Poesias

terça-feira, 30 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE I - CAPÍTULO XIV

O moço, melhor refeito da decepção que sofrera, passou a sair com mulheres.
Contudo, para preocupação de Fátima, o rapaz não se fixava em ninguém.
A mulher certa vez, durante o café da manhã, disse ao filho que ele estava em idade de se casar, e que ninguém era feliz sozinho.
Enquanto isto, Felipe mergulhava no trabalho.
Com o tempo, o moço optou pela criação de uma fábrica de roupas.
Felipe tinha tino comercial.
Epaminondas nunca se cansava de elogiar a habilidade do sobrinho-neto para os negócios.
O moço também não perdera o contato com os colegas de faculdade.
Conforme combinaram durante a formatura, todos os anos a turma se reunia em uma cantina, onde bebiam vinho, comiam uma massa e cantavam celebrando a alegria do reencontro.
Conversavam sobre o trabalho que executavam, os projetos, amenidades.
Muitos se reviam em fóruns e repartições públicas.
Felipe porém, sempre atarefado, quase sempre só os revia nos encontros anuais.
Com o tempo, casados, os moços passaram a mostrar fotos da família, dos filhos.
Um dia porém, saudoso dos colegas dos tempos de faculdade, Felipe combinou um encontro com os amigos mais próximos.
Neste encontro, se deparou com Leila, que conversava animadamente com alguns colegas.
Felipe, ao vê-la, cumprimentou-a.
A moça, ao reconhecê-lo, retribuiu o gesto.
Quando passava por uma das mesas, o moço acabou por esbarrar na jovem.
Imediatamente pediu-lhe desculpas.
Leila respondeu que não fora nada.
O rapaz então, tentando começar uma conversa, comentou:
- Dia bom para confraternizar, reunir os amigos, passear.
Leila concordou.
Disse que estava aproveitando o fechamento da loja para se reunir com seus colegas de trabalho e conversar um pouco.
Felipe sorriu, relatou que também estava acompanhado de amigos. Pessoas que não via há bastante tempo.
Leila sorriu.
Comentou que ás vezes faltava tempo para cuidar de tantas obrigações.
Felipe respondeu que estava em falta com seus amigos.
Leila comentou que também estava.
Argumentou que trabalhar e estudar não era nada fácil.
O moço ao ouvir isto, elogiou-a.
Contou que era raro conhecer pessoas que gostavam de estudar. Mencionou que a dificuldade de acesso ao ensino superior, também contribuía para tanto.
Leila, percebendo que o moço articulava bem as palavras, perguntou-lhe se estudava.
Nisto, o moço foi interrompido.
Eram seus colegas que o chamavam para novamente compor a mesa.
Um deles, já um tanto bêbado gritou instando a todos para um brinde.
Felipe, percebendo a exaltação do amigo, pediu desculpas a moça.
Disse que seus amigos o chamavam.
Leila entendeu.
Antes porém de se afastar, o moço lhe deixou um cartão das Empresas Oliveira.
Felipe pediu o seu número de telefone.
Leila respondeu que não tinha telefone.
Ao ouvir isto, o moço ficou um tanto desapontado.
Leila então, recordando-se do número de telefone de sua vizinha, passou-lhe o número.
Disse que poderia ligar.
Felipe agradeceu.
Com isto, a moça despediu-se do jovem gentil, e voltou a sua mesa.
Suas colegas, curiosas, perguntaram o que ela estava conversando com aquele rapaz simpático.
Leila sorrindo, respondeu que era apenas um conhecido.
- Sei! Sei! – disseram as moças, olhando-se cúmplices.
Felipe por outro turno, permaneceu por mais algum tempo no restaurante, ao lado dos amigos.
Leila e seus amigos por sua vez, depois de cerca de quarenta minutos, se retiraram.
Felipe, ao vê-la se levantando acenou para ela, que retribuiu o gesto.
No dia seguinte, em seu gabinete, o moço aproveitou para ligar para a vizinha de Leila.
Já passava das sete horas da noite.
Felipe havia passado o dia inteiro cogitando ligar para a moça. Mas ciente de que a mesma trabalhava, resolveu esperar o término do expediente comercial, para ligar.
Quem o atendeu foi um vizinho.
Felipe ficou um pouco sem graça, mas dizendo que precisava conversar com Leila, perguntou-lhe se não haveria incomodo em chamá-la.
O homem, um pouco aborrecido, respondeu que iria chamá-la.
Cerca de cinco minutos mais tarde, Leila atendeu.
Ao perceber que se tratava de Felipe, a moça sorriu.
Felipe, que não havia se apresentado, respondeu que era o moço que ela havia atendido outro dia, e no dia anterior, conversara com ela num restaurante.
Leila respondeu que se lembrava dele.
Ao ouvir isto, o moço respondeu que ficava aliviado por saber que não fora esquecido.
Em dado momento, percebendo que ainda não havia dito seu nome, respondeu que se chamava Felipe.
Leila então emendou, dizendo que ele trabalhava de motorista para as Empresas Oliveira.
O jovem, ao ouvir as palavras da moça, ficou perplexo.
Tentando desfazer o engano, comentou que sim, trabalhava na empresa, mas não exatamente como motorista.
Leila por sua vez, comentou que não era vergonha alguma trabalhar como motorista.
Felipe balbuciou algumas palavras, mas Leila não compreendeu o que ele queria dizer.
Constatando que a moça não acreditaria se ele dissesse ser o dono das empresas de tecido, resolveu se calar.
Com isto, combinou um encontro com a moça.
O casal então, se encontrou no Parque da Luz.
Caminhando juntos, conversaram sobre o encontro anterior.
Leila comentou que ultimamente, vinha realizando boas vendas.
Felipe por sua vez, comentou que trabalhava muito, mal tinha tempo para ele mesmo.
Curiosa, Leila perguntou se para trabalhar como motorista a dedicação era integral.
O moço, percebendo o engano da moça, e sem ter como desfazer o equívoco, comentou que qualquer trabalho em uma empresa, demanda dedicação, muita dedicação. Argumentou que sua atividade lhe ocupava quase todo o dia. Era um dos primeiros a entrar na empresa, e um dos últimos a sair.
Leila comentou que ele era um profissional muito dedicado.
Felipe respondeu que procurava realizar seu trabalho da melhor maneira.
Leila sorrindo, comentou que seus pais deviam ter muito orgulho dele.
Felipe respondeu que provavelmente sim.
Leila comentou que morava com seus pais, e que estava pensando em continuar os estudos, e em fazer um curso superior.
Felipe ficou surpreso com o interesse da moça.
Argumentou que normalmente as moças pensariam em um curso de datilografia, secretariado, freqüentariam o normal.
Leila respondeu que gostaria de ir um pouco adiante. Comentou que não lhe agradava a idéia de após se casar, viver como dona de casa. Contou que gostava de trabalhar.
Felipe sorriu.
Leila constrangida, perguntou-lhe se havia falado demais.
- Absolutamente! – respondeu o moço. – Mas suas palavras não são convencionais!
Leila respondeu que sua mãe não concordava com seu modo de pensar e que vivia a censurando por dizer estas coisas.
Segundo ela, sua mãe lhe dizia que assim, nunca arrumaria um bom partido, um bom marido.
Para ela uma tolice.
Felipe riu.
Comentou:
- Menina! Você é fogo na roupa!
Ao ouvir isto, Leila ficou um tanto tímida.
Comentou que apenas lutando pelo direito das mulheres de terem a vida que gostariam. De não dependerem dos homens para tudo.
Felipe de certa forma concordou. Disse que ela não estava de todo errada, mas que deveria tomar cuidado no modo como dizia o que pensava, ou correria o risco de ser mal interpretada.
Leila não compreendeu.
Felipe, tentando se fazer entender melhor, comentou que nem todos os homens, ou melhor, nem todas as pessoas, viam liberdade para as mulheres, com bons olhos. Argumentou que muitos aproveitadores poderiam entender algo totalmente diverso e passar a discriminá-la.
Leila não gostou do que ouviu.
Felipe, percebendo isto, pediu para que ela não o interrompesse. Mencionou que precisava concluir seu pensamento, e que depois a ouviria com toda a atenção.
Nisto, continuou a dizer, que ela poderia dizer o que pensava, sem dizer isto de um modo totalmente claro.
Mencionou que ela poderia dizer que gostaria de voltar a estudar, e até fazer um curso superior, se fosse preciso.
Leila ouviu as palavras do moço, com toda a atenção.
Em seguida respondeu que entendia o que ele quis dizer.
Sorrindo, comentou que às vezes se empolgava com seu próprio discurso, e acabava não medindo as palavras.
Felipe, ao ouvir isto, respondeu que com ele não havia problemas, poderia dizer tudo o que quisesse e do jeito que quisesse. Só pediu para que tivesse cuidado, ao dizer certas coisas para estranhos.
Leila, disse então, que ele era quase um estranho.
Felipe, incomodado com as palavras, respondeu:
- Então, deixe que eu me apresente novamente: Chamo-me Felipe, e gosto muito de garotas que sabem conduzir uma boa conversa.
A moça caiu na risada.
- Do que está rindo? – perguntou Felipe.
- De nada! – respondeu a moça. – Só achei engraçado o modo como você se apresentou.
Nisto, o casal continuou caminhando pelo parque, e conversando.
Em dado momento sentaram-se em um banco, e ficaram a observar os passantes.
Observaram os pássaros, as crianças correndo de um lado para outro.
Ao perceber um fotografo no jardim, Felipe pediu para que o homem tirasse uma foto deles.
Era uma câmera grande, de madeira, com tripé, e câmara. Quando a foto era batida, saia uma fumaça preta da máquina.
Quando o fotografo mostrou a foto ao casal, Felipe ofertou-a a moça.
Disse para que ela guardasse de recordação do passeio que fizeram.
Leila segurou a foto respondendo que a conservaria com todo o cuidado.
Por fim, despediram-se.
Antes, Felipe se prontificou a levá-la de volta para casa.
Leila declinou o oferecimento. Disse que voltaria para casa de bonde.
Felipe intrigado, perguntou-lhe quando lhe deixaria levá-la para casa.
Sorrindo, a moça se afastou e respondeu alto, que o faria, assim que fosse possível.
Com isto, a jovem encaminhou-se para fora do parque e caminhou pelas ruas da região da Luz.
Assim que passou num bonde, subiu no mesmo.
Felipe por sua vez, caminhou apressado até a saída do parque. Tentou descobrir para que lado a moça fora. Sem êxito.
Em seu trabalho, o moço se ocupava de muitas atividades. Na tecelagem, nas confecções, observava balancetes contábeis, participava de reuniões, atendia muitos telefonemas, assinava documentos, recebia correspondências. Além disso, auxiliava seu pai em seu comércio.
Tais tarefas ocupavam boa parte de seu tempo.
Ainda assim, o moço não parava de pensar na moça.
Com isto, quando o relógio sinalizou sete horas, Felipe telefonou novamente para a vizinha de Leila. Contudo, para sua decepção, a moça não estava.
De acordo com o vizinho mal humorado, Leila estava estudando.
Felipe por sua vez, agradeceu a informação. Pediu para que deixasse um recado para a moça, dizendo que ele havia procurado por ela.
O homem respondeu então, que assim que a visse, transmitiria o recado.
Felipe agradeceu e pediu desculpas pelo incômodo.
Leila mais tarde, ao tomar conhecimento do recado, tratou de contatar o moço.
Desculpando-se, argumentou que só tomara conhecimento do recado, dias depois do telefonema.
Curiosamente, uma secretaria atendeu o telefonema dizendo que transferiria a ligação para o senhor Felipe.
Leila achou estranho, tanta cerimônia.
Tanto que comentou o fato com o moço, que respondeu na empresa, todos o tratavam por senhor.
Leila perguntou se quem atendera a ligação fora uma secretaria.
O rapaz respondeu que sim.
Leila então, explicou a demora em retornar o contato.
Disse só ter encontrado o vizinho dias depois, vê se pode.
Felipe sorriu ao ouvir a voz da moça.
Leila perguntou se ele estava ocupado.
Felipe respondeu que não.
Neste momento, sua secretaria surgiu em sua sala.
O moço, ao perceber a aproximação, sinalizou que precisava ficar sozinho.
A mulher retirou-se então da sala.
Com isto, o jovem continuou a conversar com Leila.
Disse-lhe que estava aguardando um retorno.
Leila perguntou-lhe então, o que gostaria de lhe falar.
Felipe gaguejou. Disse que gostaria de convidá-la novamente para um passeio. Contudo, desta vez, a buscaria na porta de sua casa.
Leila tentou recusar o oferecimento, mas o rapaz insistiu.
Desta forma, só coube a moça dizer-lhe onde morava.
Com isto, o casal iria ao cinema.
Elegantemente trajados, foram assistir a uma chanchada.
Mais tarde, Felipe conversou com a secretaria.
Recomendou-lhe que sempre que atendesse as ligações de Leila, não lhe dissesse jamais, que ele era o dono da empresa. Mencionou que caso ela lhe perguntasse algo, dissesse que se tratava do motorista.
A secretaria, ao ouvir isto, ficou espantada.
Felipe explicou-lhe que mais tarde explicaria o que estava acontecendo, mas que no momento, era tudo o que podia dizer.
Em outro passeio, o moço passou a pensar em que carro usaria para buscar a moça.
Diante disto, ciente de que a moça pensava que ele era motorista da empresa, pediu a seu pai, que lhe emprestasse um carro antigo.
Fábio estranhou o pedido, mas Felipe disse que não queria chamar a atenção, e que gostaria de dirigir o veículo.
O homem concordou.
Dias depois, o moço foi buscar a moça em um carro antigo.
Quando viu o moço chegando em um carro velho na porta de sua casa, a moça surpreendeu-se. Indagou sobre o proprietário do veículo.
Felipe respondeu que havia pego o veículo emprestado. Afirmou que o carro era de um seu parente.
Nisto, o casal foi novamente até o cinema.
O moço de terno e gravata, Leila em um vestido rodado.
Tempos em que, para se freqüentar os cinemas, era necessário o uso de traje social.
Foram assistir outra chanchada.
A dupla se divertiu com as confusões de Oscarito e Grande Otelo.
Leila comentou que adorava os filmes de Eliana, e de Dercy Gonçalves.
Na saída do cinema, Felipe pagou um saco de pipocas para a moça.
O moço tentou sugerir um jantar, mas Leila, acreditando se tratar de um rapaz pobre, insistiu para que economizassem o dinheiro. Argumentou que poderiam fazer outro passeio.
Mais tarde, o rapaz levou a moça para casa.
Felipe quis se apresentar aos seus pais, mas Leila respondeu que não havia pressa.
O rapaz, estranhando, acabou por concordar.
Quando seus pais lhe perguntaram se havia conhecido alguém, Felipe, tentando desconversar, respondeu que estava aproveitando seus momentos de folga para se distrair um pouco.
Felipe estava adorando a idéia de não precisar dizer que era um homem rico para a moça.
Com o tempo porém, o moço passou a ser alvo de perguntas de Leila.
A jovem tinha curiosidade, queria conhecer os pais do moço.
Felipe estava aflito.
Conversando com Epaminondas, foi aconselhado a contar a verdade para a jovem.
Felipe, aflito, argumentou que se revelasse a ela que era rico, ela provavelmente não acreditaria nele.
Ou pior, se sentiria enganada por um aproveitador.
Epaminondas sorriu.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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