No café-da-manhã, Cecília recomendou aos filhos que se alimentassem bem.
Em seguida, Jurema acompanhou os meninos ao colégio.
Cecília ficou sozinha em casa.
Fabrício, ao levantar-se, arrumou-se e conduziu seu carro pelas ruas da cidade.
Ao chegar na casa de Cecília, estacionou o carro na rua, abriu o portão que permanecia encostado, e entrou no jardim da casa.
Alcançando a sala da casa, deparou-se com Cecília sentada em um sofá, segurando uma revista nas mãos. Estava distraída.
Tanto, que não percebeu sua presença.
Fabrício aproximou-se vagarosamente.
Quando Cecília notou que Fabrício ocupava a sala, assustou-se.
O moço, pedindo para a moça não fugir dele, pediu para que ela lhe desse uma resposta definitiva. Argumentou que estava cansado de viver em eterna incerteza, no tocante a possibilidade de ficarem juntos.
Cecília gaguejando, respondeu que não sabia o que dizer.
Ao ouvir estas palavras, Fabrício pressionou a moça.
Retorquiu dizendo que não aceitaria evasivas.
Aproximando-se da jovem, agachou-se e novamente segurou suas mãos.
Perguntou-lhe o por quê de não ficarem juntos. Indagou se ela não o achava interessante, digno de atrair o interesse de uma mulher.
No que Cecília retrucou dizendo que não era nada daquilo.
Fabrício insistiu em saber o que os impedia de ficarem juntos.
Cecília ficou sem palavras.
Ao constatar a hesitação da moça, Fabrício perguntou-lhe se ela não gostava nem um pouquinho dele.
A moça constrangida, respondeu que ele era uma pessoa especial.
Nisto, o casal ficou conversando.
Fabrício respondeu-lhe que a cada dia que passava, ficava mais impressionado com a determinação e coragem da moça. Disse que além de bela, era sim, uma pessoa especial.
Cecília respondeu que não tinha nada de excepcional em sua conduta. Argumentou apenas que tivera que cuidar de sua família, já que Pedro os abandonara.
E assim, a moça reafirmou sua decepção com Pedro.
Respondeu desolada, que gostaria muito de se separar dele.
Em um momento de distração do moço, Cecília perguntou:
- E você? Me promete que não vai deixar meus filhos sozinhos? Promete me ajudar a me separar de Pedro?
Fabrício, sem compreender exatamente o que a moça queria dizer com aquelas palavras, prometeu ajudá-la.
Cecília então, olhando nos olhos do moço, depois de ficar algum tempo pensativa, respondeu:
- Então ... está bem! Eu aceito! Concordo em me casar com você.
Fabrício ficou em êxtase.
Por um instante, não acreditou no que seus ouvidos ouviam.
Cecília, percebendo o ar de espanto do moço, perguntou se ele havia entendido o que ela dissera.
Ao voltar a si, perguntou-lhe se poderia abraçá-la.
Cecília concordou.
Fabrício então, abraçou Cecília.
Apoiando sua cabeça no ombro da moça, o homem começou a lacrimar.
Como Fabrício permanecesse abraçado a ela, Cecília perguntou-lhe se estava tudo bem.
O moço, tentando disfarçar o choro, respondeu que sim.
Argumentou que só queria ficar abraçado a ela.
Mais tarde, o casal caminhou pelo jardim.
Quando Jurema retornou a casa, depois de deixar as crianças na escola, a mulher observou o casal de mãos dadas.
Estavam sentados em um banco, onde ficavam observando as árvores e as flores.
Feliz, a mulher percebeu que eles estavam se entendendo.
Pensou consigo mesma, que os conselhos que dera ao rapaz, estavam produzindo resultado.
Nisto quando Eli e Francisco foram informados da novidade, ficaram deveras felizes.
Ansioso, ao se encontrar novamente a sós com Cecília, contou-lhe as providências que teriam que tomar para obter o divórcio.
Pensou em ir a Argentina e providenciar as medidas cabíveis.
Argumentou que ali não chamariam a atenção de ninguém, e que em seguida se casariam.
Com isto, Fabrício perguntou-lhe onde gostaria de se casar.
Cecília respondeu que preferia se casar em outro lugar.
Disse que preferia que os locais não soubessem que estava prestes a se casar.
Fabrício concordou.
E assim, começou um namoro, em que Fabrício estava constantemente em companhia de Eli e Francisco, e que às vezes, conseguia ficar a sós com Cecília.
Geralmente quando saiam juntos para jantar, ou ir ao cinema.
De vez em quando Fabrício aproveitava para passear com ela no jardim.
Certo dia, comentou que sua mãe e seu pai, namoraram muito nos jardins da casa de Ângela e Francelino.
O moço disse brincando, que certas coisas nunca mudavam.
Cecília respondeu que era muito bom que certas coisas não mudassem.
Fabrício beijou-a.
A moça, receosa de que alguém os visse, recomendou-lhe que não fizesse mais isto.
O rapaz respondeu sorrindo que a única pessoa que poderia vê-los do jardim era Jurema.
Com o tempo, o moço começou a presenteá-la com pequenos mimos.
Levava-lhe flores e alguma lembrancinha para os meninos.
Eli e Francisco ficavam encantados com os presentes que ganhavam.
Alertados por Cecília, sempre agradeciam os presentes recebidos.
Eli e Francisco passavam tardes inteiras brincando com os presentes de Fabrício.
Carrinhos e caminhões.
No aniversário de Francisco, o moço presenteou o garoto com uma bola e um uniforme da seleção do Brasil.
Eli ao ver os lindos presentes do irmão, respondeu que em seu aniversário, gostaria também, de ganhar um uniforme.
Fabrício atendeu ao pedido.
No aniversário do garoto, providenciou uniforme, bola, e um trenzinho.
Eli ficou encantado.
Emocionado, chorou e comentou que seu pai nunca lhe dera presentes tão bonitos.
Fabrício sorriu para ele.
Cecília ficou comovida.
A moça providenciou uma festa simples para os meninos, com bolo e alguns doces.
Atenciosa, convidou os amiguinhos do colégio.
Foram festas simples, mas animadas.
Com o tempo, o moço passou a comprar-lhe algumas jóias.
Jurema ao ver os brincos e anéis ofertados pelo moço, elogiou o bom gosto do rapaz. Disse-lhe que era uma mulher de sorte.
Cecília sorriu.
Fabrício por sua vez, cauteloso, evitava permanecer muito tempo no país.
Retornava sempre ao Brasil, e trabalhava no escritório executando sua rotina.
De vez em quando visitava Carlos e Angélica.
Conversava sobre seu trabalho, relatando que sua vida prosseguia tranqüila, sem grandes novidades.
Angélica ao vê-lo mais tranqüilo, sugeriu que encontrasse uma moça para se casar.
Fabrício sorrindo, disse que pensaria com carinho, naquela possibilidade.
Em uma das visitas, percebendo um brilho diferente no olhar do moço, perguntou-lhe se havia conhecido alguém.
Fabrício, tentando desconversar, disse que não.
Angélica porém, não se convenceu.
O moço então, disse-lhe que estava travando conhecimento com alguém muito especial, mas que não sabia se o relacionamento prosperaria, razão pela qual preferia esperar que a relação se fortalecesse para depois, dizer a todos que estava namorando.
Ao ouvir estas palavras, Angélica perguntou se era uma boa moça.
Fabrício respondeu que era a melhor de todas.
Quando Carlos soube da novidade, parabenizou o filho.
Disse que só tiveras decepções com Pedro e que agora um de seus filhos estava lhe dando um pouco de alegria. Contou que sentia falta dos netos e que estava fazendo de tudo para encontrá-los. Completou dizendo que nenhuma família deveria ficar dispersa.
E assim, o moço passou a viver. Ora no Uruguai, ao lado de Cecília, ora no Brasil, tentando não levantar suspeitas sobre seus passos.
Ao tomar conhecimento sobre os progressos junto ao processo de separação, o moço, preparando o espírito da jovem, comentou que Pedro tomaria conhecimento disto, e que talvez Carlos e Angélica também ficassem cientes.
Ao ouvir isto, Cecília ficou transtornada.
Argumentou que se Carlos soubesse o que estava fazendo, viria procurá-la e tomar os seus filhos.
Fabrício, então, tentando acalmá-la, disse que por esta razão, resolveu dar entrada no processo na Argentina.
Desta forma, como ela residia em outro país, ganhariam mais tempo, visto que Carlos procuraria por ela na Argentina. Ademais, completou, talvez até o próprio Pedro ignorasse a manifestação da justiça argentina e deixasse de lado a informação.
Fabrício comentou que Pedro passava a maior parte do tempo alcoolizado, e que passara a viver ao lado de uma mulher abastada, que bancava todos os seus excessos.
E assim foi.
A despeito do nervosismo de Cecília que dizia que iria desistir do divórcio e que pretendia sair do Uruguai, Pedro ignorou o documento vindo do exterior.
Ao receber a correspondência, nem chegou a abri-la, deixando-a jogada em um canto.
Fabrício, por sua vez, ao ouvir as palavras de desespero de Cecília, disse-lhe que ela não iria fazer nada daquilo que estava ameaçando fazer.
O moço recomendou-lhe por diversas vezes que se acalmasse.
Discretamente, pediu o auxílio de Jurema.
E assim, depois de conversar com Jurema, Cecília concordou em aguardar o desfecho do processo. Cecília então, aguardou ansiosa, a finalização do processo.
Casaram-se.
A cerimônia ocorreu na Argentina.
Jurema, Eli e Francisco, acompanharam a cerimônia.
Fabrício então, pediu a amigos brasileiros para serem seus padrinhos.
O moço, pedido de Cecília, convidou Eduardo para viajar para a Argentina.
Discreto, comentou com o amigo, que ninguém poderia saber de sua viagem, nem mesmo seus pais.
Ao ouvir isto, Eduardo ficou intrigado, mas prometendo discrição, concordou.
Qual não foi sua surpresa, ao aportar no país, e depois de se instalar em um hotel, descobrir que sua irmã estava se casando com seu melhor amigo.
Durante o café da manhã Eduardo e Roseli foram informados da novidade.
Ficaram perplexos.
Contudo, ao verem o sorriso no rosto de Cecília, desfizeram sua primeira impressão de pasmo, e aos poucos se acostumaram com a idéia.
Cecília segurou Samuel no colo.
Disse ao casal que o menino era uma criança encantadora.
Roseli, agradecida com o elogio, concordou.
Cerca de meia hora depois, Jurema, conduzindo Eli e Francisco, desceram ao salão.
Eduardo e Roseli cumprimentaram os sobrinhos, que ficaram animados com a presença deles.
Ao serem apresentados a Samuel, pediram para segurar o menino no colo.
Cecília, proibiu-os de segurarem a criança.
Roseli por sua vez, percebendo o ar de desapontamento dos meninos, permitiu que eles segurassem a criança.
Preocupada, Cecília perguntou se ela estava realmente certa disto.
E assim, Francisco e Eli seguraram a criança.
Acomodando os garotos nas cadeiras, e auxiliando-os a segurarem o bebê, Francisco e Eli puderam ficar alguns minutos com Samuel.
Não sem recomendações de cuidado por parte de Cecília.
Mais tarde, conversando entre eles, os garotos disseram que já eram homenzinhos e Francisco, querendo se gabar, respondeu que havia ficado mais tempo, segurando a criança.
Esta questão acabou virando uma disputa, na qual Cecília interveio, argumentando que os dois seguraram por igual tempo o menino.
Em passeio por Buenos Aires, Eduardo comentou que Márcia havia ficado noiva e se casado com um rapaz.
Cecília ficou surpresa com a novidade.
Fabrício brincando, disse que o tempo não havia passado só para ela.
Cecília respondeu que não havia reparado que sua irmã havia crescido.
Em um passeio noturno, depois de jantarem em um restaurante e provarem o típico churrasco gaúcho, Fabrício e Cecília dançaram um tango.
Eduardo e Roseli, empolgados com a animação do casal, também arriscaram uns passos da dança.
E assim, no dia ajustado, o casal compareceu a um cartório da cidade.
Cecília usava um vestido longo, rodado e florido. Um típico tubinho.
Fabrício por sua vez, usou terno e gravata cinzas.
Eduardo e Roseli foram os padrinhos de Cecília, e Jurema e um amigo de São Paulo, o padrinho de Fabrício.
Célio, o amigo de Fabrício, comprometeu-se a não comentar sobre o casamento dele, com Carlos e Angélica.
Com isto, depois do casal e das testemunhas assinarem os papéis, todos seguiram para um restaurante, onde comemoraram o casamento.
No cartório, foram tiradas algumas fotos. No restaurante também.
Durante a cerimônia, Regina - a esposa de Célio -, e os meninos ficaram cuidando de Samuel.
No dia seguinte, Eduardo, Roseli e Samuel se despediram do casal e dos garotos.
Retornaram para São Paulo.
O amigo Célio e Regina, rumaram para São Paulo alguns dias depois.
Jurema e os garotos voltaram para o Uruguai.
Eli e Francisco protestaram, mas Fabrício, ao conversar com eles, comentou que ele e Cecília precisavam ficar um pouco sozinhos, e que dentro de alguns dias, retornariam ao Uruguai.
Brincando com os garotos, disse-lhes que em poucos anos, estariam passando pela mesma experiência.
Cecília retrucou dizendo que eles não precisavam ter tanta pressa.
Fabrício riu. Falou-lhe que esta era a conseqüência natural da vida.
Nisto a moça despediu-se dos filhos.
Quando o casal se viu finalmente a sós, aproveitou para caminhar de braços dados pelas ruas de Buenos Aires.
Assistiram a apresentações de tango, foram ao cinema, ao teatro.
Cecília começou a prestar mais atenção no modo de falar do povo.
Morando a alguns meses no Uruguai, já havia aprendido um pouco do idioma.
Fabrício já havia percebido o fato, quando Jurema e os meninos o cumprimentaram em espanhol.
Cecília comentou que Eli e Francisco estavam indo bem na escola, e que já entendiam bem o idioma.
Na viagem, Fabrício aproveitou para comprar alguns vestidos e jóias para a moça.
Simpáticas, as atendentes perguntavam-lhe se era recém-casada.
Como Cecília respondesse que sim, as funcionárias se desdobravam em gentilezas para com ela e Fabrício.
Em sua primeira noite a sós com Fabrício, Cecília estava apreensiva.
Fabrício por sua vez, ao vê-la em uma bonita camisola, segurou as duas mãos da moça, e disse-lhe que não precisava mais se preocupar com o futuro. Falou-lhe que estava ali para tudo o que precisasse.
Cecília sorriu para ele.
No dia seguinte, ao despertar, Fabrício ouviu tocar uma canção bossa nova no rádio. Ficou admirado.
Tanto que tratou logo de despertar a então esposa, para ouvir.
Cecília dormia envolta nos lençóis da cama e Fabrício, tentando fazer com que despertasse, começou a sussurrar em seu ouvido.
A moça, ao despertar ouviu um pedido do moço.
Fabrício lhe disse:
- Escute esta música, é do Brasil!
Cecília ouviu “Chega de Saudade”.
Atenta, procurou descobrir detalhes da canção.
Ao fim da execução da música, Cecília respondeu que a canção era muito linda.
Fabrício respondeu que esta era uma novidade no Brasil, assim como o rock’n roll, que estava correndo o mundo.
Brincando, o moço disse-lhe que provavelmente Eli, Francisco e os filhos que tivessem, ouviriam aquele novo ritmo.
Com isto, abraçou a moça.
Perguntou-lhe se havia pensado na possibilidade de ter outro filho.
Cecília ficou pensativa.
O moço pediu a ela que pensasse nisto.
Luciana Celestino dos Santos
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Poesias
quinta-feira, 18 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 22
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