Poesias

quarta-feira, 31 de março de 2021

CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 4

Ao chegar no riacho, a moça apeou do cavalo.
A mulher recostou-se em uma árvore.
Observou o movimento das águas, o verde das matas, as árvores.
O céu, com algumas nuvens.
Recordou-se da infância na capital, sua casa repleta de árvores, onde encostava-se em uma delas e ficava imaginando o formato das nuvens. Brincava que eram cavalos, bichos, árvores, casas, pessoas, montanhas. Ficava horas exercitando a imaginação.
Recordou-se do dia em que assistiu com Antenor, a um filme de Mazzaropi.
Emocionado, o homem se encantou com o ator, dizia que suas histórias eram singelas e delicadas.
Ludmila concordava.
Triste, a moça perguntava a si mesma, por que ele havia partido tão cedo, e a deixado tão sozinha?
Mais tarde, a mulher passou em frente a escola onde lecionara.
De longe observou a professora ensinando a tabuada.
Por um momento, chegou a se emocionar.
Lúcio, que passava por ali, ao perceber que a mulher estava entretida observando a aula pela janela, chamou-a.
Assustada, a moça voltou-se para ele.
Os olhos da mulher estavam cheios d’água.
Lúcio ao vê-la tão emotiva, perguntou:
- Está tudo bem?
- Sim! – respondeu lacônica, enxugando os olhos.
- Pois não parece. – insistiu o moço.
Tentando desconversar, a mulher respondeu que um cisco havia caído em seu olho.
- Ah sim! Nos dois olhos! Curioso. – comentou o rapaz quase rindo.
Ludmila irritou-se.
Nervosa a moça respondeu agressiva:
- O que é que tem? Nunca caiu um cisco no teu olho?
Lúcio riu.
Ludmila ao perceber isto, perguntou:
- Do que você está rindo?
Tentando se controlar, o moço pediu desculpas.
Disse que não tivera a intenção de destratá-la, mas que ficar disfarçando que estava emocionada, era uma grande bobagem.
Curioso, perguntou-lhe por que aquela cena lhe evocava tanta emoção.
Ludmila respondeu que não havia nada demais ali. Apenas acompanhava uma aula.
Lúcio continuou perguntando por que aquilo tinha um significado tão especial para ela.
Sem alternativa a mulher explicou que era normalista. Freqüentara o curso normal.
Relatou que ao se formar, recebeu uma proposta de trabalho em um vilarejo no interior do estado. Comentou que amigos a indicaram para o trabalho ao perceberem que ela precisava de emprego, ao se ver sozinha, sem parentes, e ajudaram-na com o emprego.
Argumentou que como não tinha mais parentes na capital, foi mais fácil começar do zero.
Ludmila revelou que lecionou por meses, e que após casar-se, continuou lecionando por algum tempo. Até passar esta incumbência a outra pessoa. Saudosa, comentou que às vezes sentia falta do trabalho. Comentou que era fascinante ajudar a formar um cidadão.
Lúcio ficou encantado com a história. Argumentou que entendia sua ligação afetiva com o lugar.
Nisto, caminharam juntos por algum tempo.
Conversaram sobre a vida na fazenda.
Lúcio comentou sobre seu trabalho. Argumentou que gostava da vida na fazenda.
Mais tarde, com o sol começou a se pôr, o moço retornou a casa.
Conversou com Valdomiro.
Perguntou sobre o que estava conversando com Ludmila.
O homem respondeu a fazendeira perguntou o ele achava do trabalho dele.
Curioso, o jovem perguntou o que ele respondera.
Valdomiro contou-lhe.
Ao ouvir as palavras do homem, Lúcio ficou envaidecido.
Indiscreto, Valdomiro comentou ter dito a mulher que ele era um ótimo partido.
Lúcio caiu na risada. Desconfiado, indagou:
- Não! O senhor não disse isto!
Valdomiro respondeu que sim. Que dissera isto.
Nisto, Lúcio perguntou se Ludmila era professora.
Valdomiro contou que a mulher lecionava na escola da vila. Comentou que foi assim que ela conhecera o falecido Antenor. Contou sobre a história do casal, a viuvez da mulher, o período em que lecionou na escola da fazenda.
Comentou que a escola era um sonho de Antenor, que não queria que nenhum filho de colono ficasse sem o primário.
Valdomiro falou sobre a generosidade de Ludmila.
Argumentou que era uma patroa exigente, mas humana.
Lúcio ouvia a tudo com muito encantamento.
A cada dia que passava, mais aumentava o seu encantamento e admiração pela mulher.
Luzia, filha de Valdomiro, estava interessada no moço, mas como o rapaz não demonstrava interesse por ela, desistiu.
Durante a festividade na vila, ficou esperando o rapaz convidá-la para dançar.
O que não ocorreu.
Com o tempo, a moça arrumou um pretendente. Esqueceu-se da paixonite.
No domingo, Ludmila dirigiu seu carro até a vila.
Queria acompanhar a missa. O que fazia todos os domingos.
Mais tarde, depois de visitar amigos e conhecidos na vila, retornou a fazenda.
Lúcio por sua vez, saiu novamente para pescar. Só que desta vez, seguiu acompanhado de Valdomiro e seus filhos.
Ao conseguir pescar alguns peixes, o moço se despediu do homem e de seus filhos.
Valdomiro ficou surpreso com a reação do moço, perguntou-lhe onde estava indo.
O rapaz respondeu que se tudo desse certo, ele não voltaria para almoçar.
Pediu ao amigo para que se desculpasse com Leocádia e com as moças.
Nisto recolheu os peixes colocando-os numa cesta e amarrou-a na cela.
Montou no cavalo e sumiu do campo de visão de Valdomiro.
Curiosos, os moços perguntaram onde ele ia.
Valdomiro comentou que fazia uma vaga idéia, mas não comentou a respeito.
Os rapazes ficaram inconformados.
Lúcio encaminhou-se para a sede da fazenda.
Ao se aproximar da propriedade, apeou do cavalo, amarrando-o junto uma árvore.
Retirou o cesto do cavalo.
Jurema, ao notar a aproximação, dirigiu-se ao alpendre.
Ao ver o rapaz carregando uma cesta, perguntou-lhe o que desejava.
Lúcio cumprimentou-a e perguntou sobre Ludmila.
Jurema respondeu que acabara de voltar da missa. Com isto, pediu licença e chamou a patroa.
Ludmila surpreendeu-se ao tomar conhecimento de que Lúcio solicitava falar-lhe.
A mulher encaminhou-se ao alpendre.
Lúcio ao vê-la, perguntou-lhe como estava.
Ludmila respondeu que estava bem.
Lúcio perguntou-lhe se já havia almoçado. Indagou se não gostaria de saborear um peixe recentemente pescado.
Como Ludmila não compreendesse o que o moço dizia, Lúcio abriu o cesto que carregava e mostrou-lhe os peixes que havia pescado.
Ludmila perguntou-lhe por que não oferecera os peixes a Leocádia.
Lúcio respondeu que havia pescado os peixes para uma ocasião especial.
Nisto, perguntou se poderia entrar.
Ludmila assentiu com a cabeça.
Ao adentrar a sede, o moço perguntou onde poderia preparar os peixes.
A fazendeira, ao ouvir as palavras do moço, ficou deveras surpresa.
- Preparar os peixes? Você vai preparar os peixes?
Sorrindo, o moço respondeu que sabia fazer algumas coisas na cozinha. Comentou que vivendo algum tempo sozinho, precisou aprender a se cuidar.
Ludmila respondeu-lhe que poderia deixar os peixes na cozinha. Indicou-lhe o caminho.
Ao lá chegar, mostrou o fogão a lenha, as panelas, as colheres, os pratos, enfim, os utensílios.
Nisto o moço depositou o cesto em uma mesa, colocou um dos peixes numa bacia e pegando uma faca, começou a limpá-lo.
Disse que cozinhar era uma arte e que as mulheres iriam experimentar uma iguaria sem comparação.
Jurema, ao ouvir os comentários do moço, comentou que não sabia se o prato ficaria bom, mas que a modéstia era um caso a parte.
Todas as mulheres que estavam na cozinha riram.
Lúcio por sua vez, respondeu:
- Riam! Mas depois de provarem a iguaria vocês verão que eu estou certo.
Nisto o moço começou a abrir um peixe, retirou suas espinhas, as vísceras.
Temperou os peixes e os assou.
Para completar, pediu uma travessa para colocar os peixes.
Ludmila enfeitou com alface, tomate e batatas.
Jurema preparou arroz, e um suco.
Valdomiro, por sua vez, ao chegar em casa com uma cesta cheia de peixes, acompanhado dos filhos, chamou a atenção de Leocádia, que perguntou por Lúcio.
O homem respondeu que moço tinha outros planos e que pelo visto, não voltaria tão cedo.
Luzia não gostou muito do comentário.
Com isto, Leocádia e a filha prepararam o almoço.
Na sede da fazenda, Ludmila, Jurema e as criadas saborearam o peixe preparado pelo moço, na mesa que havia na cozinha.
As criadas limparam a bagunça da cozinha, lavaram os utensílios domésticos.
A cozinha ficou uma maravilha.
E ali, acomodados, todos saborearam a comida.
Ludmila foi a primeira a provar a comida.
Disse que o peixe estava muito bom. Brincou com o moço dizendo que ele era muito prendado, e já podia casar.
Lúcio respondeu brincando que já vinha pensando na possibilidade.
Curiosa, Jurema perguntou se ele já tinha alguém em vista.
Lúcio respondeu que talvez, mas que não tinha a certeza se a pessoa em questão estava interessada nele.
Jurema achou romântico.
Sorrindo comentou que ele devia se acertar com alguém, assim como ela havia se acertado com seu noivo. Contou feliz, que dentro em breve se casaria.
Lúcio ao ouvir as palavras da moça, parabenizou-a.
Jurema comentou que o noivo estava viajando, mas que assim que retornasse, ela o apresentaria a ele.
Conversaram animadamente.
Em dado momento Lúcio comentou que decidira permanecer no campo, e que por esta razão passou a viver sozinho.
Motivo pelo qual precisou aprender a cozinhar.
Jurema perguntou pelos parentes e Lúcio respondeu que seus pais eram falecidos.
Haviam morrido quando ele era uma criança, vitimados pela tuberculose.
Ao ouvirem isto, todas as mulheres ficaram chocadas. Uma delas chegou a comentar que devia ser muito triste a vida de quem não tinha parentes próximos.
Lúcio falou que já estava acostumado a viver sozinho.
De início vivera em casa de tios, mas ao alcançar a maioridade, resolveu cuidar da própria vida.
Depois do almoço, as mulheres ficaram na cozinha.
Ludmila e Lúcio seguiram para a sala.
Ficaram ouvindo música.
O moço aceitou a oferta da aguardente.
Lúcio, tentando puxar assunto, comentou que fazia anos que não entrava em uma igreja.
Ludmila comentou que gostava de participar da missa. Brincando dizia que era uma forma de resguardar seu lado feminino.
O rapaz ao ouvir isto, disse-lhe que era muito feminina.
Ludmila achou graça. Disse que passava o tempo todo de calça, botas, chapéu e o cabelo preso.
Lúcio indiscreto, comentou que seu cabelo devia ser muito bonito.
Ludmila fingiu não ouvir.
Mais tarde, o moço contou que descobrira um lugar encantador para cavalgar.
Ludmila argumentou que conhecia a fazenda em todos os seus meandros.
Como o moço não conhecesse o significado da palavra, Ludmila explicou-lhe.
A certa altura, a mulher lhe perguntou se havia freqüentado a escola.
Lúcio, sentindo-se ofendido, comentou que era alfabetizado sim, e que assim feito o curso primário, na fazenda onde nascera. Argumentou que não estudara mais por falta de oportunidade.
No que Ludmila falou-lhe que seu vocabulário era rico, falava corretamente e possuía maneiras bastante educadas para um campônio.
Lúcio não gostou do que ouviu.
A mulher, percebendo isto, argumentou que não tivera a intenção de ofender. Apenas estava fazendo uma constatação. Relatou que como professora, sabia ver quem tinha potencial para ser um bom aluno. Mencionou que ele tinha uma mente muito lúcida e que com lápis e um caderno nas mãos e uma boa orientação, poderia se tornar alguém brilhante.
Aborrecido, o rapaz respondeu que não gostaria de ser brilhante. Argumentou que estava bem, sendo o que era.
- Entendo! – respondeu Ludmila.
Nisto, o moço, tentando mudar de assunto, convidou-a para um passeio.
Ludmila, incomodada por haver aborrecido Lúcio, concordou.
Disse-lhe que precisava desfazer o mal entendido.
E assim cavalgaram juntos.
Jurema chegou a ver a patroa e o peão a cavalo.
Sumiram na poeira do horizonte.
Cavalgando, chegaram em um lugar com muitas árvores, uma nascente, próxima ao pomar da fazenda.
Ludmila comentou que fazia muito tempo que não passava por ali.
Lúcio respondeu que gostava daquele lugar, tanto quanto do lugar onde a encontrara pela primeira vez.
Ludmila ficou curiosa com a lembrança. Perguntou-lhe se ele ainda recordava onde era o lugar.
- É claro! – respondeu.
Nisto, o moço apeou do cavalo.
Pediu a fazendeira que esperasse um pouco.
Com isto, aproximou-se do cavalo de Ludmila e ajudou-a a descer, em pese a mulher dizer que não era necessário. Argumentou que já estava acostumada a apear do animal.
Lúcio respondeu que nunca era demais um gesto de gentileza.
Desta feita, o moço lhe mostrou a nascente.
Abaixou-se para molhar o rosto na água.
Lúcio, com os cabelos molhados, perguntou se ela não gostaria de se refrescar.
Ludmila abaixou também e com as mãos, pegou um pouco de água e bebeu.
O moço mostrou-lhe peixes, e comentou que gostava de pescar em um rio perto dali.
Comentou que ela era uma mulher de sorte por viver em lugar tão bonito.
Ludmila concordou. Disse que este fora o maior legado de Antenor lhe deixara. O amor pelas coisas simples da vida.
Enciumado, Lúcio comentou que o homem devia ter sido muito importante em sua vida.
A fazendeira respondeu que sim.
Ninguém nunca poderia ocupar o lugar deixado pelo homem, comentou.
Lúcio levantou-se.
Ludmila fez o mesmo.
Incomodado, o jovem perguntou-lhe se ela nunca havia pensado em se casar novamente, em conhecer outro homem. Comentou que ela poderia ser feliz ao lado de outra pessoa.
Ludmila indagou:
- Não sei! Não acho que encontraria alguém com entendimento suficiente para saber o que significou minha relação com Antenor e não sentir ciúmes. Ademais, nunca apareceu ninguém. Nem acho que irá aparecer, ser viúva é viver eternamente triste. e eu não gosto de seguir regras rígidas. Gosto de ser livre. Não gosto de dever satisfações a ninguém.
Lúcio ao ouvir isto, respondeu-lhe que ela estava com medo.
Ludmila ficou intrigada.
- Medo de quê? Sou dona do meu nariz. O que poderia temer?
Lúcio rindo, comentou que não poderia negar que ela era uma mulher de fibra. Linda, forte e determinada.
Ao ouvir isto, a mulher ficou um pouco sem jeito.
O jovem continuou. Disse o que o medo era referente as relações afetivas. Comentou que devia ser difícil se desfazer da imagem de mulher durona e mostrar seu lado mais gentil e afável.
Ludmila não gostou do palavreado.
Comentou que era dura quando precisava, mas que não tinha o coração de pedra.
Lúcio, percebendo isto, pediu-lhe desculpas. Falou-lhe que não tivera a intenção de ofender. Contou que apenas queria dizer que não ela tivera a oportunidade de mostrar um outro lado seu. Estava tão acostumada a cuidar dos outros, que havia desaprendido o que era ser cuidada por alguém.
Ludmila ficou incomodada com as palavras. Tentando encerrar a conversa, disse que quando aparecesse alguém, pensaria no que ele havia dito.
Lúcio ficou desapontado. Tanto que chegou a perguntar:
- Não apareceu ainda?
Ludmila não respondeu.
Lúcio insistiu.
No que a mulher perguntou o porquê do interesse em sua vida sentimental.
Argumentou que ele também não gostava quando se tocava em certos assuntos com ele.
Lúcio respondeu que não gostava quando esperavam dele, algo que ele não poderia oferecer. Comentou que não estava interessado em ser doutor, e que se a madame queria um doutor, teria muito trabalho para encontrar um naquele fim de mundo.
Ludmila ficou furiosa.
Vociferando disse:
- Escute aqui rapaz! Quem você pensa que é para falar comigo desta maneira? Perdeu o juízo? Eu sou a dona deste lugar. Respeito é bom e eu gosto... Quando eu lhe disse sobre os estudos, não foi para fazê-lo doutor. A idéia não é esta, eu só acho que um pouco de instrução não faz mal a ninguém. Ademais eu também não tenho nível universitário. Não por vontade própria, mas por que neste país atrasado, foi a única opção que me restou. Ou fazia o Normal ou não teria formação alguma. Eu fiquei com os estudos. Lamento não ter podido estudar mais... Agora, sinto muito se isto não é importante para você. Eu só estava fazendo uma sugestão. Desculpe se soou de outra forma.
Nisto, Ludmila virou-se e caminhou em direção ao seu cavalo.
Lúcio, ao notar que ela se afastava, colocou as mãos na cabeça.
Insistiu para que ela não fosse embora. Pediu-lhe desculpas.
Falou-lhe que havia sido grosseiro, e que nada justificava seu comportamento. Envergonhado, comentou que não sabia o que estava acontecendo com ele, disse que nunca tratara uma mulher daquela forma.
Novamente pediu-lhe desculpas.
Mencionou que arrumaria seus pertences e nunca mais colocaria os pés naquela fazenda.
Ludmila, ao ouvi-lo pedir desculpas, percebendo que rapaz ira partir, voltou-se para ele.
Perguntou-lhe se tinha para onde ir.
Lúcio respondeu que poderia perfeitamente pousar em qualquer lugar.
Ludmila proibiu-o de sair da fazenda sem sua permissão. Argumentou que havia muito trabalho a ser feito.
O homem respondeu que sua presença não se fazia mais necessária.
Tencionou se afastar, no que foi impedido por Ludmila, que disse que não havia autorizado sua partida.
Ao ouvir isto, Lúcio ficou nervoso.
Ludmila respondeu então:
- Não pense que eu sou prepotente, embora possa parecer... Escute aqui ... eu sei que irei me arrepender e provavelmente isto é um delírio, mas eu preciso fazer uma pergunta... Você está interessado em alguém da fazenda? É alguém que eu conheça?
Lúcio começou a rir.
- Você não entendeu nada!
- Entender? O que?
Lúcio segurou sua mão. Olhou-a nos olhos.
Disse-lhe que aquilo que iria fazer, provavelmente custaria seu emprego, mas que diante das circunstâncias, poderia fazê-lo.
Desta forma, puxou a mulher para junto de si, e a beijou.
Atônita, ao se ver livre dos braços do moço, perguntou:
- Por que você fez isto?
Lúcio respondeu que deveria pedir desculpas, mas argumentou que seria hipócrita se o fizesse, posto que não estava arrependido.
Triste, comentou que só lamentava não ser correspondido.
Nisto, aproximou-se do seu cavalo.
Quando estava prestes a montá-lo, sentiu uma mão pousar em seu ombro.
Era Ludmila.
A mulher pediu-lhe para não partir.
Lúcio argumentou que não tinha motivo algum para ficar. Ainda mais, depois do que se sucedera.
Ludmila respondeu-lhe então, que não estava pronta para se casar novamente.
Enciumado, o moço começou a dizer que Antenor era muito importante para ela e que ninguém ocuparia seu lugar.
A fazendeira por sua vez, colocou sua mão nos lábios do rapaz.
Pediu para que se calasse. Argumentou que ele falava muito.
Ludmila pediu-lhe para que se abaixasse, disse que tinha algo para dizer-lhe.
Como o moço fosse mais alto que ela, Lúcio cedeu. Atendeu o pedido da mulher.
Ludmila segurou seu pescoço.
Disse em seu ouvido, que precisava ficar mais calmo.
Ludmila colocou as mãos em seu rosto.
Lúcio parecia incrédulo.
A mulher olhando-o nos olhos, beijou-o.
Surpreso com o gesto, o homem se desequilibrou.
Ludmila pediu para que tivesse cuidado.
Lúcio pediu desculpas.
Encabulado, começou a olhar para o chão e rir.
Ludmila, sem entender o que estava acontecendo, perguntou se estava tudo bem.
Lúcio tirou os olhos do chão e olhando para ela, disse que sim.
Aproximando-se da mulher abraçou-a.
Ao soltar a mulher, Ludmila percebeu que os olhos do moço estavam cheios d’água.
Lúcio contudo, disse que não era nada.
Procurando se recompor, perguntou se poderia entender aquele beijo como um início de namoro.
Ludmila respondeu que sim.
Prometeu que pensaria com carinho na possibilidade de vir a se casar com ele.
Lúcio concordou.
Nisto, pensando na situação, chegou a comentar que ela enfrentaria dificuldades para assumi-lo.
Receoso, perguntou se teria coragem para enfrentar a todos.
Ludmila respondeu-lhe que não devia satisfações a ninguém. Comentou que ao se casar com Antenor, foi taxada de interesseira. Ao ficar viúva e tomar as rédeas da fazenda, foi criticada. Ressaltou que nunca pautou sua vida pelo que as pessoas pensavam. Repetiu que procurava ser feliz da maneira que era possível.
Lúcio sorriu.
Falou-lhe que havia se esquecido que ela era uma mulher de fibra.
Nisto convidou-a para sentar-se do seu lado.
Ludmila recostou-se no moço.
Lúcio abraçou-a.
Ao se despedirem, Lúcio puxou-a pelo braço e beijou-lhe novamente os lábios.
Comentou que sentiria saudades.
Ansioso, perguntou quando poderiam se encontrar.
Ludmila respondeu-lhe que amanhã depois do trabalho, poderiam se encontrar ali.
Nisto a mulher montou em seu cavalo e partiu.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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