Poesias

quinta-feira, 8 de abril de 2021

GERAÇÃO 70 - CAPÍTULO 5

Rubens então comentou, que estava só brincando.
Não era para eles levarem tão a sério a brincadeira.
Com isso, deu-se início a reunião.
Engajados, os militantes começaram discutir sobre os próximos passos. Decididos a agir, acreditavam que podiam modificar o país.
Daí o idealismo dos jovens que a todo o custo queriam derrubar aquele governo retrógrado e ditatorial.
Porém, o que eles não sabiam naquela época, é que para mudar o mundo, não basta ter boa vontade, é necessário que todos participem.

Quando Flávio se deu conta disso, sentiu um enorme aperto no coração. Isso por que, também ele acreditava que poderia mudar o mundo, aliás, como todos os jovens daquela época. Agora se perguntava: Como pôde ser tão romântico e acreditar em contos da carochinha?
Nem ele mesmo entendia.
No entanto, nunca se esquecia daqueles tempos.
E apegado a esse tempo, ficava a pensar e a lembrar.

Pois bem, como era de se esperar, Flávio e Lucimar, assim como seus amigos, estavam cheios de idéias. Planejando os próximos passos que dariam, ficaram durante longas horas conversando.
Mas não só horas. Nos dias que se seguiram, o assunto não podia ser outro.
Assim, quando os jovens não estavam no ‘aparelho’, discutindo os planos, Lucimar e Flávio aproveitavam para namorar um pouco.
Isso por que, nos últimos dias, a questão política vinha absorvendo boa parte do tempo de ambos.
Com isso, sempre que tinham um tempo livre, aproveitavam para ficarem juntos.
Neusa, sempre que via o casal, comentava que nunca tinha visto união mais feliz. Sempre juntos, pareciam estar em eterna lua-de-mel.
Contudo, não seria por muito tempo que os dois seriam vistos sempre juntos.
Mas ultimamente, tudo estava indo bem.
Distribuindo panfletos para a população, os dois estavam tranqüilos.
Tão tranqüilos, que ao final do trabalho, os dois aproveitavam os becos, para se abraçarem e se beijarem, longe de olhares curiosos e moralistas.
A única vez em que distribuíram panfletos e a polícia apareceu, os dois, prevenidos quanto a essa possibilidade, trataram logo de sumir, no meio da multidão. Discretos, conseguiram rapidamente se evadir do local.
Acostumados com a confusão, chegaram até a rir.
Com isso, os planos para uma nova ação, estavam sendo cuidadosamente planejados.
Rubens e Alexandre, cautelosos porém, ao perceberem que o projeto do grupo dava seus contornos finais, pediu a todos que tivessem calma.
Dessa forma, só restou aos mesmos, aguardarem as ordens de seu líder para agirem.
Mas Flávio e Lucimar estavam impacientes. Queriam por queriam que tudo começasse antes.
Foi nesse período, em que o casal estava mais unido que nunca.
Chegaram até a viverem juntos.
Foi nesse período que a moça contou a Flávio que estava grávida.
O rapaz, ao saber da novidade, primeiramente, tomado de surpresa, precisou sentar-se. Depois, procurando se acostumar com a idéia, ao dar-se conta da mudança pela qual passaria sua vida, começou a gostar da idéia.
Flávio ficou tão encantado com a idéia de ser pai, que preocupado com Lucimar, chegou a proibi-la diversas vezes de participar das ações do grupo.
Mas, teimosa que era, a moça sempre enfrentava o rapaz. Dizendo que nunca na vida alguém lhe dera ordens, a não ser quando era menina, comentou que ele não tinha o direito de controlar sua vida.
Flávio, por sua vez, também não aceitava a posição da namorada. Considerando-a atrevida, respondia a todo o momento que ela não podia se arriscar, estando grávida.
Lucimar por sua vez, retrucava dizendo que sempre quis integrar um movimento como aquele e que portanto, nada no mundo a impediria de continuar participando de tudo. Além do mais, ressaltava sempre, já estava envolvida até o pescoço com tudo aquilo. Portanto, agora era muito tarde para abandonar tudo, até por que, se alguém fosse pego, acabaria por entregá-la.
De formas que, não havia saída.
O moço, ao dar-se conta disso, ficou ainda mais preocupado. Porém, ciente de que Luci dizia fazia sentido, acabou aceitando sua permanência nas ações do grupo, desde que quando se sentisse mal ou visse alguma movimentação estranha, fosse para casa.
A moça concordou.
Flávio, então, percebendo que estava conseguindo aos poucos convencê-la do risco que corriam, pediu a mesma, que quando a barriga começasse a aparecer, para que ela parasse um pouco, e não participasse, ao menos não diretamente, das ações.
Lucimar concordou também com isso.
Desta forma, a discussão se encerrou.
Com isso, a moça continuou a distribuir panfletos, e a fazer discursos para tentar convencer mais gente a fazer parte da militância.
Porém, nos últimos tempos, tudo o que esses jovens conseguiam, era cada vez mais chamar a atenção da polícia.
Curiosamente, a polícia parecia adivinhar seus passos.
Antes mesmo de agir, lá estava a polícia pronta para acossá-los e prendê-los.
Por isso mesmo, eram cada vez mais comum as corridas para fugir da polícia.
Lucimar a essa altura, cada vez menos ágil, era um alvo fácil para a sanha dos policiais.
E foi justamente por isso que a moça foi presa.
Contudo, antes de ser presa, Luci teve um sonho bastante estranho.
Sonhando que estava num barco, no Rio Amazonas, trajada com farda militar, viu todos os seus companheiros vestidos da mesma forma.
Estavam em uma missão na floresta.
Entrementes, antes de pisarem em terra firme, o inesperado aconteceu.
A ‘gaiola’ – embarcação típica do lugar – passou a fazer movimentos bruscos, jogando parte dos militares no rio.
Lucimar, percebendo que a confusão se instalara, fez de tudo para tirar os companheiros da água.
No entanto, por mais que tentasse encontrar formas de ajudá-los, nada conseguiu.
E os companheiros arremessados na água, foram desaparecendo lentamente, como que sendo engolidos pela água.
Mas o pior ainda estava por vir.
Isso por que, além dos movimentos bruscos realizados pela embarcação, vinha agora a clara informação de que a mesma estava afundando.
Foi então que o desespero então se instalou e muitos dos militares que estavam na embarcação, sem encontrar uma maneira de se salvarem, começaram a se atirar no rio. Tudo na vã tentativa de nadarem até uma das margens do rio e assim, se salvarem, e quem sabe até, procurarem auxílio para os demais.
Todavia, somente alguns deles conseguiram chegar até a margem.
Já os que ficaram, até o último momento no barco, acabaram mortos.
Tragicamente, no sonho, ela, tentando sair do barco, acabou presa em sua cabine. No desespero, não conseguindo abrir a porta para sair da embarcação, afundou juntamente com o barco.
Somente Flávio conseguiu escapar e boiar nas águas do rio.
Mas não por muito tempo.
Isso por que, antes do barco afundar, foi dado o sinal para que alguém os localizasse, e resgatasse os náufragos.
E assim, alguns dos militares conseguiram escapar. Porém, nem todos.
Lucimar, então, que dormia profundamente, acordou sobressaltada.
Flávio, percebendo o movimento brusco, perguntou a ela, se estava tudo bem.
A moça, então, respondeu:
-- Sim.
Mas Flávio percebeu que ela estava um pouco assustada. Por esta razão, foi logo perguntando o que estava acontecendo.
Lucimar porém, continuava insistindo dizendo que tudo estava bem.
O rapaz contudo, não se convencia nem um pouco com suas palavras. E assim, pressionando a moça, acabou descobriu que a mesma havia tido um sonho muito estranho.
Flávio ouviu tudo atentamente.
Porém, não levou o sonho a sério.
Dizendo que sonho não era realidade, recomendou a moça que não levasse aquilo a sério. Brincando, chegou até a dizer, que ela tinha muito mal gosto em ficar sonhando com fardas militares.
Mas Lucimar, não dava mostras de que isso a tranqüilizava.
Por isso mesmo, Flávio a abraçou e pediu-lhe, que caso tivesse um outro sonho como aquele, era para ela acordá-lo.
Lucimar concordou e Flávio não desgrudou nem um minuto dela.
Com isso, conforme se seguiram as horas, mais um dia iniciou-se.
Um dia de muito trabalho, diga-se de passagem.
Nesse dia, seria dado um grande passo.
Era um dia decisivo.
Flávio e Lucimar, prontos para a aventura, começaram logo cedo a distribuírem panfletos pelas ruas da cidade. Mais tarde, participariam de uma manifestação pleiteando a soltura de alguns presos políticos.
Assim, foi.
Quando os militantes estavam participando da manifestação, os militares, ao contrário do que se podia imaginar, começaram a agir na surdina. Cautelosos, não queriam dispersar a multidão, ou acabariam deixando os líderes do movimento fugir. Por isso mesmo, precisavam ser precisos.
Dito e feito.
Mais preparados, com um grande contingente policial, acompanharam a manifestação por quase duas horas.
Até mesmo Alexandre, Rubens e Neusa estranharam toda aquela tranqüilidade. Isso por que, quando ocorriam grandes manifestações como aquelas, era fatal a presença da polícia e a confrontação.
Mas desta vez não, estava tudo calmo.
Assim, os três começaram a desconfiar de tanta calmaria. Contudo, quando se deram conta de que tudo não passava de uma armadilha, já era demasiado tarde.
Os policiais, que até então aguardavam o momento oportuno para agir, ao perceberem quais eram as lideranças do movimento, trataram logo de fechar as saídas.
Com isso, prendê-los era apenas uma questão de tempo.
Quando Neusa, Rubens e Alexandre perceberam que estavam sendo vigiados pela polícia, trataram logo de correr. No entanto, ao chegarem num determinado ponto, acabaram encurralados. Isso por que, não tinham mais para onde ir.
Desta forma, acabaram presos.
Por sua vez, Flávio e Luci, ao perceberem a presença da polícia, fizeram de tudo para se misturarem a multidão, que nesse momento, começava a se dispersar. Durante algum tempo, a estratégia deu certo. Porém, os mesmos já haviam sido identificados.
Assim, não demoraria muito para também serem pegos.
E assim foi.
Flávio, tentando dar cobertura para a fuga da namorada, foi o primeiro a ser pego. Ao perceber que não tinha como escapar, gritou para que a namorada corresse.
Mas Luci, preocupada com a situação, olhou um breve instante para trás, e só depois dele gritar para que ela corresse, é que ela continuou a carreira.
Isso facilitou o trabalho dos militares que mais acostumados a correr, acabaram pegando-a também.
E Lucimar, por mais que lutasse, não conseguiu escapar.
Desta forma, todos foram conduzidos até o Dops.
Outros manifestantes também foram presos.
Mas o que interessava aos policiais, era realmente dar uma lição nos líderes do movimento. Cortando as asinhas dos líderes, como costumavam dizer, fatalmente dobrariam os demais.
Foi então que começou a sessão tortura.
Os primeiros a serem torturados, foram Neusa, Alexandre e Rubens. Considerados os coordenadores de toda aquela manifestação, começaram logo a apanhar.
Neusa, foi a que mais sofreu com as agressões.
Por ser mulher, acabou sendo molestada pelos policiais. Com certeza o pior mal que fizeram a ela.
Mas também não foi fácil para Alexandre e Rubens. Estes além de levarem socos, pontapés, e choques, sofreram pequenas queimaduras com cigarro.
Já Flávio e Lucimar, foram poupados num primeiro momento. Isso por que o delegado, não acreditava que os dois fossem os principais agitadores. Assim, se ambos contassem aos policiais, tudo o que sabiam, talvez nem sequer tivessem sido torturados.
Mas Flávio insistia em dizer que não sabia de nada.
Insistir nisso, só fez as autoridades policiais ficarem irritadas.
Tão irritados, que depois de algum tempo, os policiais começaram a também agredi-lo.
Mas, por mais que o maltratassem, nem por um instante ele sentia vontade de contar o que sabia.
Os policiais, percebendo isso, resolveram chamar Lucimar para um interrogatório.
Foi então que a moça, que até então estivera presa, mas que não sofrera nenhum tipo de agressão, começou a ser ameaçada e pressionada.
O delegado, dizendo que ela se arrependeria se não contasse tudo o que sabia, fez de tudo para intimidá-la.
Lucimar porém, não aceitava as intimidações. Dizendo que não sabia de nada, acabou também provocando a ira do delegado.
Mas ele no entanto, não deixou que a moça fosse espancada pelos policiais. Pelo menos não por enquanto.
Somente a espancaria se não houvesse outro meio de fazê-la falar.
Não espancá-la, foi o que impediu que ela perdesse o filho que estava gerando.
Isso por que, antes de sequer cogitar aplicar tortura, o delegado tentou de todas as formas possíveis fazê-la falar.
Debalde, Lucimar, por mais ameaçada que fosse, não dizia nada.
À certa altura, o delegado, cansado disso, ordenou aos policiais que a levassem de volta para a cela. Porém, antes dela sair da sala, o mesmo advertiu que nada mais poderia fazer para preservar sua integridade física.
Lucimar estremeceu.
Isso por que, grávida de quatro meses, sabia que não podia colocar a vida de seu filho em risco.
Contudo, não podia também, delatar seus amigos. Pessoas que a aceitaram em suas vidas e que confiaram nela.
Estava diante de um dilema horrível.
Mas, por mais que temesse pela vida do filho, não podia abrir mão da amizade, e assim, resolveu arriscar.
Arriscou, e ao ser levada para a sala de interrogatório, depois de ser bastante pressionada, os policiais, resolveram aplicar-lhe a primeira tortura.
Toda a vez que eles lhe perguntavam alguma coisa e ela nada lhes respondia, os mesmos, enfiavam o rosto dela numa tina d’água e seguravam-na até que a mesma perdesse o fôlego. Depois, retiravam sua cabeça da água e novamente lhe faziam a pergunta.
Lucimar, teimosa, nada respondia.
Era o suficiente para que a operação fosse repetida. E repetida, repetida. Repetida até a quase exaustão.
Mas não era o suficiente para fazê-la confessar nada.
Irritados, com o passar do tempo, as torturas foram se tornando cada vez piores.
Vieram os socos, os pontapés, os choques. Enfim, todo o tipo de sevícias.
Com isso, os policiais, ao perceberem o estado gravídico da moça, dado que sua barriga crescia a olhos vistos, utilizaram-se deste fato para tentar convencê-la a entregar seus companheiros de luta, revelando os próximos passos do grupo, onde se encontravam, e tudo o mais.
Debalde.
Nem ameaçando a vida da moça e de seu filho, a mesma se convencia que o melhor caminho era ser dedo-duro.
Irritado, o delegado, vendo a delicada situação da moça, resolveu mandá-la de volta para a cela.
Foi nessa época, que um dos carcereiros, compadecidos com sua situação, se empenhou o máximo possível para ajudá-la.
Todavia, não havia forma dele impedir que as sessões de tortura, prosseguissem. Como simples funcionário da carceragem, não tinha poder de influência sobre os policiais. Mas, de seu jeito, fazia o que era possível, para tornar os dias de Lucimar na prisão, menos penosos.
Preocupado, mesmo correndo o risco de ser pego pelos policiais, sempre que podia, levava recados dos amigos e de Flávio, para a moça, e vice-versa.
Sempre que via Lucimar abatida e amuada em um canto da cela, tentava lhe dizer palavras consoladoras:
-- Não se preocupe Luci. Tudo vai dar certo. Você vai sair daqui. Não tenha medo.
Em vão, Lucimar sentia que do jeito que as coisas iam, não seria tão fácil sair dali.
Em decorrência das sevícias que sofrera, a moça estava estava muito mal. Tão mal que diversas vezes foi parar na enfermaria. No últimos meses de gravidez, Lucimar passou boa parte do tempo por lá. Abatida, debilitada, foi na enfermagem do Dops, que ela deu à luz a uma bonita criança, que mesmo sendo forte para resistir às sessões de tortura junto com a mãe, havia sofrido as conseqüências de tudo o sofrimento que lhe fora impingido.
A criança, além de nascer prematura, nasceu com pouco peso. Sua situação era tão crítica que ninguém acreditava que ela sobreviveria.
Mas sim.
Quem não agüentou viver muito depois do parto foi a mãe, que depois de algumas semanas tentando cuidar do filho, foi novamente levada para sua cela. Mesmo sem condições de voltar para a carceragem, a moça foi deixada em sua cela.
Todavia, sem a adequada assistência de médicos e enfermeiros, depois de ser levada para um novo interrogatório, a moça, abalada emocionalmente, acabou tendo sua situação agravada.
E diante disso, apesar de não ter sido espancada, foi novamente levada para a enfermaria, e lá, em menos de dois dias, faleceu.
Seus amigos, Neusa, Rubens e Alexandre, extremamente combalidos, depois de meses presos, acabaram revelando todos os planos que pretendiam executar. Além disso, revelaram onde ficava o ‘aparelho’.
Flávio, por sua vez, mesmo sendo torturado constantemente, não entregou os amigos.
Mesmo preocupado com a situação de sua namorada, manteve-se fiel ao que acreditava até o fim.
Quanto a ele, ao sair da cadeia, não tinha a menor idéia de que seu filho já tinha nascido e que sua namorada estava morta.
Porém, determinado a descobrir por que ela não havia sido libertada, empenhou-se com seus amigos, para que isto acontecesse.
Assim, qual não foi sua surpresa, ao descobrir que a moça havia falecido na enfermaria do Dops?
Arrasado, recusava-se a acreditar que tal barbárie tinha sido cometida. Tentando se convencer de que ela estava mal, mas viva, relutou para acreditar em tudo o que lhe dissera o carcereiro que acompanhou o sofrimento de todos na cadeia.
Este homem, que sempre procurava informar a todos da situação dos outros presos, depois que Luci foi levada para a enfermagem, perdeu o contato com a moça. Por esta razão, nos últimos tempos, a única coisa que sabia era que ela havia tido o filho, mas que estava muito mal.
Flávio, ao saber disso, inquiriu o carcereiro, lhe perguntando, por que este não lhe havia contado o que sabia.
Foi então que o rapaz disse, que acreditava que os policiais desconfiavam dele. Assim, não poderia se arriscar. Ou então, acabaria preso, como os outros.
Rubens, percebendo a exaltação do amigo, pediu a ele que não brigasse com o carcereiro. Até por que ele havia feito tudo o que podia para ajudá-los. Ajudou-os mesmo sabendo que estava colocando o próprio pescoço a prêmio.
Flávio, então, percebendo que se excedera, pediu desculpas ao pobre homem, que só quis ajudá-los.
Porém, ao cair em si, percebeu que o carcereiro estava certo. Provavelmente, Lucimar estava morta.
Ao dar-se conta disso, o rapaz entrou em um profundo desespero. Enlouquecido, não conseguia raciocinar direito.
Tanto que foram seus amigos que perguntaram sobre a criança.
O carcereiro então respondeu que a criança ainda estava em poder dos militares. Contudo, se o rapaz queria o menino, devia agir rápido.
Os amigos de Flávio ao ouvirem essa conversa, perguntaram ao carcereiro, o por quê disso.
Ele então respondeu:
-- É por que, se vocês não fizerem alguma coisa, a criança vai ser entregue a adoção.
Neusa, Rubens e Alexandre, ao saberem disso, ficaram revoltados.
Com isso, imbuídos num espírito de solidariedade, os três moveram céus e terra para conseguirem recuperar a criança.
E assim, mesmo arrasados com a perda da amiga, procuraram ajudar de todas as formas Flávio.
Mesmo Neusa, que ficara muito sentida com a perda da grande amiga, e abalada com tudo o que lhe sucedera na prisão, ainda procurava encontrar uma razão de viver.
Flávio contudo, arrasado com a perda, demorou para se dar conta de que tinha um filho e que tinha que cuidar dele.
Sim, por que não seria tarefa nada fácil cuidar de uma criança pequena sozinho.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário