Poesias

sábado, 3 de abril de 2021

CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 20

Trabalharam por várias horas sem parar.
Aflita, ao perceber a dificuldade envolvida na tarefa, Laura pediu ajuda aos céus, para que obtivesse êxito na empreitada.
Desesperada, a certa altura, a mulher começou a cavar um dos buracos com as mãos.
Em dado momento do trabalho, Laura descobriu um objeto estranho.
Decidiu continuar então escavando.
Com isto, ao se deparar com algo que parecia um esqueleto, assustou-se.
- Meu Deus! O que é isto?
Os homens e as moças, ao ouvirem as palavras de Laura, resolveram se aproximar.
Auxiliando nas escavações, descobriram um esqueleto.
O crânio estava afundado, e em sua estrutura, havia várias deformidades.
Laura indagou se aqueles eram de fato, os restos mortais de Lúcio.
Emerson, Maximiliano e o detetive, recolheram os restos mortais do homem, e o embrulharam com todo o cuidado.
Os olhos das mulheres estavam marejados.
Encaminhando o material para análise, informaram ter localizado o esqueleto em uma mata fechada, próxima da cidade, e que aquele corpo, poderia ser de um desaparecido, preso político dos tempos da ditadura.
Com isto, foram obedecidas várias formalidades.
Os burocratas de plantão decidiram reabrir o caso.
Registraram o aparecimento dos restos mortais de um desaparecido – possível preso político.
Autorizaram a realização dos exames necessários para a identificação do morto.
Emerson, ao ver o que restara do sapato do homem, argumentou que Lúcio usava algo parecido.
Como se fazia necessário recolher material genético de um parente vivo, Laura se prontificou para o mister.
Um dos médicos, informou que seria necessária a presença da viúva para a realização do exame de DNA.
O profissional explicou a Laura que o exame seria realizado através dos ossos, o que restara do homem.
Os ossos seriam limpos, e dos osteoclastos limpos e sem impurezas, os quais seriam pulverizados, e consequentemente, reduzidos a um pó branco, e cruzados com o material genético de Laura e Ludmila, se chegaria ao resultado conclusivo do exame.
Nisto, todos permaneceram a madrugada inteira a disposição de policiais, e de autoridades.
Foi questão de horas para que a imprensa chegar ao local.
Laura e a família, pediram para que não se revelasse ainda, a identidade do morto.
Semanas mais tarde, o resultado do exame foi revelado.
Com isto, para conseguir que Ludmila se submetesse a intervenção médica necessária para a colheita do material genético, Laura disse que ela precisaria fazer um exame médico, mas que este não lhe demandaria deslocamentos.
Os médicos se dirigiriam até a fazenda para recolherem o material.
Ludmila ficou contrariada, mas ao perceber a preocupação estampada nos olhos de Laura, concordou em submeter-se ao exame.
Argumentou porém, que tal medida era desnecessária.
Laura agradeceu.
Confirmado estava através do exame de DNA, que os restos mortais eram de Lúcio.
Com efeito, Lúcio fora enterrado no local.
Ermas paragens.
Laura, ao abrir o laudo contendo o resultado do exame, emocionou-se.
Chorando, comentou que era Lúcio, e que o homem era de fato, seu pai.
Nisto, Dandara, Júlia, Maximiliano e Emerson, abraçaram a mulher.
Mais tarde, a empresária contou a mãe, que não retornara a capital.
Estava sim, investigando o paradeiro de Lúcio.
Chorando, disse a mãe:
- Eu não te prometi que iria encontrar o pai? Pois eu o encontrei!
Ludmila, ao ouvir as palavras da filha, abraçou-a.
Chorando, perguntou-lhe se aquilo era sério, se não estava brincando.
Laura contou-lhe das investigações promovidas pelo detetive contratado por ela, e do profissional contratado por Emerson; dos arquivos a que tivera acesso; que tivera que mover ação judicial para poder acessá-los; das dificuldades, dos lugares onde tiveram que passar, dos papéis lidos.
Emocionada, a mulher comentou que o corpo foi localizado graças ao empenho dos detetives.
Disse que ela própria escavou a sepultura provisória do pai.
Comentou a emoção da descoberta.
A esta altura do relato, Laura começou a chorar.
Ludmila amparando-lhe, abraçou-a, igualmente emocionada. De seus olhos, vertiam lágrimas.
A fazendeira pedia mais detalhes.
Laura explicou-lhe que haviam se passado quase sessenta anos, e que restara a estrutura óssea, os cabelos, restos das vestimentas, dos sapatos.
A fazendeira então, mostrou-lhe documentos que guardara do ex-marido.
Certidão de Nascimento, exames médicos.
Fotografias.
Mostrou-lhe algumas cartas.
Nelas o moço dizia sentir saudades da fazendeira, da sua mulher, da filha.
Ao ler as referências carinhosas que o moço fazia a Odara, Laura se emocionou.
Chorava copiosamente.
Ludmila ao se recordar dos momentos felizes ao lado do esposo, também se emocionou.
Comovida que estava, Laura aconselhou-a a se acalmar. Disse-lhe que toda aquela comoção não lhe faria bem.
Ludmila dizia que queria ver Lúcio.
Laura preocupada, disse que o homem teria um enterro digno, mas que ela precisava se acalmar para que tudo saísse a contento.
Como a fazendeira insistisse em ver o corpo, Laura chamou as enfermeiras.
As mulheres aplicaram uma injeção na mulher.
Ludmila adormeceu.
Laura, ao perceber que a mãe dormia, pediu-lhe desculpas.
Em seguida respondeu que precisava fazer isto, para seu próprio bem.
Nos dias que se seguiram, foram tomadas as providências necessárias para a liberação dos restos mortais do moço.
Emerson empenhou-se na tarefa.
Com isto, em menos de uma semana o corpo, foi liberado.
Durante dias, Laura conversou com a imprensa.
Foi indagada se o procedimento realizado era regular, se não deveria ter chamado a polícia ao invés de retirar o corpo por sua própria conta.
Laura comentou que não sabia a localização exata do corpo e que por esta razão, precisava se encarregar da localização do cadáver.
Respondeu não ter pensado em sua atitude, somente realizando o que acreditava estar certo.
Emerson também respondeu perguntas.
Por diversas vezes, foi indagado do interesse na localização do corpo.
A todo o momento respondia que devia isto a esposa.
Jornalistas descobriram então, que se tratava de uma história de amor, e que a investigação era fruto de uma relação interrompida há quase sessenta anos.
Por esta razão, o caso virou manchete nos jornais.
Laura se encarregou de contar sua versão da história.
Mencionou o primeiro marido de Ludmila, seu casamento com Lúcio, e Emerson.
Argumentou que Ludmila não era uma pobre coitada, e sim uma mulher forte que havia reconstruído sua vida, mas que precisava ter uma satisfação, sobre o que ocorrera ao segundo esposo.
Com isto, o delegado do distrito próximo a localização do corpo, foi procurado.
O mesmo informou então, que as investigações seriam reabertas, e que seria verificado se não haveriam outros corpos de presos políticos enterrados na região.
Na fazenda, se deu lugar ao enterro dos restos mortais do homem.
Laura cuidou para que um padre fosse até a fazenda e celebrasse uma missa.
Com isto, os restos mortais foram velados, por uma Ludmila emocionada, que ficou o tempo todo ao lado do caixão lacrado.
A fazendeira lamentou não ter podido velá-lo quando morrera.
Disse que não teve o consolo, nem de ver seu corpo.
A certa altura, sentindo-se mal, foi afastada.
Laura aconselhou-a a se recolher, ou não estaria em condições de acompanhar o velório.
Ludmila receosa, acatou a determinação de Laura.
Fernanda, ao vê-la impor condições a mulher, comentou que nem os filhos tinham tanta autoridade sobre Ludmila.
No dia seguinte, o caixão baixou a sepultura.
Lúcio foi enterrado junto de Antenor.
Laura, Júlia, Dandara e Ludmila jogaram flores na sepultura.
A empresária, falando baixinho, disse para ele ficar em paz.
Comentou que os responsáveis por tamanha baixeza foram punidos pela vida.
Disse que sua missão havia se cumprido.
Lamentou não ter podido conhecê-lo.
Quando começaram a jogar terra na sepultura, Ludmila começou a passar mal.
Amparada por Laura e Fernanda, a mulher insistiu para permanecer no local.
Argumentou que gostaria de ver o sepultamento até o fim. Somente assim, teria a certeza de que realmente tudo acabara.
Laura acatou o pedido da mulher.
Compreendeu que para o término daquela história, a fazendeira precisava se inteirar de tudo o que acontecia.
Emerson comentou mais tarde, que Ludmila sempre fora assim.
Rindo, disse que não conseguia esconder nada dela.
A mulher queria sempre saber de tudo o que acontecia.
Com isto, revelou que a mulher só se alienara, quando da morte do rapaz.
Emocionado, o homem comentou com Laura, que não se queixava da sorte, que não se lamentava.
Disse que o trágico episódio lhe permitiu que se aproximasse da mulher, que fosse feliz ao seu lado. Tentando se justificar, argumentou que não fora uma infelicidade, e que embora não tenha sido um amor como o dela e Lúcio, foi amado pela esposa.
Com isto, relatou que o amor de Ludmila por Antenor, também não fora o mais forte que tivera.
Um pouco incomodado, comentou que sabia que o grande amor da vida de Ludmila fora Lúcio, e que a vinda de Antenor e dele para a vida da fazendeira, fora apenas para auxiliá-la em sua jornada.
Visivelmente emocionado, comentou que estava chegando ao fim da vida, assim como a esposa.
Pesaroso, disse que ela estava partindo antes dele.
Laura ao ouvir isto, redargüiu dizendo que ninguém sabia a hora de partir, e que aquele momento triste, suscitava muitas lembranças amargas.
Falou que aquele não era o momento de pensar no assunto.
No dia seguinte, Ludmila, devidamente conduzida pelos filhos, noras, genro, filha, netos e netas, dirigiu-se ao lugar onde estavam enterrados Antenor e Lúcio.
Emocionada, a mulher depositou flores no túmulo.
Rezou.
Em suas orações, a mulher disse que estava prestes a se encontrar novamente com eles.
Neste momento, pediu a Lúcio que a aguardasse, e que não fizesse a maldade de fazê-la esperar por mais tempo para se encontrar com ele.
Nesta mesma noite, Ludmila apresentou uma piora em seu estado de saúde.
Febril, a mulher começou a delirar.
Dizia ver a sua frente Antenor.
Depois disse estar vendo seus pais.
Laura e Fernanda se entreolhavam aflitas.
A cada momento que passava, a temperatura aumentava.
Nem o auxilio das enfermeiras foi suficiente.
Preocupados, os filhos decidiram internar Ludmila, mesmo sem sua autorização.
A cada piora, a mulher dizia que queria morrer em casa.
Dizia que não queria os corredores insípidos, e a tristeza das paredes brancas dos hospitais.
Insistia no argumento de que queria morrer em meio aos seus.
Nisto, a mulher apresentou uma pequena melhora.
Pediu para conversar com os netos e os filhos.
Com isto, aos poucos, todos entraram no quarto.
A todos a mulher dirigiu mensagens de inventivo e encorajamento a família.
A Laura e Dandara, recomendou união.
Disse acreditar no potencial da neta. Recomendou-lhe que não guardasse amarguras no peito, dizia saber o que era carregar uma grande tristeza no coração. Mencionou que não desejava aquela tortura para ninguém.
Quando Júlia se aproximou da senhora, Ludmila chamou-a de anjo louro.
Comentou que gostaria de tê-la conhecido melhor. Disse que gostava de seu jeito um tanto reservado, e que fazia votos e que ela e Ives fossem muito felizes juntos.
Ao ouvir isto, a moça corou.
Emocionada, uma lágrima correu por seu rosto.
A Cláudio e Henrique, Ludmila respondeu que depositava suas melhores esperanças de continuidade da fazenda.
Argumentou que aquele lugar era especial, e que significava muito para ela. Relatou que sentia que aquilo tinha um grande significado para eles também.
A todos os filhos e netos, recomendou que não se desfizessem da fazenda.
Nisto, todos prometeram a ela que não venderiam a fazenda, sob nenhuma hipótese.
Insistiram porém para que ela fosse para um hospital.
Ludmila teimou.
Insistiu que queria morrer em casa.
No lar que fora abrigo de tantos momentos importantes de sua vida. Alegres e tristes.
A certa altura, quase todos choravam.
Emerson também conversou com a esposa.
Ludmila disse tê-lo deixado por último para demonstrar que mais importante que o início, era o fecho da história.
Arfante, comentou que uma história poderia ter um belo início, mas para ter valor, tinha que ter um final significativo, especial, ou se esvaziaria em conteúdo.
Segurando as mãos do homem, disse que ele fora o companheiro de toda a vida. Alguém com quem pode dividir muitas e pesadas tristezas, mas também alegrias.
Agradeceu-lhe por haver lhe dado uma família. A mais bela com que poderia sonhar. Disse-lhe que ele lhe ensinara com seu jeito prático, que sempre era tempo de se construir a própria felicidade, que nunca era tarde demais para isto. Mencionou que sem saber, ele lhe salvara a vida. Não somente quando a livrou do assédio de um homem inconveniente e tentou protegê-la da dor da perda, mas também quando a tornou sua mulher e mãe de seus filhos.
O rosto de Emerson, ao ouvir as palavras da mulher, ficou banhado em lágrimas.
Ludmila respondeu-lhe que o amava, e que ele nunca tivesse dúvidas disso.
Argumentou que era um amor calmo, maduro, mas nem por isto menos importante.
Relatou que os amores eram diferentes, que o jeito com que a gente nutre afeto pelos nossos pares é diferente, e que não havia mal algum nisto. Mencionou não se sentir em débito com ninguém por isto.
Fragilizada, procurou esboçar um sorriso.
Emerson pediu então, para que se poupasse.
Ludmila respondeu-lhe resignada que sabia para onde ia, e aquele repouso seria desnecessário.
Argumentou que estava indo embora, e que seu tempo de estada na terra fora muito rico e proveitoso.
Disse que não lamentava estar partindo. Só lamentava deixá-los todos tristes. Argumentou porém que a tristeza passaria, e que um dia, todos voltariam a se encontrar.
Emerson abaixou-se e ajoelhado, beijou o rosto da esposa.
Ludmila olhando-o nos olhos, disse para que ficasse em paz.
Nisto, fixou o olhar em um ponto.
Deixou de respirar.
Emerson, ao perceber isto, tornou a chorar.
Chacoalhando a esposa, tentou reanimá-la, sem êxito.
Ludmila estava morta.
Delicadamente, encostou seus dedos no rosto da mulher. Fechou os olhos da esposa.
Minutos depois, retirou das mãos da mulher, uma caixinha de madeira na qual estavam guardadas cartas e fotografias de Lúcio.
Chorando, o homem revelou a todos que Ludmila havia partido.
Quase todos os circunstantes, ao ouvirem a notícia, se lamentaram.
Muitos choraram.
Andréia e Amanda, se aproximaram de Laura e de Dandara e Júlia.
Laura e Dandara, choravam copiosamente.
Ao adentrarem o quarto, Laura e Dandara se aproximaram do leito, e choraram novamente.
Nisto as enfermeiras, percebendo que não havia ninguém em condições de cuidar do corpo, pediram para que todos se retirassem do quarto.
Fernanda, após se recompor, pediu para ajudar a vestir a mulher.
Laura também se dispôs a ajudar.
Mais conformada, procurou ajudar a vestir um bonito vestido, na fazendeira.
Durante a manhã, seguiu-se o velório.
Maximiliano e os três filhos, cuidaram do enterro.
Max foi até a cidade, procurar um padre.
Os filhos, providenciaram o caixão, o Atestado de Óbito.
Um médico se dirigiu a fazenda. Policiais também.
Horas depois o corpo passou a ser velado.
Dandara era consolada pela irmã.
Antes que o corpo da fazendeira fosse enterrado, foi celebrada uma missa.
Ludmila foi enterrada ao lado de Antenor e Lúcio.
Chorando, Laura comentou que dali por diante, queria ser tratada por Odara.
Argumentou que era uma forma de homenagear os pais.
Triste, passou a se lamentar por não ter sido criada por eles. Dizia se sentir sozinha no mundo. Errante.
Maximiliano, ao ouvir as palavras da esposa, disse que ela nunca estivera só.
Comentou da família de criação que tinha, do quanto era estimada de todos, da família que construíra com ele.
O empresário lhe disse que era uma mulher de sorte, pois possuía duas famílias do coração e que poucas pessoas havia, que tiveram o privilégio de serem amadas por tantos pais.
Ao ouvir isto, os olhos de Laura encheram-se de lágrimas.
Maximiliano disse-lhe que ela era sua Odara querida.
Mais tarde, ao olhar os guardados da fazendeira, Laura descobriu uma certidão de nascimento.
Era seu registro de nascimento.
Lá constava que havia nascido em 1964 e não em 1966, como sempre imaginara.
Tinha então cinqüenta e sete anos e não cinqüenta e cinco como pensava.
Dandara e Cláudio, aproveitaram os dias que se seguiram para passearem a cavalo.
Conversaram longamente sobre os projetos do futuro.
Dandara comentou que faltavam dois anos para concluir os estudos e após terminar a faculdade de administração de empresas, iria se mudar para lá.
Comentou que a vida na cidade, perdera completamente o sentido para ela.
Triste, comentou que em um curto intervalo de tempo, perdeu duas pessoas que lhe eram muito caras.
Argumentou que estava precisando se sentir viva novamente.
Cláudio comentou que já havia estudado o que queria, feito especialização, e que estava ficando mais velho, que o tempo estava passando. Falou que eles já estavam namorando firme há algum tempo.
Neste momento, mostrou-lhe um bonito anel com brilhantes.
Ajoelhando-se, pediu a moça em casamento.
Dandara ficou espantada com gesto.
Cláudio, comentou que dois anos de noivado, era tempo suficiente para planejarem o casamento. Argumentou que ela poderia concluir os estudos, e assim, poderiam viver juntos na fazenda.
Dandara um pouco confusa, aceitou o pedido.
Dias depois, voltou com a família para a cidade.
Um ano depois, Júlia já formada, passou a viver ao lado de Ives na fazenda.
Casaram-se.
Como não se adaptaram a vida no campo, passaram a viver na cidade.
Meses depois, Dandara regressou a fazenda.
Sozinha.
Para tanto, despediu-se dos pais.
Laura e Maximiliano, lamentaram a partida da filha.
Mas Dandara, argumentando que havia concluído o curso de administração, comentou que estava na hora de caminhar com as próprias pernas.
Dias antes de partir, avistou um vulto, em suas caminhadas pela cidade.
De longe percebeu que se tratava de um senhor distinto, o qual sorria para ela.
Curiosa resolveu se aproximar da pessoa.
Qual não foi se espanto, ao perceber que se tratava de Felipe.
Dandara ficou chocada.
Felipe sorria para ela.
Ao seu lado, duas mulheres bonitas, com trajes circenses.
Uma aparentava meia idade e a outra, era uma jovem. Avistou também, um casal sempre próximo dele. Uma senhora de xale e ar severo. Mais pessoas com trajes circenses. Homens, mulheres. Homens com ar grave.
Dandara se lembrou dos colegas de faculdade de Felipe.
Ao lado do homem, uma senhora muito bela.
Sorria para ela.
A visão durou alguns minutos.
Quando a moça se deu conta, os vultos haviam se dispersado e ela estava parada em frente ao semáforo de uma grande avenida.
Assustou-se com a visão.
Mais tarde, analisando o evento, percebeu que descobrir que o homem estava bem, o que deixou-a em paz.
Sua morte não lhe causava mais pesar.
Entendera que ele estava feliz, em meio aos seus, cercado das pessoas a quem muito amara.
Conversando com seu pai, comentou que gostaria de ser digna de tão grande ventura.
Seu pai, beijando seus cabelos, disse que ela realmente era precoce.
Até mesmo nas preocupações com vida depois da morte.
Nisto, a moça voltou para a fazenda.
Conforme combinado, Cláudio a aguardava na porteira.
Dirigindo seu carro, a moça foi recebida pelo rapaz.
Cláudio abriu a porteira da fazenda para ela.
Dandara, diante do gesto, sorriu para ele.
Ao passar pela porteira, a moça dirigiu o carro por mais alguns metros e depois parou.
Desceu do veículo e correu ao encontro do moço.
Beijou-o.
Meses depois, casaram-se.
Todos foram convidados.
A família de Zélia, Emerson, seus filhos, noras e netos. Odara e Maximiliano. Isaura.
Os tios e primos de Dandara, estavam todos presentes.
Júlia e Ives compareceram para prestigiar os noivos. Foram os padrinhos do casal.
Cerimônia simples mas bela.
Cláudio cantou músicas para a moça.
Maximiliano e Odara, parabenizaram o casal.
Com o tempo, a mulher adotou efetivamente, o nome de Odara.
Para desgosto de Zélia.
Desta forma, foram alterados todos os documentos da mulher.
Júlia e Dandara também tiveram que alterar seus documentos pessoais, e todos os documentos onde constava a filiação.
As moças tiveram filhos.
Certo dia, a moça, entristecida com a ausência de Ludmila e Felipe, avistou-os na entrada da fazenda.
A fazendeira estava jovem, ao lado de Lúcio. Próximo a ela estavam seus pais, e os pais de Lúcio.
Felipe seguia próximo, acompanhado por mulheres e homens em trajes de época. Outros, usavam trajes circenses.
Pareciam uma grande família.
Odara, ao tomar conhecimento do fato, lamentou não ter tido a ventura de ter visto a mãe novamente. Desejou que isto acontecesse a ela também.
De fato ocorreu.
Alguns anos depois, passeando com um de seus netos, filho de Dandara, a mulher avistou um vulto de mulher. Era jovem e muito bela.
Ao seu lado um bonito rapaz.
Sorridente, o moço a olhava com extrema ternura.
Quem viu a cena primeiramente fora o neto, que lhe apontou o casal.
Emocionada, ao ver o casal, Odara chorou copiosamente.
Feliz, estava emocionada.
Finalmente tinha a certeza de que estava tudo bem.
Tempos depois recebeu uma carta psicografada.
Ludmila descrevia na epístola, as sensações que tivera antes de morrer.
Disse ter visto os pais, seu marido Antenor.
Contou que no momento final, percebeu Lúcio a seu lado.
Perdida, foi conduzida por boas almas.
Relatou que o processo de adaptação era longo, e que no momento exato da morte, se reviu novamente jovem e de mãos dadas com Lúcio, sendo recebida por todos os amigos de caminhada de sua vida.
Disse ter sentido profundo alívio neste momento.
O momento do desencarne não foram tão difícil.
Mencionou que já estava cansada de tanto sofrimento. Almejava se libertar do corpo cansado.
Relatou que Antenor fora importante em sua vida, e que viera a ser seu primeiro marido, com o propósito de um resgate, e que sua situação nesta encarnação, era de auxiliar o encontro dela com Lúcio.
O que de fato ocorrera.
Ludmila dizia na carta que no entanto, o casal precisava passar novamente por uma grande prova.
Prova esta que os separou por longos anos, durante a existência terrena.
A mulher escrevera na carta, que precisava também fazer um resgate, e que por isto, viera a se casar com Emerson. Homem de muito valor.
Dizia na missiva que tinha dívidas altas com o homem.
Comentou em suas palavras, que um dia iria regressar, ao lado de Lúcio novamente, e que nesta nova existência, os dois aparariam as arestas que ainda restavam, e que seriam muito felizes juntos, caso se dispusessem a isto.
Ludmila comentou que estava disposta a experimentar.
Agradeceu as orações.
Comentou que nos primeiros tempos, sentiu-se sem rumo, mas que fora amparada por companheiros de jornada.
Mencionou que levou algum tempo para poder privar da convivência com Lúcio, mas que ao ter esta possibilidade, sentiu-se cercada de muita ventura.
Com Antenor, relatou que a conversa fora franca, e reveladora.
Ludmila mencionou que o homem lhe tinha muito afeto, mas generoso, não demonstrava ciúmes ou egoísmo. Era um espírito evoluído.
Revelou-lhe sua missão de vida e mencionou que dentro em breve iria regressar, em uma nova missão em outro grupo familiar.
A mulher relatou que o homem havia resgatado seu débito com ela. Agora estava pronto para outra tarefa.
Feliz, dizia que sentia-se jovem ao lado de Lúcio, como o fora quando o conheceu. Razão pela qual ela e Dandara os viram tão jovens e radiantes.
Por fim, mandou um beijo a todos.
Laura leu a carta emocionada.
Agradeceu aos céus por ter podido saber da mãe.
Com isto, mostrou a carta aos filhos da fazendeira, que confirmaram o jeito de escrever da mãe.
Após o enterro da mãe, a jovem dirigiu-se ao sítio onde viviam os pais biológicos.
Sob o argumento de que precisava ficar a sós com os pais de criação, pediu para que a família seguisse viagem sem ela.
Maximiliano concordou.
Laura então, ficou alguns dias em casa dos pais.
Conversou com Zélia.
Disse-lhe que a estimava muito, e que gostava dela como uma filha amava uma mãe.
A mulher ficou comovida.
Laura então aproveitou os dias no sítio para passear, ajudou a cuidar do jardim.
Só voltou para a capital uma semana mais tarde.
Meses depois, aproveitou para visitar os sogros.
Laura finalmente estava em paz.
No final do ano, lá estava a família reunida novamente na fazenda.
As crianças e alguns adultos, iriam participar de um auto de natal.
Dandara recordou-se de um auto de natal organizado por Ludmila.
Recordou-se que Felipe participara da festividade.
Chorou emocionada.
Zélia e família também foram convidados.
Não faltou ninguém.
Dandara e Fernanda diziam que não podiam romper com a tradição iniciada por Ludmila.
Com isto, deu-se início ao auto de natal.
O filho mais novo de Júlia fez às vezes de menino Jesus na manjedoura.
Amanda fez o papel da Virgem Maria, Rogério era José. Henrique, Carlos e André, fizeram os papéis dos Reis Magos.
As crianças, bisnetas de Ludmila fizeram papel de ovelhas, entre outros animais.
Fernanda era a narradora.
A mulher relatou a fuga da família.
O nascimento de tão nobre ser, em tão simples manjedoura.
A visita dos Reis Magos, ao avistarem a estrela que anunciava a boa nova.
Todos ficaram encantados com a encenação.
Dandara comentou que fora um belo programa.
Fernanda mencionou a ausência de Ludmila.
Dandara respondeu-lhe que a fazendeira estava presente, adorando tudo, a união, a dedicação e o cuidado com tudo o que ela deixara, mas que amara, amara muito.
Quando a jovem leu a psicografia, comentou que Ludmila devia estar muito feliz ao lado do homem a quem amou, e que não cabia a eles, se entristecerem com a partida.
Nesta época o querido Emerson ainda vivia.
Era um senhor quase centenário.
Quando chegou aos cem anos, foi organizada grande festa para o estimado homem.
Laura o tinha em conta de seu parente.
Quando o homem faleceu, cerca de três anos depois, todos ficaram comovidos com a perda.
Inclusive Odara, Júlia, Dandara e Max.
Os filhos e netos, ficaram muito chorosos.
Circunstâncias da vida.
Tempos depois, Laura e Dandara avistaram novamente Ludmila ao lado de Lúcio.
Não obstante este fato, a mulher tinha próximo a si, seu companheiro constante, Emerson.
O homem tinha um ar sereno e conformado.
Parecia ciente de que Ludmila e Lúcio deviam permanecer unidos.
Perto da então jovem fazendeira, o homem mantinha o mesmo aspecto que tinha nos últimos anos em que vivera.
Em dado momento, afastou-se do casal.
Ludmila e Lúcio sorriram como se estivessem a se despedir.
Emerson colocou as mãos nos lábios. Em seguida, afastou as mãos.
Parecia distribuir beijos.
Por fim, se afastou.
Era chegado o momento da despedida.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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