Poesias

quinta-feira, 1 de abril de 2021

CARINHOSO - PARTE II - CAPÍTULO 12

Laura sentou-se ao lado do pai, segurou um de seus braços. Colocou sua cabeça no ombro dele.
O homem entendeu o gesto, como um sinal de que as coisas se acalmariam por algum tempo.
Passaram perto da mata que havia no local, percorreram riachos.
Com isto, ao chegarem na entrada da fazenda, Antonio desceu da carroça.
Abriu a porteira.
Passaram.
Ao chegarem em casa, todos estava entusiasmados.
Zélia não se cansava de elogiar a filha.
Comentou também, que as moças elogiaram a elegância de seus meninos.
Antonio e Vicente, comentaram que gostaram das garotas da festa. Disseram que foi um dos bailes mais animados dos quais participaram.
Olavo comentou que para a festa ficar perfeita, só faltou dançar um pouco mais com Zélia.
No baile, casal dançou umas poucas danças juntos.
Zélia estava envergonhada.
Ficou constrangida quando alguns convidados comentaram que estava elegante.
Antonio e Vicente concordaram. A mãe estava muito elegante.
Zélia desconversou.
Nisto, Laura, que permanecera calada, foi chamada para manifestar sua opinião sobre o baile.
Ao ser indagada, a moça respondeu que a festa estava divertida sim.
Com isto, dizendo que estava cansada, pediu licença e se recolheu.
No quarto, retirou o vestido e o colocou na cadeira em frente a penteadeira.
Vestiu uma camisola.
Enquanto penteava os cabelos, ficou a se recordar da festa, das danças, das músicas.
Nos dias que se seguiram, a moça se ocupava em realizar passeios pela fazenda.
Andando a cavalo, revisitou os lugares de sua infância.
Passou perto dos pomares, das plantações.
Maximiliano, ao vê-la passeando a cavalo, acenou para a moça.
Laura retribuiu.
Mais tarde, o moço foi ao encontro da jovem.
Conversaram.
Maximiliano convidou-a para vê-lo trabalhar.
Laura prometeu que um dia desses iria.
Nisto, despediu-se do moço e continuou a cavalgada.
Em dado momento, a jovem sentou-se a beira de um lago.
Lá havia pessoas pescando.
Os homens, ao verem a moça, cumprimentaram-na.
Laura retribuiu.
Um deles se aproximou. Perguntou se ela era filha de Zélia e Olavo.
Laura respondeu que sim.
Curioso, o rapaz comentou que nunca a vira antes por lá.
Laura comentou que passou muitos anos fora. Estudara em colégio interno.
O moço perguntou como era viver tão longe dali.
Laura comentou que vivendo em colégio interno, pouco vira da cidade, mas mencionou que as pessoas corriam muito para ganhar o salário para sustentar a família. Relatou que ali na fazenda, o ritmo de vida era mais lento, mais tranqüilo.
O rapaz, ao ouvir as palavras da moça, comentou que tinha sorte em não precisar viver num lugar assim. Argumentou que nunca se acostumaria.
Laura riu.
O jovem, pediu desculpas.
Laura por seu turno, comentou que gostava da vida na cidade.
Mencionou que não se importaria em voltar a viver por lá.
Estéfano, comentou que ela não deveria voltar a viver num lugar assim.
Nisto a moça pediu licença e se afastou.
Montou em seu cavalo e voltou para casa.
Dias depois, a moça acompanhou o trabalho de Maximiliano.
Viu o moço colocar ferraduras nos animais, domar cavalos.

Ludmila por sua vez, continuava a administrar a fazenda.
Carlos, Henrique e André, estudavam em colégio interno.
Maximiliano e Laura por sua vez, estreitaram os laços de amizade.
O moço, com o tempo, passou a freqüentar a casa de Zélia e Olavo.
A pretexto de conversar com Antonio e Vicente, o moço passou a visitar a casa.
Conversando com os moços, o jovem combinou uma pescaria.
Laura também foi convidada, mas não se interessou em participar.
Zélia ao ouvir a recusa, cochichou no ouvido da filha.
Disse que ela deveria ir.
Laura respondeu sussurrando, que não gostava de pescar.
A mulher, ao ouvir as palavras da filha, sugeriu que levasse um livro.
Disse que Olavo gostaria muito que ela os acompanhasse.
Laura tentou retrucar cochichando, mas ao perceber que os homens olhavam para ela, calou-se.
Maximiliano aproximando-se, convidou-a para participar do passeio.
Sem jeito, e pressionada por Olavo e pelos irmãos, acabou concordando com o convite.
Quando chegou o dia da pescaria, a moça tratou de pegar um livro.
Montou em um cavalo e acompanhou o pai e os irmãos de criação até o rio.
Ao lá chegar, ficou contemplando a paisagem.
Maximiliano, percebendo que a moça ficara encantada com o cenário, perguntou-lhe se não conhecia o lugar.
Laura respondeu que sim.
Contudo, como fazia anos que não passava por ali, havia se esquecido de como era belo.
Maximiliano ao ouvir estas palavras, retrucou dizendo:
- Lindo mesmo! Está vendo só? O que você estaria perdendo se não estivesse aqui!
Laura riu.
Nisto os começaram a se preparar para pescar.
Pegaram os instrumentos de pescaria, as varas de pescar, colocaram as iscas. Arremessaram-nas rio.
Antonio e Vicente pediram silêncio para não assustarem os peixes.
Laura sentou-se na margem do rio, encostou-se em uma árvore e desfrutando da sombra, começou a ler um livro.
Maximiliano observava o movimento das águas. Ao perceber um movimento diferente, pediu a todos que ficassem quietos.
Esperou um pouco e sentiu que algo estava puxando o anzol. Atento, esperou um pouco e puxou a linha.
Olavo ao ver o peixe que o moço havia pescado, parabenizou-o.
Antonio e Vicente argumentaram que o dia estava somente começando, e que era cedo para se cantar vitória.
Empenhados, voltaram para as margens do rio. Continuaram a pescaria.
Olavo acompanhou os filhos.
Maximiliano, ao perceber que Laura estava entretida com um livro, resolveu se aproximar.
Curioso, perguntou o que ela estava lendo.
Laura demorou um pouco para responder.
Mostrou-lhe a capa do livro.
A moça lia “O Guarani”, obra de José de Alencar.
Tentando puxar conversa, o moço comentou que havia ouvido falar da obra quando estava no grupo escolar, e que lera algumas passagens do livro.
Laura comentou que já havia lido o livro nos tempos de escola e que agora estava lendo novamente.
Maximiliano brincou dizendo que ela devia ser mesmo muito instruída para se interessar em ler uma obra clássica como aquela.
A moça comentou que gostava da obra do autor.
Nisto o moço comentou que estava tentando ler um livro de poesia que tinha em casa, mas que estava tendo um pouco de dificuldade para entender algumas delas. Meio constrangido, citou que eram poesias de Camões.
Laura perguntou-lhe se havia lido “Os Lusíadas”.
Sem jeito, o moço respondeu que não. Argumentou que seu nível de conhecimentos não permitiria ler o texto e entender a obra.
Laura ficou um pouco decepcionada.
Voltou a ler.
O moço, percebendo que precisava retomar a conversa, comentou que se ela o ajudasse, talvez se encorajasse a ler o tal livro. Perguntou o nome.
Laura respondeu:
- Os Lusíadas.
Como o moço não soubesse do que se tratava, Laura respondeu que era uma epopéia, que cantava as glórias do povo português, e contava de forma poética, sua história, desde sua fundação, até o momento em que o vate escrevera os versos.
Com isto, a moça teve que explicar o significado de vate.
Disse que Luiz Vaz de Camões era um grande poeta.
Maximiliano respondeu que já ouvira falar de Fernando Pessoa.
Laura comentou que ele também era português, como Camões.
A pedido do moço, a jovem recitou trechos da poesia de Camões.
O peão ficou encantado.
Comentou que ela tinha uma voz bonita, o que deixava os poemas mais bonitos.
Laura sorriu para ele.
Olavo então, ao pescar um peixe, chamou Maximiliano.
O moço pediu então licença e se afastou.
Ao voltar ás margens do rio, se deparou com um peixe imenso sendo trazido por Olavo.
Orgulhoso, o homem mostrou o peixe para a filha, que elogiou o pai.
Curiosa, perguntou o nome do peixe.
Maximiliano respondeu que se tratava de um dourado.
Laura ao ver o peixe, comentou:
- Bonito peixe! E grande.
Maximiliano falou que o rio da fazenda era muito piscoso.
Ao dizer estas palavras, perguntou a Laura se ela sabia o significado daquela palavra.
- Piscoso, rio que tem muitos peixes. – comentou a jovem.
- Muito bem. – respondeu o moço. – Vejo que você ficou distante mas não perdeu suas raízes.
Antonio e Vicente comentaram que era de pequeno que se torcia o pepino e que não seriam alguns anos de afastamento, que fariam as coisas mudarem. Laura era caipira como todos os que nasceram naquela região.
A moça ao ouvir estas palavras, não gostou do comentário. Argumentou que quem vivia no campo não era caipira.
Olavo retorquiu dizendo:
- Me desculpe minha filha, mas, seus irmãos tem razão. Nós somos caipiras com muito orgulho. Não me importo em ser apontado como caipira como já fui algumas vezes. Isto não me ofende não.
Laura respondeu que não gostava quando as pessoas apontavam os dedos para os outros chamando-as de caipiras. Considerava isto, uma falta de respeito.
Olavo lhe disse para não ocupar deste tipo de bobagem. Comentou que o que valia era o que pessoa tinha por dentro e não o que os outros falavam. Disse que quem debocha dos outros é tolo, e que um dia quem ridiculariza será ridicularizado também.
Laura abraçou o pai.
Disse-lhe que era o homem mais sábio que conhecia.
Constrangido, o homem respondeu que não tinha estudo.
Laura redargüiu que ele tinha o mais importante que era o amor, e que conhecia de verdade as coisas. Mais do que muitas pessoas que passaram muitos anos estudando.
Olavo ao ouvir estas palavras, encheu-se de orgulho.
Antonio e Vicente concordaram.
Argumentaram que não tinha pergunta que faziam para ele, que ficasse sem resposta.
Maximiliano observou a cena, comovido.
A certa altura, o moço chamou a todos para continuarem a pescaria.
Antonio e Vicente, depois de muitas tentativas, conseguiram pescar alguns peixes.
Maximiliano e Olavo pescaram mais um peixe cada um.
Em dado momento, o peão chamou Laura para pescar.
A moça recusou-se.
Disse que não sabia pescar.
Maximiliano respondeu que poderia ensiná-la.
Mencionou que era divertido, que ela iria gostar.
Antonio e Vicente, insistiram para que ela tentasse pescar algum peixe. Comentaram que era divertido.
Olavo também interveio e disse que ela não poderia fazer uma desfeita para com o moço que havia sido tão gentil com eles.
Laura então aproximou-se da margem do rio.
Segurando a vara de pescar, o moço colocou o instrumento nas mãos da moça, que desajeitada, quase a derrubou no chão.
Maximiliano foi-lhe explicando o que tinha que fazer.
Porém, ao arremessar o equipamento, a moça quase enganchou o anzol no galho de uma árvore.
Antonio e Vicente caíram na risada.
- Meu Deus! Como alguém pode ser tão desajeitada!
Olavo, ao ouvir as palavras de Antonio, censurou o filho, comentando que ela não estava acostumada a pescar, mas que com o tempo ela acabaria aprendendo e se tornaria uma exímia pescadora.
Vicente, ao ouvir a palavra exímia, perguntou o que significava.
Laura respondeu que exímia significa alguém muito bom em uma atividade, que na situação em questão era a pesca. Curiosa, perguntou ao pai onde havia ouvido aquela palavra.
Sorrindo Olavo respondeu que também procurava se aprimorar, e que inspirado por ela, também estudava um pouco.
Maximiliano ao ouvir isto, parabenizou o homem.
Comentou que também pensava em prosseguir estudando, nem que fosse por conta própria.
Laura então ficou aguardando.
Maximiliano, ao perceber que algo puxava o anzol, sugeriu que ela esperasse um pouco.
Fora ele quem colocara a isca no anzol.
Depois de algum tempo, o peão orientou-a a puxar a linha.
Laura, um pouco atrapalhada, precisou da ajuda do moço para puxar o peixe.
Maximiliano então, ao segurar o peixe, comentou que era um jaú.
Parabenizou a jovem pela conquista.
Antonio e Vicente argumentaram que se tratava de sorte de principiante.
Mais tarde, o grupo retornou a casa da família.
Maximiliano, ao ver os homens se afastando, aproximou-se de Laura.
Perguntou-lhe se havia gostado da pescaria.
Laura respondeu que fora divertido.
Maximiliano falou-lhe que a vida na fazenda era muito boa. Comentou que se trabalhava muito, que as dificuldades eram grandes, mas que não trocava aquela vida, pela vida na cidade.
Laura ao ouvir estas palavras, comentou que viver na cidade não era tão ruim assim. Mencionou que havia coisas boas também na cidade. Cultura, conhecimento, trabalho, dinheiro.
- Não duvido! – respondeu Maximiliano. – Mas também tem coisas ruins.
Laura redargüiu que coisas ruins existiam em todos os lugares.
O moço concordou.
Nisto, abraçou a moça, e beijou-lhe o rosto.
Comentou que amanhã iria na missa na vila e perguntou se sua família não iria.
Laura respondeu que sim.
Nisto, o moço respondeu que se encontrariam por lá.
Desta forma, desejou-lhe boa tarde.
Laura desejou-lhe o mesmo.
Quando entrou na casa, Zélia perguntou do moço.
Laura respondeu que Maximiliano havia ido embora.
- Mas porque ele não esperou para almoçar? Eu ia preparar um desses peixes. – lamentou Zélia.
- Ah, não sei! Acho que a família dele já devia estar esperando por ele. – comentou Laura.
Com isto, Olavo, Antonio e Vicente, comentaram que a moça havia pescado um jaú.
Zélia ao ouvir isto, ficou deveras contente.
Laura por sua vez, retrucou dizendo que não fizera nada demais, e que Maximiliano quem pescara o peixe praticamente sozinho.
Vicente explicou que ela havia segurado a vara de pescar e puxado o peixe. Ainda que desajeitada, tecnicamente havia pescado.
Nisto a moça pediu licença e fechou-se em seu quarto.
Sentou-se na cama, riu das trapalhadas ocorridas na pescaria, acomodou-se e continuou a ler seu livro.
Mais tarde, Zélia entrou no quarto da filha.
Sentando em sua cama, perguntou se ela havia gostado da pescaria.
Laura respondeu sem tirar os olhos do livro, que o passeio fora divertido.
Zélia comentou então, como quem não queria nada, que Maximiliano era um bom moço, vindo de boa família, era esforçado, trabalhador, dedicado.
Laura parecia não estar prestando atenção as palavras da mãe.
Zélia falou então, que o moço parecia estar interessado nela.
Ao ouvir isto, Laura caiu na risada.
Zélia retrucou dizendo que não era engraçado o que dissera.
Comentou que ela era uma moça muito bonita, bem tratada pela vida, bem criada, e que era perfeitamente natural que atraísse a atenção dos moços da região.
Laura calou-se.
Zélia aproximou da filha e a abraçou.
Contou que apesar de sua teimosia, seria muito feliz naquele lugar.
Depois de dizer estas palavras, afastou-se.
Disse que tinha que cuidar do almoço.
Com isto, perguntou a moça se ela não gostaria de ajudá-la.
Laura respondeu que mais tarde iria até lá.
Zélia ao ver a filha entretida com o livro, perguntou:
- Você gosta muito de ler, não é mesmo?
Laura assentiu com a cabeça.
Zélia aproximou-se da filha e pediu-lhe desculpas.
Laura não compreendeu.
A mulher respondeu-lhe que não poderia ajudá-la a cursar uma faculdade, mas que poderia fazer com que fizesse alguns cursos por correspondência. Prometeu que cuidaria disto.
Laura, ao fitá-la, percebeu que seus olhos se encheram de lágrimas, mas temendo ouvir palavras de desaprovação, temeu perguntar a razão das lágrimas.
Simplesmente sorriu para ela.
Zélia sentiu-se acalentada pelo sorriso.
Retirou-se do quarto e encaminhou-se para a cozinha.
Animada, preparou o peixe pescado pelo marido.
Olavo, ao vê-la tão feliz entretida na cozinha, perguntou o que havia acontecido.
Zélia então, comentou que Laura voltaria a estudar. Faria alguns cursos por correspondência.
Ficou surpreso com a resolução da mulher. Perguntou-lhe se voltaria a escrever para Ludmila.
Zélia pedindo para que o homem não tocasse mais no assunto, comentou que ela daria um jeito para arrumar dinheiro para que a filha fizesse os cursos. Disse que não mais escreveria para a fazendeira.
Olavo comentou que a mulher poderia estranhar a ausência de contato.
Zélia respondeu que Ludmila estava pouco se importando com a moça. Argumentou que se ela quisesse saber como estava a filha, teria arrumado um jeito de visitá-la.
Olavo discordou do proceder da esposa, mas sem ter argumentos para discutir, calou-se.
Comentou que já dissera o que pensava sobre o assunto, e que não se posicionaria mais a respeito.
Zélia argumentou que assim seria melhor.
Com efeito, naquele domingo, as famílias de Laura e Maximiliano encontraram-se na missa.
Mais tarde, a moça fez alguns cursos.
Aprendeu a fazer reparos na parte elétrica da casa, um pouco de mecânica.
Todavia, em que pese este fato, Laura não se sentia satisfeita.
Chegou a comentar que não desgostava da vida na fazenda, mas que não queria passar o resto de sua vida, cuidando de uma casa, lavando, passando e cozendo.
Maximiliano prometeu ajudá-la em seu sonho de cursar uma faculdade.
Laura por sua vez, não conseguia entender como ele poderia ajudá-la.
O peão lhe respondia que no momento certo ela saberia.
Com isto, Laura começou a realizar leituras com o moço sobre “Os Lusíadas”.
Entretida com sua tarefa, a moça explicava passagens do livro, recitava as poesias para ele.
Fazia isto, em passeios a cavalo pela fazenda.
Maximiliano ficava embevecido com a poesia e a voz da moça.
Zélia autorizava os encontros, pois acreditava que ele e a filha formavam um bonito casal.
Olavo por sua vez, ficava cismado em ver a filha tão solta. Comentava que isto não ficava bem, e que precisava ficar de olho.
Zélia ria.
Dizia que Laura não lhe preocupava. Argumentava que quem mais despertava preocupações nela quanto a isto, eram seus dois garotos.
Olavo respondeu por seu turno, que se um deles aprontasse com as moças da região, iria ter que se entender com ele.
Zélia achava graça na severidade do marido.
Maximiliano adorava as tardes que passava ao lado da moça.
Ás vezes era convidado para almoçar com a família da jovem.
Nestes momentos aproveitava para conhecer um pouco melhor a moça.
Perguntava a Antonio e Vicente do que ela gostava, além de livros.
Os irmãos diziam que ela gostava de aprender coisas novas, falaram sobre os cursos que fizera. Que estava aprendendo a cuidar da casa.
Mencionaram porém, que ela não era muito afeita aos trabalhos domésticos.
Maximiliano rindo, respondeu que ele também estava aprendendo a cuidar de suas coisas. Comentou que tinha consciência de que se viesse a casar com a moça, teria que ajudá-la cuidar da casa.
Indiscreto, Vicente perguntou-lhe quando pediria Laura em casamento.
Sem graça, o moço respondeu que eles precisavam primeiramente, começar a namorar.
Surpreso, Antonio perguntou se já não estava namorando.
Maximiliano respondeu que não.
- E o que você está esperando para isto? Você acha realmente que ela é tão moderna que irá perceber seu interesse, sem que seja necessário falar? Ah, só nos filmes. E ela é uma moça de carne e osso.
Maximiliano respondeu que já sabia o que fazer.
Com isto almoçou com a família, conversou com todos.
Comentou com Laura que estava adorando conhecer Camões e com isto, um pouco dela.
Mais tarde, despediu-se da moça.
Quando novamente se encontraram a beira do rio, aproveitando um momento de distração da jovem, o moço roubou-lhe um beijo.
Surpresa com o gesto inesperado, a moça deixou o livro cair no chão.
Sem saber como reagir, afastou-se do rapaz.
Correu em direção ao seu cavalo, montou e saiu a galopar.
Maximiliano, nervoso, ficou desapontado.
Não esperava aquela reação.
Ao se deparar com o livro, teve ímpetos de segui-la, mas temeu fazê-lo. Acreditou que se o fizesse faria com que ela ficasse ainda mais assustada, e poderia fazer com que caísse do cavalo, que se machucasse.
Decepcionado, voltou para casa.
Ficou tristonho, pensativo.
Não queria conversar com ninguém.
Laura também se trancou em seu quarto.
Não quis saber de comer.
Mais tarde, quanto todos estavam entretidos em outras atividades, a moça saiu do quarto, esquentou sua comida e alimentou-se.
Lavou a louça e voltou para o quarto.
Como a moça não voltava para as leituras, Maximiliano foi procurá-la em sua casa.
Auxiliado por Zélia, o moço conseguiu ficar a sós com a moça.
Laura estava relutante em encontrá-lo, e Zélia teve que fazer uso de toda sua diplomacia para convencê-la a encontrar-se com o rapaz.
Disse-lhe que não sabia o que havia acontecido, mas que se o moço estava tão empenhado em se aproximar, era por que tinha bons propósitos.
Laura, ao perceber que Zélia não a deixaria em paz, concordou em encontrar-se com o moço.
Sozinhos, conversaram.
Laura ouviu tudo o que o rapaz tinha para dizer.
Maximiliano disse-lhe que não tivera a intenção de desacatá-la, mas que ela era muito fechada em si mesma e que ele estava tentando devassar este mundo, e não estava conseguindo. Comentou que sentia a necessidade de um gesto brusco para ver se conseguia despertar alguma reação.
Laura falou-lhe então, que não estava entendendo onde ele queria chegar com todas aquelas palavras.
Maximiliano, aproximando-se da moça, pediu para que ela ouvisse.
Laura olhou-lhe nos olhos.
O rapaz perguntou-lhe o que ela achava dele.
Ao ouvir as palavras do moço, Laura respondeu que ele era uma boa pessoa.
- Só isto? – perguntou o rapaz, um pouco desapontado. – Eu pensei que fossemos ao menos amigos.
Laura, percebendo isto, comentou que sim, eram amigos. Disse que ele era um bom amigo sim.
Nisto, Maximiliano disse-lhe que gostaria de ser um pouco mais que seu amigo. Falou-lhe que a tinha em ótima conta, que era bonita, inteligente, interessante e atraente. Contou ainda, que ela não se parecia com as moças de lá. Que era mais instruída. Confessou, que a achava especial.
Laura ao ouvir estas palavras, ficou encabulada.
Tentando quebrar o silêncio, disse que não sabia como retribuir a gentileza.
Maximiliano argumentou que não se tratava de gentileza.
Nisto, segurou a mão da moça.
Comentou que assentaria bem um anel em seu dedo.
Laura, inopinadamente retirou sua mão, das mãos do moço.
Maximiliano diante da reação da jovem, que lhe voltou ás costas, perguntou se ela não gostaria de ter alguém.
Laura respondeu que não estava pensando nisto.
Maximiliano não se deu por vencido.
Comentou que ela não lhe era indiferente, e que acreditava que poderia haver algo entre eles.
Ao ouvir isto, a moça voltou-se para ele.
Indagou de onde ele havia tirado aquilo.
Maximiliano falou-lhe que nenhuma outra moça havia chamado tanto sua atenção.
Laura riu.
Incomodado, o moço perguntou:
- Então não acredita? Pois pergunte a quem quiser. E se quer saber, eu não tive tantas namoradas quanto você pensa!
Laura retrucou dizendo que não pensava nada.
Nervoso, Maximiliano respondeu que precisava de uma resposta.
- Que resposta? Você não me fez nenhuma pergunta. – redargüiu a moça.
Maximiliano então, enchendo-se de coragem, perguntou-lhe se ela não gostaria de ser sua namorada.
Laura observou-o indiferente.
Impaciente, o moço perguntou-lhe qual era sua resposta.
Laura respondeu-lhe que não sabia o que dizer.
Maximiliano, ao notar o desinteresse da jovem, segurou-a pelos ombros, e olhando nos olhos da moça, falou:
- Como não sabe? Eu estou aqui, tentando dizer da melhor maneira possível que estou interessado em você, e você não me diz nada? Isto, não está certo. Que seja um não, mas que seja dito logo, que eu tenho este direito.
Laura comentou que não gostaria de estragar a amizade que tinham.
Maximiliano respondeu-lhe que não estava interessado em apenas amizade. Triste, comentou que não poderia obrigá-la a gostar dele, mas que acreditava que seriam felizes juntos.
Com isto, levantou-se e se afastou.
Laura ao vê-lo se afastando, resolveu entrar em sua casa.
Zélia ao ver a filha entrando, percebeu que estava constrangida.
Dirigiu-se a entrada da residência.
Ao notar que moço partia amuado, censurou a filha. Disse que era um rapaz bonito, correto, trabalhador, e que igual a ele, dificilmente encontraria outro igual.
Laura respondeu que não estava apaixonada.
Zélia respondeu-lhe que ela aprenderia a gostar do rapaz, como um dia ela aprendera a gostar de Olavo.
Laura argumentou que pretendia estudar, ter uma profissão, e não ficar a depender de um marido.
A mulher, ao ouvir as palavras da filha, censurou-a. Falou-lhe que estava errada, que deveria se casar. Argumentou que Maximiliano não fazia o gênero de homem ciumento, tão comum aos homens do lugar, e que se fosse possível, a deixaria estudar.
Preocupada com o futuro da filha, Zélia prometeu se empenhar em ajudar a filha a fazer uma faculdade.
Laura redargüiu:
- Com que dinheiro? Afinal de contas, não foi você mesma que disse que a tal fazendeira não mandaria mais dinheiro para bancar meus estudos? Como você vai fazer para conseguir dinheiro?
Ao ouvir estas palavras, Zélia argumentou que daria um jeito.
Foi o bastante para Laura retomar as conversas de que gostaria de conhecer a tal mulher.
Nem que fosse para ouvir de sua boca que não a queria, mas gostaria de entender por que uma mulher rica, abandonaria uma filha.
Zélia pedia para a moça calar-se.
Irritada, Laura trancou-se no quarto.
Sistematicamente se recusava a ouvir os argumentos da mãe.
Irritada, Zélia ameaçou-a filha dizendo que se não esforçasse em ser simpática com o moço, não a ajudaria a continuar os estudos. Alegava que a filha estava jogando fora uma grande oportunidade.
Maximiliano aborrecido, ao perceber que Zélia estava pressionando Laura, argumentou que não queria que ela ficasse ao seu lado obrigada.
Com efeito, após se declarar a moça, o jovem dirigiu-se a casa da mulher, acreditando que Laura havia mudado de idéia.
Ao lá chegar, percebendo o ar contrariado da moça, Maximiliano desculpando-se com todos, pediu licença e partiu.
Zélia ficou inconformada.
Laura, que só ficara fazendo sala para o moço, obrigada pela mãe, admirou a atitude do moço.
Sorrindo, comentou que Maximiliano tinha brio.
Zélia ficou furiosa com ela.
Praguejando, disse que ela ficaria enterrada naquele lugar.
Laura deu de ombros.
Certo dia, depois de cuidar da casa, a moça montou em um cavalo e saiu a percorrer a fazenda.
Em dado momento, encontrou Maximiliano distraído, sentado a beira do lago.
Parecia descansar.
A moça cautelosa, aproximou-se.
Perguntou-lhe se podia conversar.
Maximiliano, ao vê-la diante de si, surpreendeu-se.
Imediatamente levantou-se.
Laura então, pediu-lhe desculpas.
Surpreso, o rapaz perguntou o porquê das desculpas.
Laura, constrangida, comentou que não agira corretamente com ele. Mencionou que o havia desapontado. Pediu desculpas por não ter podido corresponder a sua expectativa.
Chorando, relatou que não queria magoar ninguém, embora estivesse se sentindo muito magoada.
O moço ao ver a moça em prantos, abraçou-a.
Penalizado, aceitou as desculpas.
Disse que ela não tinha culpa por não gostar dele da mesma forma que ele gostava dela.
Laura pediu-lhe novamente desculpas. Mencionou que pensava em sair dali e tentar a vida na cidade.
Maximiliano ao ouvir as palavras da moça , soltou-a.
Olhando-a nos olhos, perguntou-lhe se tinha condições de se manter na cidade.
A moça respondeu que com seu nível de escolaridade, poderia arrumar um emprego de vendedora, balconista, recepcionista, poderia trabalhar em um escritório.
O jovem perguntou-lhe se seus pais concordavam com seus planos.
Laura, comentou que faria isto, sem esperar pela aprovação deles.
Maximiliano censurou-a.
Disse que não deveria fazê-lo. Poderia se arrepender.
A moça argumentou que não iria se arrepender.
O rapaz, segurando-a pelo braço pediu para que não partisse.
Disse que seu sumiço faria muita gente sofrer. Argumentou que ela não poderia pensar somente nela.
Laura ficou aborrecida com as palavras.
Retrucando, disse que ela precisava pensar em seu futuro, e que não seria vivendo como dona de casa em uma fazenda que conseguiria um futuro melhor. Irritada, indagou:
- Olhe pra mim! Acha realmente que eu conseguiria viver no campo, capinando, com uma enxada nas mãos? Olhe pra minhas mãos, eu nunca fiz este tipo de trabalho! Minha mãe nunca me deixou ir com ela para a lida, para a colheita. Só sei fazer serviços domésticos. E ... sinceramente, não quero ir para o eito, eu não nasci para isto. Eu tenho qualificação para muito mais.
Maximiliano, ao ouvir as palavras da moça prometeu ajudar-lhe. Disse que tinha vontade de adquirir novos conhecimentos para poder ter uma vida melhor na fazenda.
Laura perguntou-lhe como poderia ajudá-la, se era tão pobre quanto ela.
Curiosa, a moça indagou onde arrumaria dinheiro para tanto.
Ao ouvir os questionamentos, respondeu:
- Quanto a isto, não se preocupe! Eu cuidarei de tudo.
Nisto, segurando as mãos da moça, pediu a ela para que não partisse. Disse que tivesse paciência, pois poderia ajudá-la.
A moça, ao ouvir as palavras do rapaz, relatou que não poderia aceitar a ajuda.
Argumentou que aquilo não era direito.
Maximiliano, pousando os dedos nos lábios da moça, falou-lhe:
- Não se ocupe disto! Eu não estarei me sacrificando se te ajudar. Eu quero fazer.
Laura surpreendida, argumentou que ela não havia feito nada que o motivasse para isto.
Maximiliano respondeu que sim, havia feito algo muito importante.
Segurando as mãos da jovem, disse-lhe que ela havia proporcionado a ele, a possibilidade de conhecer algo mais do que aquele mundo em que vivia. Comentou que era muito grato a ela por lhe mostrar poesias.
Nisto, o moço aproximou-se de seu cavalo, e pegando algo de sua algibeira, caminhou em direção a moça.
Laura, ao perceber do que se tratava, comentou que achou que havia perdido o livro para sempre.
Sorrindo, o moço comentou que pensou em devolvê-lo, mas desistiu.
Argumentou que com o livro em mãos, teria uma desculpa para falar-lhe novamente.
Maximiliano contou então, que aproveitou para ler o livro.
Comentou que gostou muito da obra.
Desta forma, estendeu sua mão e sinalizou para que a moça segurasse o livro.
Laura, ao ouvir as palavras do moço pensou nos últimos acontecimentos, e decidiu:
- Agradeço o cuidado em me devolver o livro. Mas, pensando bem, eu acho que você deveria ficar com a obra.
Maximiliano tentou recusar o oferecimento, e Laura, segurou o livro.
Em seguida, a moça estendeu a obra para o moço.
Disse que ele deveria aceitar um presente.
Afinal de contas, alguém que era capaz de ajudá-la, sem nem ao menos pedir algo em troca, merecia um presente.
Sorrindo, a garota comentou que gostava muito dele, e que alguém tão especial assim, deveria ganhar algo valioso.
Laura contou que aquele era um dos livros de que mais gostava.
Ao ouvir isto, o jovem argumentou que ela não poderia se desfazer de algo tão importante para ela.
Laura insistiu.
Disse que a obra havia cumprido sua missão. Nisto, comentou que agora ela deveria preencher e enriquecer a existência de outra pessoa.
Com isto, a moça estendeu novamente a obra para o jovem.
Ao perceber que Maximiliano titubeava, a jovem comentou:
- Não vai fazer uma desfeita destas, vai?
O peão, sem jeito, pegou o livro. Agradeceu o presente.
Laura abraçou o moço.
Maximiliano ficou a observá-la.
Laura agradeceu-lhe a gentileza.
Com o tempo, a amizade entre eles se estreitou.
Laura continuou a recitar-lhe poesias.
Maximiliano adorava ficar as margens do rio, a ouvir as poesias declamadas pela moça.
Com isto, o moço disse-lhe certa vez, que havia conversado com os pais.
Contou-lhes que pretendia cursar uma faculdade de agronomia.
Mencionou que seus pais lhe disseram que não tinham condições de mantê-lo estudando na cidade.
Maximiliano comentou então, que possuía uma certa quantia guardada. Dinheiro que poderia ajudá-lo a se manter na cidade, por alguns meses, desde que vivendo de forma simples, sem luxos e ostentações.
Laura, ao ouvir isto, ficou feliz pelo moço.
Retrucou porém, que sentiria saudades dele.
Maxiliano ao ouvir isto, sorriu.
Perguntou-lhe se sentiria falta dele.
A moça respondeu que sim.
Maximiliano lhe propôs que o acompanhasse.
Laura ficou surpresa com a proposta.
Relatou que seus pais não aceitariam que ela fosse estudar na cidade, com um rapaz.
A moça comentou que não ficaria bem.
Maximiliano propôs que se casassem.
Surpresa, a jovem comentou:
- Casar? Como assim?
Maximiliano disse que gostava dela. Mencionou que só havia proposto esta possibilidade, por que sentia que ela não lhe era indiferente.
Laura respondeu-lhe que não sabia o que dizer. Argumentou que não estava apaixonada por ele, e que casamento não fazia parte de seus planos.
Maximiliano ficou desapontado.
Sem coragem para olhá-la nos olhos, o moço disse que havia se precipitado. Pediu-lhe desculpas.
Laura, ao vislumbrar uma possibilidade de retomar os estudos, pediu um tempo para pensar. Disse que ele a havia pego de surpresa.
Segurando o rosto do moço, Laura disse-lhe que sabia de seu valor.
Nisto, perguntou:
- Por que você cismou justamente comigo?
Maximiliano respondeu-lhe que ela não era igual as outras moças do lugar.
Nisto, o moço aproximou-a e segurando a moça pelo pescoço, beijou-lhe o rosto.
Laura olhou o rapaz com curiosidade.
Depois de conversarem um pouco mais sobre os planos do moço, a jovem prometeu pensar no assunto.
Despediram-se com um beijo no rosto, que quase virou um beijo nos lábios.
Constrangidos, afastaram-se.
No caminho de volta para casa, a moça ficou pensando nas palavras do moço.
Nos encontros, na amizade, do baile, onde dançou com o rapaz.
Antonio e Vicente, quando souberam que ela havia retomado a amizade com o moço, ficaram a dizer que Laura estava namorando Max.
Aborrecida, a jovem dizia que não sabiam do que falavam, que só podiam estar malucos.
Zélia, ao saber da amizade da filha com o peão, ficou deveras contente.

Com o tempo, Ludmila, ao perceber que Zélia interrompera o contato com ela, ficou intranqüila.
Em conversas com Emerson, chegou a conclusão de que deveria contar aos filhos, sobre a existência da moça.
Aconselhada pelo marido – leal companheiro dos momentos difíceis – a mulher encheu-se de coragem para contar aos filhos, sobre seus casamentos anteriores.
Nisto, quando Henrique, Carlos e André retornaram a fazenda no período das férias escolares, a mulher aproveitou para chamar-lhes a atenção para o fato de que já fora casada anteriormente.
Curiosos, os moços comentaram que pouco sabiam disto.
Ludmila comentou que não dissera quase nada a respeito, em consideração a Emerson.
Com isto, contou que fora casada com Antenor, o proprietário daquelas terras, que enviuvara, e que tempos mais tarde, veio a se casar novamente com um rapaz chamado Lúcio.
Neste momento, os olhos da mulher madura encheram-se de lágrimas.
Contar sobre seu passado era como reviver aqueles momentos ternos, lindos, duros e tristes, tudo novamente. Sentia a saudade preencher seu peito, e uma angústia por não ter podido ajudar Lúcio.
Os moços perceberam a tristeza da mulher.
Ludmila, cautelosa, pedira para conversar a sós com os filhos.
Comentou com Emerson, que aquilo era pessoal e que dizia respeito somente a ela, mais do que a qualquer outro.
O homem, mesmo chateado, entendeu.
E assim, a fazendeira contou aos filhos, depois de uma certa dificuldade, que após o segundo casamento, tivera uma filha, fruto de uma relação de muito afeto.
Henrique, incomodado com o fato, chegou a perguntar a mãe se ela ainda possuía algum afeto pelo tal Lúcio.
Ludmila sorrindo tristemente, comentou que o ‘tal Lúcio’, havia morrido anos atrás.
Completou dizendo que por conta disto, precisou abandonar sua filha, e entregá-la aos cuidados de um casal que havia perdido uma criança pequena.
Contou que um delegado da região havia ameaçado fazer algo com a menina. Razão pela qual decidiu deixar a criança com outra família.
Chorando, contou que preferia viver longe da filha, mas vê-la segura, do que correr o risco de sofrer uma segunda perda.
Os rapazes ficaram indignados.
Diziam-se enganados.
Perguntaram por que ela não havia falado antes da tal criança.
André, chegou a perguntar o nome da menina.
- Odara! – respondeu Ludmila – Minha Odara!
Carlos e Henrique, em dado momento, perguntaram se teriam que dividir a herança com a tal moça, filha dela com o tal guerrilheiro.
Ludmila, ao ouvir a palavra guerrilheiro, censurou os filhos.
Disse-lhe que Lúcio nunca fora guerrilheiro.
Nervosa, disse que o moço fora enredado em uma armadilha. Chorosa, comentou que isto ficaria provado um dia, e que seu corpo ainda teria uma morada digna e repouso eternos.
Carlos, ao ouvir a mulher proferir aquelas palavras, perguntou-lhe se estava tudo bem.
Ludmila respondeu que sim.
Enquanto a conversa se desenvolvia, a mulher comentou que a família que vinha cuidando da moça, deixou de manter contato.
Preocupada, comentou que precisava reencontrar esta moça.
Argumentou que não poderia perder o contato definitivo com a filha.
Curiosos, os rapazes perguntaram-lhe como faria para encontrar a moça.
Ludmila respondeu que tinha pistas de onde Odara estava. Contou que iria ao seu encontro.
Seus filhos protestaram, mas a fazendeira estava decidida.
Só precisava ter coragem para olhar nos olhos da filha e explicar por que ficara ausente por tanto tempo.

Enquanto isto, Laura continuava sua amizade com o peão.
A moça, ao perceber que sua família fazia gosto em seu envolvimento com Maximiliano, começou a refletir sobre a proposta do moço.
Seus afazeres eram cuidar da casa, da comida, das roupas, e do quintal.
O pouco tempo que sobrava, aproveitava para ler.
Enquanto trabalhava, aproveitava para ouvir modas sertanejas.
Zélia adorava aquelas músicas.
Laura por sua vez, estava cansada daquela rotina.
Sentia-se enganada por Zélia, que a fizera crescer acreditando que era um princesa, para agora fazer com que trabalhasse como uma gata borralheira.
Com o passar dos meses, constatou que sua vida não se modificaria em permanecendo naquele lugar.
Ou arrumava suas coisas e sumia dali, ou então se casava com algum morador do local e com o tempo o convencia de sua necessidade de sair dali.
Laura chegou até a arrumar suas malas para partir dali, mas Zélia, ao abrir o pequeno armário existente no quarto da moça, notando a ausência de algumas peças de roupa, desconfiou.
Diante disto, interrogou a moça, que negou estar escondendo as roupas.
Preocupada a mulher chamou Olavo para um conversa.
Desconfiados da atitude da moça, combinaram de trancar a porta da sala após o entardecer.
Certo dia, a jovem aproveitando que todos dormiam, se aproximou da porta da sala.
Ao perceber que a mesma estava trancada, ficou aborrecida.
Desta feita, a moça teve que adiar seus planos de fuga.
Isto por que, caso sumisse de dia, não poderia levar seus pertences. Também chamaria muito a atenção de todos.
A certa altura, cansada de tantas restrições, ao encontrar-se com Max, após uma leitura, e ao perceber que o moço aguardava uma resposta para a proposta feita, Laura perguntou:
- Você tem certeza de que quer casar-se comigo? Eu não tenho certeza de que quero me casar...
Maximiliano respondeu-lhe que casando-se com ele, não lhe imporia a condição de viver como camponesa.
Argumentou que pretendia estudar e que casado, poderia levá-la com ele.
Ao ouvir novamente a proposta, os olhos de Laura se iluminaram.
Estudar era o que ela mais queria.
A proposta para a moça, era de fato tentadora.
Maximiliano acrescentou-lhe que talvez tivessem que ficar algum tempo no campo, mas que assim que se liberasse de seus afazeres, rumariam para a cidade. Ao menos, para estudar, acrescentou. Após os estudos, retornariam a fazenda, ou a qualquer outra propriedade. O moço argumentou que mais qualificado, ganharia mais, e poderia proporcionar uma melhor condição de vida a ela.
Laura por sua vez, disse que também poderia trabalhar.
Maximiliano sorriu.
A moça percebendo isto, redargüiu dizendo que poderia sim trabalhar, e que se assim não fosse, não faria sentido voltar a estudar.
Argumentou que se ele pretendia casar-se com ela, deveria entender isto, e apoiá-la, ou então seria melhor ela tentar voltar a estudar de outra forma.
Maximiliano ao notar que poderia perder a moça, acabou concordando.
Contrariado, disse que não a impediria de trabalhar, mas que para tanto, precisava estudar, se qualificar e que depois pensariam no que fariam.
Disse que a vida de ambos mudaria bastante, caso ela aceitasse casar-se com ele.
Nisto, o moço perguntou se ela aceitava se casar com ele.
Laura hesitante, pensou um pouco antes de responder.
Nervosa, ao perceber a ansiedade do rapaz, respondeu timidamente:
- S... sim!
Maximiliano ficou exultante.
Nisto a moça o fez prometer que sairiam da fazenda o quanto antes, e que ela poderia estudar e se formar, e poderia trabalhar depois de formada.
Maximiliano sorrindo, concordou com tudo o que a jovem lhe pedia.
Feliz, o moço acrescentou que iria conversar com seus pais, e depois iria até a casa da moça para pedir oficialmente sua mão.
Desta forma, segurou as mãos da moça.
Aproximou-se dela e a beijou.
Laura aceitou o beijo e correspondeu a ele.
Maximiliano, percebendo isto, ficou feliz.
Sorrindo para ela, disse-lhe que ela não se arrependeria de ficar ao seu lado.
Comentou que faria da existência de ambos algo muito belo. Todos os dias seriam dia dos namorados para ele e para ela.
Laura sorriu. Não pelas palavras do moço, mas pela possibilidade de mudar de vida.
Sorriu para o moço, que retribuiu o gesto com outro sorriso.
Despediram-se.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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