Poesias

sexta-feira, 30 de abril de 2021

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 2

Animada com a possibilidade de se reencontrar com seu avô, lembrou-se das histórias contadas por ele sobre a origem da família.
Conhecia já um pouco da triste história de Lúcia, filha de seu avô Orlando, a qual só foi reconhecida como filha, já adulta.
Gabriela gostava de muito desta tia.
Sempre quando Lúcia retornava para o Brasil, aproveitava para passar algum tempo no hotel de Orlando. Lá aproveitava para contar as novidades.
Vivia na Europa, era uma mulher bonita e independente.
Qualidades que Gabriela admirava.
Isto por que, sempre questionou o fato de sua mãe, Margarida viver da pensão de Cássio.

Gabriela dizendo que gostaria de ganhar seu próprio dinheiro, comentou certa vez com a mãe, que pretendia começar a trabalhar. Foi o bastante para que Margarida lhe chamasse a atenção.
Dizendo a Gabriela que ela deveria se preocupar mais em estudar para ser alguém na vida, Margarida argumentava que depois de formada ela teria tempo de sobra para trabalhar.
Gabriela sempre que ouvia tais palavras, ficava furiosa.
Era o ponto de partida para que as duas iniciassem uma briga.

Cássio, por sua vez, sempre que percebia que iria se iniciar alguma briga, procurava intervir.
Agora porém, as duas estavam sozinhas. Tinham que aprender a conviver com a divergência. Não havia mais ninguém para apartar as brigas.

Com efeito, Lúcia era o oposto de Margarida.
Gabriela aproveitando a presença de sua tia no hotel, passava longas tardes conversando com ela.
Lúcia era uma pessoa agradável.
Gabriela e ela se identificavam.
Para completar, Gabriela e Paul (filho de Lúcia), adoravam a companhia um do outro.
Com o primo, Gabriela aproveitava para saber um pouco mais sobre seu dia-a-dia na Europa. Seus estudos, o que fazia nos momentos de lazer.

Lúcia, por sua vez, comentava sobre seu trabalho, sua trajetória como modelo, os museus da Europa.
Ao ouvir as novidades contadas pela tia, Gabriela sentia vontade de correr o mundo.
Isto por que Gabriela não se cansava de perguntar como era sua vida.

Com efeito, quando Lúcia levava toda a família para uma estada no Hotel Aquarela, Orlando ficava muito feliz.
Atencioso sempre se desdobrava em atenções para a filha, o neto e o genro.
Certa vez, Gabriela comentou com seu avô:
-- Nossa quanta atenção, vô! Nem eu sou tão paparicada.
Orlando comentava então, que tratava a todos com igualdade.
Gabriela começava a rir.
Dizendo que estava brincando, comentou que pedir para que os funcionários caprichassem ainda na mais na preparação dos alimentos, na arrumação dos quartos, no serviço em geral, era pedir para melhorar o que já era perfeito.
Orlando achou graça nas palavras da neta.

Gabriela percebia que muito embora Lúcia fosse uma pessoa gentil, possuía um semblante triste. Amável e carinhosa, havia desenvolvido uma carreira internacional como modelo, e agora trabalhava como organizadora de desfiles.

Segundo o que Orlando lhe contara, desencantada com os acontecimentos ocorridos no Brasil, Lúcia aproveitou a oportunidade de ser modelo no exterior.
Alta e bonita, (logo após um acontecimento que marcou tristemente sua vida) enquanto caminhava distraída pelas ruas de São Paulo, recebeu uma proposta de trabalho como modelo.
Nelson, o dono de uma agência, ao observá-la caminhando pelas ruas da cidade, convidou-a para um trabalho de modelo.
Trabalho este que mudou sua vida.
Orlando então contou para Gabriela, que na primeira vez que Lúcia ouviu a proposta, desdenhou.
Desiludida, não podia acreditar que o que lhe estava sendo oferecido poderia ser verdade. Pensou se tratar de uma brincadeira.
Mas Nelson, dono da agência de modelos, era insistente.
Mostrando a idoneidade de seu estabelecimento, ofereceu todas as garantias que Lúcia precisava para concordar com a proposta.

Foi exatamente nesta época que Orlando, após muito procurar pela filha, fruto de um relacionamento extraconjugal, com uma mulher chamada Natália, finalmente a encontrou trabalhando como modelo.
Ao chegar em São Paulo de carro, observou uma foto da moça. Lúcia estava belíssima num outdoor.
Nesta época, Orlando já havia contratado um detetive particular, para localizar a moça.
Sentia-se em dívida com a criança.
Para se justificar do deslize, Orlando comentou que a avó de Gabriela, Dona Amália, se encontrava gravemente enferma. Acamada, dispensava grandes cuidados.
Comentou que vivia ao lado da cabeceira da cama da esposa. Esperançoso, apesar do avanço da doença, acreditava ainda que a mulher poderia se recuperar.
Mas o tempo passava e Amália só piorava.
Apesar da esperança, Orlando já começava a desanimar.
E foi assim, exausto e desanimado, Orlando acabou encontrando alívio nos braços de Natália, jovem, bonita e saudável.
Natália, cheia de energia e vitalidade, ao perceber Orlando amuado, em restaurante, aproximou-se.
Era uma tarde fria em que ele almoçava novamente sozinho.
Natália por sua vez, como quem não queria nada, pediu dicas sobre onde poderia se hospedar.
Orlando comentou que a moça poderia se hospedar no hotel onde se localizava aquele restaurante.
Naquele tempo, Orlando ainda não possuía a rica propriedade que em que instalou o Hotel Aquarela.
Possuía um pequeno hotel.
Gabriela perguntou ao avô se a moça tinha conhecimento deste fato.
Orlando comentou que sinceramente, não sabia responder. Sabia apenas que durante o tempo em que se relacionou com a moça, a mesma não demonstrou ter conhecimento do fato.
Ao ser indagado a este respeito, Orlando comentou que nem mesmo no momento em que se desentenderam, Natália mencionou este fato.
Orlando por sua vez, relatou que nunca mencionou esta circunstância para a moça.

Enquanto estiveram juntos, os dois viveram bons momentos.
Discreto, Orlando arrumou uma pequena propriedade para a moça morar. Era neste local que os dois se encontravam.
Algumas vezes, aproveitava as oportunidades poucas oportunidades que tinha para se encontrar com a moça, para levá-la para jantar fora, passear.
Com o tempo, porém, em razão do agravamento da saúde de Amália, os passeios foram se escasseando.

Cássio, filho de Orlando com Amália, nesta época era um bebê.
Gabriela, quando ouviu esta história pela primeira vez, chocou-se. Afinal de contas, Amália morreu ainda jovem, no começo do casamento de ambos.
Gabriela surpreendeu-se com a história de uma morte assim tão absurda, e também pelo fato de seu avô nunca ter se casado novamente.
Questionou ainda o fato de seu avô ter sido infiel.
Todavia, sentia que mesmo com o deslize, Orlando amara a mulher.
Gostava tanto que mesmo após a morte da esposa e do filho, não se cansava de exaltar a memória de ambos. Dizia sempre que fora presenteado com a vivência de duas pessoas maravilhosas que partiram muito cedo desta vida.
Sempre que dizia estas palavras, Orlando se emocionava.
Dizia também que Amália era sensitiva e chegou a dizer-lhe que o filho de Natália, não seria criado por ele, tampouco por Natália.
Sim, Amália descobriu a infidelidade do marido. Percebeu pelos gestos e atitudes de Orlando, que ele estava diferente.
Muito embora continuasse a cuidar da esposa enferma, Orlando estava mais vaidoso.
Este fato despertou a atenção de Amália.
Quando então, se viu descoberto, Orlando tentou negar os fatos, porém não havia como.
Amália, respondeu então, que estava triste com a traição, mas que tinha perfeita consciência de que para que uma pessoa pudesse privar de sua companhia, e expiar suas faltas, precisava vir ao mundo naquelas circunstâncias.
Orlando ao ouvir tais palavras ficou perplexo.
Gabriela, quando ouviu a história pela primeira vez, também.

Quando Orlando se desentendeu com Natália, a qual exigira que ele abandonasse a esposa doente, percebeu que o vaticínio de Amália estava correto.
Revelando que estava grávida, Natália, ao perceber que Orlando jamais abandonaria a esposa para ficar com ela, num gesto impensado, arrumou suas malas, e desapareceu. Deixou para trás a pequena casa, que ele havia lhe arrumado, partiu.
Nunca mais se ouviu notícias suas.

Orlando nesta época, era proprietário de um pequeno hotel na região metropolitana de São Paulo.
Foi assim que foi dado início ao hotel magnífico que seria o Hotel Aquarela. Foi assim que pouco a pouco foi comprando terrenos que dariam lugar a uma vasta e rica paisagem, uma linda e esplendorosa propriedade.

Realmente, Orlando nunca mais ouviu falar de Natália.
Através do detetive particular que contratara, descobriu no entanto, que Lúcia fora criada por Etevaldo e Júlia.
Lúcia fora abandonada por sua mãe Natália.
Com isto, o casal, impossibilitado de ter filhos, ao ver o bebê abandonado na porta de casa, decidiu não entregá-lo para adoção.
Temerosos porém, de que alguém poderia reclamar pela criança, resolveram se mudar para uma cidadezinha tranqüila no interior de Minas Gerais, local onde Lúcia teve um infância tranqüila e feliz.
Até que ficou moça e passou a atrair a atenção dos rapazes da cidade.
Quem não gostava disso, eram as outras moças.
Enciumadas, destratavam Lúcia.
Dizendo que ela era filha dos funcionários da melhor escola da localidade, faziam questão de deixar bem claro, que ela não deveria se misturar com o pessoal do lugar.
Lúcia não se importava com isto.
Dizendo que estava apenas interessada em estudar, ao ser informada que havia ganho uma bolsa para estudar no mesmo colégio em que seus pais trabalhavam, ficou feliz da vida.
Tão feliz que não se importou com a hostilidade das moças do local e com o assédio dos rapazes.
Fingindo não ver o que acontecia, dedicou-se com afinco aos estudos.
Enquanto os demais só se preocupavam com festas, lá estava Lúcia estudando.
Isto serviu para atrair mais fúria para ela.
Mas Lúcia não ficou isolada.
Conseguiu encontrar bons amigos no colégio. Lá também estudava Cássio.
Cássio e sua namorada Bruna, acabaram se tornando grandes amigos de Lúcia.
Já Hélio e seus amigos não perdiam a oportunidade de paquerar Lúcia.
A moça porém, fingia não ver.
Hélio, por sua vez, percebendo a indiferença de Lúcia, ficava furioso. Tanto que certa vez chegou a realizar uma aposta com os amigos. Apostava que conseguiria passar uma noite com Lúcia.
Descrentes, seus amigos não participaram da aposta.
Hélio por sua vez, ficava profundamente irritado com isto. Dizendo que seria capaz de tal proeza, comentava que eles ainda iriam se desculpar com ele por isto.
Seus amigos porém, não acreditavam em suas palavras.
Com isto, além da incredulidade dos amigos, era obrigado a ouvir suas gozações.
Em relação a isto, sempre que se aproximava de Lúcia, independente da abordagem adotada, Hélio era ignorado pela bela moça.
Lúcia decididamente, não estava disposta a envolver com nenhum dos rapazes do colégio. Tampouco com  Hélio, sempre inconveniente e desagradável.

Cássio e Bruna chegaram a presenciar algumas dessas cenas.
Quando Lúcia atravessava o pátio do colégio, alguns rapazes chegavam a acompanhá-la até a sala.
Cássio e Bruna certa vez, ao verem Hélio segurando o braço de Lúcia, percebendo que a moça pedira para soltá-la e o rapaz não atendeu, resolveram se aproximar.
Hélio, percebendo a aproximação, resolveu se afastar.
Cássio e Bruna, percebendo que Lúcia se assustara com a abordagem, perguntaram o que ele dissera.
Lúcia, nervosa, respondeu que nada.
Cássio porém, desconfiado, pressionou Lúcia, para que contasse o que havia se passado.
Todavia, mesmo insistindo muito, a moça se fechou em copas.
Bruna por sua vez, também estranhou o comportamento de Lúcia.
Com isto, quando finalmente ficou a sós com Cássio, comentou que Lúcia poderia estar sendo ameaçada.
-- Ameaçada? E por que não nos contou nada? – perguntou Cássio.
-- Talvez por que Hélio tenha ameaçado fazer alguma coisa contra seus pais, ou mesmo contra ela.
Preocupado, Cássio comentou que aquele sujeito não lhe inspirava confiança e que por esta razão precisavam ficar de olho em Lúcia.

Neste ponto, procurando explicar que Cássio se tornara amigo de Lúcia, Orlando comentou que pesaroso com o que sucedera a Amália, decidiu que o filho estudaria neste colégio. Lá ficaria hospedado em casa de amigos. E assim, Cássio estudou no mesmo colégio que Lúcia.
Sem saber, a vida dos dois se unira.
Lúcia e Cássio, sem saber que eram irmãos se tornaram grandes amigos.
-- Curioso! – comentou Lúcia.
-- Como é a vida! Se encarregando de unir, quem as pessoas separaram!

Sim, Orlando com seu trabalho, angariou muitas amizades. Era conhecido em várias localidades. Além do mais, queria deixar o filho afastado dos comentários maldosos.
Orlando sabia que cedo ou tarde, Cássio tomaria conhecimento de que possuía uma irmã. Queria porém, encontrar primeiramente a moça – sua filha sumida.
Depois revelaria a história para Cássio.
Orlando procurou por Lúcia por muitos anos.

Cumpre destacar ainda que Orlando criou sozinho o filho, e Cássio se tornou um homem de bem.
E durante anos, procurou por Lúcia.

Porém só a encontrou, quando Lúcia estava prestes a viajar para a Europa.
Lúcia após passar por um demorado curso de etiqueta, e após alguns meses de trabalho no mercado local, já estava de malas prontas para desfilar na Europa.
Sim conforme já mencionado, Lúcia foi uma modelo internacional renomada.
-- E eu não sei? – retrucou Gabriela – Uma tia famosa na família, não é para qualquer um!
Orlando, ao ouvir tais palavras, comentou que Lúcia, apesar da tragédia que se abatera sobre ela, conseguiu reconstruir sua vida.
Quanto a este ponto, Gabriela perguntou ao avô, por que ele sempre omitia este ponto da vida de Lúcia.
Desconversando, Orlando comentou que esta era uma história muito triste, que não tinha condições de revelar.
Percebendo o interesse da neta, na história não relatada, pedia insistentemente para que não comentasse isto com Lúcia.
Gabriela por sua vez, mesmo insatisfeita com a resposta, prometeu para o avô que não cometeria tal indelicadeza.
Percebendo que era penoso para o avô tocar neste assunto, deixou de insistir no assunto. Comentou que ele contaria a história quando e se quisesse revelá-la.

Com isto, Orlando reiterou que desde que Natália deixara tudo para trás, procurava pela filha.
Porém, sem saber seu nome, sem conhecer suas características físicas, se era um menino ou uma menina, ficava difícil encontrar a criança.
Para ajudar, Natália sumiu do mundo. Parecia não pertencer mais a terra.
Curiosa a este respeito, Gabriela sempre perguntava ao avô se ela nunca mais fora vista por ele.
Orlando ao ouvir esta pergunta, sempre respondia que, muito embora tenha tentado encontrá-la para oferecer ajuda, nunca conseguiu localizá-la. Não fazia a menor idéia se ainda estava viva ou se já havia morrido.
Gabriela também perguntava ao avô, se Natália nunca havia tentado encontrar a filha.
Orlando respondeu que em tais circunstâncias, dificilmente Natália encontraria a filha. Primeiramente por que quem a registrou como Lúcia foram Etevaldo e Júlia, e também por que eles não permaneceram na cidade onde a criança foi abandonada.
Isto complicava tudo.
Gabriela então retrucou:
-- Mas o senhor não descobriu?
No que Orlando respondeu:
-- Sim, descobri. Mas a custo de muitos anos de espera e paciência, e muito dinheiro também. Encontrar uma criança a qual eu não sabia sequer o nome, o paradeiro, a aparência física. Foi como encontrar agulha no palheiro. Em vários momentos pensei que nunca fosse encontrar a minha filha. Quantos enganos, quantas decepções. Ah, Gabriela, como é triste a espera! Agora eu entendo o quanto sofrem as mães e os pais que tem filhos desaparecidos. É triste a espera de quem fica.

Emocionado, Orlando comentou que ao descobrir o paradeiro da filha, precisou primeiramente, reunir coragem para se apresentar a Lúcia.
Inicialmente, contatou Nelson, com quem Lúcia desenvolvera uma relação de amizade, a qual perduraria por muitos anos, mesmo à distância.
Contou que era o pai biológico de Lúcia, mas que a moça não sabia disto.
Nelson então comentou que Lúcia tinha conhecimento de que era a filha adotiva de Etevaldo e Júlia, mas que, por uma questão de consideração, e a pedido de ambos, não revelara para ninguém este fato. Somente com Nelson abrira uma exceção.
Orlando então, relatou que ela conhecia Cássio, seu filho legítimo. Revelou que ambos haviam tornado-se grandes amigos, mas como Cássio nunca comentara que Lúcia era filha adotiva, nem cogitou investigá-la.
Somente após muito tempo procurando-a, finalmente encontrou Lúcia, a moça que poderia ser sua filha.
Abrindo seu coração, Orlando revelou também que tivera uma amante, de nome Natália e com esta moça, tivera Lúcia.
Comentou ainda, que talvez para esconder sua desonra, a moça abandonou a filha na porta do casal.
Ao ouvir tais palavras, Nelson censurou a conduta de Orlando.
Criticando-o, Nelson perguntou-lhe por que não amparou a mulher e a filha.
Orlando comentou então, que quando Natália tomou conhecimento de que ele não abandonaria a esposa para ficar com ela, ficou furiosa.
Com isto, arrumou suas malas e desapareceu.
Não queria ser encontrada.
Orlando comentou ainda que, mesmo não podendo assumir Natália, prometeu que a ajudaria a criar a filha, inclusive registrando-a em seu nome.
Entretanto, não poderia assumir Natália por que já era casado, e não poderia abandonar sua esposa enferma. Amália, a mulher que amou a vida inteira. Namoro de infância. Primeira namorada, com quem se casou, e até hoje se arrepende de tê-la traído.
Tanto que nunca mais se casou. Com relação a isto, respondeu que talvez esta seja uma forma de se penitenciar da deslealdade com Amália.
Nelson então, ao ouvir tais palavras, calou-se.
Percebendo a sinceridade de Orlando, prometeu que o ajudaria a conversar com Lúcia.

Conversa esta que não foi nada fácil.
Isto por que, Lúcia não queria qualquer contato com estranhos.
Traumatizada, não queria conversar com Orlando.
Desconhecendo as razões pelas quais o homem queria falar-lhe, pensou se tratar de alguém vindo da parte de Hélio.
Desta forma, foi preciso muita insistência para que a moça concordasse em conversar com ele.
Nelson percebendo o temor de Lúcia, comentou que Orlando que não queria fazer-lhe mal. Apenas conversar. Comentou que o homem precisava lhe revelar um segredo.
Intrigada Lúcia concordou em conversar com Orlando. Mas não sem antes se certificar de que Orlando não conhecia Hélio.
Conversa esta longa e complicada.
Isto por que, mesmo ciente de que não era filha biológica de Etevaldo e Júlia, Lúcia custava a acreditar que aquele homem diante dela, poderia ser seu pai biológico.
Tanto que quando Orlando sugeriu a realização de um exame de paternidade, Lúcia resistiu à idéia. Somente depois algum tempo, concordou.
Com isto, a viagem para a Europa precisou ser adiada.
Quando finalmente chegou o resultado do exame realizado, Orlando, percebendo que suas suspeitas se confirmaram, agradeceu aos céus.
Dizendo que finalmente sua procura chegara ao fim, comentou com Nelson e Lúcia que já havia passado por aquele exame inúmeras vezes, e que muitas vezes se decepcionara.
Agora não. Estava diante de sua filha biológica mesmo.

Quando Etevaldo e Júlia, souberam disto, correram para São Paulo, temendo que Lúcia os abandonassem.
Ao chegarem, comentaram com Lúcia que agora que ela possuía um pai abonado, e portanto não precisava se preocupar com eles.
Lúcia, percebendo a insegurança de ambos, comentou que nunca abandonaria seus pais de criação. Seus verdadeiros pais.
Sim, as pessoas que a criaram e cuidaram dela. Casal que providenciou, mesmo com muita dificuldade, passagens para ela viajar para São Paulo, com vistas a tentar se esquecer dos problemas recentemente enfrentados. Mesmo sem poderem, abandonaram o trabalho, só para acompanhá-la neste passeio, que mudou positivamente sua vida, fazendo-a abandonar seu estado de letargia.
Neste momento, os três se abraçaram emocionados.

Dias depois, Lúcia apresentou os pais a Orlando, e com isto, os três, pelo bem da moça, se tornaram amigos.
No dia da partida de Lúcia, levaram a moça até o aeroporto.
Lá se despediram.

Durante estes anos, Lúcia fez uma linda carreira internacional. Muitos desfiles, capas de revistas, eventos, participações em programas europeus, alguns trabalhos em capas de revistas brasileiras.
Mas sua carreira se concentrou mais no exterior.
Vez por outra, a moça retornava para São Paulo.
Nesta época Etevaldo e Júlia estavam trabalhando em outro colégio de outra localidade mineira. Lá estudava Pedro – filho de Hélio.
Lúcia, casada com o francês Jean, deu a luz Paul.

Nisto o tempo passou.
Quando Orlando descobriu, por intermédio de Nelson, o que Hélio havia feito com sua filha, ficou furioso.
Prometeu a si mesmo que se encontrasse aquele homem em sua frente, acabaria com sua vida.
Nelson, nervoso, pediu insistentemente para que ele não comentasse com Lúcia, que sabia do ocorrido.
Orlando furioso, comentou com o empresário, que ele não poderia ter-lhe omitido esta informação.
Nelson comentou então, que teve grande dificuldade em se aproximar da moça, ganhar sua confiança, e que não podia agora decepcioná-la.
Orlando, percebendo a aflição de Nelson prometeu que nunca contaria a moça, como descobrira o que ocorrera.

Nisto, quando retornava para o Brasil, a moça aproveitava para visitar os pais em Minas, e Orlando em seu magnífico hotel na região metropolitana de São Paulo.
Com o passar dos anos, Lúcia finalmente passou a chamar Orlando de pai, e Paul, seu filho, a chamar Orlando de avô.
Quando ficava hospedada no hotel de Orlando Lúcia aproveitava para levar sua família junto.
Com isto, Gabriela aproveitava a companhia do primo Paul.
A moça achava graça do sotaque do garoto.
Apesar da diferença de três anos entre eles, tinham grandes afinidades.
Sempre que se encontravam no luxuoso hotel do avô, aproveitavam para passear pelas amplas áreas verdes do hotel. Conversavam bastante, e aprontavam algumas travessuras.
Nisto, a cada ano que passava, o hotel se tornava mais amplo e luxuoso com várias áreas de lazer.

Orlando comentou certa vez com Gabriela, que revelar para Cássio que ele possuía uma irmã, fruto de uma relação extra-conjugal, foi muito difícil.
Mas ao contrário do que poderia se supor, o rapaz surpreendeu o pai.
Isto por que, comentando que desconfiava de tantas viagens e ausências, bem como da presença de um estranho sujeito no hotel, que se hospedava freqüentemente por ali. Cássio então, relatou que após ouvir comentários sobre um suposto caso de Orlando com uma mulher chamada Natália, ficou especulando.
Com efeito, Ao ouvir a conversa sobre um suposto adultério de seu pai, revelou que ficou furioso.
Porém, desconfiado do teor dos comentários, resolveu especular.
Foi então que passou a desconfiar que seu pai só poderia estar tentando encontrar pistas do paradeiro da suposta mulher e de sua filha.
Ao ouvir tais palavras, Orlando se encheu de coragem e revelou que aquele estranho homem, estava procurando pistas sobre o paradeiro de sua filha.
Cássio, ao ouvir tais palavras constatou que o ouvira era verdadeiro.
Orlando então, com muita dificuldade, relatou que possuía uma filha, fruto de um relacionamento com outra mulher.
O rapaz ficou chocado. Não podia acreditar o que ouvira era verdadeiro.
Orlando por sua vez, dizendo que havia encontrado a moça, mencionou que estava confirmada sua paternidade, e que por esta razão a garota seria reconhecida por ele.
Cássio ficou chocado.
Censurando o pai, Cássio levou algum tempo para aceitar a novidade.
Quando soube porém, que a moça em questão era Lúcia, ficou deveras feliz. Mal podia acreditar.
Com isto, mesmo vivendo distantes um do outro, Lúcia e Cássio (irmãos),
viviam trocando correspondências.
Margarida porém, não gostava nem um pouco da proximidade dos dois.

Sim, Margarida se casou com Cássio, o qual se desentendeu com Bruna.
No tocante a isto, Orlando comentou que não conseguia compreender como Cássio conseguiu se desentender com uma pessoa tão doce quanto Bruna.

Ao se dar conta que Gabriela ouvia a tudo com atenção, percebendo o ar intrigado da neta, tentou desconversar.
Em vão.
Gabriela ficou intrigada com a história.
Tanto que questionou o avô a este respeito.
Orlando porém, se fechou em copas.

Orlando, também comentou que muito embora esta história do reconhecimento da paternidade com Lúcia, tenha terminado bem, lamentava a perda do filho em um acidente.
Casado com Margarida, Gabriela sabia que Orlando não concordara com este casamento. Por esta razão a relação entre Orlando e a nora não era boa.
Margarida por sua vez, não perdia a oportunidade de comentar com Gabriela que Orlando não gostava dela.
Gabriela, contudo, nunca valorizou os comentários da mãe. Adorava o avô, atitude esta que provocava a fúria de Margarida, que se sentia injustiçada. Sentia-se colocada para escanteio pela filha.
Desta forma, as duas brigavam freqüentemente.
Quando Cássio era vivo, conforme já foi mencionado anteriormente, o mesmo conseguia amenizar as confusões, amainar as rivalidades, mas agora as brigas se intensificaram.

Com efeito, relembrar do filho, apesar de triste, fazia bem a Orlando.
Quando o rapaz morreu, Lúcia deixou o trabalho na França, e veio acompanhar o enterro do irmão juntamente com Orlando.
Margarida, ao ver a proximidade de Lúcia, comentou com Gabriela que ela estava fazendo média com Orlando.
Gabriela que adorava a tia, ao ouvir tais palavras, ficou furiosa. Por esta razão, deixou sua mãe falando sozinha.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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