Ao se ver a sós, jogou-se na cama e começou a chorar.
Dramática, começou a dizer murmurando que sua vida havia acabado.
No dia seguinte, como havia prometido, Carlos contatou Francelino, perguntando-lhe se poderia agendar um encontro. Disse que tinha uma importante proposta para fazer.
Francelino, abatido, desculpando-se, disse que não estava em condições de ouvir quaisquer propostas.
Ansioso que estava, Carlos insistiu. Argumentou que era importante. Salientou que era algo que acreditava o deixaria deveras contente e que afastaria de vez o fantasma da malfadada noite.
Ao ouvir isto, Francelino acabou concordando.
E assim, em questão de horas, o rapaz se encontrava na casa da família.
Ao ser recebido por Francelino e Ângela, Carlos perguntou de Angélica.
O homem respondeu constrangido, que apesar dos pesares, a moça estava bem.
Carlos por sua vez, insistiu na presença da moça. Disse que ela era maior interessada no assunto.
Francelino pediu então a esposa, que chamasse Angélica.
Ângela dirigiu-se ao quarto da filha.
Angélica encontrava-se deitada em sua cama.
Ao ouvir passos, levantou o rosto, que estava inchado de tanto chorar.
Ângela por sua vez, bateu a porta pedindo licença, e aproximou-se da filha.
Delicadamente perguntou se estava tudo bem.
Angélica tentando sorrir, respondeu que sim.
Nisto Ângela comentou que Carlos estava na sala de visitas, e que tinha algo muito importante para dizer-lhe.
Ao ouvir estas palavras, a moça disse que não estava interessada em ver ninguém.
Ângela contudo, insistiu.
Disse que seria uma indelicadeza da parte da filha, recusar-se a receber a visita do rapaz gentil, que a auxiliara em um momento de dificuldade.
Angélica disse que não se sentia bem em receber visitas.
Ângela reiterou o pedido. Argumentou que se ela não descesse por bem, Francelino iria buscá-la. Comentou que quando ele fica nervoso, não é bom estar por perto. Preocupada, informou que desta vez, não poderia fazer nada para ajudá-la. Em não descendo, teria que arcar com as conseqüências de seu gesto.
Angélica tentou dizer que não gostava de Carlos, mas Ângela disse-lhe que ela não estava em posição de impor sua vontade.
Por fim, Ângela recomendou a filha, que fosse gentil com o rapaz, para não deixar seu pai mais irritado do que já estava. A mulher chegou a confidenciar que foi a muito custo que ela conseguiu convencer o homem a não surrar-lhe.
Diante de tal quadro, não restou outra alternativa a Angélica, senão concordar em ver o moço.
Contrariada, disse que se arrumaria, e que em alguns minutos desceria.
Ângela afastou-se então, e fechou a porta do quarto.
Nisto, Angélica escolheu uma roupa para vestir.
Arrumou-se, penteou os cabelos e desceu.
Carlos ao vê-la, ficou encantado.
Quando a moça se aproximou da escada, Carlos estendeu sua mão, auxiliando-a a terminar de descer.
Disse-lhe que estava muito bonita e beijou sua mão.
Este gesto, a fez lembrar Herculano, razão pela qual se esquivou do moço.
Francelino ficou irritado. Censurou a filha:
- Angélica! Isto são modos de tratar alguém tão gentil? Carlos, desculpe-me pelo comportamento de minha filha. Prometo que isto mudará com o tempo.
Carlos por sua vez, comentou que não se importava. Disse que gostava das moças discretas.
Aproveitando o ensejo, argumentou que estava ali para fazer uma proposta a moça.
Angélica ficou surpresa com a novidade.
Nisto Carlos começou dizendo que:
- Eu vim aqui, não apenas para saber como a senhorita estava... Eu sei que vai parecer estranho, já que nem nos conhecemos direito, e no último encontro que tivemos, a senhorita não pareceu muito entusiasmada com a minha presença... Mas estou disposto a fazer um apelo. Como já deve ter percebido, vim fazer-lhe uma proposta... Ora! Chega de volteios! Eu vim dizer ... Vim dizer...
Nisto Francelino perguntou:
- Veio dizer o quê?
Carlos estava nervoso, mas tomado de uma firme resolução, finalmente respondeu:
- Está certo! Eu vim aqui propor casamento a sua filha. Eu sei que talvez não seja a ocasião mais apropriada, mas eu não estou mais disposto a esperar... Quero me casar com a senhorita.
Angélica ficou espantada.
Ainda tomada de espanto, começou a chorar.
Disse que não queria se casar e saiu correndo da sala, subindo apressadamente as escadarias.
Ao perceber que Francelino brigaria com a filha, Ângela reteve o marido dizendo que iria conversar com Angélica. Argumentou que a convenceria a descer.
Francelino tentou dizer algo, mas Ângela ressalvou que faria a filha voltar a razão.
Nisto, aproximou-se do moço, e procurou desculpar-se do gesto intempestivo da filha.
Carlos por sua vez, pareceu não se importar. Disse que não esperava por menos. Argumentou porém, que estava disposto a enfrentar a situação. Confidenciou que gostava muito de Angélica, e que não estava disposto a desistir.
Ângela sorriu para o moço, pediu licença aos cavalheiros, e subiu as escadas.
Retornou ao quarto da filha, e impaciente, disse-lhe algumas palavras:
- Minha filha! Onde você está com a cabeça! Pensas realmente que aquele sedutor que induziu-a a fugir de casa está realmente disposto a se casar com você?
Chorando, a moça argumentou:
- Mas ele prometeu!
- Sua boba! Achas realmente que se ele estivesse realmente disposto a se casar, teria tentado fugir com você? Minha filha, eu sei que a ingenuidade faz com que teçamos os mais românticos sonhos, mas a vida real é diferente. Grandes amores só existem nas telas de cinema. A vida, o dia-a-dia, nos fazem ver um aspecto menos romântico da vida a dois.
Angélica continuava a chorar.
A mulher, percebendo isto, segurou o rosto da filha e disse:
- Eu sei que Carlos nunca foi o homem de seus sonhos. Carlos é um homem real. Isto não quer dizer no entanto, que o moço não tenha muito boas qualidades. É bonito, gentil, cavalheiro, educado, trabalhador, bem nascido... Sinceramente, eu não entendo tão pouco apreço por alguém tão cheio de qualidades. Não bastasse tudo isto, ele gosta muito de você, pois outro em seu lugar, não a pediria em casamento, depois de tudo o que aconteceu. Pense bem minha filha, não é todo dia que um príncipe bate a nossa porta. Carlos é um bom moço. Muito melhor do que aquele canalha.
Angélica ficou irritada com as últimas palavras de sua mãe.
Percebendo isto, Ângela retrucou:
- Ah, sim, claro! Agora você vai querer me convencer que aquele homem é uma pessoa de bem? Francamente, você não entende nada da vida. Homem de bem, é este moço que veio bater a nossa porta, que se prontificou em nos ajudar... Como me arrependo de não tê-lo auxiliado mais quando vocês foram apresentados um para outro. Preocupei-me em convencer seu pai que não era hora de pensar em casamento, e olha só o que aconteceu? Não devia ter sido tão complacente.
Angélica ficou espantada com as palavras da mãe. Nunca a vira tão nervosa e impaciente.
Nisto, a mulher disse que ela iria voltar para a sala.
Angélica no entanto, respondeu que não iria descer.
Irritada, Ângela puxou a filha pelo braço, e disse-lhe que iria descer sim, nem que fosse arrastada. Comentou que dali por diante, as coisas seriam diferentes. Disse que não iria mais protegê-la e se não queria ser apontada na rua como uma qualquer, deveria se casar com Carlos, ou não teria mais a proteção de seus pais.
Ao ouvir tais palavras, Angélica chorou. Pediu a mãe que reconsiderasse o que estava pedindo.
Ângela parou então de arrastar a filha.
Fitou-a e disse:
- Eu não tenho outra escolha. Você me impôs isto. Agora decida-se: vai aceitar o pedido do rapaz, ser gentil com ele, ou vai terminar de enlamear o nome da família?
Angélica começou a chorar. Segurou as pernas da mãe, pediu para que ela a ajudasse.
Ângela respondeu-lhe que só poderia ajudá-la a se entender com Carlos. Nada mais.
A moça, levantou-se então. Pediu a mãe que a ajudasse a se recompor.
Ângela aconselhou a filha a lavar o rosto e passar um pouco de maquiagem.
Angélica obedeceu.
Em seguida, as duas desceram juntas as escadas.
Ao aproximarem-se de Francelino e Carlos, ambos perguntaram se estava tudo bem.
Ângela respondeu que sim.
Angélica aproximou-se do moço, e tremendo, disse bem baixinho:
- Sim!
Carlos não ouviu. Perguntou:
- O quê?
Ainda trêmula, Angélica respondeu:
- Sim!
- Sim o quê? – insistiu o rapaz.
- Aceito o casamento. – respondeu chorando, a moça.
Carlos ficou satisfeito.
Nisto Francelino e Ângela parabenizaram o rapaz.
Ângela deu um abraço na filha.
Francelino, perguntou então, se Diva e Odair já tinham conhecimento do seu interesse em casar-se com Angélica.
O moço respondeu que eles foram os primeiros a saberem da novidade.
Ansioso, Carlos comentou que precisavam oficializar o noivado, o mais rapidamente possível.
Francelino concordou.
O homem pediu a uma criada para servir champagne a Carlos. Argumentou que aquela ocasião precisava ser comemorada, já que sua única filha iria se casar.
Angélica fez força para segurar seu pranto.
Nisto Francelino, Ângela e Carlos, comemoraram o compromisso. Angélica não aceitou o champagne. Disse que estava com dor de cabeça.
E assim, sentou-se em um canto do sofá.
Carlos, percebendo a apatia da moça, pediu para conversar a sós com Angélica.
Francelino fez menção de se opor, mas Ângela, dizendo baixinho que a situação não aceitava tantas formalidades, argumentou que não havia necessidade de se manter as aparências.
O homem contudo, estava incomodado com tanta liberdade.
Ângela por sua vez, visando tranqüilizar o marido, disse ficaria observando o casal à distância, e que se quisesse, poderia acompanhá-la.
Francelino contrariado, respondeu que não.
Mas disse para que ela cuidasse para que o moço não tivesse certas liberdades.
A mulher sorriu. Comentou que no que dependesse de Angélica, Carlos não obteria muito sucesso se tentasse.
Nisto, a moça conduziu o casal até o escritório do marido, onde ficaram a sós.
Ângela por sua vez, ficou espiando o casal por um olho mágico que havia em uma das paredes laterais do escritório.
Carlos, ao ver a moça sentada em um dos sofás do escritório, aproximou-se.
Perguntou-lhe se estava tudo bem.
Quase chorando, Angélica respondeu que sim.
Vê-la aos prantos, deixou-o condoído.
No que Angélica se afastou.
Carlos disse-lhe então, que não queria fazer-lhe mal.
Angélica por sua vez, retrucou:
- Se não quer fazer-me mal, por que me obriga a casar contigo? Não sabe que não te amo?
Carlos ficou arrasado ao ouvir tais palavras. Por um momento, pensou em desistir do casamento.
Nisto, ficou a observá-la.
Angélica tinha o olhar perdido.
Carlos então, aproximou-se novamente. Disse que não estava sendo maldoso. Comentou que gostava muito dela, e que lhe incomodava deveras vendo-a se envolver com gente desclassificada. Argumentou que o sujeito nunca mais voltaria, e que ela não precisava se preocupar com o ocorrido, posto que ele já havia esquecido.
A moça, perguntou então:
- Se esqueceste, por que fazes questão de me lembrar?
Ao ouvir tais palavras, Carlos resolveu se desculpar.
Argumentou que não fora nem um pouco cavalheiro de sua parte, se lembrar daquilo. Pediu insistentemente para que ela o desculpasse.
Como Angélica lhe era indiferente, o moço segurou sua mão e ajoelhou-se diante da moça.
- Levante-se! - exigiu a moça.
- Não posso! – respondeu o rapaz – Algo me prende aqui, e só poderei me levantar quando este problema estiver sanado. Insisto para que me perdoes, ou ficaremos para sempre aqui. – finalizou o rapaz entre risos.
Angélica tentou segurar o riso, mas não conseguiu.
Nisto o moço beijou novamente a sua mão. Comentou que a atitude amistosa da moça, sinalizava que ela o havia perdoado.
Desta forma, sentou-se ao lado da jovem, e elogiou-a. Disse-lhe que era uma bela moça, gentil, inteligente, e que era uma ótima companhia. Comentou que gostava de seus pais, e que Diva e Odair, também gostavam muito dela.
Angélica comentou que Diva e Odair, eram ótimas pessoas e que mereciam ter muita felicidade em suas vidas.
Carlos então, dizendo que fazia parte desta família, comentou que também tinha direito a sua cota de felicidade, e que em se casando com ela, deixaria seus pais muito felizes.
Angélica tentou então argumentar, dizendo que não seria uma boa esposa, já que não estava apaixonada por ele.
Carlos retrucou dizendo, que o amor se construía aos poucos, e que ele não mediria esforços para fazer com que ela o amasse.
A moça tentou responder, mas o moço pediu para que ele a deixasse provar que falava sério.
Sem entender direito o que Carlos dizia, Angélica concordou.
E assim, o moço se aproximou, e segurando-a pelos braços, beijou-lhe a boca.
Surpresa com o gesto, Angélica tentou afastar-se, no que foi impedida por Carlos.
Nisto, o moço disse:
- Ora, não se assuste! Não penses que eu sou um atrevido! Só quero que saibas que eu não medirei esforços para fazê-la feliz. Eu vou fazer de tudo para isto, mesmo contra a sua vontade. Eu não vou desistir de você!
E assim, Carlos deixou que Angélica se desvencilhasse dele.
Ao ver livre do moço, a moça levantou-se e saiu correndo do escritório. Afobada, não viu Francelino, que se admirou do gesto intempestivo da filha.
Ângela por sua vez, parecia satisfeita.
Comentou com o marido, que Carlos fora um tanto ousado com Angélica, mas que sua estratégia parecia ter dado um bom resultado.
Francelino não compreendeu as palavras da esposa.
Mas ao ver o rapaz saindo do escritório, com um sorriso vitorioso no rosto, percebeu que Ângela não estava enganada. Carlos parecia saber o que estava fazendo.
Por fim, o moço cumprimentou o casal, e dirigindo seu carro, voltou para casa.
Luciana Celestino dos Santos
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Poesias
quinta-feira, 4 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 4
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