Durante a estada no país portenho, o casal passeou por lugares históricos, praças, monumentos, freqüentou bons restaurantes, dançou.
Cecília sempre impecavelmente trajada, assim como o moço.
Ao retornarem ao Uruguai, levaram as lembranças de uma bonita viagem.
Em seus passeios, compraram algumas lembranças para os garotos, que ficaram encantados com os presentes. Também comentaram detalhes da viagem para os meninos: os passeios que fizeram, os monumentos que visitaram.
Nesta época, Francisco contava com sete anos, Eli tinha nove.
Fabrício por sua vez, retornou uma última vez ao Brasil.
Ao retornar ao escritório onde trabalhava, pediu demissão, para espanto de seu chefe que tentou a todo o custo, demovê-lo da idéia.
Em vão, posto que Fabrício argumentou que havia recebido uma proposta de emprego no México, onde ganharia três vezes mais.
Seu chefe, sem ter como cobrir a proposta, aceitou o pedido de demissão do moço.
Fabrício aproveitou também, para visitar os pais.
Comunicou-lhes que passariam um longo tempo sem vê-los, tendo em vista que se mudaria para o México, mas que assim que pudesse, entraria em contato com eles, nem que fosse através de carta.
Carlos, surpreso com a novidade, perguntou-lhe em qual empresa mexicana trabalharia.
Fabrício respondeu-lhe que não lhe diria o nome da empresa e tampouco da cidade para onde iria. Comentou que era segredo, e que somente poderia contar quando estivesse instalado no lugar.
Carlos não se convenceu dos argumentos do moço e iria insistir em suas perguntas, não fosse a intervenção de Angélica que lhe pediu para que parasse de inquirir Fabrício.
Angélica respondeu que o moço quase não os visitava e que ficar insistindo naquela conversa, só faria com que ele se afastasse mais. Afinal de contas, se ele não queria dizer para onde ia, era porque tinha os seus motivos.
Fabrício sorriu para a mãe.
Com isto, desembaraçado de seus compromissos, o moço rumou para o Uruguai, de onde não se afastou mais.
Ao chegar na mansão, comentou que ele não tinha mais vínculos com o Brasil.
Informou que havia pedido demissão.
Cecília perguntou-lhe o que faria no Uruguai.
O moço respondeu-lhe trabalharia nas mesmas atividades em que trabalhou no Brasil.
Apenas com a diferença de que seria seu próprio chefe.
Com isto, começou a dar início a um escritório de advocacia, cuja fama chegou ao Brasil.
Fabrício se tornou um doutrinador, citado até por juristas no Brasil.
Desta forma, aumentou se patrimônio, atuando em causas de vulto.
A propósito...
A família aumentou, com a chegada de uma filha, de nome Carolina.
Cerca de três anos mais tarde, Fabrício enviou uma carta aos pais, explicando-lhes o seu sumiço, bem como lhe participando a informação de que havia se casado com Cecília e tiveram uma filha.
Pedro, ao tomar conhecimento disto, ficou perplexo. Como ela conseguiu se separar dele sem o seu conhecimento?
Anos mais tarde, Pedro descobriu o documento enviado para ele anos atrás, em meio aos seus pertences.
Sua namorada na época recebeu a correspondência, a qual deixou em meio a suas coisas, mas ele não se interessou em abri-la.
Estava tão envolvido em bebedeiras que não se preocupou com o assunto.
Carlos por sua vez, ao tomar conhecimento das segundas núpcias de Cecília, censurou-a chamando a moça de oportunista e aproveitadora.
Angélica fuzilou-o com os olhos.
Por este motivo, o casal ficou semanas sem se falar.
Até que se entenderam.
Não sem protestos de Angélica que dizia que ele afastou Fabrício dela.
Anos mais tarde ela comentou que ele não poderia continuar sendo tão duro. Disse-lhe que eles morreriam e não haveria quem cuidasse dos seus funerais.
Carlos criticando-a, disse-lhe que não precisava exagerar.
Angélica retrucou dizendo que não estava exagerando. Argumentou que o tempo passava depressa, e mais cedo ou mais tarde eles iriam embora.
Triste respondeu que não gostaria de morrer sem ver o filho, nem que fosse só mais uma vez.
Tempos mais tarde, Irineu, mais compassivo, visitou a filha, ao lado de sua esposa.
Eleanor chorou ao ver a filha feliz, ao lado de seu novo marido.
Paparicou o quanto pode os netos, e principalmente, a neta.
Eduardo e Roseli, com o filho Samuel, também visitaram o casal.
O garoto nesta época já tinha quase quatro anos.
Márcia, casada com Vinícius, já tinha um filho de nome Antonio.
Fabrício só se ressentia da ausência dos pais, mas Cecília temerosa, se recusava a voltar ao Brasil.
Ainda temia que Carlos pudesse lhe tirar a guarda dos filhos.
Argumentava que se tratava de um homem poderoso.
E assim, nunca retornou ao Brasil.
Muitos anos depois, Angélica visitou o filho.
Foi a última vez que viu Fabrício.
Meses depois, faleceu.
Quando Fabrício soube do ocorrido, ficou desolado.
Carlos sentiu muito a perda.
Ainda assim, providenciou a abertura do testamento da esposa e comunicou ao filho, por meio de um advogado.
Cecília havia deixado metade do patrimônio que recebera dos pais para ele, e a outra metade para Pedro.
Fabrício, ao tomar conhecimento do falecimento da mãe, voou para o Brasil, mas não conseguiu acompanhar o funeral.
A ele restou o consolo de visitar o túmulo de Angélica e depositar algumas flores.
Também encomendou uma lápide, onde mandou inscrever que ela fora uma mulher venturosa por haver encontrado um homem amoroso, e que ele fora abençoado por ser seu filho.
Fabrício tentou conversar com o pai, mas Carlos se recusou a recebê-lo.
Ao retornar ao Uruguai, tentou convencer a esposa a retornar ao Brasil, mas Cecília se recusava.
Os filhos crescidos, já haviam se casado e a moça argumentou que não iria abandoná-los.
A própria Carolina já havia constituído família.
Casou-se aos dezoito anos.
Anos depois deu a luz a uma filha.
Quando a menina nasceu, Carolina e Heitor já estavam instalados no Brasil.
A criança, filha de uruguaios, nasceu no Brasil.
Ainda assim, Cecília permaneceu no Uruguai.
Com o tempo Cecília e Fabrício, acabaram perdendo o contato com o casal.
Isto por que Heitor se envolveu com o movimento estudantil, e precisando se esconder, não pode dizer onde estava.
Como Carolina não retornou ao Uruguai, Cecília morreu sem ter notícias da filha.
A moça não escrevera para a mãe.
Cecília morreu com cerca de setenta anos de idade.
Cecília e Fabrício por sua vez, venderam o imóvel que tinham na cidade praiana e rumaram para a capital.
Como o imóvel tinha comprador certo e o casal precisava de dinheiro rápido, acabaram por se desfazerem do mesmo.
E assim, o contato foi perdido.
Com relação a este fato, por diversas vezes Fabrício tentou localizar a filha, sem êxito.
Angustiado, o casal chegou a pensar que Carolina e Heitor pudessem ter sido presos e estarem sofrendo torturas.
Esta era a maior aflição de Cecília.
Fabrício por sua vez, temia por algo pior.
Porém, percebendo o desespero da mulher, procurava poupá-la de suas conjecturas.
A todo o momento procurava consolá-la. Dizia que devia estar tudo bem.
Fabrício argumentava que notícias ruins chegavam rapidamente. Caso tivesse ocorrido algo com o Carolina e Heitor, saberiam pelos jornais.
Cecília porém respondeu que o Brasil estava vivendo sob a égide da ditadura militar, e que os jornais do país, estavam censurados.
O homem não soube o que dizer.
Fabrício por sua vez, desencantado com a morte da esposa, retirou-se do país.
Deixou seu patrimônio para os filhos e partiu para o Oriente.
Envolvido em atividades de engenharia, resolveu investir nestas atividades no Oriente Médio.
Com efeito, Heitor precisou sair de São Paulo, onde ficou alguns meses em um sítio de um conhecido seu.
Cecília e Fabrício, não chegaram a saber que Carolina havia tido uma filha.
Maria nasceu tempos depois, em um tempo mais calmo.
A moça cresceu. Formou-se em jornalismo.
Anos depois, morando em seu próprio apartamento em São Paulo, longe dos pais, Maria tomou conhecimento do acidente que envolvera Carolina e Heitor, causando a morte de ambos.
Não fosse o apoio dos amigos, e Maria tivesse talvez, desistido de continuar em Sampa.
Luciana Celestino dos Santos
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Poesias
quinta-feira, 18 de março de 2021
A FLOR DO ALTO - CAPÍTULO 23
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