Poesias

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O BEM E O MAL - CAPÍTULO 12

Os meninos, um pouco mais velhos que Lúcia, sempre que podiam passavam em sua casa, para auxiliá-la em seus estudos. Prestativos, assim como suas mães, desde pequenos, viviam juntos. Os dois adoravam brincar com ela.
Assim, na falta de primos, tinha os vizinhos como companhia constante em suas brincadeiras.
Mas ao contrário dela, os dois possuíam os pais por perto. Por isso, Lúcia sempre perguntara a mãe sobre o seu pai. O que teria acontecido a ele? Por que não aparecia?
Desolada, foi advertida por sua mãe de que esse assunto não deveria ser comentado na frente de outras pessoas.
Solange, alegava que se sentia triste demais para partilhar esta história com outras pessoas.
Mas diante de tanta insistência da filha, finalmente, contou que ele falecera.
Foi aí que Lúcia ouviu pela primeira vez, alguma coisa sobre seu pai.
Curiosa, mesmo diante do triste fato de que nunca viria a conhecê-lo, não parou de perguntar, nem um minuto, sobre ele.
Perguntava:
-- Como ele era?
-- Como assim?
-- Como, como assim? Eu quero saber como ele era, se era alto, baixo, educado, qual era sua profissão. Essas coisas.
-- E por que você quer saber isso?
-- Por que ele era meu pai. Eu acho que tenho o direito de saber um pouco mais dele.
-- Está certo. Muito embora isso me aborreça, eu vou falar um pouco dele para você. Você tem o direito de saber.
E assim começou a contar que ele se chamava Renato, que era relativamente jovem, bonito, dono de um cargo de gerente em uma loja do local.
Lúcia, ao ver-se diante da possibilidade de saber mais sobre o dito pai, perguntou a mãe onde era a loja. Firme e resoluta, tencionava ir até o local e fazer algumas perguntas sobre ele.
No entanto, Dona Solange proibiu a filha de procurar por ele.
Como falecera há muitos anos, provavelmente, os atuais empregados da loja não poderiam informá-la sobre seu pai. Ademais, respondeu que não diria em qual comércio ele trabalhava. Isso porque, diante dos anos que se passaram, não saberia dizer com certeza onde ficava.
Por isso, comentou com Lúcia que uma única vez foi encontrá-lo por lá.
Triste, ao ouvir essa notícia, Lúcia ficou desolada. Não podia imaginar que o pai com que tanto sonhara durante esses anos estava morto.
Mas, muito embora Solange tenha se comovido com a tristeza da filha, continuou seu relato. Assim, disse a filha coisas sobre o homem que a registrara. Embora este não fosse o verdadeiro pai da garota, tudo levava-a a crer que era. Fora registrada como sua filha.
Assim não tinha como suspeitar de que não era seu pai.
Convencida disso, quis saber mais e mais sobre ele:
-- Mãe, quando foi que ele morreu?
-- Alguns meses depois que você nasceu.
-- Eu gostaria de visitar sua sepultura. Onde ele está enterrado?
-- Está enterrado na cidade vizinha.
-- Ué, mas por que? Ele não vivia com a senhora?
-- Nós vivemos juntos durante dois anos. Muito embora não vivessemos na mesma casa.
-- Vocês não eram casados então?
Embaraçada com a pergunta da filha, Solange ficou desconcertada. Aturdida, tentou encontrar uma explicação plausível para isso.
Nisso surgiu a idéia de contar-lhe que, Renato estava saindo de um processo complicado de separação e para poder se casar novamente, precisava se divorciar, e para tal, seria necessário mais um algum tempo. Assim, estava ele impossibilitado de casar-se quando ela nasceu.
Mas, apesar disso, consciente do dever que tinha, registrou a menina, reconhecendo-a como sua filha.
Contudo, depois de quase um ano do divórcio, desapareceu repentinamente.
Com isso, Solange só tomou conhecimento de seu passamento, quando já fazia quase dez anos que havia sumido.
Curiosa, Lúcia disse que queria ver o seu túmulo.
Apreensiva, Solange se viu diante de uma situação difícil. Como iria fazer? E se não tivesse alguém enterrado que preenchesse as características do pai, tão pouco comentado?
Precisava encontrar uma solução para este impasse.

Luciana Celestino dos Santos
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