Poesias

terça-feira, 30 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XVI

Com isto, passou o dia ocupado.
Ao fim das seis horas, pegou o telefone.
Não teve coragem de discar o teclado.
Titubeou por várias vezes. A falta de coragem o fez desistir.
No dia seguinte, a cena se repetiu.
Felipe não teve coragem para telefonar para a moça.
Leila começou a estranhar a ausência de Felipe.
Decidiu se dirigir a casa de Epaminondas.
Nisto, quando Epaminondas soube que a moça estava na ala dos empregados, contatou Felipe.
O moço, ao tomar conhecimento do fato, se encaminhou apressadamente para a casa do tio.
Quando chegou no local, a moça o aguardava.
Leila estava confusa.
Ao ver Felipe usando um terno sofisticado, e o modo como Epaminondas o recebera, se recordou das últimas conversas com ele.
Leila trêmula, começou a balbuciar algumas palavras.
Falou-lhe que ele não era motorista.
Felipe respondeu com os olhos mirando o chão da sala, que não.
Decepcionada, Leila perguntou-lhe por que o havia enganado.
Felipe ainda olhando para o chão, respondeu que não a havia enganado.
Argumentou que tudo não passava de um equívoco. Relatou que tentou lhe contar a verdade, mas que não teve coragem. Disse que temia sua reprovação.
Leila respondeu que não esperava isto da parte dele. Mencionou que contou para ele coisas que poucas pessoas próximas a ela tinham conhecimento.
Disse que ao comentar sobre seu projeto de fazer um curso superior, suscitou muita reprovação em sua família e que por esta razão, comentava o assunto com poucas pessoas. Contou que confiou nele, mas que a recíproca não fora verdadeira.
Felipe tentou se desculpar, mas Leila respondeu-lhe não aceitava suas desculpas.
Nervosa, perguntou qual era o tamanho da mentira.
Felipe ficou paralisado.
Irritada, Leila perguntou-lhe se era casado.
Felipe surpreso respondeu que não.
Tentando organizar as palavras, reiterou que não era casado.
Argumentou que morava na casa dos pais, os quais não sabiam de nada.
Leila entendeu o por quê do moço não apresentá-la a sua família.
Felipe respondeu que não podia apresentá-la antes de contar a verdade a todos.
Mencionou que trabalhava nas Empresas Oliveira.
Epaminondas contou que ele não era o dono das empresas.
Leila perguntou quem era.
Felipe continuava olhando para o chão.
A certa altura, Leila gritou com ele.
Disse para ele olhar para ela.
Chorando, a moça comentou:
- Você deve ter se divertido muito as minhas custas! Divertiu-se enganando uma tonta. Parabéns!
Nisto, empurrou-o e saiu da casa.
Epaminondas tentou retê-la, sem êxito.
Leila se dirigiu para a cozinha e pediu para ir embora.
O homem ofereceu uma carona a moça, que ao ver o motorista da casa, ficou ainda mais aborrecida.
Leila disse que poderia perfeitamente voltar para a casa sozinha.
Nisto, a moça caminhou pelas ruas do bairro.
Epaminondas, ao voltar para a sala, encontrou o sobrinho transtornado.
Felipe estava sentado no sofá, com as mãos no rosto.
Chorava compulsivamente.
Epaminondas ao presenciar a cena, aproximou-se do sobrinho.
Disse-lhe que não devia ter demorado tanto tempo para contar a verdade a moça.
Tentando consolá-lo, argumentou que se Leila realmente gostasse dele, acabaria entendendo o que havia acontecido e o desculpando.
Isto porém, levaria tempo e ele deveria ter muita paciência e aguardar o desfecho daquela história.
Aflito, Felipe tencionou ir ao encontro da moça.
Mencionou que tentaria lhe dizer que tudo não havia passado de um equívoco.
Epaminondas aconselhou-o a aguardar um pouco.
Mencionou que ele estava alterado e que Leila estava muito nervosa.
Muito provavelmente aquela conversa não fluiria e o desentendimento se agravaria.
Desesperado, Felipe perguntou:
- Então tio, o que eu faço?
Epaminondas recomendou que se afastasse um pouco da moça. Que a deixasse se acalmar.
Felipe respondeu que não poderia deixá-la sem uma explicação.
Epaminondas argumentou que a aludida explicação, viria no tempo necessário.
Nisto, o homem abraçou o sobrinho, e recomendou-lhe coragem.
Leila por sua vez, voltou a pé para casa.
No caminho, chorou copiosamente.
A cada passo dado, se recordou dos momentos ao lado de Felipe. A aparente simplicidade do moço.
As lembranças a deixavam mais entristecida.
Com isto, ao chegar em sua casa, trancou-se em seu quarto. Não queria falar com ninguém.
Deitou-se em sua cama, exausta.
Relembrou-se da difícil conversa que tivera com Felipe.
Encostando o rosto no travesseiro, tornou a chorar.
Lacrimosa, chegou a dizer que não devia confiar em ninguém.
Irene, ao notar a entrada brusca da filha em casa, bateu na porta do quarto da moça.
Enquanto batia, chamava-a. Preocupada, indagou o que estava acontecendo.
Leila porém, não respondeu.
Colocou o travesseiro por cima da cabeça.
Chorava.
Irene a certa altura, percebendo que a filha não abriria a porta, disse com voz suave que esperaria ela se acalmar, e que depois conversariam.
Dito isto, afastou-se.
No dia seguinte, Leila acordou.
Dormira com a roupa que vestira no dia anterior.
Num átimo de segundos, levantou-se da cama.
Tomou um banho e vestiu uma roupa limpa.
Saiu de casa sem fazer barulho.
Levantou-se antes que todos da casa despertassem.
Não queria ter que explicar o que havia acontecido.
Precisava ficar sozinha.
Não sentia vontade de conversar, de ouvir ninguém.
Durante o dia, ocupou-se de seu trabalho.
Leila atendeu clientes.
Seus colegas, perceberam uma alteração em sua fisionomia logo que a moça adentrou a loja de perfumes.
Contudo, ao ser indagada sobre este fato, Leila respondeu que não dormira bem, que estava um pouco cansada.
Todos acreditaram na explicação.
Felipe por sua vez, se encaminhou para o escritório da empresa.
Ocupou-se de telefonemas, assinatura de documentos, ditou correspondências para a secretária. Ao final da tarde, participou de uma reunião.
Enquanto se manteve ocupado, o moço tentou não se recordar do que havia ocorrido no dia anterior.
A lembrança contudo, persistia.
Durante o dia, o moço teve ímpetos de ligar para a moça, mas se recordou que ela devia estar estudando àquela hora.
Ademais, depois de tudo o que havia acontecido, dificilmente ela o atenderia, pensou.
Nisto, ao recordar-se dos conselhos de Epaminondas, desistiu. Decidiu esperar um pouco para conversar com a moça.
Certo dia, depois de muita insistência de seus amigos, Felipe saiu para jantar fora.
Leila igualmente convidada por colegas de trabalho, resolveu espairecer um pouco.
A semana fora difícil para ela.
Leila tentou fugir da conversa com Dona Irene, mas não obteve êxito.
A mulher, era persistente.
Aguardou Leila retornar do trabalho para obter explicações.
Queria por que queria saber o que estava acontecendo.
A moça por sua vez, tentou dizer que levara uma bronca do chefe, e que por isto chegara atordoada.
Irene não parecia convencida disto.
Razão pela qual perguntou se realmente era só uma bronca.
Leila assentiu com a cabeça.
Preocupada, Irene perguntou-lhe por que seu chefe a havia advertido.
Leila suspirando, respondeu que havia sugerido a uma cliente adquirir um outro perfume. Argumentou que embora a mesma não tivesse muito interessada na aquisição, insistiu tanto que acabou convencendo a mulher a adquirir o produto.
Disse que muito embora tenha feito uma boa venda, seu patrão interpretou a insistência como inconveniência. Razão pela qual a advertiu. Disse que aquele estabelecimento não tinha por hábito fazer os vendedores empurrarem mercadorias aos clientes. Com isto, recomendou-lhe que tivesse cuidado, posto que aquela conduta não poderia se repetir.
Leila respondeu que não o faria mais.
Irene compreendeu os argumentos da filha, mas argumentou que seu chefe estava apenas orientando-a a não exagerar na insistência, pois com ela, poderia afastar a clientela.
Preocupada, perguntou-lhe se havia o risco de ser demitida.
Leila respondeu desanimada, que não sabia.
Irene então, procurou confortá-la.
Disse que aquilo fora uma bobagem, e que ela estava há anos na loja, sempre atendendo a todos bem. Argumentou que não seria uma pequena bobagem que não a faria ser despedida.
Nisto, a semana transcorreu e Leila permanecia com um olhar de pesar.
Todos perceberam o ar entristecido da moça, que com o passar dos dias, não conseguia esconder sua tristeza.
Porém, a todo o momento, quando era indagada por este fato, a jovem respondia que estava tudo bem.
Desta forma, tentando fazer com se distraísse, seus colegas a chamaram para acompanhá-los em um restaurante. Poderiam jantar juntos.
Leila relutou um pouco em aceitar o convite.
Mas, diante da insistência dos amigos, acabou saindo para jantar.
Qual não foi a surpresa da moça, quando ao chegar no restaurante e se deparar com Felipe, reunido com amigos, conversando?
Ao se deparar com a cena, Leila insistiu para que fossem a outro lugar.
Mercedes por sua vez, não concordou.
Disse que gostava muito do lugar e que não havia motivos para sair dali.
Leila por sua vez, pediu licença aos amigos e se encaminhou para o toilete.
Felipe, ao vê-la, pediu licença aos amigos e se encaminhou a mesa onde se sentaram os amigos da moça.
Ao perceber seu afastamento, acorreu em sua direção.
Ao alcançá-la, segurou seu braço. Disse que precisavam conversar.
Leila por sua vez, tentou se desvencilhar do moço.
Felipe respondeu-lhe que iria lhe explicar o que havia acontecido, não importasse o quanto ela esperneasse.
A moça, sem alternativa, concordou em ouvi-lo.
Pediu-lhe para que soltasse seu braço.
Felipe atendeu.
Nisto, caminharam juntos para fora do restaurante.
Mercedes ao ver Felipe segurando o braço da colega, comentou que conhecia o rapaz de algum lugar.
Preocupados, dois colegas da moça, e um amigo de Felipe, se encaminharam para fora do restaurante.
Ao ver Felipe ao lado de Leila, perguntaram se estava tudo bem.
Felipe tomou a iniciativa de dizer que eles precisavam conversar.
Os colegas da moça, ao ouvirem as palavras do rapaz, perguntaram a Leila se estava tudo bem.
- Sim, está tudo bem! Obrigada. – respondeu a moça.
Com isto, se afastaram.
Felipe, enchendo-se de coragem, começou a dizer que não havia contado toda a verdade, por haver percebido que ela não acreditaria em suas palavras.
Leila permanecia indiferente.
Felipe por sua vez, continuava tentando se explicar.
Dizia que não tivera a intenção deliberada de enganá-la, mas que as circunstâncias propiciaram a confusão.
Ao ouvir isto, Leila respondeu que ele teve tempo mais do que suficiente para desfazer o engano. Coisa que ele não o fizera.
Felipe desculpou-se. Argumentou que deveria ter contado tudo desde o início, mesmo correndo o risco de que ela não acreditasse.
Olhando-a nos olhos, disse que muito embora tenha mentido, nunca tivera a intenção de iludi-la, e que estava muito arrependido.
Leila perguntou-lhe por que tinha tanto interesse em se explicar.
Felipe respondeu que ela era uma pequena muito especial. Diferente de todas as garotas que ele conhecia. Comentou que ela era muito importante para ele.
Ao ouvir isto, a moça ficou intrigada.
Felipe então, aproximou-se da jovem.
Leila tentou se afastar.
O moço pediu para que ela não o evitasse.
Com os olhos suplicantes, o moço segurou suas mãos. Pediu-lhe desculpas. Disse que fora fraco, mas que aquela atitude leviana, não se repetiria mais.
Com os olhos cheios d’água, disse que todos os dias se recordava dos momentos que passaram juntos. Argumentou tudo era muito especial para ser desperdiçado.
Pediu a moça para que o desculpasse.
Fitou Leila.
A jovem ficou sem palavras.
O moço insistiu.
Pediu-lhe para que dissesse alguma coisa.
Leila gaguejando, respondeu que não sabia o que dizer.
Felipe, decepcionado, respondeu que entendia. Alegou que não poderia esperar que ela o desculpasse imediatamente.
Leila respondeu que precisava ir.
Felipe respondeu que compreendia.
Soltou suas mãos.
Nervosa, a moça saiu apressadamente.
Felipe ficou decepcionado.
Leila, aflita, comentou com os colegas, que não estava sentindo se bem, e que precisaria voltar para casa.
Seus colegas, percebendo a angustia da jovem, resolveram pagar a conta e sair do restaurante.
Antunes pediu para cancelar o pedido.
Nisto, saíram todos juntos.
Com efeito, os colegas e amigos de Felipe, passaram a estranhar a ausência do moço.
Tanto que passaram a procurá-lo.
Quando Felipe adentrou novamente o restaurante, encontrou a mesa onde Leila se reunira com os amigos, vazia.
Chateado, pediu desculpas aos amigos.
Disse que não estava em condições de comemoração, que precisava ficar só.
Seus amigos tentaram convencê-lo a ficar.
Felipe porém, argumentou que não queria estragar a noite de ninguém.
Com isto, desculpou-se novamente e afastou-se.
E assim, em que pese os protestos dos amigos, o moço saiu do restaurante.
Seguiu de carro até a sede da empresa.
Adentrou o escritório onde trabalhava.
Sentou-se em sua cadeira. Recostou-se.
Ficou pensando.
Leila por sua vez, decidiu voltar para casa.
Chateada, pediu desculpas aos colegas.
Argumentando que não estava muito animada para confraternizar, pediu para ficar só.
Antunes e seus colegas tentaram demovê-la da idéia, mas Leila estava irredutível.
Argumentou que não gostaria de estragar a noite de ninguém, e que já havia causado bastantes transtornos.
Com isto, só restou a todos concordarem,
Antunes conduziu a moça até sua casa.
Leila agradeceu a carona.
Despediu-se do colega.
Antunes por sua vez, seguiu dali para o restaurante onde iria se encontrar com os amigos.
No dia seguinte, Felipe, tomado de uma resolução, se encaminhou para o estabelecimento onde a moça trabalhava.
Ao adentrar o local, fingiu ser um freguês em busca de um perfume.
Leila ao vê-lo, ficou deveras aborrecida.
Tanto que chegou a pedir a uma colega que o atendesse.
Como todas as moças estivessem ocupadas, restou a ela, a árdua tarefa.
E assim, respirando fundo, se encaminhou até o corredor onde o rapaz estava e perguntou-lhe se desejava algo.
Felipe respondeu-lhe sorrindo, que desejava uma fragrância marcante, mas ao mesmo tempo suave, em que fosse possível por meio de aromas, eternizar um sentimento.
Leila não compreendeu as palavras do rapaz. Tanto que pediu-lhe para se explicar.
Argumentou que não era tão ilustrada para compreender com tanta clareza, uma metáfora tão elaborada.
Felipe então, desfazendo o sorriso do rosto, respondeu que ela não precisava dizer aquilo. Respondeu que só estava tentando ser agradável.
Leila perguntou-lhe se gostaria de adquirir um perfume.
Felipe respondeu que sim. Comentou que quando adquiriu perfumes naquela loja, sua sorte mudou. Completou dizendo que gostaria de fazer as pazes com sua sorte.
Leila então, passou a fazer-lhe algumas sugestões.
Felipe por sua vez, respondeu que o perfume era um presente para alguém muito especial.
Ao ouvir isto, Leila ficou irritada.
Perguntou a ele, o que estava querendo com toda aquela conversa.
Felipe respondeu que só gostaria de conversar. Afirmou que não sairia dali enquanto ela não o ouvisse.
Leila retrucou dizendo que estava em seu local de trabalho.
Felipe ressalvou que entendia perfeitamente, que não poderiam conversar sobre um assunto tão pessoal ali.
Razão pela qual agendou um encontro ainda aquela noite. Disse que iria buscá-la na porta de casa, e que se ela não aparecesse, bateria a noite inteira na porta da casa.
Leila por sua vez, respondeu que concordava em se encontrar com ele.
Argumentou porém, que aquela seria a última vez em que se veriam.
Ao ouvir isto, Felipe respondeu:
- Isto é o que veremos.
Leila voltou-lhe as costas.
Ao vê-la se afastando, Felipe chamou-a.
Perguntou-lhe se não estava se esquecendo de nada.
Nisto, mostrou-lhe um vidro de perfume.
Enquanto pagava o perfume, Felipe disse que a propósito daquela compra, a primeira vez que pisara os pés naquela loja, adquirira perfumes para sua mãe. Comentou que ela adorou as fragrâncias.
Leila ouviu as palavras.
A seguir, o rapaz saiu da loja com um pequeno embrulho.
Dirigiu feliz até seu escritório.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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