Poesias

quinta-feira, 6 de maio de 2021

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 3

Retornando ao projeto de viagem de Gabriela.
A moça, após finalizar os preparativos da viagem, pegou o metrô, depois o trem.
Por fim, pegou um ônibus, onde desceu próxima a cidade onde está situado o hotel de seu avô, que já a aguardava.
De lá ambos foram de carro até o hotel do Seu Orlando.
Seu Orlando, como costuma ser chamado por seus funcionários, é dono de uma vasta propriedade na região metropolitana de São Paulo.
Hotel de alto padrão, lá costumam ficar hospedados, empresários, socialites, e pessoas de renome na sociedade.
Mas muito mais interessada em descansar por alguns dias em uma paisagem bucólica, do que ficar lado a lado com pessoas influentes, Gabriela queria apenas aproveitar o passeio.
Nisso, seu avô, homem ativo que é, foi dirigindo o carro e contando as novidades.
Disse que adquiriu novos cavalos, que possuía agora algumas charretes, e plantara mais algumas mudas de árvore. Também informou que comprou mais um terreno, pois pretende ampliar as instalações de seu hotel, e oferecer mais serviços aos seus clientes.
Animada Gabriela se admirou da disposição de seu avô em querer sempre progredir, e melhorar ainda mais o serviço do hotel, que ela já considerava excelente.
Mas Seu Orlando é perfeccionista.
-- Tudo o que eu fizer, ainda será pouco diante de toda esta concorrência.
-- Concorrência, vô! Não há tantos hotéis com o padrão de qualidade do Hotel Aquarela.
Mas Seu Orlando, costumava contestar estas afirmações dizendo que se queria prosperar no que fosse deveria estar sempre atento. Até por que, segundo o velho ditado: O segredo do sucesso é a eterna vigilância.
Por conta disso acompanhava atento aos balanços contábeis realizados, o trabalho dos funcionários, pedia sugestões e elogiava sempre um trabalho bem feito. Por este motivo era bastante querido por seu corpo de funcionários.

Nisto, Gabriela aprecia a paisagem.
O trajeto até o hotel demora cerca de meia-hora.
Durante o trajeto, se depara o verde da paisagem, as árvores, as flores, os animais. Tudo bem diferente do dia-a-dia de sua cidade turbulenta e barulhenta.
Pensando nisso, lembrou-se de quantas saudades sentia, quando estava longe daquela paisagem querida, sua velha conhecida.
Seu Orlando ao perceber isso, perguntou:
-- Pensando na morte da bezerra?
-- Não vô! Só estou pensando na saudade que vou sentir, quando tiver que ir embora deste lugar.
-- Ora Gabriela! Deixe disso, nem bem chegou e já está pensando em ir embora? Ora, não se preocupe com isso! As férias são longas!
Gabriela então concordou.

Nisso, ao chegar, Gabriela se depara com a entrada imponente do hotel, e com a sempre presente gentileza dos funcionários.
Logo na entrada do hotel, qual não foi sua surpresa ao notar que muitas das mudas plantadas por seu avô nas férias passadas, já estavam grandes, viçosas e produzindo lindas e coloridas flores. Violetas, azáleas, rosas, margaridas, gérberas, entre tantas outras.
Uma beleza!
Pareciam dar boas vindas a nova hóspede do hotel.
Sim, por que adentrar o hotel era um espetáculo à parte. Enquanto seguia em direção ao paraíso, Gabriela podia, admirar os campos de golfe, os jardins, o pomar repleto de frutas e flores, as árvores frondosas, um pequeno lago ao longe, o som do trote de alguns cavalos.
Animado, seu Orlando leva a neta até as cocheiras para mostrar os novos animais recém-adquiridos.
Gabriela elogiou a beleza dos animais.
Orgulhoso da aquisição, Orlando informou que adquiriu os animais, em um leilão, no interior do estado.
Nesta oportunidade, também aproveitou para mostrar a neta, as charretes. Uma mais bonita que a outra.
Ao notar a admiração de sua neta, comentou que eram muito antigas.
Gabriela então, ficou ainda mais admirada.
Seu Orlando, percebendo isto, prometeu que mais tarde a levaria para fazer um passeio de charrete.

Com isto, depois de cumprimentar alguns funcionários, os dois voltaram para o carro. E assim, prosseguiram no caminho de flores, árvores belíssimas, campos verdejantes.
A certa altura, aproximaram-se de um dos inúmeros lagos do hotel.
Gabriela pediu então para descer do carro. Queria molhar os pés na água.
Seu Orlando concordou.
Gabriela então caminhou por entre gramíneas e flores, tirou sua bota de cano curto, as meias, e mergulhou os pés na água fria.
Feliz por estar de volta àquele lugar tão bonito, brincou de jogar água para cima.

Depois de alguns minutos, seu avô chamou-a.
Era tarde. Precisava levar as malas da neta para o quarto e providenciar o almoço, já que era 11:30.
Gabriela então, calçou novamente as botas e entrou novamente dentro do carro.
Assim, depois de algum tempo, dirigiram-se a recepção do hotel.
Como já estava tudo combinado, Gabriela só precisou preencher uma ficha, que os funcionários do hotel se encarregariam de levar as malas para seu quarto.
Quando, minutos depois, se instalou no amplo e luxuoso quarto, Gabriela se estirou na cama de casal com colchão de mola, e disse:
-- É essa vida que eu queria ter!
Minutos depois, um funcionário, devidamente uniformizado, trouxe sua bagagem.
Gabriela agradeceu.
Abriu o frigobar e bebeu um pouco de água.
Após, saiu do quarto, indo encontrar-se com seu avô que a esperava para o almoço.

Como seu Orlando sabia que a neta gostava de lagosta, mandou preparar um prato desta fina iguaria, especialmente para ela.
Gabriela, ao ver a suculenta lagosta em seu prato, ficou felicíssima.
-- Obrigada, vô! Só o senhor mesmo para me proporcionar momentos tão maravilhosos assim!
Disse isto e abraçou seu avô.
Nisto, começaram a comer.
E muito embora não fosse costume de Gabriela comer lagosta, comeu-a com a maior destreza.
Isto por que, em férias anteriores, seu avô aproveitando as mesas dos quartos, pediu para que o chefe de uma das cozinhas do hotel, providenciasse um prato à base de lagostas, para ser levado para o quarto onde sua neta estava hospedada. Lá mesmo, ensinou como comer o crustáceo que tanto pedia para experimentar.
Não foi difícil.
Com um pouco de treino Gabriela se tornou uma experta em lagostas, e frutos do mar.
De tão educada, alguns hospedes, quando descobriam que se tratava da neta do Seu Orlando, tratavam logo de cumprimentá-lo.
Diziam:
-- Que boa educação o senhor proporciona para sua neta! Não são todos os jovens que possuem uma postura tão elegante à mesa.
Orlando, que sabia da boa vontade da neta, agradecia os elogios e dizia que Gabriela iria longe.
Todos concordavam.

Animado com a visita da neta, Orlando brindou o almoço com um bom vinho branco.
Como sobremesa, foram servidas mouse de maracujá e sorvete quente.
Gabriela regalou-se com as sobremesas.

Mais tarde, Orlando propôs fazer uma cavalgada.
Gabriela concordou.
No passeio apreciou as flores, a moça encantou-se com a flor roxa do maracujá, com os lírios, os beija-flores, as árvores, com o trotar elegante dos cavalos.
Animada, caminhou até um outro lago existente no hotel, onde viu de longe uma cachoeira.
Acompanhada pelo avô, cavalgou por quase duas horas. Queria matar as saudades daquele que era um lugar tão querido para ela.
Para Gabriela, o hotel de seu avô, era um lugar de lembranças felizes, de festas, realizadas no imponente salão de festas do hotel.
Era o lugar ideal para cantorias, modas de violas, serestas.
Lembrou-se dos bailes de carnaval, que aconteceram no local, das festas juninas, e até de um casamento!
Sim, um lindo casamento de um filho de um político da região, ocorrido no local.
O luxuoso casamento, com direito a lagosta com prato principal, foi o acontecimento do ano.
A noiva, vestida com um luxuoso vestido branco, bordado com cristais delicados, luvas brancas e o cabelo praticamente todo solto, estava belíssima.
O noivo também estava impecável.
A festa, com uma pequena orquestra de músicos – contratados da Orquestra Sinfônica do município, tocou até de madrugada.
O coreto da praça principal do hotel, foi todo ornamentado com flores da estação.
A igreja do hotel foi o cenário da cerimônia, e o coreto, o local de onde a noiva jogou seu buquê.
Na festa, estava toda a imprensa, não só da cidade, mas de toda a região.

Margarida, quando ouviu os comentários da filha, sobre a referida festa de casamento, achou tudo de um provincianismo absurdo.
Decepcionada com a atitude da mãe, Gabriela comentou que nunca mais contaria para ela, detalhes de suas estadas no hotel.
Margarida então retrucou dizendo que este era o resultado da convivência com Orlando, o qual adorava jogar a filha contra a mãe.
Gabriela ao ouvir isto, ficou chocada.
Isto por que, seu avô, mesmo não simpatizando com Margarida, nunca fez qualquer comentário desabonador a este respeito.
Enfim, Margarida era uma pessoa, difícil de se lidar.

Mas voltando ao passeio.
Gabriela, enquanto cavalgava, comentava com seu avô sobre estas lembranças, e de como estava difícil conversar com sua mãe, nos últimos tempos.
Desejosa de cursar história, a moça não sabia como convencer sua mãe que o curso de direito não era a solução para ela.
Sim, Margarida era uma pessoa difícil. Acostumada a interferir sempre na vida de Gabriela, acabava por se distanciar da filha.
Seu Orlando, que não concordava com a atitude da nora, tentou inúmeras vezes, intervir a favor da neta.
Tentando convencer Margarida, dizia que a vocação da neta era para a área de história.
Margarida retrucava então, dizendo que se Gabriela gostava tanto de história era por conta das influências dele, que não se cansava de contar histórias fantasiosas e imaginosas sobre o passado da família.
Orlando ao ouvir estas palavras duras e levianas, retrucou dizendo que nunca mentira para sua neta.
Com isto, se nota que sempre que tentava ajudar Gabriela, era repelido por Margarida, a qual dizia saber o que era melhor para a filha.
Aliás, incomodada com a interferência de Orlando, Margarida sempre procurava colocar obstáculos na aproximação dos dois.
Gabriela porém, não aceitava a intromissão de sua mãe. Enfrentava-a. Por isso sempre visitava seu avô nas férias.
Desta forma, Orlando, ao perceber a angústia de Gabriela, prometeu que faria o possível para convencer Margarida a mudar de idéia, muito embora soubesse que seria praticamente impossível fazê-la mudar de atitude.
Gabriela concordou.
Nisso, voltaram para o hotel.

Gabriela mesmo acostumada com o lugar, sempre se admirava da imponência do empreendimento de seu avô. Os três prédios – em estilo neoclássico – que compunham o hotel, eram divididos em três setores. O primeiro, era o setor social, sendo que no prédio principal está a recepção, duas lanchonetes, um barzinho, três restaurantes, sala de computadores, lojas, três salas e cerca de cinqüenta suítes, além de um átrio, e uma entrada com pedriscos e flores.
Nos outros dois prédios, estão as outras oitenta suítes, mais duas salas e um outro barzinho – em cada um.

Entre os prédios de estilo neo-clássico, estão as piscinas e a uma churrasqueira.

Próximo dali estão os três Centros de Convenções do hotel e o clube, com piscina coberta, quadra poliesportiva, academia de ginástica com três ambientes e banheiros, sauna, spa – com duas salas de massagens e templo de meditação, salão de jogos – bar, um salão de dança, átrio, teatro, cinema e dois salões de festa.
Tem também a igreja do hotel, imponente.
Logo a praça principal com o coreto. Ao redor do hotel havia ainda mais duas praças, e um parque para as crianças brincarem.

Gabriela percebeu algumas mudanças.
Orlando comentou então, que no chafariz da praça principal, resolveu colocar alguns objetos para atrair os pássaros. Gostava da algazarra dos pardais. Fazia se lembrar de seu tempo de garoto, quando morava em um sítio, e seu pai era um colono.

Mais ao fundo, em outro prédio neoclássico, estava seu escritório e a administração do hotel.
Ao longo do passeio, Gabriela avistou as duas quadras de tênis, a quadra de vôlei, de basquete e a de futebol – sempre bastante utilizadas.

Seu Orlando pegou um carrinho e conduziu a neta até um dos dois campos de golfe do hotel.
Mais tarde levou a neta novamente para as cocheiras e conduziu-a num passeio de charrete, até os lagos e pastagens do hotel.
Juntos, os dois passearam por algumas trilhas que haviam no lugar.
Acomodada na charrete, Gabriela comentou com seu avô se sentia como uma viajante no tempo.
Seu Orlando, ao ouvir o comentário da neta, relatou que já utilizou muito este tipo de transporte quando era garoto. Dizendo que automóvel era artigo raro em seu tempo de criança, revelou que trazer as charretes para o hotel foi o capricho de um velho desejoso de se reencontrar com suas origens.
Gabriela ficou comovida com o relato.
Enfim, mal podia acreditar que estava em férias nos domínios do avô.

No passeio, os dois se aproximaram de alguns chalés.
Estas instalações com sala, cozinha, banheiro e quarto.
Pequeninas, mas aconchegantes construções neo-coloniais.
Feliz, seu Orlando comentou que o hotel estava dando muito lucro.
Por esta razão se animou a comprar mais um terreno, pois pretende expandir o hotel.

Mais tarde, os dois se dirigiram a uma das lanchonetes e comeram um suculento lanche, com suco de laranja e batatas fritas.
Orlando parecia uma criança ao lado da neta.
Nem mesmo quando tratava os funcionários com gentileza, conseguia ser tão descontraído.

Mais tarde, Gabriela colocou um biquíni e foi aproveitar o cair da tarde, para mergulhar na piscina aquecida e coberta do hotel.
Animada, brincou nas águas quentes durante longas horas.
Nadou, mergulhou, brincou com as crianças que estavam no local...
Enfim, se divertiu a valer.
Quando marcou dezenove horas, seu Orlando, apareceu no clube para chamá-la. Era hora de se arrumar para o jantar.

Gabriela dirigiu-se então a seu quarto, tomou um banho de ducha, colocou um belo vestido frente única estampado, arrumou os cabelos compridos e foi de braços dados com seu avô, até um dos restaurantes do hotel.
No jantar foi servida uma saborosa paella.
Gabriela adorou o repasto.
Novamente tomou vinho, e como sobremesa uma torta de chocolate.
Mais tarde, os dois foram vistos dançando no salão de danças.
Juntos riscaram o salão dançando ao som de uma orquestra ao vivo, que tocou clássicos americanos, bem como alguns chorinhos.
Gabriela que adora música antiga, adorou!
Os hóspedes do hotel, ao verem um casal com uma diferença tão grande de idade, admiraram-se.
Mais tarde, ao descobrirem que se tratava do dono do hotel e sua neta, refizeram-se do espanto, e chegaram até a cumprimentar Gabriela.

Nisso, horas depois, ao voltar para seu quarto, felicíssima, Gabriela agradeceu pelo passeio.
Exausta, colocou uma camisola e foi dormir no colchão de molas macio, do hotel.
Também, cobriu-se com o edredom de malha e dormiu.

No dia seguinte, levantou-se da cama, tomou um banho rápido, vestiu-se e, novamente acompanhada de seu avô, foi tomar o café da manhã.
Quanta fartura!
Pães, das mais variadas formas, recheios e sabores.
Doces e salgados, quentes ou frios.
Frios, de toda espécie: salames, queijos, presuntos, biscoitinhos, iogurtes, leite, sucos, tortas, ovos mexidos, etc.
Um deleite para o paladar.
Gabriela mal sabia por onde começar.
Foi quando seu avô disse:
-- Experimente um pouco de tudo.
Ávida, até sonhos experimentou.
Uma conhecida hóspede ao avistar o dono do hotel, comentou:
-- É impossível manter a linha com tantas gostosuras!
Orlando concordou.

Após, o café da manhã, Gabriela fez uma caminhada.
Desta vez sozinha, pegou um cavalo e foi até a cachoeira.
Lá mergulhou, banhou-se e brincou nas águas até as 11:30.
Depois, voltou ao hotel, trocou-se e foi visitar o avô, no prédio da administração.
Como era de se esperar, ao lá chegar, conhecida que era de todos, foi fartamente cumprimentada.
Atento com trabalho, Orlando mal percebeu a entrada da neta.
Gabriela então, esperou ser notada.
Quando percebeu, Orlando comentou:
-- Ah! sua matreira! Pensou que eu não iria percebê-la?
Gabriela sorriu e começou que já era quase hora do almoço.
Orlando ao olhar no relógio, concordou.
Mas dizendo que tinha que terminar de analisar um relatório, perguntou se ela poderia esperá-lo.
Gabriela concordou em esperá-lo.
E assim, cerca de quarenta minutos depois, os dois saíram juntos para almoçar.
Neste almoço, ao contrário das refeições anteriores, os dois almoçaram num restaurante de comida self-service.
Com mais variedade e com comida igualmente deliciosa a do restaurante à la carte, do dia anterior.
Diante da variada do cardápio, Gabriela comeu arroz, peixes, carnes, frutos do mar, salmão, verduras, legumes, batatas, enfim, tudo o que tinha direito.
Comeu tanto, que precisou dispensar a sobremesa, igualmente variada. Eram pavês, bolos, tortas, mouses, sorvetes, docinhos e pudins.
Orlando, ao ver que Gabriela não havia pego nenhuma sobremesa, insistiu:
-- Coma meu bem! Coma mais um bocadinho! Você está tão magrinha!
Mais Gabriela estava satisfeita.

Em seguida, despedindo-se do avô, voltou para o quarto.
Lá ficou assistindo os canais a cabo, na televisão do quarto.
Afinal de contas, precisava também, manter-se informada sobre o que estava acontecendo fora dos muros do hotel.
Mais tarde foi aproveitar a piscina do hotel.
Como ainda era dia claro e o sol estava convidativo, Gabriela preferiu banhar-se numa das piscinas ao lado dos prédios.
Deslumbrada, enquanto nadava, mergulhava, enfim, se esbaldava, podia se admirar com a bela paisagem que se descortinava ante seus olhos.
A certa altura, sentou-se numas das cadeiras próximas a piscina e pediu um suco de laranja.
Nisso, verificando que precisava passar novamente o filtro solar, abriu o frasco que estava dentro de uma bolsinha de palha que trazia consigo e começou a espalhar o produto pelo corpo.
Enquanto se ocupava em proteger-se do sol, um senhor de cerca de trinta e poucos anos, que passava por ali, decidiu mergulhar na piscina.
Resolvido, retirou a bermuda, a regata, e caiu na piscina, espalhando água para todos os lados.
Gabriela que estava passando filtro solar perto da piscina, ficou toda molhada.
O homem, ao perceber que a havia molhado, pediu rapidamente desculpas e começou a nadar.
Gabriela ficou perplexa. Irritada, continuou aplicando o produto no corpo.
Quando finalmente o garçom trouxe o suco de laranja, que ela havia pedido, comentou:
-- Não é por nada não. Mas que sujeito idiota!
Gabriela riu.
-- Deixa pra lá! Tem gente que é espírito de porco mesmo! O importante é não estragar seu dia por conta disso. – insistiu o garçom.
-- Tem toda a razão! ... Quer saber de uma coisa? Vou tomar um lanche que eu estou morrendo de fome. – comentou Gabriela.
Nisso, pegou a taça com suco de laranja, bebeu-o e, despedindo-se do garçom, comentou que mais tarde voltaria para aproveitar mais um pouco a piscina.
Quando caminhava em direção ao prédio principal, foi interrompida por seu avô.
Orlando, trajando camisa florida; bermuda e chinelos de couro, buscava Gabriela para tomar um regalado lanche da tarde com ele.
Num dos Centros de Convenções do hotel, fora montada uma enorme mesa, repleta de iguarias.
Havia sucos variados, com laranja, acerola, uva, maracujá, caju.
Doces de coco, brigadeiro, biscoitinhos finos, chocolates, entre outros.
Salgadinhos variados, coxinhas, rissoles, mini-kibes, e até mini-lanches, mini-cachorros quentes, etc.
Obviamente, além deles, ali estavam inúmeros convidados de Orlando.
Eram empresários, comerciantes, enfim, pessoas ligadas ao ramo de turismo e hotelaria que estavam conhecendo um pouco da hospitalidade do anfitrião.
É, Seu Orlando não costuma brincar em serviço.
Disposto a divulgar melhor o hotel, costumava dizer que aquele era o empreendimento maior de sua vida. A realização de um sonho.
Esperto, enquanto agradava a neta, não perdia a oportunidade de realizar um ótimo negócio.
Enfim, estava feliz.

Nisso, o estranho que havia molhado Gabriela chamou o garçom e pediu um suco de uva.
Antunes, um tanto incomodado com o sujeito, depois de algum tempo, levou o suco para o homem.
Flávio, que estava morrendo de sede, agradeceu e começou a beber.
Percebendo que o garçom o encarava, depois de terminar de beber o suco de uva, resolveu se aproximar. Incomodado com a atitude do rapaz, perguntou se havia algum problema.
Constrangido, o rapaz respondeu que não.
Flávio porém insistindo, comentou que não gostava quando as pessoas olhavam torto para ele. Ainda mais uma pessoa que nem sequer conhecia.
Irritado, Antunes respondeu então, que ele era muito folgado.
-- Folgado, por que, posso saber? – perguntou o homem irritado.
-- Folgado e sem educação! Onde já se viu entrar na piscina daquele jeito! Você sabia que molhou a moça?
-- Mas eu pedi desculpas. Não viu?
-- Não vi e nem quero saber disso. Acontece que ...
Nisso, apareceu um outro garçom que, percebendo a discussão, chamou Antunes para ajudá-lo.
Flávio então, percebendo a intervenção do funcionário, retirou-se.

Antunes notou então, que levaria uma severa bronca por haver discutido com um hóspede do hotel.
Mesmo assim, tentou argumentar demonstrando que tinha razão em discutir com o homem.
Aléssio porém, comentou:
-- Não interessa quem tinha ou não tinha razão. Você não é pago para discutir com os hóspedes. Mais uma dessas e você não trabalha mais aqui, sabia? Nunca ouviu que o freguês tem sempre razão? Aqui no hotel não é diferente. E tem mais, vai se preparando por que isto certamente vai chegar aos ouvidos de Seu Orlando e aí, meu caro, as coisas não vão ficar nada boas para você. Pode escrever o que eu digo! A sua batata está assando!
Antunes tremeu na base.

Gabriela, então se esbaldou com os comes e bebes.
Enquanto se deliciava com a variedade de quitutes, alguns empresários foram conversar com a moça. Queriam saber o achava do lugar.
Gabriela comentou que adorava passar as férias ali, longe dos problemas e dos aborrecimentos. Também adorava a companhia de seu avô.

Depois do regalado repasto, Gabriela foi dar um passeio a pé pelo hotel.
Ainda com seu biquíni, teve o desprazer de encontrar o sujeito que a molhara, pelo caminho.
Ao perceber que o mesmo vinha a seu encontro, Gabriela deu meia-volta e caminhou em direção a seu quarto.
Aborrecida, entrou no chuveiro, tomou um banho e trocou de roupa.
Vestiu uma calça jeans, uma blusa branca e calçou uma bota preta de cano curto.
Foi então que abriu a porta do quarto e dirigiu-se a varanda. A tarde estava linda!
Encantada, ficou a admirar o pôr-do-sol, com suas cores amareladas, laranjas. Até o escurecer completo.
Gabriela só deixou de lado sua contemplação, quando ouviu uma cantoria.
Curiosa, saiu do quarto e foi ao encontro da música.
Com isso, na entrada do prédio principal, estava seu avô e um grupo de violeiros, cantando músicas tradicionais do cancioneiro popular brasileiro.
Gabriela, que já havia presenciado algumas dessas manifestações culturais no hotel de seu avô, parou mais uma vez para ouvir.
Nisso, conforme a música se espalhava pelo ambiente, mais e mais pessoas paravam para ouvir.
Animados, os violeiros cantaram “Luar do Sertão”, modinhas de violas, músicas de roda, etc.
As pessoas, encantadas, não paravam de aplaudir.
Flávio, que passeava pelo hotel, estacou diante da entrada do hotel, ao ouvir a cantoria.
Gabriela, distraída, não percebeu.
Orlando, feliz da vida, voltava no tempo.
Animado com aquele reencontro com o passado, comentou com a neta que sua família era original do sul do Brasil. Que já morara em um sítio, sendo filho de colonos.
Todavia, muito embora seu pai tenha fixado residência, seus ancestrais, gostavam de longas viagens. Viagens essas em que negociavam a venda de animais. Eram tropeiros.
Interessada na história, Gabriela pediu ao avô, que depois do jantar contasse a história da origem da família.
Orlando, contente por haver despertado o interesse da neta, prometeu que o faria.
Nisso a cantoria continuou.

Mais tarde, Gabriela e Orlando se dirigiram a um dos restaurantes do hotel e se deliciaram mais uma vez, com a variedade de pratos.
Havia arroz branco, à grega, ao forno, risotos, macarrão com molho branco, molho de tomate, massas variadas, carnes, frango, peixes, caldos.
Além é claro das inúmeras sobremesas: pudins, tortas, bolos, biscoitinhos, docinhos, petit gateau, etc.
Gabriela comeu regaladamente.
A noite estava alegre, e todos brindaram a bela lua.
Quanto aos cantadores, os mesmos ficaram hospedados em alguns dos quartos do hotel.
Flávio, que ficara observando Gabriela durante a apresentação dos cantadores, resolveu se aproximar.
A moça ao perceber isto, tentou chamar o avô para uma caminhada.
Como o sistema de iluminação do hotel era bom, não haveria problema nenhum em os dois caminharem por lá à noite.
Orlando porém distraído que estava, não percebeu a intenção da neta.
Foi o bastante para o estranho se aproximar.
Dizendo que precisava pedir desculpas a Gabriela, comentou com Orlando, que havia sido advertido por um funcionário sobre seu mal comportamento.
Orlando então, tentando compreender o que se passava, pediu explicações.
Flávio apresentou-se então, e comentando que havia jogado água sem querer na moça, pediu novamente desculpas.
Orlando, impressionado com a atitude do rapaz, convidou-o para um café.

Nisto, diante do convite, lá estava o rapaz cumprimentando Orlando.
Com isto, lá se foram os três para o restaurante tomar um café antes de dormirem. Como havia apresentação de cantores, o restaurante ficava aberto até mais tarde.

Gabriela porém, não estava nem um pouco satisfeita com o encontro. Contrariada, fez menção de que pretendia voltar para seu quarto, mas Orlando pediu para que a neta permanecesse na mesa.
Sem alternativa, Gabriela permaneceu sentada à mesa.
E assim, Orlando e Flávio começaram a conversar.
De um lado, Orlando contando sobre todo o trabalho que tivera há mais de vinte anos para erguer o hotel, e de outro Flávio, comentando que era professor universitário e pesquisador.
Curioso Orlando perguntou:
-- Professor de quê?
-- De história.
Encantado, Orlando comentou que adorava história. Segundo ele, conhecer a origem das civilizações, a história dos povos, era uma forma de descobrir de onde viemos.
Flávio comentou então, que história, não é apenas uma descoberta do passado, mas também uma forma de se planejar o futuro.
Orlando, percebendo que a neta estava muito calada, insistiu para que a mesma dissesse alguma coisa, mas Gabriela desanimada, só sabia dizer que estava com sono.

Mais tarde, a sós com a neta, Orlando chamou-lhe a atenção.
Dizendo que ela não havia sido educada com o moço, comentou que ele não a havia molhado de propósito.
Gabriela, visando evitar conflitos, concordou com o avô.
Mas interessada que estava na história dos tropeiros, pediu para que seu avô contasse sobre o passado da família.
Orlando espantou-se:
-- Mas você não estava com sono?
Gabriela respondeu então, que só queria que aquele sujeito fosse embora.
-- Você quando quer, é igualzinha a sua mãe! – comentou Orlando.
No entanto, resolveu contar a história de seus ancestrais para a neta.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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