Poesias

quinta-feira, 1 de abril de 2021

CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 6

Ludmila perguntou-lhe então se não gostaria de acompanhá-la.
Ao ouvir a proposta, o moço sorriu para ela.
- Mas é claro que eu quero. – respondeu.
Mais tarde fizeram outro passeio a cavalo.
No dia seguinte, foram até a cachoeira.
Lá, mergulharam em suas águas.
Antes porém, de partir, Ludmila pediu a Jurema que arranjasse uma cesta e a enchesse com comes e bebes.
Com isto, o casal tomou o café da manhã em meio a natureza.
O casal estendeu uma toalha na relva e se deliciava com broas, queijo, geléias, suco, leite, frutas.
Depois, Lúcio se deitou no colo da moça e ficou a observar as nuvens.
Quando Ludmila se deitou no colo do rapaz, ficou a observar as águas, o barulho das mesmas, seus movimentos sutis.
Gostava da natureza.
Lúcio percebendo a moça entretida em pensamentos, brincava dizendo que gostaria de saber no que ela estava pensando.
Ludmila respondia que não estava pensando em nada, eram apenas bobagens.
Ao ouvir as palavras da jovem, Lúcio disse que um dia, ainda saberia tudo o que se passava com ela.
Mais tarde, depois do descanso na beira da cachoeira, o casal entrou novamente nas águas.
Lúcio brincou de jogar água na moça, que protestou.
Em dado momento, percebendo que Ludmila se afastava dele, o moço aproximou-se e puxou-a para junto de si.
Beijaram-se.
Lúcio e Ludmila abraçaram-se.
Na cachoeira, ficaram a observar o céu.
Lúcio disse que aquele seria o lugar mágico deles.
Ao ouvir isto, Ludmila disse que tinha um carinho especial pelo lugar onde eles se conheceram.
Lúcio ficou surpreso.
Comentou acreditar que só ele achava o lugar especial. Galante, contou que se impressionou com ela desde a primeira vez que a vira. Vaidoso, comentou que assim que a viu, percebeu que não se tratava de uma mulher comum. Confessou que se encantou por ela naquela primeira vez que a vira.
Ludmila ao ouvir isto, questionou-o. Dizia não acreditar que ele se encantou com ela a primeira vista.
O rapaz, ao notar o descaso da moça, comentou que sim, ela o impressionara desde a primeira vez que se encontraram. Lúcio comentou que não era comum as mulheres serem livres e independentes, como ela era. Relatou que admirava-a por isto.
A fazendeira agradeceu então os elogios.
Nisto o moço acrescentou:
- Sem contar que além de ser uma ótima fazendeira, é linda demais! Parece uma pintura.
Ao ouvir estas palavras, Ludmila caiu na risada.
Lúcio disse-lhe por fim, que ela tinha um sorriso bonito, que embelezava ainda mais a moldura de sua beleza que era seu rosto.
Ludmila por sua vez, retrucou dizendo que ele estava muito galante.
Mais tarde, o casal voltou para casa.
Certo dia, o casal adormeceu abraçado na beira do rio, em frente a cachoeira.
Ao despertarem, levantaram-se num sobressalto e foram rapidamente para casa.
Cumpre destacar que, Ludmila gostava de ler para o moço.
Lúcio por seu terno, também adorava ouvir as histórias contadas pela esposa.
Ludmila interpretava o texto.
Às vezes lia obras clássicas, como Machado de Assis, José de Alencar, entre outros, ora lia poesias.
Lúcio era só encantamento com as declamações da moça.
Por várias vezes o jovem disse-lhe que ela deveria voltar a lecionar. Argumentou que ela possuía um dom maravilhoso, e que aquela dádiva não deveria ficar guardada só para ele.
A fazendeira se surpreendeu com a atitude do moço. Comentou que não era comum um homem querer que sua mulher trabalhasse fora. Mencionou que Antenor insistia para que parasse de lecionar.
Lúcio respondeu-lhe então que diante de uma mulher independente que sabia cuidar de sua vida, fazendeira competente, não poderia opor restrições.
O moço costumava dizer-lhe que ela poderia tudo o que quisesse.
Antes do matrimônio, ficou ajustado que Lúcio cuidaria da lida com os peões, e que ela continuaria juntamente com Emerson, a administrar a fazenda, controlar os gastos, o que seria produzido, vendido.
Lúcio respondeu que continuaria a receber um salário, e que não tinha interesse em receber nada além do que fosse justo.
Quando ainda residia em casa de Valdomiro, o moço chegou a ser indagado por um dos filhos do moço a respeito do casamento.
Elias comentou que ele iria ter uma vida mais confortável. Iria dormir em uma cama macia, e não numa rede.
Lúcio retrucou dizendo que não estava casando-se visando alguma vantagem, e sim por que amava Ludmila. Comentou ainda, que se casava com Ludmila por que queria e que mesmo que ela fosse uma simples camponesa, casaria-se com ela.
O rapaz, ao ouvir as palavras do peão, redargüiu indagando do porquê dele não haver se interessado por uma das moças do lugar.
Lúcio respondeu que não mandava em seu sentimento.
Valdomiro, percebendo o clima tenso, chamou Lúcio para tomar uma aguardente e comemorar o futuro casamento.
Ouvir insinuações a respeito de um suposto interesse financeiro no patrimônio da moça, o incomodava deveras. Tanto que se recusou a aceitar a proposta feita pela moça de auxiliá-la na administração da fazenda.
Honesto, Lúcio respondeu-lhe que não tinha experiência com o trabalho e que estava mais familiarizado em lidar com peões, trabalho o qual gostaria de continuar desempenhando. Dizia que seria mais útil assim.
Emerson ao tomar conhecimento deste fato, chegou a ironizar.
Disse que não poderia esperar nada de muito diferente de um homem que viera não se sabe de onde, e que até onde se sabia, só entendia de animais e peões.
Ludmila ao ouvir o comentário maldoso do homem, disse-lhe que deveria ter respeito por seu futuro marido, o qual, independente de ser peão ou não, era um homem de valor, como poucos, e que sua honestidade a fez ver que ele era uma pessoa muito especial.
O capataz ao ouvir as palavras da moça, engoliu em seco. Em que pese a expressão contrariada, pediu desculpas e se afastou.
Jurema que ouvira as palavras da patroa, fez questão de comentar com as amigas sobre o fato.
Era fato público e notório que o capataz possuía algum interesse na jovem.
Alguns maledicentes diziam que o interesse era antigo, existindo mesmo nos tempos em que moça estava em primeiras núpcias com o falecido Antenor.
Valdomiro, sempre que ouvia este tipo de comentário, tratava logo de chamar a atenção de todos, dizendo que aquilo era maledicência e que ninguém sabia de fato o que se passava no coração das pessoas. Argumentava que as pessoas falavam o que pensavam.
Muitos diziam que não eram somente palavras, e que estava escrito na face de Emerson, o interesse dele em Ludmila.
Todos diziam que somente ela, ainda não havia percebido o interesse do homem.
Valdomiro ficava contrariado com os comentários.
Nisto, com o tempo, o moço passou a comandar os peões, recebendo uma remuneração.
Isto não foi suficiente para evitar que continuassem a comentar que Lúcio havia assegurado seu futuro.
Lúcio também não suportava a hipocrisia das pessoas, as quais parabenizavam-no pelo matrimônio, e depois o criticavam pelo mesmo fato.
Ludmila ao vê-lo incomodado com este fato, dizia-lhe que não seria possível convencer as pessoas da coisa mais maravilhosa que eles tinham.
Nestes momentos a mulher segurava as mãos do moço.
Lúcio, constrangido com as mãos calejadas, tentava escondê-las.
Ludmila, percebendo isto, dizia que tinha muito orgulho daquelas mãos.
Falava que se Deus lhe havia trazido um homem simples, e de mãos calejadas para sua vida, era por que havia um propósito naquilo. Dizia que talvez fosse um ensinamento de amor e humildade, para com o exemplo deles, mostrar que algumas coisas estão acima das convenções.
Os olhos de Lúcio observaram o semblante da moça, comovidos.
Ludmila por sua vez, continuou a dizer que eles eram pessoas de sorte, predestinadas, e que apesar de todos os problemas, dizia que não estava arrependida.
Brincando, mencionava não se importar em estar sendo vítima de um golpe de um interesseiro, mais interessado em sua fortuna, ou seu baú, como diziam, do que nela.
Nisto, tornando a falar sério, a mulher ressaltou que sabia que o que movia a relação deles não era dinheiro, nunca fora.
Ludmila comentou ainda, que também fora criticada por casar-se com um homem bem mais velho do que ela, com filhos adultos, e endinheirado.
A fazendeira contou que muitos pensavam que ela também era uma interesseira e uma golpista. Disse que a impressão só foi inteiramente afastada, quando, em plena viuvez e pressionada pelos filhos de Antero, precisou arregaçar as mangas e com seu trabalho, angariar dinheiro para comprar a parte da fazenda correspondente a herança dos rapazes.
Ludmila comentou que precisou trabalhar de sol a sol para conseguir êxito na empreitada e que por diversas vezes, teve medo de não conseguir. Relatou que precisava conseguir manter a fazenda como no tempo de Antenor. Disse que tinha esta dívida de gratidão com ele. O primeiro homem a quem ela amou.
O moço ao ouvir isto, ficou um pouco incomodado.
A fazendeira, percebendo isto, disse-lhe que Antero fora o primeiro, e desta feita, ele a havia ensinado que é possível amar mais de uma vez, e de maneira diversa.
Lúcio que por um momento ficou a olhar para o assoalho de madeira da sala da fazenda, levantou o rosto e continuou observando-a com atenção.
Por último, a mulher comentou:
_ Mas o que se há de fazer? Língua não tem osso, e as pessoas são livres para pensarem o que quiserem. A nós só cabe sermos felizes. Não é?
Dito isto, aproximou do homem e beijou-lhe os lábios.
Lúcio abraçou-a.
Beijou-a também.
Jurema, ao entrar na sala e ver a cena, saiu pé ante pé, e retornou para a cozinha.
Jurema comentou com Rosa, que eles formavam um casal lindo.
Entusiasmada, disse que era um casal quase tão perfeito quanto ela e seu marido.
Rosa retrucava dizendo que nenhum casal conseguiria ser mais perfeito do que os dois. Dizia que Ludmila era livre como Lúcio, e que eles foram feitos um para o outro.
Jurema comentou que eles pareciam casal de fotonovela.
Lúcio passava as manhãs na lida com os peões.
Auxiliava a cuidar dos animais, recomendava a troca de ferraduras quando era necessário. Verificava se os animais estavam bem, se os peões estavam trabalhando de forma adequada.
Os homens marcavam os animais a ferro, para indicarem a origem dos mesmos; verificavam se estavam todos bem, deixavam-nos livres no pasto, cuidavam de sua alimentação, providenciavam água nos cochos.
Ludmila e Emerson percorriam as plantações, verificavam as colheitas, as sacas de café e de outros produtos produzidos na fazenda.
O homem registrava tudo em um livro de anotações, e mais tarde escriturava tudo.
Mais tarde, as mercadorias eram transportadas de caminhão, para a venda na vila próxima dali, e para outros lugares.
Ludmila por seu turno, também viajava para adquirir contatos, conhecer fornecedores, adquirir novos animais.
Agora casada, Ludmila costumava levar Lúcio consigo.
Na primeira vez que viajaram juntos, viajaram de trem na primeira classe.
O jovem, que não estava acostumado com o luxo e o requinte do vagão, comentou rindo que estava acostumado de viajar por horas em pé, e que não tinha idéia de que os carros da primeira classe eram tão luxuosos e confortáveis.
Contou que os outros carros não ofereciam conforto nenhum.
O moço por sua vez, usou na viagem, um bonito terno que Ludmila mandara confeccionar para ele.
O homem, ao receber o presente, ficou admirado com o corte e o luxo da roupa.
Chegou até a recusar o presente.
Ludmila no entanto, disse-lhe que caso recusasse o agrado, se sentiria ofendida.
Desta forma, mesmo sem jeito, o moço acabou aceitando o presente.
O mesmo se deu quando do casamento.
Lúcio possuía um terno antigo.
Ludmila ao se deparar com a roupa, disse-lhe que gostaria que ele usasse um terno claro, no dia do casamento.
Tanto fez que acabou por convencer o moço, a aceitar um terno claro, de presente de casamento.
Valdomiro interveio nesta questão dizendo-lhe que se estava casando com uma pessoa de posses, deveria aceitar o fato de que vez em quando, precisaria se apresentar de uma maneira melhor para as pessoas.
Lúcio porém dizia que não estava certo ela lhe presentear daquela forma, pois todos pensariam que ela estava tentando comprá-lo.
Valdomiro perguntou-lhe então se ele estava preocupado com o que as pessoas estavam pensando, ou estava interessado em ser feliz com a pessoa que escolhera para viver a seu lado.
Lúcio, surpreso com a pergunta, disse-lhe que estava mais interessado em Ludmila, mais do que em qualquer outra coisa.
Valdomiro respirou aliviado.
Disse-lhe que temia que este achasse mais importante o juízo das pessoas do que a própria felicidade.
O moço agora, demonstrando haver entendido o recado, resolveu aceitar o presente da moça.
Com efeito, no dia da viagem, Lúcio estava impecável.
Jurema ao vê-lo tão bem vestido, comentou que ele parecia outra pessoa com aquelas roupas.
Elogiando-o disse que estava muito elegante.
O peão agradeceu o elogio.
Ludmila, ao sair do quarto, trajava um lindo vestido estilo tubinho e salto alto.
Usava uma leve maquiagem e tinha os cabelos longos presos.
Lúcio ao vê-la tão arrumada, comentou que ela estava mais linda do que costume.
Ludmila ao ver o rapaz tão bem trajado, agradeceu o elogio e comentou que ele também estava muito elegante.
O moço usava calçados que brilhavam de tão bem lustrados.
E assim, o casal tomou um bom café da manhã.
Mais tarde, os criados levaram as malas do casal até o carro.
Dias antes da viagem, Ludmila perguntou a Lúcio se ele sabia dirigir.
Rindo, o rapaz disse que sim. Comentou que trabalhou como motorista durante algum tempo no período em que viveu na cidade.
Curiosa Ludmila perguntou-lhe se já havia vivido na cidade.
Lúcio respondeu-lhe que sim.
Durante quase um ano, comentou. Contudo, ao perceber que aquele não era seu lugar, resolveu voltar a viver em fazenda. Para tanto começou a oferecer seus préstimos como peão.
Ludmila certa feita, chegou a dizer-lhe que ele também era um enigma para ela às vezes.
Curiosa, a mulher comentou que conhecia muito pouco sobre a vida do moço.
Lúcio sorrindo, falava-lhe que o interessava a ela saber. Argumentava que sua vida não era tão interessante ao ponto de ficar relatando detalhes.
Ludmila comentou que ele sabia mais sobre sua vida, do que ela sobre a dele.
Sempre que ouvia este tipo de comentário da boca de Ludmila, o rapaz respondia que aquilo era só impressão dela.
O casal conversava muito.
Foi conversando que Lúcio deixou claro a ela, que não iria mudar o seu modo de vida, somente pelo fato de haver se casado com uma rica fazendeira.
A todo o momento argumentava que a única coisa que sabia fazer era trabalhar como peão.
Ludmila, depois de ouvir conselhos de Valdomiro e Leocádia, resolveu aceitar a única imposição do moço.
Conversando com Lúcio, respondeu que ele talvez fosse a única pessoa que conhecia, que não ficava impressionada com o fato de estar se casando com alguém de posses. Falava que outra pessoa faria questão de arranjar atribuições ditas mais importantes.
Lúcio respondia-lhe que nunca deixaria de ser um peão, e que tinha muito orgulho disto.
Nisto, durante a viagem, o casal dividiu sua cabine com outro casal.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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