Poesias

sexta-feira, 16 de abril de 2021

O BEM E O MAL - CAPÍTULO 5

Mas ao dar-se conta de que nunca mais teria a filha por perto... Para cuidar dela quando precisasse. Para orientá-la, acarinhá-la, confortá-la, e até mimá-la.
Antes mesmo de ver o corpo da filha, já sentia saudades dela. Em sua plangência, só fazia sofrer.
Condoídas com o sofrimento de Dona Solange, algumas vizinhas se ofereceram para acompanhá-la no reconhecimento do corpo.
Esse realmente, foi o momento mais triste para ela.
Ao ver o corpo inerte da filha, não se conteve, e voltou a chorar compulsivamente.
Em seu pranto de choro e soluços, não parava de pedir para a filha morta que parasse com isso.
-- Chega de bobagem. Você já me assustou bastante. – dizia.
No entanto, por mais que pedisse, a filha não respondia. Nisso, Dona Solange passou a ficar mais e mais desesperada.
-- Minha filha, acorde. Lúcia, por favor. Acorde. Não faça isso comigo.
Mas não adiantava, a filha não se mexia. Estava morta.
As vizinhas, ao verem o esforço debalde de Dona Solange para revivê-la, a advertiram de que nada mais poderia ser feito. Lúcia já estava morta há algumas horas. Não havia mais nada para se fazer.
Ao receber a dura notícia, deu-se conta novamente, da realidade que passaria então a enfrentar. Sua filha estava morta. Não havia mais nada que pudesse mudar isso.

Assim, diante dos fatos, prometeu dar um enterro digno para sua filha. Por isso, com a ajuda das amigas pediu a liberação do corpo da menina para que pudesse cuidar do seu sepultamento.
No entanto, dada a violência de sua morte, seria necessária a realização do exame necroscópico. Por esta razão, enquanto não fosse realizado o exame, não liberariam o corpo para o sepultamento.
Magoada, diante da negativa dos médicos, chegou a dizer para as amigas:
-- Pelo que mais eu vou ter que passar? Meu Deus, nem mesmo enterrar minha filha eu posso.
-- Calma, Solange. Infelizmente é o procedimento. – disse Raquel.
-- Calma nada, Raquel. Mataram covardemente a minha filha. E ainda por cima vão retalhá-la inteira para fazer o tal exame. – disse sem poder conter as lágrimas que rolavam pelo rosto.
-- Se você sente vontade de chorar, chore tudo o que tiver vontade. Você tem todo o direito. – disse Cínthia, tentando confortá-la.
-- Solange. Você não tem obrigação de ser forte. Se você quiser que nós cuidemos da liberação do corpo. Nós podemos ficar aqui para você. – disse Raquel.
-- É verdade. Vá para casa Solange. Nós cuidamos de tudo. – respondeu Cínthia.
Mas quem disse, que Solange conseguiu deixar o hospital?
Mesmo com o coração despedaçado ante a perda que sofreu, não podia abandonar a filha. Não podia deixá-la só, naquele ambiente.
Triste, só pensava que a partir dali, sua vida perdera o sentido. Não havia mais porque lutar. Não tinha mais motivos para se apegar a vida.

A vida inteira, sempre trabalhou muito para conseguir as coisas. Muitas vezes, chegava a virar noites inteiras trabalhando, só para cuidar do sustento da filha.
Nesses momentos, quando após uma noite inteira de trabalho, quando finalmente chegava em casa, estava cansada, mas com sua filha pequena lhe esperando.
Era assim que se dava conta de que todo o sacrifício que fazia valia a pena. Era por sua filha que se matava de trabalhar. Queria que ela tivesse o melhor, e para isso, nunca medira esforços. Nunca teve medo do trabalho e continuaria trabalhando, e muito se precisasse.
Só para vê-la bem.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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