu que em alguns aspectos, a cidade lhe parecia familiar, pois lembrava São Paulo. Admirada, a jovem comentou que o trânsito da cidade parecia ser mais caótico que o da grande metrópole latino americana.
Fabrício riu.
- O Tejo é o mais belo rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é o mais belo rio que corre pela minha aldeia.
Josie olhou-o com curiosidade.
O homem explicou-se.
- Do particular se chega ao universal, e do universal se chega ao particular. Este cenário te pareceu familiar por que lembrou-te do lugar de onde veio, mas da mesma forma que te é familiar, não é a sua casa, não é familiar, é apenas algo muito parecido. É o Tejo, mas não é o Tejo. Te lembra São Paulo, mas não é São Paulo. É parecido, mas não é igual.
Josie concordou. Comentou que os versos ditos por Fabrício, demonstravam a profunda sabedoria de Fernando Pessoa.
Fabrício emendou dizendo que se tratava de um poeta.
Por fim, despediram-se.
Nisto, combinaram um passeio para o dia seguinte.
A noite, Josie foi procurar um restaurante para jantar.
Admirou-se com as luzes da cidade.
Andou por entre construções modernas, prédios. Lugares que lembravam uma cidade do ocidente.
Caminhando pelas ruas do lugar, sentiu-se observada.
Em que pese a grande quantidade de pessoas que circulavam pelo local, Josie sentiu-se insegura.
Enquanto andava, teve a impressão de estar sendo seguida.
Por isto, a todo o momento, olhava para trás.
Nervosa, Josie entrou no primeiro restaurante que encontrou.
Era um lugar onde se servia comida italiana, e a moça procurou servir-se de uma boa macarronada.
Para acompanhar, pediu um refrigerante.
Com isto, ao terminar a refeição, receosa de voltar a rua, solicitou usar o telefone do restaurante para chamar um táxi.
Nisto o garçom respondeu que ele mesmo chamaria o táxi para ela.
Quando o veículo chegou, o funcionário a informou.
Com isto, Josie saiu do restaurante acompanhada pelo garçom, que ao vê-la caminhando em direção ao veículo, encaminhou-se novamente para dentro do restaurante.
A moça então encaminhou-se para o táxi.
Um homem aproximou-se e abriu a porta do veículo para ela.
Josie recuou, se afastando.
O homem gentil, insistiu para que ela se aproximasse. Disse que não faria nada de mal.
Josie então aproximou-se e entrou no táxi.
O motorista então, usando de um inglês rebuscado, tentou dizer a moça, que se tratava de um homem de muitas posses na região.
Contudo a moça não conseguiu compreender o inglês do motorista.
Nervosa, Josie pediu ao homem, para que dirigisse até o hotel onde estava hospedada.
Insistiu para que saíssem logo dali.
Com isto, o taxista contornou o passeio, mostrou-lhe por alguns instantes as belezas de um Nilo enfeitado pela iluminação dos prédios que circundavam as margens.
O rio divide a cidade.
A moça, apesar do nervosismo, admirou-se com a paisagem.
Chegou a pedir para o homem diminuir a velocidade. De longe avistou palmeiras, árvores diversas, barcos e transatlânticos cruzando o rio.
O famoso rio. O Egito, dádiva do Nilo. Comentou em voz alta.
Durante o passeio, o motorista foi fechado algumas vezes, precisando frear o carro.
Quando o homem freava o táxi de forma brusca, Josie pedia para chegar viva em seu hotel.
Dizia a todo o momento para o homem ter cuidado.
Nisto, o homem a deixou em frente ao hotel onde estava hospedada.
Josie pagou o taxista, a quantia solicitada.
Por um instante se esqueceu do evento ocorrido na porta do restaurante.
Estava feliz.
Ao chegar no quarto do hotel, a moça sentou-se em sua casa e acompanhou o noticiário local.
Tentou pelo menos, haja vista que não falava árabe.
Mudando de canal, viu um filme com mulheres e homens vestidos com túnicas e lenços cobrindo os cabelos. Percebeu que se tratava de um filme sobre a cultura árabe.
Cansada que estava da viagem, dormiu no meio do filme.
Quando acordou, a emissora estava fora do ar.
Josie desligou o aparelho e colocou uma camisola.
Voltou a dormir.
No dia seguinte, ao despertar, tratou de tomar um banho.
Como fazia calor, a colocou uma calça leve, e uma blusa de manga curta. Calçava um sapato confortável.
Desceu, e no salão do hotel, tomou um café da manhã, com comidas típicas do lugar.
Josie se encantou com as tâmaras.
Também comeu pão sírio – um pão de formato achatado e redondo, com saladas e diversos acompanhamentos. No café havia damasco, leite, café, e iogurte.
Josie experimentou colocar damascos no iogurte. Achou a mistura deliciosa.
Por fim, foi ao encontro de Fabrício.
O homem, ao vê-la se aproximando, perguntou-se se estava preparada para uma longa caminhada.
Josie respondeu que sim.
Fabrício então, estendeu o braço para a moça, que o segurou.
Nisto a dupla caminhou pelas ruas do Cairo.
Enquanto caminhava com o amigo, Josie observava que muita gente a olhava com curiosidade.
No que o homem insistiu em dizer que deveria providenciar roupas parecidas com as que os egípcios usavam. Falou-lhe, que se ela continuasse a se vestir ao modo ocidental, causaria muito furor.
Ao ouvir o comentário, Josie argumentou que ele estava exagerando.
No que ele respondeu que não.
Josie protegia o rosto com um chapéu.
Fabrício prometeu-lhe um lenço, como os que as egípcias e alguns egípcios usavam.
Nisto, a dupla deu início ao passeio.
Caminharam pela parte moderna da cidade, com seus edifícios modernos. O Rio Nilo ao fundo, a emoldurar a paisagem.
Josie observou novamente a beleza dos jardins às margens do rio. Gramado bem cuidado, árvores, palmeiras. Barcos ao fundo, de todas as envergaduras e calados.
Fabrício pontuou ela deveria observar as diversas pontes que cortavam o rio e faziam o elo entre as duas partes da cidade separada pelo rio.
Nisto, o homem comentou que havia um passeio de barco feito pelo rio.
Ressaltou que a paisagem era muito bonita de dia, mas que a noite era melhor ainda.
Josie concordou.
Respondeu que quando fora jantar, pode comprovar que o rio ficava ainda mais bonito a noite.
Em sua fala, disse que se afigura um espetáculo muito bonito, as luzes da cidade enfeitando o rio.
Com isto, a dupla continuou a caminhada.
A certa altura, Fabrício lhe mostrou a Torre da TV, informando-a que na mesma, havia um restaurante, e uma vista espetacular da cidade.
Durante o trajeto a moça fotografou alguns lugares. Fez perguntas.
Fabrício ao observar o equipamento fotográfico da moça, perguntou-lhe se era jornalista.
Josie respondeu que sim. Comentou que estava ali para documentar a cultura da região. Iria fazer uma matéria turística.
O homem respondeu que então havia muito o que ser mostrado a ela.
Comentou sobre as pirâmides, os hieróglifos, os antigos deuses egípcios, o Nilo, as praias.
Josie comentou com o homem, que havia experimentado as tâmaras.
Fabrício comentou que era um fruto delicioso.
Almoçaram.
Degustaram pratos típicos, com muita salada e molhos de acompanhamento.
Havia grãos com fava, grão de bico e lentilha. Além do molho Baba Ghanoug (mistura de tahina – pasta de gergelin, com alho e berinjela).
Sendo servido também, o Kebabs, que é um prato muito popular feito de carne de carneiro ou frango, cortada em pedaços, marinada e grelhada. A carne, foi servida acompanhada de arroz, e salada.
Josie adorou a comida.
Enquanto almoçava, comentou que a culinária do país era muito saborosa, e que se continuasse a comer daquela forma, acabaria engordando.
Fabrício riu do comentário.
Ressaltou que ela não corria o risco de ficar obesa.
Mais tarde, caminharam em direção a parte onde haviam construções tipicamente árabes. Caminharam por entre tendas, lojas, casas.
No comércio, mercadorias em profusão, espelhos, objetos dourados, lenços, tecidos, esculturas, objetos sofisticados e imitações baratas.
O homem, comentou que ela deveria ter cuidado com os comerciantes. Nunca aceitar o primeiro preço, e sempre ter cuidado com ótimos negócios, pois egípcios adoravam dizer que seus produtos eram originais, quando não passam de cópias muitas vezes grosseiras de originais.
Nisto, a dupla adentrou uma loja de tecidos, onde Fabrício lhe mostrou um bonito estampado de seda.
O vendedor, ao perceber o interesse da dupla na mercadoria, disse em um inglês sofrível, que custava cem dólares.
Fabrício questionou o preço.
Logo deu-se início ao costume de pechinchar.
Fabrício ofereceu vinte dólares.
O vendedor irritado, argumentou que era muito pouco. Ressaltou a qualidade do tecido, feito de matéria-prima nobre e cara.
Negociando de um lado e de outro, Fabrício adquiriu a mercadoria pelo valor de trinta dólares.
Ao olhar para a moça, o homem procurou se afastar da loja e comentou com a moça que ele não tivera prejuízo. Argumentou que eles jogavam o preço para cima, com vistas a forçar uma negociação e aumentar a margem de lucro. Disse que se tratava de um costume local.
Josie por sua vez pontuou:
- Deve ser daí que alguns brasileiros adotam o costume de pechinchar.
No que Fabrício concordou:
- A julgar pelo fato de que há muitos brasileiros descendentes de portugueses e espanhóis, e que estes países sofreram influência da cultura moura, provavelmente foi daí que adveio o costume, já um tanto quanto abandonado.
Josie concordou.
A certa altura do passeio, um homem se aproximou da moça, observando-a atentamente.
Em seguida, dirigiu-se a Fabrício, perguntando em inglês:
- How much?
O homem achou graça.
Como o estranho insistisse na pergunta, Fabrício respondeu também em inglês, que a moça não estava a venda. Argumentou que ela não era sua propriedade e que não poderia vendê-la.
O estranho porém, argumentou que não estava preocupado com valores. Disse que ele poderia cobrar o que quisesse por tão fina mercadoria.
Josie ao perceber isto, ficou furiosa. Ameaçando dizer poucas e boas ao homem, Fabrício a reteve, sinalizando para que não discutisse.
Fabrício então, agradeceu a oferta, mas disse que a moça era apenas uma amiga e que não poderia vendê-la.
Nisto, o homem agradeceu e retirou-se.
Josie e Fabrício ficaram observando o homem se afastar.
A certa altura, a moça observou camelos. Havia alguns próximos a uma praça da cidade.
Com isto, Josie e Fabrício continuaram a caminhar pelas ruas estreitas, com seus cheiros, suas lojas, seus vendedores. Enfim, pelo comércio da cidade.
Enquanto caminhavam, se deparam com alguns homens de túnica e cáfia (pano quadrado preso por uma tira). Um deles, ao ver que Josie segurava uma câmera, perguntou-lhe em inglês, se ela não estava interessada em um fotografia com um típico homem do Egito.
A moça, achando uma boa idéia, perguntou-lhe quanto cobraria pela foto.
No que o homem respondeu que gostaria de receber vinte dólares.
Josie ficou perplexa. Argumentou que não trazia consigo dólares, e tampouco tal montante.
O homem não gostou do que ouviu.
Fabrício, intervindo, sugeriu ao homem a importância de dez dólares, ressaltando que ainda assim, o valor era alto.
O egípcio concordou.
Josie tirou uma foto de um homem todo empertigado em seu traje típico.
Caminhando pela parte antiga da cidade, a moça percebeu que boa parte da população, não priva do conforto oferecido aos estrangeiros que vão para lá.
Fabrício disse que boa parte da população vive pobremente, mas que há homens ricos no Egito.
Nisto, enquanto caminhavam pelas ruas estreitas, observavam mesquitas e casas típicas árabes, e um homem, que dirigia um dos muitos carros em estado de má conservação que circulavam pelas ruas da cidade, o qual começou a soltar pedaços de sua lataria, sendo os mesmos, devidamente segurados a base de remendos.
Josie ficou perplexa.
- Mas parece o Brasil!
Fabrício riu.
Completando as palavras da moça, o homem respondeu que os egípcios tinham algo em comum com os brasileiros. Rindo, argumentou que era por isto que havia escolhido o lugar para morar.
Curiosa, Josie perguntou no que homem trabalhava.
Fabrício respondeu então, que fora para o Egito para trabalhar como engenheiro civil, e que mesmo depois de sua aposentadoria, havia decidido permanecer no país. Argumentou que estabelecera laços com a tão rica cultura.
Mais tarde, quando Josie resolveu comprar um tecido, Fabrício aconselhou a pechinchar bastante.
Nisto a moça, que havia estudado um pouco do vocabulário do lugar, resolveu tentar conversar com os homens em árabe.
Contudo, os mesmos, ao perceberem que se tratava de uma estrangeira, fizeram de tudo para conversar em um inglês de difícil compreensão para ela. Muitas vezes, a moça precisava gesticular.
Fabrício, percebendo a dificuldade, auxiliou-a.
Isto por que o comerciante preferia negociar com um homem.
Por fim, Josie conseguiu comprar um bonito tecido.
Brincando, Fabrício respondeu-lhe que ela estava aprendendo.
Após, moça continuou a observar as casas, as construções.
Em alguns monumentos históricos, percebia traçados e detalhes de arquitetura conhecidos através das histórias das “Mil e Uma Noites”.
Fabrício respondeu-lhe então, que o encantamento seria maior, quando conhecesse o deserto e se deparasse com os beduínos. Comentou que era um povo milenar que preservava as tradições.
Ocorre porém, que após a Primeira Grande Guerra, o estilo de vida deste povo, passou a entrar em franca decadência. Isto por que, a esta altura, não podia mais se movimentar pelos territórios com a mesma liberdade de antes. Razão pela qual passaram a adotar estilo de vida cada vez mais sedentário.
Fabrício comentou então, que era um povo que se dividia em várias tribos, as quais possuíam um líder tribal denominado sheik.
Por fim, o homem disse, que era cada vez menor o número de beduínos, e com isto, cada vez menor, a probabilidade de encontrá-los em andanças pelo deserto.
Mudando o tema, disse também, que as pirâmides poderiam ser avistadas dentro do perímetro da cidade, fato este que causou espanto em Josie, que custou a acreditar na informação.
A moça argumentou que para ela, as pirâmides ficavam no deserto.
Fabrício respondeu que sim, mas que a cidade, expandindo-se, começou a alcançar as pirâmides. Disse que nas proximidades do lugar haviam hotéis luxuosos, e que durante a noite, era apresentado um bonito espetáculo de luzes, mostrando as nuances dos monumentos.
Encantada, a jovem comentou que devia ser um belo espetáculo.
O homem concordou, mas acrescentou que os monumentos símbolo do país, estavam se deteriorando. Argumentou que se o país vivia basicamente do turismo, deveria haver um cuidado maior com os símbolos nacionais. Uma preocupação de fato, em preservá-los em suas características originais.
Josie ouvia o homem atentamente.
Durante o almoço, a moça fez alguns apontamentos em um caderno.
Fabrício curioso, perguntou do que se tratava.
A moça respondeu que precisava anotar de forma resumida, tudo o que vira, o que achara interessante, para depois colocar tudo no papel em um bela matéria.
Comentou que esta era uma forma de organizar suas idéias.
Fabrício falou que era um processo interessante.
Mais tarde, no jantar, o homem sugeriu que comessem algum prato típico do lugar.
Como Josie conhecia pouco da culinária do país, pediu ao homem que se sugerisse algo.
Fabrício solícito, sugeriu um frango assado, pombo recheado ou uma carne grelhada.
Josie perguntou o gosto da carne do pombo.
Fabrício respondeu que era saborosa, e que ela poderia experimentar.
A moça concordou.
Mais tarde, o pombo foi servido acompanhado de arroz e massa, além de um prato quente de verdura.
Fabrício respondeu que a verdura, a salada, poderia ser uma alternativa aos pratos com carnes.
Mais tarde, a dupla foi servida.
Ao provar a comida, moça elogiou novamente a escolha do amigo.
Comentou que a iguaria não era nada má.
Ao término da refeição, o garçom, trajado à moda árabe, perguntou-lhe se gostariam de saborear uma sobremesa, nisto, ofereceu: Mohallabeyya (creme à base de farinha de arroz, perfumado com água de rosas e com pistache); Om´ali (finas folhas de massa cozida banhadas em leite muito açucarado e misturadas com coco e pistache) e Konafa (uma espécie de massa de pistache, avelãs e nozes, envolta em aletria e mel).
Enquanto fazia as sugestões, explicava a composição dos ingredientes das sobremesas.
Josie, em dúvida, resolveu escolher a Mohallabeyya.
Palavra a qual teve muita dificuldade em pronunciar.
Ao experimentar a sobremesa, a moça comentou com Fabrício que assim, como o pombo, tinha um sabor diferente.
Argumentou que o nome da sobremesa era difícil, mas a iguaria era gostosa.
Fabrício disse que tinha um sabor suave.
A seguir, o homem pediu um karkadeh, feito de pétalas secas da flor do hibisco.
Ofereceu a bebida a moça.
Nisto, o garçom perguntou a Josie, se gostaria de servir-se da bebida fria ou quente.
Josie respondeu que preferia a bebida fria.
Fabrício por sua vez, pediu um suco de frutas.
Durante a refeição, enquanto comiam, Fabrício disse que achou graça na proposta de compra, do jovem egípcio.
Josie, ao relembrar-se do fato, argumentou que não via a menor graça em tudo aquilo.
Fabrício respondeu-lhe que se tratava de um povo machista.
A jovem concordou. Argumentou que somente uma pessoa com uma mentalidade muito atrasada, pensaria em comprar um ser humano como se fosse uma mercadoria, um objeto.
No que Fabrício argumentou que os brasileiros já fizeram isto, com os índios e com os negros.
Josie retrucou dizendo que isto fora há mais de um século, e que hoje não existia mais escravidão no Brasil.
O homem por sua vez, respondeu que escravidão de fato não existia, mas que em muitos rincões do país, havia gente reduzida à condição análoga a de escravo.
Josie concordou. Mas disse também, que lá nenhum homem tentaria comprar uma mulher.
Fabrício respondeu que de forma tão direta não. Porém, havia outras formas de fazê-lo, até mais indelicadas, comentou.
Josie respondeu-lhe que ele era impossível.
Fabrício disse-lhe então, que era apenas alguém mais vivido do que ela. Alguém que poderia lhe conceder bons conselhos.
- Então o senhor concorda com o que aquele homem fez! – retrucou a jovem, inconformada.
- Absolutamente! Só acho que a senhorita não deveria se aborrecer com isto. – respondeu calmamente o homem.
Por fim, ao término da refeição, o homem pagou a conta.
Josie por sua vez, insistiu em pagar sua parte.
No que Fabrício comentou:
- Quando eu pago sua conta, só estou querendo fazer uma gentileza. Está bem?
Josie retrucou dizendo que ele já havia pago sua compra, oferecido-lhe presente, além de haver pago outras refeições suas, e que já estava demais pagar também seu jantar.
Fabrício argumentou que gostaria de pagar. Que não havia problema algum nisto, e que não estava tentando comprá-la. Argumentou que as mulheres estavam tão acostumadas a serem independentes que se desacostumaram com um gesto de gentileza.
Ao ouvir isto, Josie respondeu que não era bem assim.
Fabrício respondeu que iria pagar a conta.
Josie respondeu:
- Está certo!
Ao saírem do restaurante, a moça observou as palmeiras e comentou que tudo aquilo criava uma atmosfera magnífica, que a encantava. Comentou perplexa, ter tido a impressão de já haver visto algo parecido em outro lugar.
Fabrício perguntou-lhe se já havia conhecido algum país muçulmano antes.
Josie respondeu que não.
O homem argumentou que talvez conhecesse um cenário parecido, pelo cinema.
Nisto continuaram a caminhar pelas ruas da cidade.
Fabrício comentou que no Egito havia muita burocracia. Maior até que no Brasil.
Josie ficou surpresa com o fato.
A certa altura do passeio, um homem passou diante da dupla.
Era o mesmo que havia aberto a porta do táxi para Josie, na noite anterior.
Ao reconhecer a jovem, perguntou-lhe em inglês, se precisava de algo.
- No thank’s. – respondeu a moça.
Nisto o homem respondeu que na cidade havia um bom comércio, e muitos belos lugares para se conhecer. Em seguida, convidou-os para entrarem em uma loja.
Fabrício reconheceu o jovem.
Percebendo a resistência da moça, o homem insistiu para que entrassem na loja. Disse que poderiam olhar as mercadorias sem compromisso.
Josie adentrou o estabelecimento acompanhada de Fabrício e do jovem.
Nisto, o jovem se apresentou. Chamava-se Mohamed. Em seguida, perguntou a moça, como se chamava.
A jovem respondeu que se chamava Josie.
Ao ouvir a palavra Josie, Mohamed perguntou-lhe a origem do nome.
A moça respondeu em inglês que não era um nome próprio e sim, um apelido.
Mohamed insistiu para saber mais detalhes.
Josie respondeu-lhe que seu nome era Maria Josefa.
- Maria Josefa! Portuguese name!
- Brazilian name! – insistiu a moça.
Curioso, o moço perguntou qual era o nome de sua família.
Josie não compreendeu.
Nisto, o moço perguntou-lhe o sobrenome.
- Andrade Camargo. – respondeu.
Mohamed, ao ouvir a palavra brasileiro, ficou encantado. Comentou que sabia falar português.
Fabrício, que estava a certa distância, ao ouvir o jovem dizer que sabia falar português, admirou-se. Respondeu que agora a conversa ficava mais fácil.
Nisto o homem apresentou-se.
Quando Mohamed ia dizer-lhe quem era, Fabrício respondeu-lhe que o conhecia de vista, e sabia sobre sua influência na cidade.
Mohamed respondeu modestamente, que a fama era maior do que a influência que de fato exercia.
Nisto o homem fez um gesto de cumprimento para a moça, e pediu licença para se afastar por alguns minutos. Disse que tinha um assunto para resolver.
O jovem afastou-se.
Fabrício então, segredou-lhe que se tratava de um homem influente do local. Comentou que era rico e que possuía muitos negócios na cidade, inclusive algumas lojas de tecidos.
Josie contou a Fabrício, que já tinha o visto antes.
Curioso, o homem perguntou onde.
Ao ver o jovem retornando, a moça mudou de assunto. Começou a observar um tecido.
Mohamed, ao perceber o interesse da jovem, comentou que se tratava de uma seda finíssima, ótima para uma túnica arábe.
Gentil, pediu a moça que sentisse o toque do tecido.
Josie respondeu que de fato era muito macio.
Com isto, o moço respondeu:
- É seu!
A moça tentou recusar.
Mohamed por sua vez, mandou embrulhar o tecido. Disse que era cortesia da loja.
Josie ao ouvir isto, insistiu em pagar.
Como o jovem dissesse não estar interessado em seu dinheiro, a moça tentou argumentar.
No que Fabrício respondeu:
- Ora, aceite! É apenas um presente.
Com isto, Josie aceitou o tecido. Respondeu que era uma bonita peça.
Mohamed disse-lhe então, que se quisesse, poderia deixar os embrulhos em sua loja, que mais tarde entregaria em seu hotel.
Josie agradeceu, mas recusou a oferta.
Fabrício, sugeriu a jovem, que aceitasse o oferecimento. Comentou que pretendia caminhar mais um pouco e que ficar cidade afora carregando embrulhos seria incomodo.
Nisto a moça concordou em deixar os pacotes na loja.
Mohamed anotou o endereço e prometeu que ao final da tarde os tecidos estariam em suas mãos.
Josie agradeceu.
- De nada. – respondeu o moço, olhando-a nos olhos.
Josie e Fabrício saíram da loja.
Mohamed acompanhou-os com o olhar, até sumirem de vista.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Poesias
sexta-feira, 19 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 33
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