Poesias

quinta-feira, 8 de abril de 2021

TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 1

Em 1856, São Paulo, era uma cidade tranqüila e ordenada. Suas belas construções, os palacetes da região, contribuíam para lhe dar um ar romântico e imponente.
São Paulo, cidade que dentre inúmeros atrativos, possuía um grande apelo melancólico, dada sua constante garoa.
Garoa esta, que entristecia repentinamente o lugar. Evocando brumas, a garoa trazia consigo um profundo sentimento de solidão. Além disso, obscurecia a visão dos passantes, já que tudo passava a ficar envolto em névoa.
Mas, apesar disso, a famosa cidade sempre fora alvo de admiração por muitos. Por ser o lugar de morada de grandes poetas, fascinava muitos jovens, que acreditavam ser este o melhor lugar para mostrarem seus trabalhos.
Sim, muitos poetas sonhavam se tornar parte da romântica cidade.
Além disso, foi ali que viveu e morou Álvares de Azevedo, considerado o ‘Byron brasileiro’.
Por isso, este era o lugar adequado para todos aqueles que sonhavam, assim, conhecer os lugares por o poeta onde passou, bem como, publicarem seus versos.
Em razão disso, o jovem Theodorico Queirós, ansiando por reconhecimento e prestígio, já que era um poeta, decidiu-se por morar na majestática cidade.
Isso por que, o jovem, desde há muito tempo, acalentava o sonho de ser um poeta respeitado.
E também, por estar cansado da vida simples do interior, desejava conhecer uma cidade maior e mais promissora.
Por isso, ao ter em mãos, a possibilidade de rumar para São Paulo, Theodorico não se fez de rogado. E assim, mais do que depressa aceitou o convite de um amigo para ir até a grande cidade.
E assim, partindo de trem, os dois chegaram na Capital.
Uma linda capital para o interior, foi o que pensaram.
Maravilhados com o aspecto imponente do lugar, logo que desceram do trem, alugaram uma charrete e, antes de seguirem para a hospedaria onde ficariam hospedados, os dois amigos aproveitaram para fazerem um longo passeio pela localidade.
E assim, Theodorico e Thomás puderam admirar belíssimos palacetes construídos pelas fortunas da cidade. Além disso, os amigos conheceram o famoso Colégio que deu nome a cidade, bem como o seu Pátio. Na região da Luz, avistaram o Convento da Luz, e na região do Ipiranga, as construções do lugar.
Além disso, passeando de charrete, Theodorico e Thomás, puderam conhecer também, alguns dos inúmeros monumentos que havia na cidade.
Contudo, como não havia como se conhecer tudo em apenas um dia, os dois jovens mancebos decidiram então, seguirem em direção a hospedaria em que estavam hospedados a partir de agora.
Ao lá chegarem, foram atendidos por uma senhoria que lhes advertiu sobre as regras da casa e os levou até o quarto onde ficariam.
Estes, ao entrarem no quarto, logo pegaram suas bagagens e as puseram ao lado de suas camas. Após, cansados por conta da viagem, aproveitaram e, deitando-se nas camas, dormiram um pouco.
Isso por que, precisavam estar bem, pois durante a noite, aproveitariam para conhecer alguns dos lugares que Álvares de Azevedo, o ídolo de Theodorico, freqüentou. Dessa forma, os dois amigos teriam que estar bem acordados para procurarem os melhores lugares noturnos da cidade.
Theodorico mal podia esperar por isso. Em virtude disso, durante o tempo que dormiu, sonhou com a vida do famoso poeta.
Sabedor de que este freqüentava uma sociedade secreta, Theodorico, em seus sonhos, se imaginava amicíssimo do jovem poeta, declamando algumas de suas poesias em meio uma mesa repleta de boêmios e belíssimas mulheres.
Ali em meio a alegria e a beleza, Theodorico sonhava passar madrugadas inteiras embebedando-se e conversando com os convivas. Neste cenário, as coisas mais improváveis aconteciam. Homens bêbedos corriam atrás das jovens que ali estavam. Outros ficavam ali contando suas histórias pessoais e acontecimentos infelizes. Ademais, entre esses homens, estava o grande poeta brasileiro, Álvares de Azevedo, que igualmente bebia com os convivas.
Mas a despeito disso, e apesar do conteúdo funesto de algumas das conversas, tudo ali era motivo de festa.
Freqüentemente, algum dos participantes da mesa, conclamava a todos para um brinde à Baco. O deus da alegria e da luxúria.
De tão animados com isso, os homens já exaltados pela bebida, não se cansavam de se referir às mulheres que estavam presentes, como as bacantes. Em homenagem a Baco, as mulheres, verdadeiras musas dos poetas, aviventavam a lascívia dos homens.
E assim, encantado por estar na presença de grandes nomes da poesia, Theodorico, tentou o mais que pôde, declamar mais uma de suas poesias. Mas, ao começar, a declamá-la, foi abruptamente interrompido por gritos vindos da rua.
Os convidados ao escutarem os gritos, acorreram para fora do prédio.
Nesse momento, Theodorico, que dormia a sono solto, foi bruscamente acordado por seu amigo. Por conta disso, acabou tendo o sono interrompido. Ao acordar, Theodorico, reclamou:
-- Thomás, como pôde me acordar no melhor dos meus sonhos?
Foi então que o amigo, tirando o relógio que trazia num dos bolsos, mostrou-lhe as horas.
Nisso, ao observar que já era noite alta, de um salto, Theodorico pulou da cama. Já passavam das dez da noite. Aborrecido, comentou com o amigo:
-- Como eu pude dormir tanto?
No que este lhe respondeu:
-- Por que você é um grande dorminhoco.
Ao ouvir isso, Theodorico ficou irado com o amigo, mas este, advertindo-lhe que estavam muito atrasados, acabou por desviar-lhe a atenção.
Isso por que, em sua passagem por São Paulo, Thomás tinha um claro propósito. Theodorico porém, ao contrário de Thomás, não estava lá para trabalhar em um emprego fixo. Ele havia aceito o convite do amigo, para tentar mostrar algumas de suas poesias para os grandes poetas da cidade e se tornar tão famoso quanto eles. Além disso, o rapaz queria muito conhecer os lugares por onde passou, o grande Alvares de Azevedo.
Este poeta, para Theodorico era um grande exemplo. Um grande exemplar da poesia ultra-romântica do Brasil. Daí o grande interesse dele, em visitar os lugares por onde o poeta passou. E nesse intuito saíram os dois amigos, percorrendo as ruas de São Paulo.
Ao saírem, elegantemente trajados, notaram que garoava fino.
O garoar da noite, tornava tudo ainda mais triste.
Mas esse clima, encantava a Theodorico. Este ao perceber a fina garoa, comentou com o amigo:
-- Isso é que é cidade! Com essa garoa fina, e essa névoa, parece que nós estamos em Londres.
Thomás, ao ouvir isso, retrucou:
-- Isso é uma grande bobagem! Chuva tem em qualquer lugar. Garoa também. Não é por causa de um vaporzinho que São Paulo vai parecer Londres!
Ao contrário de Theodorico, Thomás não se sentia atraído pelas aventuras românticas dos boêmios da cidade. Mas, como todo e qualquer jovem de sua idade, Thomás se interessava por diversão, independente de estar em meio a poetas ou não.
Mas para ele, essa história de poesia não passava de uma grande bobagem. Afinal, ele nunca conheceu ninguém que tivesse enriquecido vivendo da arte e da literatura.
Theodorico, ao ouvir esse comentário, rebateu:
-- O que você conhece além da nossa cidade?
Theodorico respondeu dessa maneira, por que queria provar ao amigo, que este não era a pessoa mais indicada para censurá-lo.
E assim, os dois continuaram caminhando em meio a garoa da cidade. À certa altura, os dois mancebos ao avistarem um bar, acabaram entrando. Lá, cansados que estavam, sentaram-se e pediram uma bebida.
Entrementes, para a decepção de Theodorico, não foi lá que ele entrou para a nata da boêmia paulistana. Naquele bar, a única coisa que conseguiu encontrar, foi uma porção de homens de negócio, conversando sobre assuntos que não lhe interessavam.
Decepcionado, Theodorico, depois de algum tempo ali, sentando com seu amigo, conversando com negociantes, decidiu, voltar para a hospedaria. Foi assim que educadamente o rapaz despediu-se de todos com quem tratara e juntamente com seu amigo, retornou para a hospedaria. Isso por que, o passeio pelo centro da cidade, e a parada no bar, não foram nem um pouco proveitosos para Theodorico.
Por sua vez, Thomás, ao ver-se em meio de tantos negociantes, ficou entusiasmado. Para ele, conseguir um bom emprego na cidade era tudo o que almejava. Isso por que, para ficar por ali, precisava de meios para se manter. Se não, depois de algum tempo, acabaria tendo que retornar para sua cidade natal. Consciente disso, Thomás advertiu o amigo, para que também procurasse uma ocupação. Afinal, o dinheiro que havia trazido, não duraria muito tempo.
Mas, Theodorico não estava interessado em trabalhar. Para ele, só interessava se tornar um poeta famoso. Nada mais. O resto não lhe importava.
Por isso, no dia seguinte, enquanto o amigo se preparava para uma entrevista de emprego, Theodorico só queria saber de dormir.
Assim, quando Thomás saiu do quarto, ele nem percebeu.
Nisso, discretamente, Thomás saiu da hospedaria e rumou em direção a região central. Conforme o esperado, às nove horas da manhã, o rapaz já estava sentado na sala de espera de um escritório de advocacia. Isso por que, Thomás, aguardava ansiosamente o momento da entrevista.
Nisso, por volta das onze horas, Thomás, retornou a hospedaria. Qual não foi sua surpresa ao deparar-se com o amigo, ainda dormindo.
Thomás, ao ver a cena, tratou logo de acordar o amigo.
Este, ao ser alvo de empurrões de Thomás, acabou caindo da cama em que dormia. Com isso, ao ver-se no chão, acabou acordando.
Sobressaltado, Theodorico não sabia o que tinha acontecido para cair da cama.
Ao perceber o espanto do amigo, Thomás tratou de explicar:
-- Fui eu que te empurrei, seu preguiçoso. Isso são horas de acordar Seu Theodorico?
Theodorico, perplexo com a atitude do amigo, perguntou:
-- Por que você fez isso? Ah! Thomás, isso é coisa que se faça?
No que o amigo retrucou:
-- É sim. Quando se está diante de um preguiçoso é a única coisa a se fazer. Sabes que já é quase meio dia?
Ao ouvir isso, Theodorico tratou de se apressar, afinal já era quase hora do almoço.
Com isso, arrumando-se depressa, quando o amigo mostrou o relógio marcando meio dia, Theodorico, estava pronto.
Nisso, os dois saíram pela cidade, procurando um restaurante para almoçar.
Com isso, ali mesmo, perto da hospedaria, os dois rapazes acabaram encontrando um bom lugar. Em lá chegando, sentaram-se e logo foram atendidos.
Nisso, enquanto esperavam pelo almoço, Thomás e Theodorico ficaram conversando. O assunto principal era a entrevista de emprego, realizada por Thomás.
Animado este comentou com Theodorico, que o escritório do amigo de seu pai, era bem maior do que imaginara. Amplo, imponente, mais parecia um palacete, tamanha a dimensão da construção. Situado em meio a inúmeros outros comércios, o local era magnífico. Com certeza, o sonho de muitos profissionais da área.
E assim, para Thomás, já estava muito bom, trabalhar em um lugar desses. Isso por que, daqui há alguns anos, também seria um bacharel, portanto um futuro causídico.
Esta contratação ocorreu por que ele foi indicado por seu pai, advogado em uma cidade interiorana. Isso por que, este advogado da capital, conhecido da família, viveu na mesma cidade interiorana. Seu pai e ele, foram grandes amigos.
Mas este amigo, ao contrário de seu pai, sonhava em montar um escritório na capital. Daí a razão para que cada um seguisse o seu caminho, e agora, anos mais tarde, Thomás, rumasse para o local, em busca de uma grande oportunidade de trabalho. Talvez até, a maior oportunidade de sua vida. Isso por que, Thomás, estava apostando tudo no novo emprego. Deveras animado com a oportunidade, o rapaz não se cansou de comentar o sucesso da entrevista.
Theodorico, ao ouvir as palavras do amigo, ficou muito feliz por ele. Enfim, pelo menos para um deles, as coisas estavam dando certo.
Thomás, ao perceber o desânimo do amigo, comentou:
-- Não desanime. Afinal ontem foi a primeira vez que você saiu a procura da nata da boêmia paulista. Com certeza, você vai conseguir encontrar quem procuras.
Contudo, Theodorico, parecia preocupado com a possibilidade de isso não vir a acontecer. Ou então, acontecer algo bem pior, que seria, ao apresentar suas poesias aos poetas da cidade, os mesmos nem se interessarem em ouvi-las. Esta última possibilidade, era a que mais vinha lhe assaltando os pensamentos ultimamente.
Por isso, Thomás, ao perceber a preocupação do amigo, procurou demovê-lo de tais idéias pessimistas. Todavia recomendou a este, que não ficasse apostando tudo em um encontro casual. Precavido, Thomás aconselhou o amigo a procurar um trabalho, já que não havia previsão para quando tal encontro iria ocorrer.
Theodorico teimoso porém, alegava que qualquer trabalho, inviabilizaria seu potencial de poeta. Para ele, os poetas viviam à noite. Eram amigos dela. E trabalhar durante o dia, o deixaria cansado demais para freqüentar a noite da cidade.
Nisso, o garçon retornou, trazendo consigo os pedidos dos cavalheiros. Assim, os dois trataram de almoçar, e encerraram a conversa momentaneamente. Esfomeados, devoraram tudo o que estava em seus respectivos pratos.
Depois, Thomás pagou a conta, e os dois saíram pela cidade afora, conversando.
Nisso, Theodorico, interessado, perguntou:
-- E quando começa o seu trabalho?
-- Começa amanhã.
-- Amanhã? Tão cedo?
-- Sim. Por isso, hoje, eu não poderei te acompanhar em suas incursões noturnas pela cidade.
-- Oh, que pena! – comentou Theodorico desolado. – Não terei então, companhia durante a noite?
-- Não. E é bom que se acostumes com isso. Afinal, agora que vou começar a trabalhar, não poderei estar sempre contigo.
Contudo, mesmo diante desta notícia, o rapaz não foi demovido de seu intento. Para conhecer os poetas da cidade, Theodorico seria capaz de fazer qualquer sacrifício, até mesmo, percorrer, por noites a fio, a triste e sombria cidade. Tudo isso em busca da realização de seu desiderato. Por que queria ser também, um grande poeta.
E assim, ao cair da noite, Theodorico aproveitou mais uma vez, para sair a passear pela encantadora cidade de São Paulo. Caminhando entre ruas amplas e observando belas construções, pôde constatar o quão grandiosa era a Capital.
Sim, a São Paulo nos tempos de antanho já era magnífica. Mas magnífica também era sua noite. Inspirada.
Nisso novamente o mancebo entrou em alguns bares, bebeu. Mas, infelizmente, mais uma vez, seu passeio pela cidade não deu em nada.
Desolado, Theodorico ao adentrar seu quarto, deitou-se de qualquer jeito, e dormiu ainda vestido com a roupa que saíra.
Seu amigo ao acordar e vê-lo daquela maneira, tratou de chamá-lo. Sacudindo-o insistentemente, queria entender o por quê de tamanho desleixo.
Mas em resposta as sacudidelas, Thomás ouviu apenas:
-- Me deixe em paz. Eu quero dormir. – resmoneou Theodorico ainda dormindo.
Diante disso, só restou a Thomás, se arrumar e ir para o trabalho, no escritório.
Ao lá chegar, Seu Vicente – o dono do escritório –, fez questão de o receber pessoalmente. E nisso, em meio a uma conversa sobre o funcionamento do escritório, o andamento dos processos e o atendimento aos clientes, o experiente advogado fez questão de desejar-lhe boas vindas. Isso por que, depois de muitos anos, finalmente se reencontrara com a família de seu dileto amigo.
E nisso, transcorreu a manhã.
Enquanto Thomás se acostumava com a rotina do escritório, Theodorico por sua vez dormia. Dormia muito.
Mas, mesmo ele, a um certo momento, acordou e se vestiu. Precisava sair para almoçar.
Nesse momento, Thomás, então, entrou pela porta, e ao ver o amigo de pé, admirou-se. Afinal, não era nem meio-dia ainda, e ele já estava vestido e arrumado.
Thomás chegou até a fazer pilhéria com o amigo.
No que ele, não gostou nem um pouco da galhofa. Aborrecido, Theodorico argumentou que havia dormindo muito tarde. Por isso a razão em acordar tão tarde.
Ao ouvir isso, Thomás fingiu concordar com o amigo. Para encurtar a discussão, foi logo convidando Theodorico para almoçar. E assim, mais uma vez os dois saíram juntos. Como gostaram do restaurante em que haviam almoçado no dia anterior, novamente rumaram para lá.
Lá, Thomás comentou que estava conhecendo seu trabalho. Por isso não dava ainda para ter uma noção total do mesmo. Mas, dado o fato de que pretendia ser um causídico e estar cursando a faculdade de direito, acreditava estar no caminho certo.
Ao ouvir do amigo, que este cursava a faculdade de direito, Theodorico ficou ainda mais interessado na conversa. Isso por que, seu ídolo, o poeta Álvares de Azevedo, fora aluno e freqüentou a aludida faculdade.
Por isso Theodorico, ao ouvir do amigo, que este passaria a freqüentar a faculdade, ficou muito entusiasmado. Isso por que, finalmente teria a oportunidade de ficar téte-a-téte com a nata da intelectualidade brasileira e quem sabe conhecer alguns poetas.
Por conta disso, Theodorico infernizou o amigo. Tudo por que queria que este descobrisse tudo sobre os alunos que freqüentavam a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Dependendo do que Thomás lhe dissesse, talvez ele próprio se matriculasse no curso, só para ter a satisfação de figurar entre as proeminentes figuras da cidade.
Thomás, ao perceber o exacerbado interesse do amigo pela faculdade, insistiu para que ele realmente cursasse direito. Afinal, esta seria uma oportunidade de ouro para encontrar-se com os ilustres representantes da cidade, quem sabe até com alguns poetas.
Ao ouvir este conselho do amigo, Theodorico, ao contrário do que seria de se esperar, ficou verdadeiramente inclinado a aceitar tal possibilidade. Sim, poderia cursar a faculdade e assim não precisaria se preocupar em trabalhar, ao menos por enquanto.
Absorto em pensamentos, Theodorico nem percebeu quando o garçon se aproximou, trazendo a refeição. Tanto que Thomás, seu amigo teve que puxá-lo pelo braço, para que ele então percebesse que o almoço estava sendo serviço.
E assim, os dois se serviram de uma boa refeição.
Após, Thomás despediu-se do amigo e voltou ao trabalho.
Theodorico por sua vez, animado com a possibilidade de freqüentar a faculdade, depois do almoço, dirigiu-se até lá e procurou se informar sobre como poderia ingressar no curso de direito. Depois, passeou pelas ruas da cidade, até que cansado, voltou para a pensão. Com isso, animado com a possibilidade de realizar seu desiderato, resolveu então, redigir uma poesia.
Entusiasmado com as lendas gregas, Theodorico começou a escrever:

“Ode a Beleza

Mirra, adorável filha do Rei da Síria
Enamorada do próprio pai,
Auxiliada por picarescos estratagemas
Consegui o feito de com ele passar
Doze noites em meio a dolente amar

Mas o Rei, furibundo,
Perseguiu a filha, intentando matá-la
Em razão de sua perfídia

Porém os deuses, compungidos com sua sina
Acabaram por lhe transformar,
Em odorífera árvore, a mirra

Meses após,
Depois do fatídico acontecimento
Dentro do tronco da aludida árvore
Saiu um jovem de inaudita beleza

Recebendo o nome de Adônis
Foi logo arrebatando os amores
De todas as donzelas e deidades do lugar

Impressionada, Afrodite
Que dos amores era deusa
Acolheu-o pedindo a Perséfone
Que entre mimos e afagos,
O criasse às escondidas

Contudo o jovem
Em tornando-se um formoso mancebo
Atraiu cúpidos olhares de Perséfone

A déia, apaixonada pelo belo homem
Não aceitou de maneira alguma
Devolvê-lo a Afrodite,
Conhecedora dos encantos e sortilégios do amor

Em razão disso
Um litígio se instalou entre as deidades
E Zeus, o soberano entre os deuses, interviu
E em razão de inquietante questão, decidiu:

O formoso mancebo passaria
Um terço do ano com Afrodite,
Outro terço com Perséfone
E o restante do tempo
Com quem lhe interessasse
E acaso o encantasse

Mas, ao longo do tempo
O belo rapaz,
Enfeitiçado pela beleza da exuberante Afrodite
Decidiu-se por ficar dois terços do ano
Com a deusa do seu amor
Atraindo deveras, a ira de Perséfone

Porém, assim ficou acertado
Por que do amor todos somos serem encantados

Dessarte, o efebo, que adorava caçar
Era constantemente acompanhado pela deusa
Que sentada em um magnífico carro, era conduzida por cisnes

Certo dia porém,
Audacioso, resolvera sair sozinho e caçar

Nesse dia, desafortunadamente
Ao se aventurar em profícuas caçadas
Foi ferido de morte por um javali
Que lhe atingira velozmente à traição
Sentindo o sangue fluir de seu corpo

Esse javali, era na verdade, o ciumento deus Ares
Conhecido amante de Afrodite
Que, invejoso da beleza do efebo
Ansiava por destruí-lo
E assim desejoso, transformou-se em cruel criatura
Tudo para lograr êxito em seu intento

Ao saber do ocorrido
Afrodite condoída com o fatídico destino de seu príncipe
Pranteou seu desespero

Mas o efebo, fatigado,
De seu peito dorido
Mal conseguia falar

Porém, sentindo a presença de Tânato
Nada mais se podia fazer para salvá-lo
Era demasiado tarde

Entristecida por isso, a déia,
Sequiosa de uma delicada homenagem,
Fez com que a anênoma,
Belíssima e rubra flor muito delicada,
Que floresce brevemente na primavera
Brotasse agora, de seu sangue derramado

E assim, entre soluços e tristeza
Se cumpriu o ordenado
E, em meio ao sangue retirado,
Do corpo agonizante de seu amado
Nasceu a vida
Nas lindas flores que brotaram no chão

Feliz por um breve instante
A envolvente deusa
Distraída que estava,
Em meio a beleza do cenário que surgia
Inadvertidamente,
Repousou sua delicada mão
Em meio as rosas que por ali haviam
E feriu-se com um espinho

Esse espinho cruel, ao furar um de seus dedos
Extraindo de dentro dele,
Uma gota de seu precioso fluído divino
Fez com que o sangue tinto jorrasse
Tingindo de vermelho as rosas
Até então alvas como as altaneiras nuvens do céu

Com isso, ao perceber o que sucedera
Afrodite, então emocionada com a morte,
De seu amado e galante mancebo
Nem se incomodou com o minúsculo ferimento

Mas, seu séquito de serviçais, ao contrário
Ao perceberem o ferimento da déia
Logo acorreram para ajudá-la
Mas esta, atalhando-os disse apenas:

Não se incomodem com isso
Afinal, não será por conta
De uma insignificante gota de sangue
Que me despedirei deste insensato mundo
Vindo a habitar o venerável mundo de Hades

Mas, ao contrário de mim
Gentis senhores, um jovem e formoso mancebo
O habitará para sempre

Eternamente sentirei saudades
E apesar de tudo, se novamente o conhecesse
Novamente dele me enamoraria

Por que entre dentre miríades de estrelas
Nenhuma delas terá um brilho tão intenso
Quanto o amor de Adônis,
O mais belo entre todos os homens da Grécia
A ele, o meu mais venerando amor”

Empenhado que estava em escrever uma boa história, o mancebo ficou por horas a fio, encerrado em seu quarto. Theodorico estava decidido a escrever uma grande poesia. Uma poesia tão boa, que deixaria até o grande Álvares de Azevedo, em condições de desvantagem em relação a ele.
Isso por que, o grande poeta, por habitar a mansão eterna, nada poderia contra tal situação. Além disso, os poetas da cidade ficariam tão impressionados com sua inventividade poética, que assim que o conhecessem e vissem a poesia, fatalmente se encantariam com ele.
E assim, depois de muita insistência, um pouco de paciência e muita perseverança, o rapaz acabou conseguindo escrever a tão almejada poesia. E isso o deixou exausto. Mas, enfim, conseguiu. E exausto, lançou o corpo lasso a cama, e dormiu quase que imediatamente.
Foi então, que pela primeira vez, Theodorico, sonhou com sua musa. Uma linda mulher que daqui por diante, passaria a habitar seus sonhos.
Neste primeiro sonho, esta misteriosa mulher, aparecendo-lhe como uma déia, surgia e desaparecia diante dos olhos de Theodorico, como se fora uma miragem. Uma visão encantadora, que brincava com os olhos do mancebo.
A jovem, sempre envolta em uma capa escura, aproveitava a arquitetura das casas, para se esconder, deixando-o perplexo. Isso por que, sempre que ele se aproximava para tentar conversar com a jovem, a mesma se evadia, sumindo de seu campo de visão.
Porém, conforme os sonhos foram se tornando freqüentes, finalmente Theodorico conseguiu descobrir algo mais sobre a jovem. Depois de infrutíferas tentativas, em sonhos a donzela revelou seu nome. Chama-se Diana, como a deidade grega.
Diana. Diana. Depois de sonhar com a jovem e descobrir seu nome, Theodorico passou a ter verdadeira obsessão pela moça. Isso por que, passou a acreditar que a jovem realmente existira, dadas as circunstâncias impressionantes ocorridas em seus sonhos.
Em um deles, Theodorico comentou com Thomás, ter tido a sensação de ter adentrado solo sagrado, posto que, as brumas e o caráter soturno do lugar, lhe lembravam e muito a visão dos cemitérios.
Ao ouvir isso, Thomás, fez troça do comentário e insistiu com o amigo, para que este parasse de lhe dizer bobagens. Afinal, tudo fora apenas um sonho.
Theodorico, porém, respondeu que não havia nada de mais em se sonhar com cemitérios. Isso por que, em vários lugares do mundo, havia cemitérios fabulosos. Alguns até dignos de grandes visitas. São Paulo mesmo, terra bem cuidada, com certeza deveria possuir alguns belos cemitérios para serem visitados. Além disso, que bela aula de história deveria ser passear por estes belos lugares e conhecer um pouco mais sobre a vida e as pessoas que ajudaram a construir a cidade.
A despeito disso, no entanto, Thomás, assentiu com a cabeça. Estava acorde com o amigo.
Contudo, Theodorico concordou em um ponto com o amigo. Afinal, de contas, de tanto ler as poesias de Álvares de Azevedo e de outros poetas românticos, ele só podia mesmo, estar muito impressionado com a atmosfera criada por estes homens. Sim, seu sonho só podia ser mesmo uma fantasia.
Todavia, apesar da admoestação do amigo, Theodorico, curioso com o sonho que tivera dias antes, resolveu então passear por alguns dos cemitérios da cidade. Queria muito, descobrir se havia sonhado com alguém que realmente existira ou não.
Por isso, Theodorico resolveu aventurar-se nos cemitérios da capital.
Porém, ao fazê-lo, por mais que procurasse, nada conseguiu encontrar. Por isso mesmo, durante dias, Theodorico, curioso, devassou todos os cemitérios da cidade. Ávido, perscrutou minudentemente todas as lápides e todos os túmulos, tudo na vã tentativa de encontrar algum sinal. E assim, depois de muito procurar e nada encontrar, já estava quase desistindo. Contudo, resolveu fazer uma última tentativa. Por esta razão, foi então visitar o único cemitério em que ainda não havia colocado os pés.
Era um cemitério simples. No entanto, Theodorico não podia desistir. Precisava continuar procurando. Porém, encontrar o túmulo com o qual sonhara não foi nada fácil. Neste cemitério, não bastasse a simplicidade de seus jazigos, todos eles eram muito assemelhados entre si. Tal fato, dificultou deveras o trabalho de Theodorico, que por diversas vezes, passou defronte ao túmulo que procurava e não o viu. Somente na quarta ou quinta vez em que passou pelo mesmo lugar, é que se deu conta de que o que procurava, estava à sua frente. O lugar que lhe aparecia em seus sonhos, era o mesmo que agora estava à sua frente.
Ao dar-se conta disso, Theodorico foi tomado por uma profunda emoção. Incontido, mal podia esperar para descobrir quais eram as pessoas que estavam enterradas naquele túmulo. Foi então que sofregamente, dirigiu-se a lápide e constatou que há alguns anos, uma jovem chamada Diana, havia falecido. E lá naquele túmulo ela foi enterrada, juntamente com seus ancestrais.
Todavia, apesar do enlevo, Theodorico constatou que, apesar de ser o mesmo lugar que apareceu em seu sonho, como faria para descobrir se a jovem com quem sonhara era a mesma pessoa que estava enterrada ali?
Foi então que o mancebo percebeu, que para descobrir mais alguma coisa, precisaria conhecer a família da moça. No entanto, como faria para achá-los?
Nisso, ficou a pensar. Porém, como a tarde já se despedia, Theodorico resolveu voltar a pensão.
Quando então finalmente chegou, seu amigo Thomás, comentou preocupado:
-- Alvissaras! Finalmente chegaste! Pensei que tivesse se decidido definitivamente a fazer companhia aos mortos.
-- Não sejas irônico. Afinal o meu interesse é puramente literário. – respondeu ele secamente.
-- Tão literário que há dias não faz outra coisa senão sonhar, e procurar por entre túmulos e mausoléus, por uma moça que você nem sabe se existiu.
Nisso fez-se um instante de silêncio.
Depois de alguns minutos calados, Theodorico finalmente disse:
-- Pois bem. E se eu te disser que talvez essa moça exista?
-- Como assim? – perguntou Thomás.
-- É que em minhas andanças, encontrei um lugar muito parecido com o que apareceu em meus sonhos. Além disso, uma moça chamada Diana, foi enterrada ali.
-- Curioso. Mas mesmo assim, tudo isso pode não passar de uma simples coincidência. Não acha?
-- Talvez sim. Mas mesmo assim, eu vou continuar investigando. – disse Theodorico.
-- E com isso, você só fica a viver de sonhos. – comentou Thomás, aborrecido. – E o seus estudos? E o seu projeto de freqüentar a faculdade de direito? Onde ficam estes projetos?
-- Tudo isso pode esperar. – respondeu Theodorico.
-- Pode esperar até quando, heim Theodorico? Afinal, você não poderá ficar a vida inteira sem trabalhar. Por conta de um sonho bobo com o qual cismou, você vai se esquecer que tem uma vida? Ora homem, e as suas obrigações? Como fica tudo isso?
Mas Theodorico não queria saber de nada. Obcecado com a idéia de descobrir por que há semanas sonhava com aquela misteriosa jovem, o rapaz deixara de lado todas as suas ambições, inclusive a de encontrar os grandes poetas da cidade. Abandonara seus passeios noturnos, bem como suas incursões notívagas pela cidade.
Por esta razão, Thomás seu amigo, passou a ficar cada vez mais preocupado.
Isso por que enquanto ele trabalhava de dia e aproveitava a noite para freqüentar a faculdade de direito, seu amigo ficava cada vez mais recluso. Não saía mais a noite, e não mais se envolvia em farras.
Porém, ao invés de se interessar pelos estudos e se empenhar em arrumar alguma ocupação, Theodorico só se preocupava em desvendar o mistério que segundo ele, cercava seus sonhos.
Por isso, cada vez que adormecia, era uma satisfação para ele, pois seria uma possibilidade de vir a sonhar novamente com seu novo objeto de adoração. Entretanto, nos últimos dias, Theodorico, por mais que desejasse sonhar com Diana, nada conseguia. A jovem vinha se recusando a visitá-lo em sonhos.
Tal fato desanimou profundamente o jovem, que nutria esperanças, de através dos sonhos, de descobrir algo mais sobre a jovem.
Theodorico todavia, era extremamente teimoso, e assim, faria de tudo para tentar descobrir mais alguma coisa sobre a jovem. Por isso mesmo, movido pela idéia insistente de saber mais sobre Diana, Theodorico resolveu visitar o túmulo onde uma pessoa com o mesmo nome, havia sido enterrada. O jovem fazia isso, na tentativa de encontrar algum parente da família, que pudesse lhe contar algo mais sobre a jovem.
Nesse propósito, Theodorico visitou por dias a fio, o túmulo da família Neves.
De tão obcecado pela idéia de desvendar o passado de Diana, chegou até a se desentender com o amigo Thomás.
Isso por que, enquanto ele estava envolvido com a idéia de descobrir alguma coisa sobre o passado da donzela, Thomás só fazia criticar sua atitude e seu desapego pelo futuro. Por esta razão, certa vez, enervado com a conduta do amigo, Theodorico mandou que Thomás se calasse e que cuidasse de sua própria vida, que segundo ele, nem era das mais interessantes. Foi o suficiente para que Thomás, ofendido, não conversasse, mais com ele.
Aliás, de tão aborrecido, Thomás fazia o possível para evitá-lo.
Theodorico, então, percebendo a mudança de comportamento do amigo, nem se importou. Afinal, se estava ausente, era por que estava se ocupando de coisas úteis. Além disso, quanto menos se vissem, menos motivos tinham para brigar.
E assim, Theodorico continuou sistematicamente, a visitar o túmulo de Diana.
Ía até lá, rezava. Algumas vezes, chegou a depositar flores no túmulo da jovem.
Por isso mesmo, um dos funcionários do cemitério, ao ver o jovem reiteradas vezes visitando o túmulo da família Neves, resolveu finalmente perguntar:
-- Meu jovem! O que faz aqui tão cedo?
-- Nada de mais. Venho visitar o túmulo de uma amiga. – respondeu o mancebo.
-- Ah! Então não é parente?
-- Não. Sou apenas um amigo. Venho até aqui, por que perdi o contato com a família. Não sei onde moram. Por acaso sabes com que freqüência os Neves visitam a sepultura?
-- Pelo que sei, a família pagou um dos funcionários para cuidar do túmulo. Para limpá-lo, depositar flores, acender velas. E a família, com exceção da mãe, raramente vem ao cemitério. Somente no dia de finados e no dia de aniversário de morte da moça.
-- Então a mãe vem sempre? – perguntou o jovem, bastante curioso.
-- Sim. Toda sexta-feira ela vem rezar pela filha. Coitada! É uma senhora bastante sofrida. Depois que perdeu a filha mais velha, nunca mais foi a mesma. Sempre vestida de preto, com um rosário nas mãos, é uma tristeza só. Nem parece a mulher jovial que fora. Mesmo quando viúva, não perdeu a alegria. Isso por que Diana, era sua alegria. Mas, depois que a moça morreu, tudo perdeu o sentido para ela.
-- E do que Diana morreu?
-- Você que é amigo não sabe?
Ao ouvir isso, Theodorico ficou desconcertado. No entanto, ao pensar um pouco, descobriu uma forma de justificar sua ignorância a este respeito. Por isso, disse:
-- Sim. Infelizmente, só fiquei sabendo de seu falecimento há alguns meses. Desde então tenho procurado seu túmulo, na tentativa de, em assim fazendo, conseguir encontrar seus familiares. Porém, há dias que venho até aqui, e nada consigo.
-- Ah! Está certo! Se é esse o motivo, então eu conto. Diana, filha mais velha de Dona Eufrásia, sempre foi sua filha preferida. Tanto que sempre que a filha pedia alguma coisa, Dona Eufrásia encontrava uma forma de satisfazer suas vontades. Pelo menos até onde eu sei. E até onde sei também, nunca foi muito amorosa com as outras filhas, mas Diana era a exceção. Mas isso você já deve saber. – disse o funcionário, interrompendo a conversa.
-- Não importa. Continue o relato. – respondeu Theodorico ávido por mais informações.
E assim o funcionário continuou a história. Contou que Diana, como filha dileta de Dona Eufrásia, era alvo de toda a dedicação de sua mãe, que em relação as outra filhas, não era nem a metade do que era com a primogênita. Porém o tempo de mimos e adoração durou pouco, pois, com dezesseis anos, Diana, repentinamente adoeceu. Adoeceu tão gravemente que em poucos meses após ter contraído a moléstia, acabou falecendo. Dizem que morrera tísica, mas ninguém pode afirmar como certeza, segundo ele. Isso por que, Eufrásia escondeu o quanto pôde a filha dos olhares curiosos, bem como dos cuidados de terceiros. Assim, enquanto a filha esteve adoentada, ela própria cuidou da menina, empenhando-se em zelo e atenção. Dedicada e prestimosa, era ela quem ministrava os remédios a garota. Também era ela quem de noite dormia ao lado da filha, para que se a moça precisasse de alguma coisa, pudesse acorrer em seu auxílio.
Sim, durante os momentos finais de vida da filha, Eufrásia foi uma mãe como poucas. Apesar de possuir empregadas, ela própria se encarregou de cuidar da filha. E cuidou muito bem. Cuidou tão bem, que todos chegavam a comentar que, nem quando Diana era bebê, Eufrásia cuidou tanto assim da filha. Diana, que sempre fora sua filha preferida, nunca teve tanta atenção dela. Nem quando nascera.
Realmente a dedicação de Eufrásia era espantosa. Mais que isso, era admirável.
E Eufrásia adorava realmente a filha. Tanto que quando esta faleceu, ela era só tristeza. Desolada, chorou compungidamente durante todo velório. De tão abalada, não pôde acompanhar o enterro.
E nesse estado de espírito, Eufrásia permaneceu durante meses.
Contudo, mesmo anos depois, a mãe nunca esquecera da filha. Nem de sua tristeza. Por isso raramente saía de casa, e quando saía, ou era para ir ao cemitério, visitar o túmulo da filha, ou então era para freqüentar a missa. Uma vida de verdadeiro claustro.
Segundo o funcionário do cemitério, a respeitável senhora só não se tornou freira, por que, apesar da tragédia que se abatera em sua vida, possuía ainda, outras filhas para cuidar.
Nisso o funcionário encerrou a conversa e despediu-se de Theodorico, dizendo que precisava voltar ao trabalho.
O rapaz então agradeceu pelo relato. Depois, começou a conversar com a jovem – Diana. Intrigado, perguntou-lhe quando voltaria a lhe aparecer em sonhos.
No entanto, apesar de seu empenho em tentar se comunicar com a jovem, tudo era silêncio.
Silêncio. E por dias a fio, o silêncio permaneceu.
Por conta disso, Theodorico quase chegou a se esquecer da jovem. Isso por que, cansado de esperar por ela, o jovem mancebo decidiu então prosseguir com seus planos de se apresentar aos poetas da cidade, bem como conhecer os lugares freqüentados por Álvares de Azevedo. Até por que, quando optou por acompanhar o amigo em São Paulo, seu intento era exatamente esse, conhecer os lugares visitados e freqüentados pelo grande poeta brasileiro.
Assim, se esse era seu objetivo, Theodorico não podia deixar que nada o fizesse mudar de foco. Por isso, passou a estudar. Queria fazer parte do corpo discente da afamada faculdade de direito que existia na região. Desta forma, precisava estudar. Estudar muito.
Se queria freqüentar a faculdade onde Álvares de Azevedo estudou, precisava se empenhar bastante. E assim o fez.
Dissuadido de seus sonhos, que não passaram de fantasias delirantes, o jovem decidiu retomar seu objetivo inicial que era conhecer os lugares por onde passou o ‘Byron Brasileiro’. Com isso, abandonando suas atividades notívagas, Theodorico passou a estudar cada vez com mais afinco.
Thomás, acostumado com a vida de ‘bon vivant’ de Theodorico, estranhou o comportamento do amigo. Estranhou tanto, que até esqueceu-se que estavam brigados. Tanto que chegou até a perguntar:
-- Ué! Vossa Mercê não vai sair hoje?
-- Não, caro amigo. Estive pensando no que me disseste tempos atrás. Você estava certo! Eu fui insensato em me dispersar e perder de foco meu objetivo. Aqueles sonhos foram apenas isso, sonhos. Não devia ter perdido tempo com eles.
-- Folgo em saber que mudaste de idéia. Quer dizer então que voltaste a estudar? Que bom! Muito embora nós saibamos o motivo para que procedas assim, não importa, estudando, verás o quão é importante isso que estás fazendo. Só espero que isso não seja fugaz. Algo passageiro.
-- Não. Absolutamente. Eu quero freqüentar o curso de direito. Não tenhas dúvida. – respondeu ele.
Com isso, assoberbado que estava com seus estudos, Theodorico pediu ao amigo, que se não se importasse, gostaria de continuar estudando. Assim, não jantaria. Espantosamente, estava se dedicando sobremaneira aos estudos.
Desse modo, Theodorico passou a noite inteira estudando. Só não passou a madrugada estudando por que o amigo lhe pediu para deixar os estudos para o dia vindouro. Sim, por que Thomás precisava trabalhar no dia seguinte. Assim, precisava de uma boa noite de sono para que pudesse ter disposição para o trabalho.
A propósito, o rapaz estava muito animado com seu trabalho. Isso por que, trabalhando em um escritório de advocacia, Thomás podia conhecer um pouco mais da rotina da profissão e assim se familiarizar com ela. Além disso, por estar cursando a faculdade de direito, acreditava que com isso fatalmente conseguiria se estabelecer na região.
E assim, toda noite o rapaz voltava para a pensão, pegava alguns livros e depois saía novamente, agora em direção ao Largo São Francisco, no intuito de assistir as aulas.
Ao lá chegar, Thomás conversava com seus amigos. Depois quando era dado o sinal, todos os alunos adentravam as salas e lá ficavam a ouvir as explicações dos professores sobre as diversas áreas do direito.
Nessa época, para que se pudesse freqüentar as aulas, era necessário que os estudantes se trajassem de forma rigorosa. Era preciso que usassem terno, traje que, segundo os mestres, era adequado a dignidade da profissão.
Mas a despeito do formalismo da instituição, era um verdadeiro privilégio poder freqüentar aquele ambiente e conviver com todos aqueles grandes homens. Thomás sabia disso e por isso mesmo aproveitava muito bem cada uma das horas em que permanecia neste ambiente.
O mancebo gostava tanto do lugar que para ele não era nenhum sacrifício permanecer ali por algumas horas. Ao contrário, era muito bom. Tanto que quando tinha que ir embora para a pensão, chegava até a sentir um pouco de saudade.
Realmente o rapaz adorava a faculdade.
Theodorico sabendo disso, chegava até a brincar com o amigo dizendo:
-- Não é possível. Parece que você vive por entre aquelas paredes.
Mas era uma só uma pilhéria do amigo. Thomás nascera no interior.
Porém, a despeito disso, Thomás adorava a cidade de São Paulo. Para ele, a cidade era como uma princesa faceira. Desde que a visitara ainda em criança, mal podia esperar para visitá-la de novo. Quando então soube que iria morar, ao menos por alguns anos em São Paulo, ficou radiante. Não apenas iria rever a cidade que não via há anos, como também iria morar nela.
Isso para ele era bom demais. Tão bom que logo que chegou já arrumou um emprego, para que pudesse se manter por mais tempo na cidade.
Isso por que, o rapaz não queria voltar para sua cidade de origem. Thomás, assim como seu amigo Theodorico, queria permanecer na Terra da Garoa, nome pelo qual a cidade de São Paulo era conhecida.
Mas também não era de se espantar por que quisessem permanecer na localidade. São Paulo era extremamente atrativa. Um lugar próspero e promissor. Um lugar ótimo. Suas belas construções, os palácios dos barões do café, a urbanização da cidade em contraste com suas paisagens bucólicas, era um deleite para sua população. Tudo era bom, a cidade não era exageradamente grande, nem acanhada demais, e já demonstrava que tinha um grande potencial de desenvolvimento.
Contudo não era ainda, o colosso impávido que hoje é. Porém, a despeito disso, era com absoluta certeza, uma cidade muito mais bem cuidada do que é hoje.
Enfim, era um ótimo lugar para se viver.
E por isso mesmo os jovens queriam permanecer na cidade.
Porém estou distanciando do foco principal.
Então, voltemos ao assunto principal.
Pois bem, ao término das aulas, Thomás, como sempre fazia, voltou para casa. Depois de um dia extenuante de trabalho e estudos, o jovem entrou em seu quarto, vestiu seu pijama e exausto, deitou-se na cama e adormeceu. Dormiu por horas. Por pouco não perdeu a hora no dia seguinte.
Curiosamente, Theodorico levantara antes do amigo. Como estava empenhado em seus estudos, resolveu levantar cedo para estudar. Contudo, ao perceber que seu amigo não levantava para trabalhar, decidiu então chamá-lo.
Thomás, levantou-se então. Sobressaltado, espantou-se por ter perdido a hora. Todavia, ao perceber que Theodorico havia acordado antes dele, ficou admirado. Tanto que chegou a lhe perguntar:
-- Nossa! O que te fez acordar tão cedo?
No que ele respondeu:
-- Nada. Simplesmente eu quis aproveitar o dia para estudar. Afinal de contas, eu vou ou não ser um aluno da faculdade de direito?
Thomás, que não podia perder tempo, começou a se vestir e se arrumar para o trabalho. Como estava atrasado, não teve tempo para sequer tomar um café. Apressado que estava, tratou de correr para conseguir pegar um bonde e descer próximo ao escritório.
E assim, para sua sorte, apesar de atrasado, Thomás, conseguiu chegar na hora certa em seu trabalho. Aliás, esta era uma de suas principais qualidades. Thomás era extremamente pontual.
De tão dedicado ao seu trabalho, algumas vezes, chegava no escritório antes mesmo de seu patrão chegar. Além disso, nenhum trabalho era demais para o jovem. Por isso mesmo, em poucos meses de trabalho, Thomás, a despeito do pouco tempo em que trabalhava no escritório do amigo de seu pai, conseguiu uma promoção. De simples contínuo passou a assistente. Agora, com mais responsabilidades, passaria a auxiliar seu patrão em seu trabalho.
Nisso ao saber da promoção, Thomás ficou muito feliz com a notícia.
Vicente, ao ver o contentamento no rosto de Thomás, tratou de lhe alertar que apesar de ser uma notícia alvissareira, com a aludida promoção, ele passaria a ter mais responsabilidades. Por isso precisaria ser diligente com seu trabalho.
Mas Thomás ao ouvir as palavras do chefe, comentou:
-- Está bem doutor. Eu não poderia imaginar que seria de outra forma.
O patrão, ao ouvir as palavras do mancebo, ficou deveras satisfeito. Com isso, ao perceber que havia feito a escolha certa, passou a comentar com o jovem, sobre os detalhes de seu novo trabalho. Ademais, com mais responsabilidades, passaria também a ganhar mais.
Este fato agradou muito o jovem.
O advogado, ao perceber que Thomás ficara animado com a possibilidade de maiores ganhos, comentou animado:
-- Pois bem. Trabalhe direito, se dedique. Assim, quem sabe, mais tarde o futuro não reserve uma grande surpresa para você? Quem sabe até um cargo de advogado em um grande escritório?
Ao ouvir isso, Thomás ficou ainda mais animado com a notícia.
E assim transcorreu o dia de trabalho do rapaz.
Conhecendo os detalhes do trabalho de seu patrão, Thomás mal podia esconder a satisfação. Estava muito feliz com a promoção. Porém, procurando aprender como realizar seu novo trabalho, o jovem mancebo procurou prestar atenção em tudo o que lhe era explicado.
E assim, ao final do dia, quando reencontrou o amigo, Thomás, fez questão de lhe contar a novidade. Estava tão feliz que não parava de falar na promoção, na possibilidade de vir a advogar em um grande escritório e de ter um futuro promissor na capital.
Theodorico, ao ouvir as novidades do amigo, ficou muito feliz com seu progresso. Afinal, não fazia nem três meses que eles estavam em São Paulo e ele já havia sido promovido. Era realmente uma notícia alvissareira.
Com isso, parecia que finalmente a situação dos dois jovens passava a tomar uma direção. Thomás estava progredindo em seu trabalho e Theodorico estava se dedicando aos estudos. Tudo estava indo muito bem.
Tanto que os dois chegaram até a sair para comemorar.
Apesar do parco dinheiro que tinha, Thomás resolveu convidar o amigo para beber uma champagne por conta da promoção. Depois, com o dinheiro do trabalho, pagaria a pensão. E assim, os dois comemoraram a promoção de Thomás.
Mais tarde, os dois retornaram para a pensão. Bem tarde mesmo.
Isso por que, Thomás, animado com a promoção, não se cansava de comentar sobre seus progressos no escritório. Sim, o mancebo estava muito feliz.
Porém, a certa altura da noite, os dois rapazes constataram que precisavam voltar para a pensão.
No dia seguinte, Thomás, então animadíssimo, chegou ainda mais cedo em seu trabalho. Vicente, que já o aguardava, foi logo lhe explicando quais seriam suas novas atribuições e como deveria proceder com seu trabalho.
Enquanto isso Theodorico, estudava, estudava e estudava.
No entanto, durante este arroubo, o mancebo sem qualquer explicação, voltou a sonhar com Diana. A mesma moça que lhe aparecera em sonhos semanas atrás.
Nesse sonho contudo, Diana chorava. Sentada em um banco, próximo a entrada de um casarão, a moça chorava compungidamente. Theodorico então, impressionado com sua presença, fez logo questão de saber, por que ela chorava tão sentida.
Diana então, envolvida em um manto púrpura, comentou que em vida nunca fora feliz.
Theodorico, espantado, perguntou-lhe:
-- Como não. Pois não sabes que sua mãe a adora?
Diana que até então chorava, levantou a cabeça e olhou para ele espantada.
Theodorico, surpreso com a reação de Diana, fez-lhe então uma pergunta:
-- Acaso tu não és, Diana Neves?
A jovem então, assentiu com a cabeça.
Thedorico, ao saber disso, ficou deveras satisfeito. Satisfeito não só por que a jovem tornara a aparecer em seus sonhos, mas também por que, agora, não só a admirava à distância como também conversava com ela. Sim, por que desta vez, Diana não fugia, nem procurava se esconder. Porém, conforme a conversa foi evoluindo, a moça, inesperadamente, respondeu que tinha pressa. Alegando que alguém a esperava, disse que tinha que partir.
Theodorico então, fez tudo que pôde para retê-la. Em vão.
Diana, precisava partir.
Diante disso o mancebo ficou profundamente desolado.
E Diana então desapareceu.
Com isso, no dia seguinte, logo que amanheceu, antes mesmo de seu amigo Thomás se levantar, Theodorico já estava pronto para mais uma vez, visitar o cemitério.
Assim, quando Thomás acordou, Theodorico já estava longe dali.
Ao perceber isso Thomás ficou deveras espantado. Isso por que, apesar de seu amigo vir se dedicando com afinco aos estudos, sabia que ainda era muito cedo para se levantar. Aliás, era cedo demais até para se estudar. Intrigado, antes de sair, Thomás perguntou a senhoria, por que razão Theodorico havia saído tão cedo da pensão.
Mas a senhora, nem sequer percebera a saída do mancebo.
Dessa forma, Thomás teve que aguardar até o final do dia para descobrir que havia se passado com seu amigo.
Porém, depois de um longo dia de trabalho e muita preocupação com Theodorico, Thomás não conseguiu arrancar dele, nenhuma confissão.
Theodorico, percebendo a curiosidade do amigo, disse apenas que sentira vontade de passear pela cidade. Sim, por que, de tanto estudar, estava esquecendo-se até de se divertir.
Seu amigo contudo, não acreditou muito na história. Mas ao ver Theodorico dando prosseguimento aos estudos, acabou se tranqüilizando. Finalmente o mancebo estava se interessando por alguma coisa.
E assim, depois de alguns meses de estudo, finalmente foi admitido na Faculdade de Direito. Feliz, fez questão de participar a notícia ao amigo, que já acreditava que ele dentro em breve, faria parte do corpo discente.
Por esta razão, alegres que estavam, os dois foram logo comemorar a novidade.
Mais uma vez, chegaram tarde da noite em casa.
Diante disso, Theodorico estava mais e mais próximo de conseguir alcançar seu objetivo. Isso por que, freqüentando a mesma faculdade que Álvares de Azevedo estudara, mais cedo ou mais tarde, acabaria encontrando com outros poetas, pelos quais também tinha profunda admiração.
Mas seu ídolo era realmente Álvares de Azevedo. Isso por que ao ler alguns dos poemas do jovem poeta, em sua cidade natal, Theodorico encheu-se de vontade de conhecer os lugares por onde viveu o grande Álvares de Azevedo. Aliás, essa era a principal razão por que estava em São Paulo.
Além disso, o jovem mancebo, animado com a possibilidade de conhecer os poetas da cidade, sempre tinha o cuidado de carregar consigo, o poema que havia feito.
Porém, para sua insatisfação, não seria tão fácil, encontrar com esses poetas. Por meses a fio, Theodorico teve que se contentar com a companhia de pessoas comuns, totalmente alheais ao seu interesse.
Nessa época, Thomás, que já freqüentava o segundo ano do curso de direito, exercendo a função de assistente do Doutor Vicente, progredia cada vez mais na profissão.
Ao pesquisar, acompanhar processos, e até ao redigir algumas peças, Thomás estava mostrando mais e mais competência. O mancebo, com pendores para a profissão, não decepcionava nem um pouco seu chefe.
Theodorico por sua vez, desencantado com a dificuldade que encontrava para conhecer os poetas da cidade, cada vez mais, se desinteressava pelo curso.
Thomás, ao constatar isso, tratou logo de chamar-lhe a atenção e avisar que aquela era uma grande oportunidade. Theodorico não podia desperdiçá-la.
Mas Theodorico não estava nem um pouco preocupado com isso. Obcecado pela idéia de se encontrar com os grandes poetas da localidade, o mancebo só queria saber de ser poeta. Para ele, nada mais importava.
Thomás, disse ao amigo, que a despeito dele ter esse sonho de ser poeta, primeiramente deveria se preocupar com seu futuro.
Theodorico então, retrucou:
-- Thomás! O único futuro que existe para mim é de ser um poeta. Além disso, como advogado eu seria um péssimo profissional.
-- Seria nada. Acaso já se preocupou em estudar com afinco para se tornar um bom profissional? Aposto que se você dedicasse metade do seu empenho em escrever poesias para os estudos, você já estaria mais do que encaminhado para a profissão, sabia? – comentou Thomás. E assim, depois de um longo silêncio, emendou. – Ouça bem meu amigo, uma coisa não excluí a outra. Você pode perfeitamente exercer as duas funções. Já pensaste nisso?
-- Francamente? Eu nunca pensei em ser advogado. A única coisa que sempre me interessou era ser poeta. – respondeu depois de pensar um pouco.
-- Pois bem! Quer saber de um coisa? Deveria ter pensado. Veja bem o próprio exemplo de Álvares de Azevedo. O próprio! Ele, mesmo sendo poeta, estudava. Sinceramente, eu não sei se ele pretendia ser um advogado, ou qualquer profissão correlata. Porém, eu sei de uma coisa! Como poeta, pessoa afeita as palavras, é necessário se ter um grande conhecimento da língua. Assim, se queres ser um bom poeta, estude!
Theodorico então, ponderando as palavras do amigo, assumiu o compromisso de pelo menos por enquanto, continuar estudando. Ao menos agora, não havia necessidade de abandonar o curso. Além disso, se realmente se afastasse da faculdade, perderia qualquer oportunidade de conhecer os poetas de São Paulo. Por isso, o jovem Theodorico sabia que não poderia perder a oportunidade.
Diante disso, mesmo desanimado, o rapaz prometeu que não desistiria.
Porém, agora, a despeito de ter de se preocupar com os estudos, Theodorico passou a escrever mais poesias. Fascinado com as poesias ultra-românticas de Álvares de Azevedo, e envolvido pela atmosfera misteriosa da cidade, escreveu o seguinte poema:

“Quando o Porvir Chegar

Quando o porvir surgir
E a hora do ocaso chegar
Quero estar tranqüilo e satisfeito

Satisfeito com a existência
Usufruída e com os amigos
Que colhi pela vida afora

Quero ter a satisfação de poder dizer
Caros amigos
A despeito de tudo por que passei
Dos dissabores que senti
Das tristezas pelas quais passei
Tudo, sem me esquecer de nada
Tudo, absolutamente tudo
Valeu a pena

Até mesmo as decepções que trago comigo
Até elas são minhas companheiras fiéis

Sim, por que tudo na minha vida é caro
E mesmo as maiores tristezas são ternas
Eternas recordações de uma existência
Que valera a pena

Não desdigo nada pelo que passei
Ao contrário, sou feliz
Tão feliz que muitas vezes
Mal caibo em mim

Oh! Como é difícil ser feliz!
Mas eu sou um sobrevivente
Um naufrago da felicidade
Minha vida tivera um significado
Muito embora poucos o entenderam

Entrementes, a despeito disso
Não sou triste
Sou apenas um poeta
Um cantante da beleza da vida
Da delicadeza de suas tramas
Da sutileza de seus tecidos
Oh! Frágil condição humana

Por que tu vida
És tão leve e sorrateira?
Mal tive tempo de viver
E agora estou apreensivo
Com a hora do porvir
Porvir que me atormenta
Que me desespera
Porvir que me assola
Com sua sombra insistente e definitiva

Óh, quão dura é a certeza da morte
Por que tudo acaba?
Por que tudo passa?
Por que fenecemos como as flores?
Por que não somos eternos como os deuses?
Por que vejo a luz se apagar
E a presença funérea da morte, se aproximar?

Sinto os passos lentos da morte chegando
E a vida que até então
Explodia em flores, cores e tons
Agora se esmaece em sombras e escuridade

Sinto um anjo de asas negras
Se abater sobre mim
Por que logo agora?

Contudo, a despeito de meu desespero
Sinto que a hora é chegada
E assim, inexoravelmente
O estertor de minha hora chegará
E quanto a isso não me poderei opor

Quando chegar o momento de partir
Terei que fatalmente ocupar o féretro
E assim conduzido
Ocupar a morada eterna

A lousa ebúrnea a compor a sepultura
Noite após noite
A ser escurecida pelo negrume da noite
Fará par com o triste pio das corujas
Que a partir de então
Virão visitar meu leito eterno
Na vã esperança de diminuir a solidão
Assustadora do cemitério

A fatalidade da vida
Vida que vem e que vai
Tão leve quanto o vento
E tão frágil quanto a brisa
Assim, se é dado adeus a vida
E se é lançado à funesta morte
Que nos acolhe satisfeita
Pronta para ceifar mais uma vida
E fazer tomar parte da imortalidade divina

Quanto a isso
A morte é bela
É o mais belo presente do fim da vida

Isso por que
Para sermos deuses
Precisamos morrer
Para vivermos depois
Na imortalidade

Pensando assim
Morrer não é mais assustador que a vida
Tão curta e fugaz
Assim entendido
Deixemos de temer a morte
E brindemos o dia do porvir
E a fatídica hora do acaso
Um brinde a Tânato!”

Com isso, depois de terminar de escrever sua poesia, o Theodorico, percebeu então, que ao contrário dos outros poetas, sua poesia tinha características próprias. Diferente da forma clássica pela qual os poetas de sua geração se expressava, ele deixava fluir livremente as idéias, o que dava as poesias, uma conformação própria, muito diferente dos sonetos metrificados dos poetas.
O rapaz ao perceber isso, foi tomado de uma profunda decepção. Isso por que, em assim escrevendo, nunca seria aceito nos círculos literários. Assim, precisava adaptar suas poesias ao padrão vigente.
Todavia, o que ele não imaginava, era que justamente essa forma peculiar de escrever, é que lhe faria ser apresentado aos poetas da cidade. Isso por que, estes, ao tomarem conhecimento de um poeta que fazia poesias muito originais tanto na maneira de escrever, quanto na forma, esses homens, alvorossados demonstraram interesse em conhecer o mancebo.
Esses homens descobriram a poesia de Theodorico, por que, ao freqüentarem os bares da cidade, acabaram por ouvir um trecho do poema ‘Ode a Beleza’, declamado por um dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Ao ouvirem parte da poesia, muitos deles ficaram impressionados com a força do poema.
Curiosos, os poetas foram logo perguntar ao rapaz que o declamara, se ele era o autor da poesia. Como a resposta foi negativa, foram logo perguntando:
-- Pois então, se o senhor não é o autor dessa poesia. Quem escreveu esse poema?
O rapaz, mesmo surpreso com a indagação, não se escusou e logo respondeu:
-- O autor é Theodorico Queirós.
De posse dessa informação, um dos homens, procurou logo saber onde este rapaz poderia ser encontrado. Quando descobriu que ele freqüentava o curso de direito, todos os demais ficaram intrigados. Isso por que, alguns daqueles homens também freqüentavam o curso. Porém, não sabiam quem era aquele rapaz.
Contudo, não seria por muito tempo, que eles ficariam sem se encontrar.
Isso por que, interessados em conhecer o jovem Theodorico, os poetas, trataram logo de pedir ao rapaz que declamara a poesia, para que os apresentassem a ele, e que o convidassem a beber com eles, alguma noite.
E assim, foi apenas questão de tempo, até Theodorico conhecer os poetas que viviam e estudavam na cidade.
Mas enquanto esse encontro não acontecia, o rapaz aproveitava, para além de estudar, colocar sua veia poética em exercício, e assim, melhorar sua poesia. Isso por que, ao conhecer os poetas de São Paulo, não queria chocá-los com sua poesia. Mal sabia ele que era justamente isso, que iria cativar os poetas.
Isso por que, estes, encantados com o estilo poético de Theodorico, já o consideravam um inovador. Quem sabe até ele não ajudaria a criar um novo estilo de fazer poesias?
No entanto para o jovem suas poesias não eram nada disso. Muito embora soubesse que escrevia bem, sentia que sua poesia, não tinha a forma que deveria ter. Por isso, obcecado pela idéia da forma perfeita, passava cada vez mais tempo escrevendo poemas. Queria por que queria poemas formais.
E assim, Theodorico ficava dia após dia trancado em seu quarto escrevendo poemas. Obcecado com a idéia da forma, ficava deveras desapontado sempre que seus poemas não saíam conforme o desejado.
Não bastasse isso, o rapaz novamente passou a sonhar com Diana.
Contudo, desta vez a moça apareceu acompanhada em seus sonhos. Lindamente vestida, dançava com um cavalheiro. Theodorico, então, percebendo a aglomeração de pessoas, deu-se conta de que se tratava de um baile. E neste baile, vendo sua musa, tão elegantemente trajada, tão bela como as grandes deusas gregas, Theodorico, enchendo-se de coragem, resolveu declamar uma linda poesia. Uma delicada poesia de amor.
O rapaz então, todo empertigado, começou:

“Diana

Ontem sonhei com Diana
Diana
Não a Deusa da Caça
Mas a misteriosa mulher
Que há tempos
Ocupa as horas de meu descanso

Diana
Quando sonho contigo
As horas voam como o vento
Leve como plumas

Diana
Habitante da eternidade
Vives em solo sagrado
Longe de meus olhares
Deveras longe de minha adoração

Sinto por que não estás por perto
Por que não sinto seus passos leves
A me acompanhar
E a beleza que vem de ti

A única coisa que eu tenho de ti
É a presença rara e onírica
Somente presente em meus sonhos

Por que não vens habitar comigo
A vida terrena?
Por que partistes sem mim?

Óh! Que vida triste que tenho
Longe de ti
Minha princesa grega
Habitante de meus sonhos distantes
Pássaro da liberdade
Para onde vais?

Lembrança singela de minha vida
Estranho amor
Por que circundas minha vida
Sem se revelar por inteiro?

Se é para seres assim
Por que vens me atormentar?
Por que não me deixas
Acariciar teu alvo rosto
E tocar de leve
Tuas delicadas mãos?

Perto de ti
Sinto-me como um errante
Um cavaleiro andante
Que vivendo na época errada
Não consegue encontrar seu lugar

Por que tudo tem de ser tão triste?
Por que minha sina é tão desditosa?
Sinceramente, não compreendo

Porém, se este é o fardo
Que tenho que suportar
Que o seja
Porém, ao menos a alegria
De viver breves instantes contigo
Almejo ter

Por que se assim não for
De que valia terá sido conhecê-la?
Se nem ao menos puder viver
A alegria de tê-la ao lado?
De nada valeria...”

Nisso, Diana, depois de dançar com o cavalheiro que a acompanhara, ao ouvir a linda poesia declamada por Theodorico, vendo nele o seu antigo amado, acorreu em sua direção, deixando de lado, seu parceiro de dança.
O rapaz, ao se ver sendo abandonado por Diana, ameaçou fazer um escândalo. Porém, um senhor, percebendo a intenção do jovem, resolveu chamá-lo para uma conversa.
O mancebo bem que tentou desconversar, mas o senhor foi firme.
Foi desta forma que se impediu que se instalasse definitivamente a confusão naquele baile.
Diana, então, vendo-se livre, foi em direção a Theodorico, que sorria para ela.
Juntos dançaram a noite inteira. Felizes parecia os dois que nunca iriam se separar. Mas, infelizmente,  foi isso que aconteceu.
Eufrásia, ao ver a filha nos braços de um completo estranho, tratou logo de ir ao seu encontro. Para não promover um escândalo, a senhora aguardou até o momento em que Diana parou de dançar para levá-la dali. Theodorico, atônito, não compreendia nada.
Desolado, ao se ver sem sua musa, ficou profundamente desapontado. Tentando ir atrás da moça, Theodorico foi aconselhado por um dos anfitriões a não fazê-lo.
Theodorico então, ao ouvir isso, saiu da festa, só pensando em como faria para encontrar a moça novamente.
Nesse instante, o mancebo despertou. Sobressaltado, ao dar-se conta de que tudo não passara de um sonho, Theodorico tentou dormir novamente, mas infelizmente não conseguiu. 

Atordoado, foi até a campa, onde estava adormecida sua amada. Ao olhar para a lápide, foi tomado de assalto por uma idéia sinistra. Ao ver as flores que enfeitavam o túmulo e sentir o quanto a moça era amada, o mancebo começou a chorar.
Desesperado, Theodorico finalmente deu-se conta de que nunca poderia viver com sua amada o sentimento que nutria há tanto tempo. Apercebendo-se disso, resolveu violar a sepultura e profanando solo sagrado, levar o cadáver para longe dali.
Contudo, para poder executar seu intento, o rapaz precisava de ferramentas. Isso por que, ao tentar cavar as terra com as mãos, deu-se conta de que não terminaria nunca seu trabalho. Assim, convencido de que esta era a melhor atitude a ser tomada, tratou de arrumar ferramentas.
Nisso, ao ver que próximo dali, havia uma chácara, o rapaz, invadiu a propriedade e roubou as ferramentas. A seguir, seu próximo passo voltou ao cemitério. Obcecado pela idéia de conhecer sua amada, cavou o mais rápido que pôde.
Animado, parecia uma máquina trabalhando. Trabalhando com afinco, em menos de duas horas, o rapaz, finalmente conseguiu alcançar o caixão. Munido com a pá, foi questão de segundos para que conseguisse abrir o caixão.
Ao abri-lo, qual não foi sua surpresa. Mesmo depois de anos de sua morte, o corpo de Diana permanecera intacto. Nem parecia que ela estava ali enterrada há tanto tempo. Nem parecia que a donzela estava morta.
Ao ver o rosto angélico, Theodorico foi tomado de uma profunda emoção. Diana, era mesmo tão bela como aparecia em seus sonhos. Ao perceber isso, o rapaz chegou a conclusão de que estava agindo corretamente.
Decidido, o rapaz, então, retirou o corpo do caixão e colocou no gramado. A seguir, o rapaz segurou a moça em seus braços e caminhando apressadamente, tratou de sair o quanto antes do cemitério.
Quando percebeu que estava bem longe do cemitério, o rapaz, resolveu comprar uma cripta. Queria deixar sua amada confortavelmente instalada em sua morada eterna. Assim, poderia vê-la todos os dias e contemplá-la demoradamente.
Imbuído nesta idéia, o rapaz, comprou uma pequena casa e lá destinou um dos cômodos para que sua amada Diana o habitasse. Cauteloso, deixou a moça repousada em uma das camas, que já havia na casa. Em seguida, Theodorico foi providenciar a cripta.
E por mais incrível que possa parecer, a cripta, não demorou mais do que uma semana para ficar pronta. Enquanto isso, o cadáver agüentava as condições ambientais, sem sofrer nenhuma alteração.
Theodorico, obcecado pela idéia de ter Diana a seu lado, pediu que levassem a cripta, para a tal casa. Lá a mesma foi instalada no maior cômodo da residência.
Theodorico, caprichoso, adornou a nova morada de Diana, com o maior capricho. Depois, vendo que tudo estava muito bonito, resolveu colocá-la dentro. Contudo, ao vê-la com os trajes com que fora enterrada, não ficou nada satisfeito.
Foi então que pensou em lhe fazer um lindo vestido. Um vestido tão lindo quanto o que a moça usara no baile que ocorrera em seus sonhos.
E assim, lá foi ele atrás de uma costureira. Descrevendo a roupa que Diana usara no baile, o rapaz pediu para que a costureira confeccionasse a vestimenta.
A mulher executou o trabalho com perfeição.
Quando Theodorico foi buscar o vestido, ficou encantado. A roupa era uma cópia exata do vestido que a moça usara no baile que sonhara. Agradecido, o rapaz pagou a costureira e partiu.
Ao chegar em casa, vestiu sua amada. Ao vê-la com tão lindas roupas, o rapaz ficou encantado. Diana estava lindíssima!
Admirado com a beleza da moça, Theodorico colocou-a novamente na cripta, e ficou a admirá-la detidamente.
Ficou tanto tempo a olhá-la, que acabou adormecendo. E novamente voltou a sonhar com a moça.
Vendo Diana feliz, a caminhar num imenso campo aberto, Theodorico ao ver flores do campo, passou colhe-las para ofertar a sua musa.
Nisso, depois de colher as mais lindas flores do campo que já vira, o mancebo correu na direção de Diana e ofereceu-lhe o mais belo presente que tinha. Dizendo que a amava muito, confessou que não podia mais viver sem ela.
A moça, ao ouvir as palavras do rapaz, sorriu-lhe. Depois, precavida, perguntou-lhe se ele tinha certeza do que queria.
Theodorico assentiu com a cabeça.
Nisso, o rapaz que dormia, começou a perceber que algo estranho acontecia. Isso por que, sentindo cada vez menos o seu corpo, Theodorico notou que não tinha mais controle sobre ele. Percebendo que estava indo embora, o rapaz resolveu não resistir e deixou-se conduzir.
Foi então que finalmente, Theodorico veio a se encontrar com Diana naquele campo florido.
Theodorico, feliz logo que viu Diana, tratou de abraçá-la. A moça também ficou feliz ao vê-lo. A seguir, caminhando de mãos dadas, o dois seguiram rumo ao infinito.
Uma semana depois, Thomás, ao ser avisado pela senhoria de que seu amigo havia falecido, foi tomado de uma grande surpresa.
Sim, por que, depois que Theodorico pegara todo o dinheiro que ele havia guardado, nunca mais apareceu na pensão.
Com isso Thomás, ao ver que tinham pego seu dinheiro, demorou para perceber quem havia sido. Mas depois, ao ver que seu amigo não voltava para casa, o mancebo finalmente constatou que havia sido roubado por Theodorico.
Diante disso, quando ficou então sabendo que haviam roubado ferramentas de trabalho em uma chácara, que a sepultura de um cemitério havia sido profanada e que um rapaz havia feito dois estranhos pedidos – uma cripta, e dias depois um espetacular vestido de baile – Thomás, então deu-se conta que Theodorico era o autor de todos aqueles atos. Espantado, só conseguia dizer:
-- Theodorico enlouqueceu.
Foi assim, após os relatos que o rapaz conheceu Eufrásia, a mãe de Diana. Da adorada Diana.
A mulher, vendo a perplexidade do rapaz diante dos últimos acontecimentos, resolveu contar todos os detalhes que envolveram os últimos meses de vida da moça.
Thomás, estupefato, finalmente descobriu que antes de morrer, Diana proferira, um nome: Theodorico. Além disso, durante seus momentos de delírio, a moça contou detidas vezes, que sonhara com um baile em que conhecera um rapaz com esse nome e do qual sua mãe não gostou nem um pouco.
Espantadíssimo, Thomás então revelou a senhora, que seu amigo também havia sonhado diversas vezes com a moça. Obcecado, Theodorico chegou a procurá-la. Ele porém, acreditava que tudo não passava de uma loucura de Theodorico, tanto que sempre o aconselhava a deixar o assunto de lado.
Nisso Eufrásia, então revelou, que sua filha, muito doente, ao ver que nunca iria se recuperar da doença que tinha, resolveu findar a própria vida. Sem suportar a idéia de se ver definhando pouco a pouco, Diana envenenou-se.
No que ela, ao ver a filha morrendo, ficou desesperada. Todavia, não havia mais nada a ser feito. Nada a não ser chorar.
Ao ouvir isso Thomás, ficou ainda mais espantado. Percebendo que os dois estavam predestinados um ao outro, o rapaz resolveu deixar de lado sua bronca pelo fato de Theodorico tê-lo roubado, e comovido com a história, pediu a Eufrásia, que em ela concordando, construiria um mausoléu para os dois, para que nunca se separassem.
A mulher concordou.
E assim, depois de uma longa reforma na casa – que fora comprada por Theodorico –, duas criptas foram colocadas no salão principal. Lá os dois ficaram muito bem vestidos e unidos.
E enquanto Thomás, viveu, os dois nunca foram separados.
Nisso, o mancebo, que freqüentava a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, homenageando Theodorico, resolveu publicar as poesias do mesmo, e presentear alguns de seus amigos próximos com o livro.
Esta fora a forma encontrada por Thomás de realizar o sonho do amigo.
Desta forma, Theodorico, que sempre quis ser apresentado aos jovens poetas da cidade, acabou logrando êxito em seu intento. Mesmo não conseguindo realizá-lo em vida, realizou-se ‘post-mortem’.
Thomás, que freqüentava a academia, finalmente concluiu o curso. Ao ser diplomado bacharel em dinheiro, usando a famosa beca e o chapéu, fez o juramento e pegou o diploma.
Feliz por ter concluído o sonhado curso, no dia posterior, ao ir trabalhar no escritório de Vicente, o mesmo, ao saber que ele já estava formado, parabenizou-o pela grande conquista e imediatamente promoveu-o.
Thomás, agora era advogado e também o braço direito de Vicente.
E assim, não demorou muito para que o rapaz se tornasse sócio no escritório.
Com isso, denota-se que a vida do então mancebo, prosperou.
Prosperou, e o rapaz casou-se, teve filhos, e uma brilhante carreira.
Theodorico por sua vez, viveria sua eternidade ao lado de sua amada Diana.
Certa vez, Thomás, ao caminhar a noite pela cidade, teve a impressão de tê-los visto, andando de braços dados, pelo centro da cidade.
O belo centro, desta cidade. São Paulo. O belo centro, que precisa ser melhor cuidado. Enfim, o nosso eterno centro, que mesmo com as alterações edilícias, não perdeu seu esplendor.
A São Paulo dos poetas e dos saudosos!
Um brinde a Terra da Garoa.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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