Poesias

Mostrando postagens com marcador Prosa Poética. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Prosa Poética. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de maio de 2021

AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 3

Retornando ao projeto de viagem de Gabriela.
A moça, após finalizar os preparativos da viagem, pegou o metrô, depois o trem.
Por fim, pegou um ônibus, onde desceu próxima a cidade onde está situado o hotel de seu avô, que já a aguardava.
De lá ambos foram de carro até o hotel do Seu Orlando.
Seu Orlando, como costuma ser chamado por seus funcionários, é dono de uma vasta propriedade na região metropolitana de São Paulo.
Hotel de alto padrão, lá costumam ficar hospedados, empresários, socialites, e pessoas de renome na sociedade.
Mas muito mais interessada em descansar por alguns dias em uma paisagem bucólica, do que ficar lado a lado com pessoas influentes, Gabriela queria apenas aproveitar o passeio.
Nisso, seu avô, homem ativo que é, foi dirigindo o carro e contando as novidades.
Disse que adquiriu novos cavalos, que possuía agora algumas charretes, e plantara mais algumas mudas de árvore. Também informou que comprou mais um terreno, pois pretende ampliar as instalações de seu hotel, e oferecer mais serviços aos seus clientes.
Animada Gabriela se admirou da disposição de seu avô em querer sempre progredir, e melhorar ainda mais o serviço do hotel, que ela já considerava excelente.
Mas Seu Orlando é perfeccionista.
-- Tudo o que eu fizer, ainda será pouco diante de toda esta concorrência.
-- Concorrência, vô! Não há tantos hotéis com o padrão de qualidade do Hotel Aquarela.
Mas Seu Orlando, costumava contestar estas afirmações dizendo que se queria prosperar no que fosse deveria estar sempre atento. Até por que, segundo o velho ditado: O segredo do sucesso é a eterna vigilância.
Por conta disso acompanhava atento aos balanços contábeis realizados, o trabalho dos funcionários, pedia sugestões e elogiava sempre um trabalho bem feito. Por este motivo era bastante querido por seu corpo de funcionários.

Nisto, Gabriela aprecia a paisagem.
O trajeto até o hotel demora cerca de meia-hora.
Durante o trajeto, se depara o verde da paisagem, as árvores, as flores, os animais. Tudo bem diferente do dia-a-dia de sua cidade turbulenta e barulhenta.
Pensando nisso, lembrou-se de quantas saudades sentia, quando estava longe daquela paisagem querida, sua velha conhecida.
Seu Orlando ao perceber isso, perguntou:
-- Pensando na morte da bezerra?
-- Não vô! Só estou pensando na saudade que vou sentir, quando tiver que ir embora deste lugar.
-- Ora Gabriela! Deixe disso, nem bem chegou e já está pensando em ir embora? Ora, não se preocupe com isso! As férias são longas!
Gabriela então concordou.

Nisso, ao chegar, Gabriela se depara com a entrada imponente do hotel, e com a sempre presente gentileza dos funcionários.
Logo na entrada do hotel, qual não foi sua surpresa ao notar que muitas das mudas plantadas por seu avô nas férias passadas, já estavam grandes, viçosas e produzindo lindas e coloridas flores. Violetas, azáleas, rosas, margaridas, gérberas, entre tantas outras.
Uma beleza!
Pareciam dar boas vindas a nova hóspede do hotel.
Sim, por que adentrar o hotel era um espetáculo à parte. Enquanto seguia em direção ao paraíso, Gabriela podia, admirar os campos de golfe, os jardins, o pomar repleto de frutas e flores, as árvores frondosas, um pequeno lago ao longe, o som do trote de alguns cavalos.
Animado, seu Orlando leva a neta até as cocheiras para mostrar os novos animais recém-adquiridos.
Gabriela elogiou a beleza dos animais.
Orgulhoso da aquisição, Orlando informou que adquiriu os animais, em um leilão, no interior do estado.
Nesta oportunidade, também aproveitou para mostrar a neta, as charretes. Uma mais bonita que a outra.
Ao notar a admiração de sua neta, comentou que eram muito antigas.
Gabriela então, ficou ainda mais admirada.
Seu Orlando, percebendo isto, prometeu que mais tarde a levaria para fazer um passeio de charrete.

Com isto, depois de cumprimentar alguns funcionários, os dois voltaram para o carro. E assim, prosseguiram no caminho de flores, árvores belíssimas, campos verdejantes.
A certa altura, aproximaram-se de um dos inúmeros lagos do hotel.
Gabriela pediu então para descer do carro. Queria molhar os pés na água.
Seu Orlando concordou.
Gabriela então caminhou por entre gramíneas e flores, tirou sua bota de cano curto, as meias, e mergulhou os pés na água fria.
Feliz por estar de volta àquele lugar tão bonito, brincou de jogar água para cima.

Depois de alguns minutos, seu avô chamou-a.
Era tarde. Precisava levar as malas da neta para o quarto e providenciar o almoço, já que era 11:30.
Gabriela então, calçou novamente as botas e entrou novamente dentro do carro.
Assim, depois de algum tempo, dirigiram-se a recepção do hotel.
Como já estava tudo combinado, Gabriela só precisou preencher uma ficha, que os funcionários do hotel se encarregariam de levar as malas para seu quarto.
Quando, minutos depois, se instalou no amplo e luxuoso quarto, Gabriela se estirou na cama de casal com colchão de mola, e disse:
-- É essa vida que eu queria ter!
Minutos depois, um funcionário, devidamente uniformizado, trouxe sua bagagem.
Gabriela agradeceu.
Abriu o frigobar e bebeu um pouco de água.
Após, saiu do quarto, indo encontrar-se com seu avô que a esperava para o almoço.

Como seu Orlando sabia que a neta gostava de lagosta, mandou preparar um prato desta fina iguaria, especialmente para ela.
Gabriela, ao ver a suculenta lagosta em seu prato, ficou felicíssima.
-- Obrigada, vô! Só o senhor mesmo para me proporcionar momentos tão maravilhosos assim!
Disse isto e abraçou seu avô.
Nisto, começaram a comer.
E muito embora não fosse costume de Gabriela comer lagosta, comeu-a com a maior destreza.
Isto por que, em férias anteriores, seu avô aproveitando as mesas dos quartos, pediu para que o chefe de uma das cozinhas do hotel, providenciasse um prato à base de lagostas, para ser levado para o quarto onde sua neta estava hospedada. Lá mesmo, ensinou como comer o crustáceo que tanto pedia para experimentar.
Não foi difícil.
Com um pouco de treino Gabriela se tornou uma experta em lagostas, e frutos do mar.
De tão educada, alguns hospedes, quando descobriam que se tratava da neta do Seu Orlando, tratavam logo de cumprimentá-lo.
Diziam:
-- Que boa educação o senhor proporciona para sua neta! Não são todos os jovens que possuem uma postura tão elegante à mesa.
Orlando, que sabia da boa vontade da neta, agradecia os elogios e dizia que Gabriela iria longe.
Todos concordavam.

Animado com a visita da neta, Orlando brindou o almoço com um bom vinho branco.
Como sobremesa, foram servidas mouse de maracujá e sorvete quente.
Gabriela regalou-se com as sobremesas.

Mais tarde, Orlando propôs fazer uma cavalgada.
Gabriela concordou.
No passeio apreciou as flores, a moça encantou-se com a flor roxa do maracujá, com os lírios, os beija-flores, as árvores, com o trotar elegante dos cavalos.
Animada, caminhou até um outro lago existente no hotel, onde viu de longe uma cachoeira.
Acompanhada pelo avô, cavalgou por quase duas horas. Queria matar as saudades daquele que era um lugar tão querido para ela.
Para Gabriela, o hotel de seu avô, era um lugar de lembranças felizes, de festas, realizadas no imponente salão de festas do hotel.
Era o lugar ideal para cantorias, modas de violas, serestas.
Lembrou-se dos bailes de carnaval, que aconteceram no local, das festas juninas, e até de um casamento!
Sim, um lindo casamento de um filho de um político da região, ocorrido no local.
O luxuoso casamento, com direito a lagosta com prato principal, foi o acontecimento do ano.
A noiva, vestida com um luxuoso vestido branco, bordado com cristais delicados, luvas brancas e o cabelo praticamente todo solto, estava belíssima.
O noivo também estava impecável.
A festa, com uma pequena orquestra de músicos – contratados da Orquestra Sinfônica do município, tocou até de madrugada.
O coreto da praça principal do hotel, foi todo ornamentado com flores da estação.
A igreja do hotel foi o cenário da cerimônia, e o coreto, o local de onde a noiva jogou seu buquê.
Na festa, estava toda a imprensa, não só da cidade, mas de toda a região.

Margarida, quando ouviu os comentários da filha, sobre a referida festa de casamento, achou tudo de um provincianismo absurdo.
Decepcionada com a atitude da mãe, Gabriela comentou que nunca mais contaria para ela, detalhes de suas estadas no hotel.
Margarida então retrucou dizendo que este era o resultado da convivência com Orlando, o qual adorava jogar a filha contra a mãe.
Gabriela ao ouvir isto, ficou chocada.
Isto por que, seu avô, mesmo não simpatizando com Margarida, nunca fez qualquer comentário desabonador a este respeito.
Enfim, Margarida era uma pessoa, difícil de se lidar.

Mas voltando ao passeio.
Gabriela, enquanto cavalgava, comentava com seu avô sobre estas lembranças, e de como estava difícil conversar com sua mãe, nos últimos tempos.
Desejosa de cursar história, a moça não sabia como convencer sua mãe que o curso de direito não era a solução para ela.
Sim, Margarida era uma pessoa difícil. Acostumada a interferir sempre na vida de Gabriela, acabava por se distanciar da filha.
Seu Orlando, que não concordava com a atitude da nora, tentou inúmeras vezes, intervir a favor da neta.
Tentando convencer Margarida, dizia que a vocação da neta era para a área de história.
Margarida retrucava então, dizendo que se Gabriela gostava tanto de história era por conta das influências dele, que não se cansava de contar histórias fantasiosas e imaginosas sobre o passado da família.
Orlando ao ouvir estas palavras duras e levianas, retrucou dizendo que nunca mentira para sua neta.
Com isto, se nota que sempre que tentava ajudar Gabriela, era repelido por Margarida, a qual dizia saber o que era melhor para a filha.
Aliás, incomodada com a interferência de Orlando, Margarida sempre procurava colocar obstáculos na aproximação dos dois.
Gabriela porém, não aceitava a intromissão de sua mãe. Enfrentava-a. Por isso sempre visitava seu avô nas férias.
Desta forma, Orlando, ao perceber a angústia de Gabriela, prometeu que faria o possível para convencer Margarida a mudar de idéia, muito embora soubesse que seria praticamente impossível fazê-la mudar de atitude.
Gabriela concordou.
Nisso, voltaram para o hotel.

Gabriela mesmo acostumada com o lugar, sempre se admirava da imponência do empreendimento de seu avô. Os três prédios – em estilo neoclássico – que compunham o hotel, eram divididos em três setores. O primeiro, era o setor social, sendo que no prédio principal está a recepção, duas lanchonetes, um barzinho, três restaurantes, sala de computadores, lojas, três salas e cerca de cinqüenta suítes, além de um átrio, e uma entrada com pedriscos e flores.
Nos outros dois prédios, estão as outras oitenta suítes, mais duas salas e um outro barzinho – em cada um.

Entre os prédios de estilo neo-clássico, estão as piscinas e a uma churrasqueira.

Próximo dali estão os três Centros de Convenções do hotel e o clube, com piscina coberta, quadra poliesportiva, academia de ginástica com três ambientes e banheiros, sauna, spa – com duas salas de massagens e templo de meditação, salão de jogos – bar, um salão de dança, átrio, teatro, cinema e dois salões de festa.
Tem também a igreja do hotel, imponente.
Logo a praça principal com o coreto. Ao redor do hotel havia ainda mais duas praças, e um parque para as crianças brincarem.

Gabriela percebeu algumas mudanças.
Orlando comentou então, que no chafariz da praça principal, resolveu colocar alguns objetos para atrair os pássaros. Gostava da algazarra dos pardais. Fazia se lembrar de seu tempo de garoto, quando morava em um sítio, e seu pai era um colono.

Mais ao fundo, em outro prédio neoclássico, estava seu escritório e a administração do hotel.
Ao longo do passeio, Gabriela avistou as duas quadras de tênis, a quadra de vôlei, de basquete e a de futebol – sempre bastante utilizadas.

Seu Orlando pegou um carrinho e conduziu a neta até um dos dois campos de golfe do hotel.
Mais tarde levou a neta novamente para as cocheiras e conduziu-a num passeio de charrete, até os lagos e pastagens do hotel.
Juntos, os dois passearam por algumas trilhas que haviam no lugar.
Acomodada na charrete, Gabriela comentou com seu avô se sentia como uma viajante no tempo.
Seu Orlando, ao ouvir o comentário da neta, relatou que já utilizou muito este tipo de transporte quando era garoto. Dizendo que automóvel era artigo raro em seu tempo de criança, revelou que trazer as charretes para o hotel foi o capricho de um velho desejoso de se reencontrar com suas origens.
Gabriela ficou comovida com o relato.
Enfim, mal podia acreditar que estava em férias nos domínios do avô.

No passeio, os dois se aproximaram de alguns chalés.
Estas instalações com sala, cozinha, banheiro e quarto.
Pequeninas, mas aconchegantes construções neo-coloniais.
Feliz, seu Orlando comentou que o hotel estava dando muito lucro.
Por esta razão se animou a comprar mais um terreno, pois pretende expandir o hotel.

Mais tarde, os dois se dirigiram a uma das lanchonetes e comeram um suculento lanche, com suco de laranja e batatas fritas.
Orlando parecia uma criança ao lado da neta.
Nem mesmo quando tratava os funcionários com gentileza, conseguia ser tão descontraído.

Mais tarde, Gabriela colocou um biquíni e foi aproveitar o cair da tarde, para mergulhar na piscina aquecida e coberta do hotel.
Animada, brincou nas águas quentes durante longas horas.
Nadou, mergulhou, brincou com as crianças que estavam no local...
Enfim, se divertiu a valer.
Quando marcou dezenove horas, seu Orlando, apareceu no clube para chamá-la. Era hora de se arrumar para o jantar.

Gabriela dirigiu-se então a seu quarto, tomou um banho de ducha, colocou um belo vestido frente única estampado, arrumou os cabelos compridos e foi de braços dados com seu avô, até um dos restaurantes do hotel.
No jantar foi servida uma saborosa paella.
Gabriela adorou o repasto.
Novamente tomou vinho, e como sobremesa uma torta de chocolate.
Mais tarde, os dois foram vistos dançando no salão de danças.
Juntos riscaram o salão dançando ao som de uma orquestra ao vivo, que tocou clássicos americanos, bem como alguns chorinhos.
Gabriela que adora música antiga, adorou!
Os hóspedes do hotel, ao verem um casal com uma diferença tão grande de idade, admiraram-se.
Mais tarde, ao descobrirem que se tratava do dono do hotel e sua neta, refizeram-se do espanto, e chegaram até a cumprimentar Gabriela.

Nisso, horas depois, ao voltar para seu quarto, felicíssima, Gabriela agradeceu pelo passeio.
Exausta, colocou uma camisola e foi dormir no colchão de molas macio, do hotel.
Também, cobriu-se com o edredom de malha e dormiu.

No dia seguinte, levantou-se da cama, tomou um banho rápido, vestiu-se e, novamente acompanhada de seu avô, foi tomar o café da manhã.
Quanta fartura!
Pães, das mais variadas formas, recheios e sabores.
Doces e salgados, quentes ou frios.
Frios, de toda espécie: salames, queijos, presuntos, biscoitinhos, iogurtes, leite, sucos, tortas, ovos mexidos, etc.
Um deleite para o paladar.
Gabriela mal sabia por onde começar.
Foi quando seu avô disse:
-- Experimente um pouco de tudo.
Ávida, até sonhos experimentou.
Uma conhecida hóspede ao avistar o dono do hotel, comentou:
-- É impossível manter a linha com tantas gostosuras!
Orlando concordou.

Após, o café da manhã, Gabriela fez uma caminhada.
Desta vez sozinha, pegou um cavalo e foi até a cachoeira.
Lá mergulhou, banhou-se e brincou nas águas até as 11:30.
Depois, voltou ao hotel, trocou-se e foi visitar o avô, no prédio da administração.
Como era de se esperar, ao lá chegar, conhecida que era de todos, foi fartamente cumprimentada.
Atento com trabalho, Orlando mal percebeu a entrada da neta.
Gabriela então, esperou ser notada.
Quando percebeu, Orlando comentou:
-- Ah! sua matreira! Pensou que eu não iria percebê-la?
Gabriela sorriu e começou que já era quase hora do almoço.
Orlando ao olhar no relógio, concordou.
Mas dizendo que tinha que terminar de analisar um relatório, perguntou se ela poderia esperá-lo.
Gabriela concordou em esperá-lo.
E assim, cerca de quarenta minutos depois, os dois saíram juntos para almoçar.
Neste almoço, ao contrário das refeições anteriores, os dois almoçaram num restaurante de comida self-service.
Com mais variedade e com comida igualmente deliciosa a do restaurante à la carte, do dia anterior.
Diante da variada do cardápio, Gabriela comeu arroz, peixes, carnes, frutos do mar, salmão, verduras, legumes, batatas, enfim, tudo o que tinha direito.
Comeu tanto, que precisou dispensar a sobremesa, igualmente variada. Eram pavês, bolos, tortas, mouses, sorvetes, docinhos e pudins.
Orlando, ao ver que Gabriela não havia pego nenhuma sobremesa, insistiu:
-- Coma meu bem! Coma mais um bocadinho! Você está tão magrinha!
Mais Gabriela estava satisfeita.

Em seguida, despedindo-se do avô, voltou para o quarto.
Lá ficou assistindo os canais a cabo, na televisão do quarto.
Afinal de contas, precisava também, manter-se informada sobre o que estava acontecendo fora dos muros do hotel.
Mais tarde foi aproveitar a piscina do hotel.
Como ainda era dia claro e o sol estava convidativo, Gabriela preferiu banhar-se numa das piscinas ao lado dos prédios.
Deslumbrada, enquanto nadava, mergulhava, enfim, se esbaldava, podia se admirar com a bela paisagem que se descortinava ante seus olhos.
A certa altura, sentou-se numas das cadeiras próximas a piscina e pediu um suco de laranja.
Nisso, verificando que precisava passar novamente o filtro solar, abriu o frasco que estava dentro de uma bolsinha de palha que trazia consigo e começou a espalhar o produto pelo corpo.
Enquanto se ocupava em proteger-se do sol, um senhor de cerca de trinta e poucos anos, que passava por ali, decidiu mergulhar na piscina.
Resolvido, retirou a bermuda, a regata, e caiu na piscina, espalhando água para todos os lados.
Gabriela que estava passando filtro solar perto da piscina, ficou toda molhada.
O homem, ao perceber que a havia molhado, pediu rapidamente desculpas e começou a nadar.
Gabriela ficou perplexa. Irritada, continuou aplicando o produto no corpo.
Quando finalmente o garçom trouxe o suco de laranja, que ela havia pedido, comentou:
-- Não é por nada não. Mas que sujeito idiota!
Gabriela riu.
-- Deixa pra lá! Tem gente que é espírito de porco mesmo! O importante é não estragar seu dia por conta disso. – insistiu o garçom.
-- Tem toda a razão! ... Quer saber de uma coisa? Vou tomar um lanche que eu estou morrendo de fome. – comentou Gabriela.
Nisso, pegou a taça com suco de laranja, bebeu-o e, despedindo-se do garçom, comentou que mais tarde voltaria para aproveitar mais um pouco a piscina.
Quando caminhava em direção ao prédio principal, foi interrompida por seu avô.
Orlando, trajando camisa florida; bermuda e chinelos de couro, buscava Gabriela para tomar um regalado lanche da tarde com ele.
Num dos Centros de Convenções do hotel, fora montada uma enorme mesa, repleta de iguarias.
Havia sucos variados, com laranja, acerola, uva, maracujá, caju.
Doces de coco, brigadeiro, biscoitinhos finos, chocolates, entre outros.
Salgadinhos variados, coxinhas, rissoles, mini-kibes, e até mini-lanches, mini-cachorros quentes, etc.
Obviamente, além deles, ali estavam inúmeros convidados de Orlando.
Eram empresários, comerciantes, enfim, pessoas ligadas ao ramo de turismo e hotelaria que estavam conhecendo um pouco da hospitalidade do anfitrião.
É, Seu Orlando não costuma brincar em serviço.
Disposto a divulgar melhor o hotel, costumava dizer que aquele era o empreendimento maior de sua vida. A realização de um sonho.
Esperto, enquanto agradava a neta, não perdia a oportunidade de realizar um ótimo negócio.
Enfim, estava feliz.

Nisso, o estranho que havia molhado Gabriela chamou o garçom e pediu um suco de uva.
Antunes, um tanto incomodado com o sujeito, depois de algum tempo, levou o suco para o homem.
Flávio, que estava morrendo de sede, agradeceu e começou a beber.
Percebendo que o garçom o encarava, depois de terminar de beber o suco de uva, resolveu se aproximar. Incomodado com a atitude do rapaz, perguntou se havia algum problema.
Constrangido, o rapaz respondeu que não.
Flávio porém insistindo, comentou que não gostava quando as pessoas olhavam torto para ele. Ainda mais uma pessoa que nem sequer conhecia.
Irritado, Antunes respondeu então, que ele era muito folgado.
-- Folgado, por que, posso saber? – perguntou o homem irritado.
-- Folgado e sem educação! Onde já se viu entrar na piscina daquele jeito! Você sabia que molhou a moça?
-- Mas eu pedi desculpas. Não viu?
-- Não vi e nem quero saber disso. Acontece que ...
Nisso, apareceu um outro garçom que, percebendo a discussão, chamou Antunes para ajudá-lo.
Flávio então, percebendo a intervenção do funcionário, retirou-se.

Antunes notou então, que levaria uma severa bronca por haver discutido com um hóspede do hotel.
Mesmo assim, tentou argumentar demonstrando que tinha razão em discutir com o homem.
Aléssio porém, comentou:
-- Não interessa quem tinha ou não tinha razão. Você não é pago para discutir com os hóspedes. Mais uma dessas e você não trabalha mais aqui, sabia? Nunca ouviu que o freguês tem sempre razão? Aqui no hotel não é diferente. E tem mais, vai se preparando por que isto certamente vai chegar aos ouvidos de Seu Orlando e aí, meu caro, as coisas não vão ficar nada boas para você. Pode escrever o que eu digo! A sua batata está assando!
Antunes tremeu na base.

Gabriela, então se esbaldou com os comes e bebes.
Enquanto se deliciava com a variedade de quitutes, alguns empresários foram conversar com a moça. Queriam saber o achava do lugar.
Gabriela comentou que adorava passar as férias ali, longe dos problemas e dos aborrecimentos. Também adorava a companhia de seu avô.

Depois do regalado repasto, Gabriela foi dar um passeio a pé pelo hotel.
Ainda com seu biquíni, teve o desprazer de encontrar o sujeito que a molhara, pelo caminho.
Ao perceber que o mesmo vinha a seu encontro, Gabriela deu meia-volta e caminhou em direção a seu quarto.
Aborrecida, entrou no chuveiro, tomou um banho e trocou de roupa.
Vestiu uma calça jeans, uma blusa branca e calçou uma bota preta de cano curto.
Foi então que abriu a porta do quarto e dirigiu-se a varanda. A tarde estava linda!
Encantada, ficou a admirar o pôr-do-sol, com suas cores amareladas, laranjas. Até o escurecer completo.
Gabriela só deixou de lado sua contemplação, quando ouviu uma cantoria.
Curiosa, saiu do quarto e foi ao encontro da música.
Com isso, na entrada do prédio principal, estava seu avô e um grupo de violeiros, cantando músicas tradicionais do cancioneiro popular brasileiro.
Gabriela, que já havia presenciado algumas dessas manifestações culturais no hotel de seu avô, parou mais uma vez para ouvir.
Nisso, conforme a música se espalhava pelo ambiente, mais e mais pessoas paravam para ouvir.
Animados, os violeiros cantaram “Luar do Sertão”, modinhas de violas, músicas de roda, etc.
As pessoas, encantadas, não paravam de aplaudir.
Flávio, que passeava pelo hotel, estacou diante da entrada do hotel, ao ouvir a cantoria.
Gabriela, distraída, não percebeu.
Orlando, feliz da vida, voltava no tempo.
Animado com aquele reencontro com o passado, comentou com a neta que sua família era original do sul do Brasil. Que já morara em um sítio, sendo filho de colonos.
Todavia, muito embora seu pai tenha fixado residência, seus ancestrais, gostavam de longas viagens. Viagens essas em que negociavam a venda de animais. Eram tropeiros.
Interessada na história, Gabriela pediu ao avô, que depois do jantar contasse a história da origem da família.
Orlando, contente por haver despertado o interesse da neta, prometeu que o faria.
Nisso a cantoria continuou.

Mais tarde, Gabriela e Orlando se dirigiram a um dos restaurantes do hotel e se deliciaram mais uma vez, com a variedade de pratos.
Havia arroz branco, à grega, ao forno, risotos, macarrão com molho branco, molho de tomate, massas variadas, carnes, frango, peixes, caldos.
Além é claro das inúmeras sobremesas: pudins, tortas, bolos, biscoitinhos, docinhos, petit gateau, etc.
Gabriela comeu regaladamente.
A noite estava alegre, e todos brindaram a bela lua.
Quanto aos cantadores, os mesmos ficaram hospedados em alguns dos quartos do hotel.
Flávio, que ficara observando Gabriela durante a apresentação dos cantadores, resolveu se aproximar.
A moça ao perceber isto, tentou chamar o avô para uma caminhada.
Como o sistema de iluminação do hotel era bom, não haveria problema nenhum em os dois caminharem por lá à noite.
Orlando porém distraído que estava, não percebeu a intenção da neta.
Foi o bastante para o estranho se aproximar.
Dizendo que precisava pedir desculpas a Gabriela, comentou com Orlando, que havia sido advertido por um funcionário sobre seu mal comportamento.
Orlando então, tentando compreender o que se passava, pediu explicações.
Flávio apresentou-se então, e comentando que havia jogado água sem querer na moça, pediu novamente desculpas.
Orlando, impressionado com a atitude do rapaz, convidou-o para um café.

Nisto, diante do convite, lá estava o rapaz cumprimentando Orlando.
Com isto, lá se foram os três para o restaurante tomar um café antes de dormirem. Como havia apresentação de cantores, o restaurante ficava aberto até mais tarde.

Gabriela porém, não estava nem um pouco satisfeita com o encontro. Contrariada, fez menção de que pretendia voltar para seu quarto, mas Orlando pediu para que a neta permanecesse na mesa.
Sem alternativa, Gabriela permaneceu sentada à mesa.
E assim, Orlando e Flávio começaram a conversar.
De um lado, Orlando contando sobre todo o trabalho que tivera há mais de vinte anos para erguer o hotel, e de outro Flávio, comentando que era professor universitário e pesquisador.
Curioso Orlando perguntou:
-- Professor de quê?
-- De história.
Encantado, Orlando comentou que adorava história. Segundo ele, conhecer a origem das civilizações, a história dos povos, era uma forma de descobrir de onde viemos.
Flávio comentou então, que história, não é apenas uma descoberta do passado, mas também uma forma de se planejar o futuro.
Orlando, percebendo que a neta estava muito calada, insistiu para que a mesma dissesse alguma coisa, mas Gabriela desanimada, só sabia dizer que estava com sono.

Mais tarde, a sós com a neta, Orlando chamou-lhe a atenção.
Dizendo que ela não havia sido educada com o moço, comentou que ele não a havia molhado de propósito.
Gabriela, visando evitar conflitos, concordou com o avô.
Mas interessada que estava na história dos tropeiros, pediu para que seu avô contasse sobre o passado da família.
Orlando espantou-se:
-- Mas você não estava com sono?
Gabriela respondeu então, que só queria que aquele sujeito fosse embora.
-- Você quando quer, é igualzinha a sua mãe! – comentou Orlando.
No entanto, resolveu contar a história de seus ancestrais para a neta.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

EFLÚVIOS

De céu, sol, sal e brisa
Nuvens sobre as águas a pairar
Digo de sombras e de nuvens
Remanso onde o sol vem descansar
Abrigo de todas as belezas
Ó mar!

Em outras cercanias
Tardes em crepúsculo
A cair em cores por sobre as cidades
As quais percorro em minhas idas e vindas diárias

Urbanidades nem sempre humanas
Metrôs a percorrerem túneis iluminados,
A passarem por outros carros,
Caminhos curvos
E tudo poder se apreciar,
Por sua pequena janela frontal
Ao destino chegar

A flor da tela refletida na vidraça
Tempos escuros ainda se fazem anunciar
Até o dia aos poucos clarear
Computadores a ocuparem nossos dias
Com suas telas de flores, canções e fotos,
A reproduzirem as mil felicidades

Máquinas que comportam em seus bytes e megabytes,
Grande volume de trabalhos e informações
Mas também em alguns momentos,
Dão alento a imaginação
E assim a trabalhar, a pensar
O tempo passa, as horas passam
Novos momentos surgem

Como passeios em terras de brancas águas
Parque de construções magníficas,
E áreas para exposições de animais
Com galinhas e galos, além de pintainhos
A andarem livres por suas ruas pavimentadas,
A lembrar um singelo bairro,
Pacata cidade do interior!

Ali está o aquário, com suas carpas, piranhas, piavas
Entre vários tipos de bagres com seus bigodes
Sapos a habitarem um tanque
E outros peixes mais
Extensa pista redonda,
Com uma imponente construção ao fundo
Provavelmente utilizada para corridas,
E apresentações de animais
Amplo espaço circular, rodeado de cercas
Perto dali, um coreto, com banda de músicos a tocar
Construções, inúmeras construções circundadas de árvores

Em outro estremo, um mirante circular
Em um dos recantos do parque,
Um espaço estiloso e exclusivo para leituras
Com pequenos quiosques envidraçados,
E enfeitados de dizeres
Em outro,
Pergolados extensos, com tetos e abóbadas circulares
E as plantas a circundarem o local

De longe, um trenzinho colorido a circular,
Para alegria das crianças
Que passeiam pelo lugar
Museu de Mineralogia, e suas gemas, geodos,
Metais e pedras semipreciosas
Crânio, ossadas e fósseis de animais pré-históricos
A recordar-me de semelhante visita,
Ao Museu de Mineralogia de Congonhas do Campo
Na terra das minas gerais

Feira de produtos orgânicos na hora da xepa
Verduras e legumes, além de produtos naturais
Construções em tom amarelo, várias
Normandas
Ao lado do prédio onde fora realizada a feira,
Mesinhas e cadeiras, ao lado de barraca de madeira
Pessoas sentadas a conversar

A certa altura do parque, uma casinha de barro,
Com forno de barro
Tendo bancos do lado de fora,
E um violeiro a tocar,
Canções sertanejas
Pitoresca paisagem,
Inesquecível visão!

Praças passeios, com bancos em madeiras
Parques com brinquedos para as crianças brincarem
Barracas com seus vendedores e quitutes
Exposição de pinturas sobre o parque
Muitos prédios fechados

Antigo restaurante demolido
Tanques de água ao ar livre, com suas lindas carpas
Praça com bancos de madeira rústica, aparente,
Para os idosos sentarem
Também tem salão, para bailes da terceira idade
Sentar-se para comer e oferecer migalhas as galinhas
Farelos de pão
Aves, que avançam avidamente para o alimento
Estão em bando e uma delas, bica meu sapato

Ao término da refeição,
Fim do esperado passeio,
Hora de voltar para casa
Despedida desta que é a
Terra de encantos mil,
Próxima as terras de trabalho

Lindas aves, com suas caudas reluzentes
A rebrilharem em tons a lembrar o verde
Boas e gostosas impressões do lugar
Em que pesem alguns abandonos
Ainda assim, a tratar-se de aprazível lugar
Fico a pensar em como deve ser morar por lá
Atmosfera boa,
Repleta de sensações e impressões felizes
Emanações de satisfação
De desejo satisfeito, atendido

Espírito livre a contemplar,
A simplicidade das coisas singelas
Emanações de paz e contentamento
Eflúvios
Em todos os lugares para onde se olhar
Encantamento possível há
Basta apenas contemplar,
A beleza que reside da simplicidade
E nem sempre se importar,
Com a rudeza que nos cerca
E tampouco por ela, se deixar contaminar
Emanações só o bom e para o belo
Admirar e contemplar a beleza
Feliz ser!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.


CÉU IMAGINÁRIO

Fico eu a imaginar, como será
Imaginário céu dos despedidos desta vida terrena
Passeios paradisíacos a esperar
Eterna contemplação de um céu sem igual?
Creio que não

A vida eterna será muito mais que um eterno contemplar
O nada
As manifestações celestiais
O ir e vir de anjos, arcanjos e demais seres da hierarquia celeste
O toque de harpas
O ócio improdutivo
Veleidades, platitudes

Penso o céu ser muito mais que este céu imaginado
As religiões,
A ensinar uma existência perene em maravilhas
Será o céu mesmo assim?
Como será?

Constam em bíblicos ensinamentos
Que viemos do pó e ao pó retornaremos
Linguagem figurativa, repleta de significados
Volveremos a terra?
A nossa essência primal?

As crianças contemplam um céu de muitas formas
Acesso de helicóptero
Ou então, a conversar com São Pedro
Porteiro Celestial
A guardar as portas do céu
Imaginam ainda, um céu repleto de estrelas
O céu material, visto por quase todos

Dizem que São Pedro, quando zangado
Arrasta as celestes mobílias
Produzindo pavorosos estrondos
Crendices?

Será que aos nos despedirmos
Ó alma minha
Iremos encontrar queridos parentes?
Ou teremos que nos contentar com a eterna distância?
Oh, céus!
Quantas dúvidas!

Eu, por meu turno
Espero um céu diverso,
Não um lugar unicamente de contemplação
Com anjos e arcanjos, a percorrerem os planos superiores
A tocarem harpa
E os recém ingressos
Em eterna e ociosa contemplação
A admirar a beleza da hierarquia celeste
Sinto este céu
Deveras monótono

Creio eu, em um céu de maiores esclarecimentos
Sim passeios por lindos lugares
Exuberante natureza
Ainda mais dadivosa que a natura terrena
Flores e plantas em profusão
Lagos e rios, muito verde
Serenidade
Luz penetrante
Não somente a luz que ilumina ambientes
A luz também do saber
Do conhecimento e do entendimento

A fraternidade entre os povos
Não alcançada na terra
Finalmente encontrada nas esferas celestes
Judeus e muçulmanos no mesmo céu
Demais povos belicosos
A se cumprimentaram amavelmente
Inimigos mortais em outros tempos
A se abraçarem,
Irmanando-se em uma corrente de bons pensamentos.

A ausência de maus entendidos
Palavras mal ditas e incompreensões
Presença diuturna de palavras afáveis, amáveis
Tolerância
Respeito
Consideração

A aplicação prática
Do mais caro preceito
Respeitar ao próximo como a ti mesmo
E não fazer aos outros, o que não gostaríamos que fizessem a nós

Ó mundo terreno,
Tão carente de afeto e respeito
Como precisamos evoluir ainda

Como diz o poeta
Somos ainda diminutos
Pequenas partículas na imensidade do cosmos
Poeiras cósmicas dispersas pelo espaço
Poeira de estrelas
Grãos de areia na imensidade do mundo
Mundo, vasto mundo
Mundo, muito maior que o mundo que nos é dado ver

Somos todos irmãos
Pequenas parcelas de divindade
Pequenas deidades

Quando da criação deste pequeno mundo
Onde insertos estamos
Formas microscópicas de vida
A Terra, disforme planeta
Em ebulição, a abrigar elevadas temperaturas
Com pouca ou nenhuma forma de vida
Neste primeiro momento

A seguir, um gradativo resfriamento
As primeiras manifestações de vida
Resfriamento de magmas formas
Brutas, desenvolvimento do interior do firmamento
Em rico contraste
Formas frágeis, delicadas
A darem azo a criação de gigantescas criaturas
Devir, constante movimento
Mudança
Cataclismas
Crises, para darem ensejo a novas criações

Até que surgiu o homem
Rudimentar
Ser que aos poucos, evoluiu intelectualmente
Tristemente prescindindo do conhecimento espiritual
O alimento do espírito

Quantas tragédias
Brutalidade, violência
Falta de amor ao seu semelhante

Que pena!
O mundo é maravilhoso
A vida é bela
Tudo fora feito para nosso uso
Este poderia ser o nosso céu
Quem sabe um dia não será?

Se aqui estamos para evoluir
Espero os melhores votos
As idéias mais edificantes
No plano da concretude
O bem, materializado no coração de todos os homens
As crianças, as mulheres
Todos merecem amor e serem amados

A criança, causa inicial de grandes realizações
A se tornar esplendoroso adulto
Exercendo suas potencialidades
Nada de idéias de bem, a ser desperdiçadas em campos estéreis,
De vidas desperdiçadas, subaproveitadas
Todos a terem iguais oportunidades
A poderem se realizar enquanto seres humanos

Lindo este mundo
Espero que já esteja próximo
E que tenhamos a ventura de alcançá-lo

Afinal, se é verdade que o ser humano está condenado a eterna felicidade
Por que privá-lo momentaneamente disto?
Todos tem direito a sua parcela no quinhão da felicidade.

Todos tem como missão o mútuo entendimento
A fraternidade é um princípio universal
Elemento de manutenção de todas as coisas

Chega do espírito dominador
A lobrigar conquistas
A conquistar vasto império material
Impor-se a outros povos, outras culturas
Dizimações, eliminações de conhecimentos
Crueldades, atrocidades
O conhecimento não deve ser abrigo de poucos privilegiados
Deve ser compartido, dividido
O conhecimento elimina barreiras
Aproxima as pessoas, os povos
Elide desentendimentos
Apaga intolerâncias, afastas preconceitos
Em respeito ao conceito religioso
Amar-vos uns aos outros, como se fora a nós mesmos

Mas como amar alguém tão diferente a nós?
Tão refratário a aproximações e entendimentos?
Ainda não lobriguei descobrir a resposta
Com efeito, o caminho não importa
Contato que cheguemos ao esperado destino

Tudo é jornada para se chegar
A pretenso e elevado destino
Afinal, nascemos, crescemos, nos desenvolvemos
E depois do longo processo
Temos que nos despedir do mundo
Mundo material que nos serviu de abrigo
Morada temporária
Para com isto habitar um céu

Será um céu etéreo?
Qual sua matéria?
Fluídica?
Ou sem matéria?

Durante a jornada, seremos conduzidos por anjos,
Colaboradores celestiais?
Ou será a jornada, solitária?
Seremos bem amparados, bem acolhidos no seio do Senhor?
Quem nos receberá?
São Pedro, com suas chaves
A exigir a prestação de contas
Na contabilidade de nossos atos
Ou será o céu algo menos solene?

Creio que no céu existe contemplação
Belezas mil
Paz e harmonia
Mas existe também, trabalho
Lida diária, trabalho árduo
No caminho do bem

Imagino um céu repleto de conhecimento
Onde o saber é franqueado a todos
Não existindo barreiras ao entendimento
Feito de forma gradativa

Quem sabe não encontraremos
Grandes personalidades que contribuíram
Em grande forma
Para o desenvolvimento de nosso mundo material?
A ventura de discutir filosofia
Em verdes campos livres
Como nos tempos primeiros da disciplina na Terra
Quem sabe os grandes mestres a nos ensinar
Os preciosos conceitos doutrinários
A essência do que somos
Para onde iremos
Se aquele será nosso final destino
A causa primeira de todas as coisas

Sócrates, a demonstrar
Em toda a humildade de seu ser
Que não devemos ter a pretensão de nos julgarmos
Detentores de todo o conhecimento do mundo
Isto por que, por mais instruídos
Que sejamos, nada alcança a imensidão do universo
As causas primárias que deram origem
Ao cosmos e a todas as coisas que existem
Não devemos ignorar
Que o universo é maior que supomos
Formas diversas de vida
Desconhecidas por nós
Ocioso dizer que nada sabemos
Humildade é reconhecer-se ignorante das coisas do mundo

Platão a desvendar as sombras
De um mundo que nada mais era
Que nada mais é, que a incompleta tradução de um mundo ideal
Cópia imperfeita de um mundo de idéias perfeitas
Mundo de sombras
Fico eu, a imaginar a perfeição deste mundo ideal
Se a Terra, pálida cópia deste mundo
É pródiga em maravilhas
Natureza exuberante
Paisagens belíssimas
Geleiras azuladas,
Desertos imensos, em sua beleza de areia e vento dourados
Mares bravios
Em muitos lugares,
Natureza selvática

Em que pese a degradação do sofrido planeta
Muita beleza ainda resta para ser contemplada
Cuidada e preservada
Como será o mundo das idéias
Tão propalado pelo filósofo?
Mais belo entre os filósofos
E mais linda ainda, era sua filosofia
Linda doutrina endereçada ao esclarecimento

Quem mais, encontrarei em meu caminhar?
Russeau a desvendar
O contrato social, e o mito do bom selvagem
Esclareceu em bom tom
Que o homem não nasce mal
E sim é conduzido isto
Será de fato?
Ninguém nascerá ruim?
Que a essência humana é boa?
Caso o seja, por que tanta maldade no mundo?
Estaremos nós então, a fugirmos
Da nossa essência natural?

Hobbes, pessimista, a dizer que
O homem é deverasmente o lobo do homem
Quem será que tem razão?
O homem será de fato
Ruim em essência, ou não?
Será que caminhamos para uma evolução?

Dizem que trazemos em nós
Desde o início de nossas frágeis existências
O cerne da origem do mundo
Da formação dos seres
Nascemos em meio líquido
Para lembramos da origem dos primeiros seres
A criação terrena
Evoluímos de um simples embrião
Para um complexo ser
Inicialmente frágeis bebês
Transformados em adultos
Adultos que foram crianças
Pequenos
Dependentes
Seres a se transformar
Como o mundo se formou
Tudo cabendo dentro e fora de si
Toda a história do mundo em nossos gens
Toda a história do mundo ao nosso redor

Céu, quantas suposições quanto a sua existência!
Será deverasmente belo?
Como será?

Estudos em profusão
Grandes mestres
Literatos, intelectuais
Como gostaria de ver o céu assim
Um ambiente destinado ao conhecimento
Ao eterno aprender
Aprender os mistérios da vida e da morte corpórea
Um eterno preparar para novas idas e vindas
Bibliotecas,
Conversas
Diletantes a discutir filosofia
Teologia, biologia, literatura, medicina
Nenhum conhecimento obstaculizado
Ver o mundo do conhecimento em maravilhas
Desvelar pouco a pouco
Mistérios até então insondáveis
Fortalezas inexpugnáveis do saber
Protegidas contra a fome do conhecimento
Gostaria de sabê-las as escancaras

Lindo, o universo do conhecimento
A beleza do mundo a se materializar diante de nós
Em verdes campos

Filosóficas discussões
Pessoas abertas ao saber
Descobrindo eterno manancial de prazer
Maravilhas!

Conhecimento a plasmar belezas inimagináveis!
Como sonho com um céu assim
De trabalho, é claro
Mas também de amizades, de venturas
De saber, de cultura
Conhecimento das coisas da terra, e das coisas etéreas
Eternas verdades universais
Aquisição de sapiência e sabedoria

Será este céu, um céu real?
Ou será apenas,
Um céu imaginário?
Um céu a povoar meus pensamentos,
Minha imaginação?
Assim espero que o seja
E não um eterno campo verdejante,
Onde passaremos a eternidade a contemplar
Beleza exuberantes,
Natureza esplendorosa
Mas sem nenhuma utilidade,
Apenas um eterno contemplar
Seria uma pena se assim o fora
Um eterno penar assolaria, a todos que não pudessem penetrar
Este céu, magnífico céu
Condenados eternamente a inclemência
Afinal Deus não é amor?
Assim o creio
Desta feita, todos terão iguais oportunidades de evolução
E aprendizado
Deus é justo, e de outra forma não o faria

Creio num Deus diverso do ensinado pelas religiões
Deus está em nós, quando somos considerados advindos dele
Deus está em todos os lugares
Em cada manifestação da natureza
Em cada gesto humano
Então não distamos de Deus
Em havendo separação,
Esta é apenas momentânea
E o céu pensado, não é um céu imaginário
Assim o creio
Um céu verdadeiro
Cheio de verdade, fraternidade e luz
Amém!

DICIONÁRIO:

Lobrigar  verbo
1. transitivo direto
enxergar com dificuldade na escuridão ou penumbra; ver a custo; entrever.
"lobrigamos o atalho por entre vastos arbustos"

2. transitivo direto
ver por acaso, avistar.
"lobrigou-o caminhando ao longo do rio"

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

Parabéns ao(a) aniversariante do dia

“Parabéns a você,
Nesta data querida
Muitas felicidades,
Muitos anos de vida
Em suas muitas realizações enfindas!
Felicidades, por que hoje é o seu dia
Parabéns para você”

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Passeio no Parque

Em uma bela e ensolarada tarde domingo
Proposta de passeio no parque
Em meio a companhia de lírios amarelos
E de imensos agapantos azuis

Fotografias a retratarem o cenário emoldurado
De plantas, flores e árvores
Posições contemplativas, meditativas
Sentadas em banco
Em pé ao lado de plantas e árvores
E o sol a tocar a pele
Com toda sua intensidade e calor abrasadores

E a Lua Continua, Sempre Ela

A lua e as estrelas continuam
A compor um cenário de embelezamento
Juntamente com diversos ipês roxos floridos
Que me acompanham em meu caminho
Das andanças diárias

Ora aparecendo crescente
Deitada a dormir em leito lácteo
Por vezes surge,
Em dia claro em todo o seu esplendor
Agora em formato esférico
Com toda a sua beleza e brancura
Estrelas por vezes,
Insistem em mostrar seu brilho e beleza
Em horizontes tão fautos em brilho
Algumas mostram intenso esplendor

Lindas, compõe um bonito cenário
Para encanto dos meus dias fugidios
E a lua a caminhar pela abóbada celeste
A cada dia se mostra em posição mais elevada

Hoje mostrou-se branca, redonda e linda
Por detrás de um belo prédio azul
Em plena claridade dos dias!
Prédio de um azul vívido
Que em tempos de antanho,
Provavelmente servira de fábrica
Tendo em vista a construção lembrar antigo galpão
Memória da cidade de São Paulo,
A ser revisitada
E antigos prédios e construções,
A serem mantidos e utilizados para finalidades outras

Alguns a virar cenário,
De peças de teatro experimental

É a Vida

Enquanto isto, a vida prossegue viajante
Estudos diversos
Sinalizações semafóricas, multas apreensões

Correrias diárias
Viagens diversas
Trolebus, trem e metrôs

A deparar-me com vários ipês floridos
Chaminés de antigas fábricas,
Quase todas pichadas
O que é passível de multa?
Por que a Constituição é a Lei Maior?
Por que o viver é tão difícil?
Por que necessidade temos,
De escolher sempre o caminho mais difícil?
Por que não podemos aprender,
Da maneira mais suave e menos penosa?

Isto é fácil de se comprovar isto,
Verificando-se o trânsito
Onde muitos só pensam em levar vantagem
E só respeitam a sinalização de trânsito,
Quando há o risco de ser multado
Acaso não seria mais fácil se respeitar
A sinalização semafórica, as placas?

Parece que não, pois muitos as violam
Sinto que há um prazer em burlar as leis
E que isto causa mais efeito,
Do que proporciona vantagens efetivas
Mas ninguém parece se importar com isto
O importante é levar alguma vantagem
Por pequena que seja,
E assim, o que poderia ser fácil
Torna-se difícil
Fazer o que, é a vida

Devemos com isto aprender
E lidar com este tipo de situação
Da maneira que for possível
E assim, fico a ouvir minhas músicas,
Em meu fone de ouvido
A ler minhas provas, manuais de direção
De forma a ocupar meu tempo
Aproveitando a viagem diária
E tentando me aborrecer menos
Embora ás vezes isto pareça impossível

Recados

Inscrito em uma geladeira,
Cenário de divertida novela
Em fundo animado e colorido,
Estão os dizeres:
“A arte existe,
Para que a realidade não nos destrua”

Belo pensamento
A nos alertar o quanto precisamos da arte
Em nossos dias
A poesia a permear os belos momentos de nossas vidas

Para não sermos reduzidos
A pequenez cotidiana,
Os prosaicos problemas
A sermos seres medíocres,
Sempre seguindo o rebanho
Agindo sempre da forma como se espera

Pois como dizia o filósofo Descartes:
“Penso, Logo Existo”
E se eu existo,
Insisto em procurar uma melhor forma de viver

Oceano

Oceano, imenso reservatório de água
Repouso da vida marinha
Água repleta de sal
A acolher diversas formas do viver
Lendas e crendices

Siris a fazerem suas tocas a beira mar
Conchas com seus formatos vários
Onde vivem moluscos,
Recém saídos destas
Conchas várias, diversas
A enfeitarem as areias do mar
Mares e vidas, com seus usos e fazeres

Fábrico de canoas,
Com o tronco de apenas uma árvore
Trabalho artesanal,
Cortado com motosserra,
E esculpido com machado
A lembrar antigos dizeres:
Com quantos paus se faz uma canoa?
Como a pesca em suas várias formas

Entre elas:
Acender de luzes, para atrair lulas;
Redes de arrasto para pescar camarões
Onde nesta leva outros seres são pescados
Peixe voador, a ser atraído
Com o óleo lançado sobre ás águas,
Por sua claridade

Peixe exótico,
Cujas ovas são preparadas,
E vendidas como fina iguaria
Caviar de terras brasileiras
Possuí nadadeiras a lembrar asas
Que planam, saltando das águas
Ao sentirem-se ameaçados

Em antiga matéria televisiva
A mostrar como se constrói,
Grandes barcos em madeiras
Processo caro, artesanal, demorado
Mas resultando em magníficas construções
Redes de pesca trançadas,
Fazendas marinhas
Onde são criadas ostras,
Em conchas onde surgem lindas pérolas
Em outras são criados mariscos, vieiras
Vivendo em recipientes,
De onde são retiradas

Quando atingem o tamanho ideal para consumo
Seres criados em ambientes limpos
Pesca artesanal em muitos casos,
A ser orientada por pescadores
Que do alto de montes,
Avisam os pescadores,
Onde se encontram os cardumes de peixes
A competirem com a pesca industrial
Com barcos enormes
Onde se pesca muito mais
E a sofrerem com a desvalorização do preço,
Do produto pescado
De onde retiram,
Módicas somas para o sustento
O qual é vendido a somas vultosas,
Para os consumidores
Oceano de mar aberto,
Águas limpas, azuis, de verde esmeralda
Cercada de paredes de pedra
Canoas, barcos

Pescadores a lançarem suas redes ao mar,
A saírem cedo para pescar
A seguirem por horas mar adentro
Até encontrar um bom local para pescar
Passeios de escunas por ilhas
Com fortes, canhões,
E antigas construções coloniais
A avistar golfinhos
Em mares cariocas,
Pinguins a mergulharem em suas águas
Oriundos da Patagônia
Pinguins de Magalhães
Litorais recortados de pedras

Lanchas e jet skis a ocuparem suas águas
Balsas a transportarem carros
Cidade de construções coloniais
Circundada por um lindo e exuberante mar
Na Lagoa da Conceição,
As rendas de bilro de uma Santa Catarina,
Dunas a encobrirem praias
Em lugares outros,
A existir estrutura para se vender os peixes
Recém pescados

Tendo o canal com os barcos ao fundo
E as embarcações são coloridas
Em caminhadas pela praia
Se pode avistar a iluminação dos barcos,
Ao cair da noite

Sendo que de dia já pude avistar vários barcos,
Próximos da praia,
Avistar suas cores e o seu balanço
Em Fernando de Noronha,
Mergulho em meio a cenário de tubarões
E belíssimos cardumes,
De peixes grandes e coloridos
Em outras paragens,
Mergulhos em embarcações afundadas
Repletas de corais e vida marinha

Lugares alguns visitados pessoalmente,
Outros somente em leituras,
Ou por matérias televisivas
Mas todos igualmente apreendidos e admirados

Quem dera pudesse avistá-los todos
Diante de meus olhos, e ao contato de meus pés
Caiçaras a viverem de modo simples
Em suas casas modestas
A tecerem suas redes de pesca
E a lançarem a trama no mar
A cultivarem algas, pescarem peixes,
Criarem moluscos e vieiras,
A construírem suas barcas
Navegarem por mares bravios
Como em antigas jangadas, canoas
Barcos de pesca, com seus batentes coloridos
E seus nomes sugestivos

A avistarem sereias
As quais segundo dizem,
Nada mais eram que marinheiros,
Descansando de longas jornadas
E surpreendidos pela maré alta
Acabavam por morrerem afogados
História de naufrágios
De passageiros pulando no mar,
Sendo impiedosamente lançados,
Contra os paredões de pedras
E assim inevitavelmente perecendo

Navios objetos de explorações,
Revirados, a servirem de morada de peixes diversos
Corais a enfeitarem as estruturas do barco

Entre outros seres,
Até os temidos tubarões,
E suas mais diversificadas espécies
Histórias de tesouros escondidos,
Assombrações

Invasões de piratas no litoral brasileiro
Oceano de paisagens diversas,
Com muitas lendas e histórias
Muito ainda se tem para contar
Em suas ainda preservadas,
Lindas e imponentes reservas
Manguezais, passeios de barco pela Baía
Projetos de despoluição
Tantos sonhos, tanta coisa por fazer
E um oceano de causos para contar

Luciana Celestino dos Santos 
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

MARÍTIMO

O sol em toda sua majestade
Resolveu enfeitar o belo cenário
Linda praia de mar verde esmeralda,
Águas tépidas,

Coqueiros a embalar,
O balançar dos ventos
Fortes ventos, rajadas
O cair da tarde, a tudo modificar

No mar, profundo mar
Pequenos barquinhos a salpicar
Suas águas ora calmas, ora bravias
Os quais deslizam pelas águas, vagas,

A lançarem suas redes ao mar
Trazendo o alimento as famílias e as pessoas
Contingente de gentes

E para este bonito cenário
A família viajou
Para tanto providenciou a devida locação
As roupas, os víveres, e outros itens necessários

Para confortavelmente desfrutarem
De dias sem igual
De carro, o menino contemplou

Da estrada a paisagem verdejante
Árvores e flores coloridas em profusão
Um céu azul e quase sem nuvens
Encostas, barrancos, a mata

Em alguns lugares, recônditas cachoeiras,
A deslizarem pelas serras
As cidades desenhadas lá embaixo,
E entrevistas do alto

Na noite, lindas luzes amareladas a enfeitar,
Mas o verde a se impor
Algumas estrelas, a ladear com a lua prateada

O menino a tudo observava maravilhado
E em dado momento,
De carro, de longe, pode o mar ver
Pois sua mãe apontava a paisagem para o menino,
E ficava a dizer:
Que bonito o mar!
Não me canso de olhar!

E o menino a concordar ficou
Pois viu que tudo era realmente belo
Dizia, que Deus fora muito caprichoso em seu trabalho

E a mãe rindo, disse:
Temos um discípulo!
Tal pai tal filho!

E com isto, toda a família a rir ficou
As férias de fato
Animadas deveras seriam

Com o menino, a mil planos fazer
E o pai, a ajustar passeios diversos com a família
Com isto, ao chegarem nas proximidades,
Do lugar em que ficariam a descansar,
Depararam-se, com inúmeras e magníficas construções
Casarios históricos, construções coloniais

Belos prédios avarandados,
Construções de no máximo seis andares
Tudo muito belo!

Ao ver o imponente cenário
A criança dizia que tudo era lindo
Com isto, ao chegarem ao chalé
As malas no chão depositaram,
Organizaram as coisas

Alguma coisa comeram
E mais tarde, a praia foram
Durante o passeio pela praia
O menino a contemplar ficou
O ir e vir das ondas,
As espumas brancas espaçadas
A doirada areia,
O sol abrasador

O mar verdinho,
O qual convidava a um mergulho
Nos domínios de Netuno

Curioso, o menino perguntou:
De quem se trata soberano deus?
O pai explicou-lhe que Netuno
Era o deus daqueles mares
Habitante das águas,
Que segundo a grega tradição,
Cuida dos mares

O menino curioso perguntou,
Sobre o tal povo grego
E o pai explicou que fora o povo que criou,
As mais belas lendas sobre a origem do mundo,
E que não mais é,
O mesmo povo que agora habita a ilha,
E sim um povo muito antigo

Este povo, muito inventivo
Tentava explicar o mundo,
Da maneira que lhe era possível
E através de humanos dramas,
Tentavam entender o mundo em que viviam
E com isto, tomar consciência de si mesmos
Berço da filosofia
De alguns dos maiores e melhores pensadores

E o menino intrigado a se perguntar
Do que um pensador ficaria a tratar,
Se apenas pensar, pensar

Seu pai, percebendo um certo ar de interrogação
Tratou logo de responder a anunciada indagação
E assim falou:
Pensador, é um ser pensa o mundo,
Reflete sobre tudo o cerca,
Lançando aos fatos, um olhar crítico,
E a tudo analisando

E a criança a sorrir,
Dizendo ser um pensador,
Pois muito pensava,
E naquele momento a pensar estava,
Nos passeios que iria realizar

Foi o bastante para todos sorrirem
E desta forma, o menino encantado
Entrava no mar,
Brincava em suas águas
Tentava correr das ondas, em vão

Depois, saia da água,
Ia ao encontro dos pais,
E lá ficava a conversar

O pai explicou-lhe então, que filosofia
Era a arte do amor ao conhecimento
Campo aberto a discussões e análises,
De assuntos diversos
Neste tocante, argumentou

Que as políticas discussões
Eram realizadas em uma praça
Ágora, chamada
Onde todos a se reunir ficavam

A criança por sua vez, encantou-se com a idéia
De iluminada civilização que a tudo discutia
Seu pai, mencionou ainda
Que somente os homens livres,

Ali poderiam deliberar
Não sendo o espaço franqueado aos escravos,
Mulheres e crianças

A mãe, ao ouvir o comentário
A dizer ficou:
Isto por que as mulheres,
Como em muitas civilizações,
Muito desvalorizadas são!

Os homens ainda não se aperceberam,
Da criadora força das mulheres
Inventivas ficam a driblar preconceitos
Depositárias de nossas maiores esperanças

Nisto, a mulher aproximou-se do filho,
Como que a dizer:
Nunca maltrates uma mulher!
Afinal é delas que surge a continuidade da vida
Delas surgindo conhecimento,
Criação e entendimento

Mas, se alguma delas,
Não merecer sua consideração,
Ou mesmo seu dedicado afeto
Procure não dar valor a isto
Encontre alguém lhe queira bem
E que você também lhe dedique afeto

Mas nunca, nunca, nunca
Uma mulher fiques, a maltratar!

O menino, surpreso,
Prometeu assim proceder
E o pai de longe ria
Quando ele percebeu que a cena
A ganhar contornos dramáticos estava,
Dizia para a mulher:
O menino entendeu o bom conselho,
E tudo o fará para o bem aplicar!
E a mulher retrucou dizendo,
Assim esperar!

Desta feita, o menino,
A correr pela areia ficou
Brincava de colher conchas
Sempre a perguntar
Por que formatos tão diversos tinham

E seu pai dizendo que tudo na natureza,
Uma finalidade tinha
Mencionou que elas tinham abrigavam
Marinhos seres, mariscos, etc.
E para tanto, precisavam de diferentes formatos
Animado, falou que algumas produzem pérolas

A criança então ficou a perguntar:
Como elas eram feitas? De que forma?

E o pai a explanar:
Dentro da concha bivalve,
Composta de duas estruturas similares,
Que se fecham entre si,
Visando se preservarem

Corpúsculos estranhos,
Por vezes as invadem
E a concha tentando se proteger,
Do intruso ser

Produz nacarada substância,
Em róseos tons,
A envolver o pequeno ser invasor

Aos poucos ganha formas e contornos arredondados,
Consistência e firmeza
Enfim, transforma-se em delicada pérola
A produzir encantamento

E maravilhas na forma das mais belas jóias,
A adornarem orelhas, braços, e belos colos
E a refletirem seu brilho,
Nos faiscantes olhos das mulheres

O menino e a esposa, ao ouvirem a narrativa,
Aplaudiram o homem

A seguir, a criança novamente entrou na água
Agora acompanhado da mãe,
Que ficou a jogar-lhe água nas costas
E o menino então, gritos soltava

E a dupla brincava de enfrentar as ondas
Por vezes, mergulhavam
E o pai, a dupla fotografava
Retratos a eternizarem momentos fugazes

Mais tarde, a dupla,
A se abrigar ficou,
Debaixo de um guarda-sol

O sol era forte
E todos precisavam novamente,
O protetor solar aplicar

A mãe zelosa aplicou o produto
Nas costas do filho, em suas espáduas
E nisto a dizer ficou:
Meu anjinho de asas caídas!
E a criança ria, ria
Ria muito, das engraçadas palavras da mãe

E a questionar, do que espáduas poderia se tratar
E a mulher calmamente a explicar
Seres os ossos da omoplata,
Nas costas, bem próximas aos ombros

E o menino, a demonstrar entendimento,
Soltou uma animada interjeição:
Há, entendi!

Por algum tempo,
Na areia brincaram,
A construir castelos de areia ficaram
A planejar as mais belas construções
Munidos de um baldinho, pás e algumas formas variadas

Fizeram um castelo com um lago cheio de patinhos
E a criança encantada com o trabalho
Comentou que tudo era muito belo
Não querendo voltar atrás

Mais tarde, no mar entraram
A mãe segurava o menino,
A nadar estava a ensiná-lo

Gritos, risadas
A criança com as pernas a bater

Ao saírem do mar
A mulher perguntou a todos:
Quem como fome está?
Os meninos então, sim disseram

Com isto, o trio rumou para o chalé,
Confortável instalação,
Onde abrigados estavam

Lá, o pai e a mãe, um almoço preparam
E todos regaladamente se alimentaram,
Com um suco de laranja se refrescaram,
Matando a sede

Cansados,
Todos a cama exaustos se recolheram

A tardinha,
A beira da praia caminharam
Jantaram em um restaurante do lugar
E durante o passeio, a conversar ficaram
Todos estavam encantados com a beleza do lugar

A noite, uma fresca brisa
Os vinha embalar

Na manhã seguinte
O menino se deparou com embarcações
Estavam em um porto perto da praia
E seu pai, ao avistar os pescadores,
Com eles, a conversar ficou
E muitas histórias conheceu

Descobriu que os bravos pescadores,
Cedo madrugavam para os frutos do mar recolher
Pescavam por longas horas,
Arriscando-se, ante as inconstâncias do mar...

O menino a certa altura impaciente,
Logo pediu ao pai,
Para no mar entrar

E a mãe então, percebendo isto,
Convidou a criança para nas águas brincar,
Com isto, estendeu a esteira na areia da praia,
Deixando uma sacola por cima
E assim, a dupla na água entrou
Logo sendo acompanhada pelo pai
Que dos pescadores, enfim, se despediu

Passearam, nadaram
Divertiram-se
Contemplaram o cair da tarde,
Com seus matizes de cores,
Ora contornado de um azul profundo
Vívido

Ladeado por tons róseos,
Quase purpúreos,
A se fazerem acompanhar mais tarde,
Por tons alaranjados,
Até a tarde se escurecer

E a cada vez que as horas,
Os minutos se distavam
Mais profundo se tornava o azul da tarde,
Que aos poucos se tornou,

Profundo negrume,
Cintilado de estrelas brilhantes
Para o encantamento do menino
Deslumbrado com tantas delícias!
Agradecido,
Abençoou a Deus,
Pela possibilidade de contemplar,
Tão lindo espetáculo!

Seu pai, concordou
A todo o momento dizia que somente,
Um iluminado ser seria capaz,

De proesa tamanha,
A cinzelar o dia com um belo sol
E a noite com tão belas cores

Emocionado, dizia a todo o momento
Tratar-se de uma obra de arte da criação
Pintura exuberante
Exibida no painel da vida

A mãe, achando graça
Comentou estar ladeada de dois poetas

Rindo, dizia que tudo para eles,
Em poesia se transformava,
E que viver assim, era um eterno deleite!

Passeando, avistaram pessoas
Em seus carros possantes,
Com seus altos sons
A ouvir músicas de duplo sentido

O rapaz, ao se deparar com a cena
Lamentou o gosto musical das pessoas
A mulher por sua vez, dizia
Que não se deve valorizar,
Coisas que não valem a pena,
Gosto é coisa que não se discute
E em se respeitando o meu, não me incute,
O som de tão infeliz canção

Rindo, pai e filho comentaram
Que a veia poética em todos,
A aflorar estava
E assim, para casa seguiram

Mais tarde, conversando com o filho
O homem disse que ouviu lindas narrativas
Como a do eterno desencontro do sol e da lua

O jovem falou a criança,
De dois índios se tratar,
Os quais estavam impedidos de se encontrar
Pois transformados foram,
O índio no sol,
E a índia na lua

Nunca podendo se aproximar
Castigo de entidades malvadas
Que não queriam ver o amor do casal a se concretizar
Mas a um bonito fenômeno natural criar

Curioso, o menino a indagar ficou
Sobre a origem da noite
E o pai a tentar explicar falou,
Que a noite estava aprisionada em um coco

Curioso, o menino questionou
O fato de algo tão grandioso
Num simples coco caber

Seu pai, dizendo que a narrativa,
Daquela forma começava,
Conjecturou que talvez na tradição daquele povo,
A noite sempre estivera abrigada no coco
Tentando esclarecer se tratar de uma lenda
Argumentou que não se devia buscar lógica,
A nossa humana lógica em tais narrativas
Pois são histórias de um povo simples,
Que tentava apenas, entender o avassalador,
Mundo que os rondava

O menino então, pediu
Para o pai a história continuar
E o pai a prosseguir falou:
Que o coco estivera sob a guarda de dois índios

O cacique da aldeia confiara
A dois valorosos guerreiros,
Da afamada tribo, o encargo
Ressalvando sempre que o coco,
Não poderia jamais ser aberto,
Sob nenhuma hipótese

Os índios porém, curiosos
Ficaram a segurar o coco, e a observar

Em dado momento, a curiosidade
A se despedir do bom senso
Despertou neles o ímpeto de abri-lo
E assim o fizeram

Desta forma, quando a noite se viu livre do objeto,
Que a ela obstaculizava
Preencheu todo o ambiente,
Invadiu toda a atmosfera
E o ambiente, que todo claro era,
Por receber a luz do dia constante,
Negro ficou!

Os índios assustados, a correr ficaram,
De um lado para o outro
Sem saber se iam, ou se ficavam

O cacique então, ao notar o alarde
Logo percebeu do que se tratava
E dirigindo-se aos índios,
Sentença severa aplicou

Disse-lhe que de humana forma que tinham,
Passariam a forma de macacos ter,
E assim, exporiam a todos a infâmia praticada,
Não podendo junto dos demais índios viver

Curioso, o menino perguntou sobre
A origem da vitória-régia
E o pai então, escolhendo bonitas palavras
Começou a dizer,
Tratar-se da história de uma linda índia,
A qual se encantou com seu semblante,
Refletido nas águas profundas do lago

A certa altura, a indiazinha se deparou com o reflexo
De uma circunferência prateada nas águas
E deslumbrada, ficou a figura contemplar,
Seu efeito sobre a superfície das águas,
Era de fato magnífico
E a índia, ao perceber a lua no céu,
E o seu reflexo nas águas,
Lamentou a impossibilidade do encontro

Encantada, todos os dias se dirigia ao lago,
E a lua contemplava
Triste, lamentava-se de sua dura sina
De nunca a lua poder tocar

A certa altura, desesperada
A índia atirou-se ao lago
E no local onde a índia atirou-se,
Uma bela e exótica flor se formou,
Uma imponente vitória-régia
Com sua forma circular,
Seu amplo espectro verde,
E sua singela flor

E assim, todos os dias, a flor
Recebia o reflexo da lua
Como que ao seu rosto beijar
Estando de certa forma, lado a lado
Agora não mais separados

Nisto o menino pegou uma metade de laranja,
Dizia com sede estar
Seu pai ao ver a cena,
Comentou existir uma lenda,
Sobre a origem dos sacis
A qual apregoava que eles surgiam
Do gomo de laranjas

O menino incrédulo
A contestar ficou:
Como pode de algo tão pequeno
Surgir um ser tão traquina?

E o pai a falar:
O ser surge perneta,
E vive em bandos,
A reinações fazer
Com seu gorro vermelho, cachimbo
E a pular de uma perna só

Tentando a explicação completar,
O homem disse que em outras lendas
Trata-se de um menino negro
O qual ao nascer, teve a perna amputada
Por seu cruel e implacável dono,
O menino que a reinar ficava

E com o tempo ganhou um cachimbo,
O qual ficava pitando e matutando
Em rodamoinhos a se locomover
Somente podendo ser caçado por uma peneira
E aprisionado dentro de uma garrafa

Criatura que a tudo e a todos inferniza
Azedando leite, estragando alimentos,
Fazendo nós nas crinas dos animais
E assim, quando alguma coisa errada acontecia
Ora ali, acolá ou aqui
Podia se dizer: É o saci!

O pai, chegou a dizer que em outras lendas
O menino já nascera sem uma das pernas
E que a despeito disto
Era um ser vivaz e alegre
E em seu entender, um exemplo de superação

A defender a natureza
Lado a lado com o curupira
Ser de cabelos cor de fogo e pés virados para trás,
Para que num zás trás
Pudesse confundir os caçadores
Fazendo-os assim se perderem,
Com suas enganosas pegadas

Do fogo fátuo
Conseguiu arrancar uma expressão espantada
Do garoto impressionado
O qual perguntou se verdadeira, era
A história narrada

Seu pai, percebendo a admiração
Do dileto filho
Comentou:
Tratam-se de cadavéricas emanações
As quais produzem vapores
E estranhos brilhos
Os quais de longe se assemelham a mil olhos
Iluminados olhos
A assombrar os passantes desavisados,
Mas que nada de mal fazem

A criança, de olhos arregalados
A noite, assustado ficou
E a mãe, percebendo se tratar das narrativas do marido,
Com ele então ralhou:
Onde já se viu, uma criança pequena assustar?

E assim, tentando ao garoto acalmar,
Disse que tudo era lenda,
Não havendo com que se assustar

O menino então, abraçou a mãe
E a mulher, o garoto a embalar ficou
Que nos braços da mãe adormeceu

No dia seguinte, mais histórias,
Aventuras de nosso imponente e folclórico país
Lindas narrativas de uma terra,
Que muito tem para contar!

Histórias de lobisomem,
A todos assustar
Com sua hórrida aparição,
Corpo coberto de pelos,
Unhas compridas,
Olhar feroz
A se transformar nas noites,
Em que a lua cheia está
A vagar pelas paragens e a todos amedrontar

Triste sina de um filho
O sétimo de uma prole numerosa
A ser combatido com uma bala de prata

Impressionado, o menino ficou a perguntar,
De criatura real se tratar
No que o pai consentiu em dizer que não
Disse ser apenas criação,
De mentes criativas,
Impressionadas com os sustos da noite

O menino então, comentou ter ouvido
Histórias de ET’s e de chupa cabras
No que o pai então, completou:
Tratam-se de lendas,
A respeito de estranhos seres
A amedrontar as pessoas,
Que já impressionadas estavam,
Com a mortandade de animais,
Os quais tinham o sangue todo sugado

Fato este que gerou espanto
E assim, para acalmar tal celeuma
Precisavam de alguma forma,
O fato justificar
E então ficaram a cismar
O homem então, comentou,
Até surgir algo, para tudo explicar

Curioso, o menino perguntou se não havia
Em outros planetas,
Viva alma, quaisquer formas de vida
E o pai respondeu-lhe afirmativamente
Dizia sim existir
E que talvez até contatos fossem feitos

Mas de fato, havia e há vida em outros planetas
E que os seus habitantes,
As condições do mesmo se adaptavam
Alertava porém, que os contatos,
Provavelmente não se dariam de forma,
Tão estrepitosa

A criança então, indagou
Sobre o significado de tão sonorosa expressão
O pai respondeu num ímpeto,
Trata-se de algo barulhento, ruidoso

O garoto então comentou
Que a palavra de fato, lembrava
Algo que ruído produzia

Com isto, o homem começou,
A com o filho brincar,
Fazendo-lhe cócegas na barriga
E a criança, a se contorcer de tanto rir,
Pedia ao pai a todo o momento,
Para com a brincadeira parar

Com efeito, a manhã
O dia praiano, fora deveras proveitoso
A manhã,
Lindamente a surgir no horizonte,
Dissipando as brancas nuvens,
E o sol a contrastar, com o azul pálido do céu

A família a deleitar-se na praia
Muito ir e vir das ondas
Brincar no mar
Apreciar o sol

E o lindo cenário que circundava a praia
A serra verdejante
As praias a contornar a praia
Os barcos dos pescadores,
A navegar em mar alto

Pessoas a caminhar,
Mulheres a se bronzear,
Deitadas na areia

O menino aproveitou para coletar conchinhas,
Já tinha algumas
Que no chalé, guardada estavam
Alegre, dizia ser a lembrança,
Dos dias na praia

O garoto corria pela areia,
Chamando a atenção dos pais
Neste esteio, ao longo dos dias

A família notou o efeito solar
Em suas bronzeadas e douradas peles,
A espantar a brancura dos dias citadinos

Às vezes, pedalavam pela orla
Contemplavam a brisa,
A imponência do mar,
Os coqueiros a tremularem,
Ao sabor das ventarolas

As pessoas caminhando, correndo
Tudo era festa,
Alegria enfinda,
Nas belas tardes de verão,
Abraçadas por um sol cálido

Quanto as lendas narradas pelo pai
Estas eram as mais profusas
Riqueza cultural deste país maravilhoso!

E o pai a contar ficou
A história da cuca
Com seu corpo de jacaré,
Desgrenhados cabelos
A assustar as crianças

Rindo, recordou-se da cantiga:
“Nana nenê, que a cuca vem pegar
Papai foi pra roça
Mamãe pro cafezal...”

O garoto por seu turno, acompanhou o cantar do pai
Tudo isto, para no final, dizer:
Pare de cantar papai, pois você desafinado está
E o homem ria e ria

Comentou que o escritor Monteiro Lobato
Da lenda se apropriou
Para que a estranha entidade,
O Sítio do Pica Pau Amarelo, habitasse
E ali produzisse as mais estranhas confusões

Dotada de mágicos poderes
A transformar crianças em pedra
A atrapalhar os brinquedos e folguedos infantis

E a criança a criticar dizendo:
Que criatura má!
E o pai, com isto a concordar

Em seguida, o homem contou-lhe a história
De um negrinho,
Que tão pobre, ficava a pastorear,
As terras de um cruel senhor,
Que sempre maldades ficava a fazer

Um dia uma rês
Do rebanho se apartou
E o menino forçado foi,
A procurar o animal

Atravessou a noite e a madrugada do sertão,
A então procurar
Procurava, procurava,
Desesperação
O animal não conseguiu achar não

Aflito as terras do fazendeiro retornou
Na estância verdejante,
O menino do cavalo apeou

O cruel fazendeiro
A perceber o infortúnio do menino
Um castigo a ele aplicou
Surrando a criança,
O menino ficou a espancar
Desferindo-lhe tão horrenda sova
A ensangüentado deixá-lo

Por fim, abandonando,
A desventurada criança em cima de um formigueiro
E o menino, diante de tal flagelo
Veio a morte encontrar

O fazendeiro por sua vez,
Ao corpo do menino procurar,
Deparou-se com uma angélica visão
A criança lhe apareceu,

De rosto tranqüilo e sorriso nos lábios
Foi o bastante para assustá-lo
Aterrorizado, o homem acorreu para a sede
Deixando para trás o cavalo

Lívido, branco
Fora confundido com alma penada
E por esta razão precisou então explicar,
O menino flagelado,
Morto não estava,
Pois diante dele se apresentara,
Altaneiro e bem disposto,
Em seu corpo, nenhum sinal de agressão,
Parecia ter vindo de outra dimensão,
Apenas para lhe atormentar

E a história do menino,
Que o rebanho da estância pastoreava,
E muito maltratado era,
Tornou-se lenda
Símbolo de um duro tempo de escravidão
Onde os negros, homens, mulheres,
Crianças, idosos, muito maltratados eram

Comovida, a criança,
A se lamentar dizia:
Que homem ruim!
Como pode fazer isto com uma criança!

E o pai a abraçar o filho falava:
Muito sofrimento há no mundo
Mas nem todas as pessoas são más,
Ainda há espaço para as boas coisas,
Pelos homens, celebradas
E é para as boas obras,
Que os humanos olhos, devemos voltar

E a criança, como que a compreender,
Completou:
Aos homens maus, que se dêem tão mau,
Tão mau, que tudo se volte contra eles

E assim, possam na pele sentir,
O mal que a outros causaram

O pai respondeu-lhe então
Existir uma velha frase que ensina
“Aqui se faz, aqui se paga”
Verdadeiro ensinamento da realidade
Que todos prevenidos, devemos ficar

O menino ressalvou que mau,
Jamais se tornaria
Pois queria bem a todos,
E a todos respeitava

O pai asseverou-lhe que assim deveria ser
Pois todos um dia por seus atos,
Irão responder

Nisto, a criança pediu ao pai
Para que mais e mais histórias contasse
E o pai então prosseguiu

Fez menção de contar a história do Corpo Seco
E o menino a perguntou ficou,
Do que se tratava
O homem por sua vez, recomendou ao filho,
A história ouvir,
Pois assim, a tudo compreenderia

Com isto, o pai comentou
Que a história se iniciava
Com a trajetória de um filho
O qual gostava de muito jogar, beber e farrear,
Deixando sua idosa mãe de lado
Pois sempre que ela o ia chamar
O filho a rechaçá-la ficava,
Deixando a mãe desolada,
A voltar sozinha para casa
Tratava-se de uma senhora idosa e doente

Em dado momento,
Cansada dos maus-tratos do filho
A mulher a dizer imprecações ficou,
Condenando o filho a insepulto ficar,
Quando de seu passamento

O jovem irônico ria, ria à beça
Parecia não se importar com a praga,
Desdenhando dos dizeres da senhora

E ela, ao filho ingrato, dizia
Tu és a tristeza dos meus dias!

Certo dia, em mais uma de suas andanças
A fumar, a beber e a jogar
Em companhia de homens de igual vício
Foi informado por um conhecido,
Que a pobre mãe,
A passar mal estava

E o filho, ingrato
Nem um pouco se importou,
Disse que mais tarde para casa voltava
E assim procedeu

Porém, qual não foi seu espanto,
Quando ao lá voltar,
Deparou-se com o corpo inerte da mãe
A pobre senhora havia morrido,
Ante a falta de atenção e de cuidados,
Do seu dileto filho

Com isto, foi preparado o funeral da senhora
E o filho, temendo ser apontado,
A cerimônia deixou de comparecer

Tomado pela culpa
Muito bebeu, e a lamentar ficou,
O triste passamento da mãe

Contudo, ó triste realidade!
O moço não se corrigiu
E assim, continuou a conviver com o antigo vício
A fumar, a beber e a jogar

Porém, numa tarde
Os companheiros de bar,
Ao conhecimento tomarem,
Do passamento da mãe do jovem,
Censuraram-lhe os modos
E a dizer ficaram,
Que ele era o pior homem que conheciam,
Pois nenhum deles capaz seria,
De dispensar a mãe, tão horrendo tratamento,
Deixar a mãe morrer em desalento

E assim, expulsaram o moço da mesa
E a dizer ficaram:
Nunca mais volte, pois a tua sorte,
Muito madrasta será!
Assustado, o jovem recordou-se
Da materna imprecação

Com o passar do tempo
Todos a evitá-lo ficaram
Ninguém a lhe oferecer consolo,
Repouso ou abrigo
Sozinho, passou a beber mais e mais
Tentava esconder sua vergonha, em vão,
Pois a todo o momento era apontado nas ruas

Envelhecido, o corpo tomado pela doença
Sem amparo,
O homem morreu,
Como vivera nos tempos últimos,
Sozinho e desamparado

Contudo, quando de sua morte
Os conhecidos, imbuídos de um sentimento,
Mescla de dó, e respeito aos mortos,
Do enterro logo tratou
E assim o caixão e o velório foram ajustados
O corpo foi então enterrado

Contudo, dias depois do enterro,
Um seco corpo aflorou a terra
O coveiro, em percebendo o evento
Tratou de novamente o corpo enterrar
Contudo, sempre que assim procedia
O corpo seco, novamente aflorava a terra,
Jazendo insepulto

Tal evento, causou horror na cidade
E todos os moradores,
Cientes da lição trataram logo,
De a tradição aos filhos e netos repassarem,
Pois a todos devemos respeitar

E o pai, percebendo o espanto nos olhos do filho
Disse que o corpo nunca ficou enterrado,
Permanecendo exposto à flor da terra,
Aos olhos e comiseração pública

A criança, ao se deparar com a sonoridade,
De uma palavra,
Seu significado perguntou
E o pai paciente explicou
Que comiseração nada mais era do que pena,
A piedade dos homens,
Pela triste sina do ingrato filho

Preocupado, o menino perguntou
Acaso seria a história, verdadeira?
E o pai, sorrindo, respondeu-lhe que não
Apenas de uma lenda se tratando
Não havendo com o que se preocupar

A mãe, ao notar que as histórias se tornavam,
Deveras sombrias,
Aconselhou o marido a contar,
Narrativas mais amenas

No que o garoto, curioso,
Insistiu para que o pai contasse mais e mais
Histórias sobrenaturais
E o pai completando que a todos os povos,
Fascinava o fantástico,
E a possibilidade de a tudo tentar explicar,
A contar a história da mula sem cabeça ficou

Iniciou dizendo tratar-se de
Mitológico ser, jovem mulher,
A qual se envolvera com um padre
Vindo a ser transformada em estranho ser,
A cuspir fogo pelas ventas,
Mesmo que venta não tivesse

Com isto, o menino então, começou a rir
A mulher por sua vez,
Argumentou que se tratava de uma narrativa machista,
Posto que somente a mulher fora punida,
E que ao padre deveria caber maior punição

O homem então, respondeu dizendo,
Em se tratando de um tempo antigo,
A narrativa obedece a historicidade de seu tempo
Antigo tempo, onde o machismo prevalecia,
E que a mulher que errasse,
Do ponto de vista da sociedade da época,
Devia ser severamente punida,
Pois de tudo lhe era imputada a culpa

Suspirando, a mulher saiu da sala

Com isto, o homem ressalvou que a noite,
Era o cenário preferido para a estranha criatura
A qual circulava com sua cabeça de fogo,
A todos assustar

E a criança a dizer:
Triste sina de tal mulher!
O pai então concordou

Nisto, começou a falar
Que alguns índios acreditavam que as estrelas no firmamento
Eram as almas de antigos parentes,
A viverem no céu,
E a olharem para eles

Segundo seu relato
A mandioca surgira quando,
Do passamento da indiazinha Mani
A luz da vida de sua mãe,
Que ao enterrá-la,
Verteu compungidas lágrimas sobre o túmulo

Tais lágrimas banharam o leito onde a criança jazia
E com isto, uma bonita e viçosa planta
Passou a crescer no lugar,
Onde a criança enterrada fora

A mãe por seu turno,
Solicitou a abertura da sepultura
Porém, qual não foi o espanto de todos
Quando então perceberam, que não mais havia corpo

Pois a pequenina índia se transformava,
Em um robusto tubérculo
Mani, a qual fora enterrada perto da oca
Tendo por nome batizado, o alimento surgido,
Mandioca

Animado com a lenda
O garoto aplaudiu a narrativa
Correndo e gritando, ficou a chamar a mãe,
Dizia-lhe ter uma bonita história para contar

Mais tarde, o pai contou a lenda das sereias
Seres mitológicos,
Oriundos da tradição grega,
A habitar os mares e a seduzir os navegantes,
Com seus encantos

Os marinheiros, ao passarem pelos mares,
Precisam os ouvidos proteger,
Ou então arrastados serão,
Para o fundo das águas,
Maravilhados com encanto das vozes

A entoar cantigas suaves,
Melodias maviosas
Aprisionados os homens morrem,
Sem condições ter para a tona surgir

Completando a narrativa,
O pai ficou a dizer,
No Brasil um equivalente ter,
Denominado Iara
Entidade a habitar os rios
E a produzir os mesmos encantamentos,
Levando os homens para o fundo das águas

Lindos seres a pentearem seus verdes cabelos,
Imensos e encantadores
A beira das águas,
Para os incautos impressionar

O menino, admirado com a narrativa,
A dizer ficou:
Que mulheres más!

E o pai a brincar ficou a dizer:
Cuidado com as aparências,
Pois elas enganam!
E a mãe que por ali passava
A rir ficou,
Irônica dizia:
Quem não te conhece, que te compre!

E o jovem, incomodado
Com tais palavras, argumentou:
Afinal esta não é uma grande verdade?
E a mulher assentiu com a cabeça
Em que pese saber
Muitos homens assim não procederem

Nisto, o pai contou ao filho
A lenda do guaraná
Curioso fruto vermelho,
De arredondado formato
Em cujo centro, possuí

Uma forma assemelhada a um olho
Razão pela qual seu significado é,
Bagos semelhantes a olhos de gente

O menino intrigado,
Chegou a dizer:
Que fruta feia deve ser!

E o pai rindo, disse tratar-se
De um fruto curioso
Surgido dos olhos de um menino morto
Cujos olhos foram plantados em fértil campo
Sob a recomendação de Tupã,
Com vistas a auxiliar os membros da tribo
Lindo menino, luz dos olhos de seus pais
Traiçoeiramente morto por Jurupari
Invejoso de sua vivacidade

A planta, com seu fruto
Fruto do qual se extraí um pó,
A utilizado ser, em bebidas

Neste esteio, falou sobre,
O lindo canto do Uirapuru
Ave de canto canoro
Outrora bravo guerreiro
Apaixonado pela bela esposa de um cacique

Em razão de tal infortúnio,
O jovem enamorado
Implorou a Tupã,
Para transformado ser
Em singelo pássaro,
Que a voar pelas matas,
Da densa floresta ficava,
A cantar e encantar a todos

Sonhador a exibir seu belo canto
A sua amada
Com o simples fito de que nele,
Reconhecesse o outrora bravo guerreiro
E assim, voava sobranceiro

Nisto, ó ironia!
O cacique, impressionado,
Com o delicado canto,
Passou a caçar a ave
Seguindo seu rastro,
Acompanhando seu canto
Vindo por fim,
A se perder no emaranhado das matas
Nas tramas das trilhas
Em meio a selva
Oceano de plantas e flores

Dizem que seu canto esporádico,
Raro e magnífico
É ouvido por poucas vezes
E que assim, toda floresta
Curva-se ao seu som
Todas as outras aves, pássaros silenciam
Enfeitiçados com o belo canto

Ave símbolo da Amazônia
Berço de tantas lendas
E narrativas a maravilhosas
Lugar encantado
A tornar o Brasil, mais Brasil!

A criança, ao término da narrativa
As lindas histórias aplaudiu
Comentou que o pai,
Sabia boas histórias contar
E com isto, as férias
Muito especiais se tornaram

Agradecido, o menino muito aproveitou o passeio
Mergulhou nas águas quentes do mar
Deslumbrado ficou, com os pôres-do-sol
Os tons multicores do firmamento
Em suas várias fases do dia

Amanhecer azulado,
Logo colorizado com o branco das nuvens,
O dourado do sol
Raios de sol a dourarem as águas

Pôres-do-sol
Em tons azul claro,
Cravejado de nuvens,
Aos poucos escurecido e
Envolto em tons róseos,
Fortes tons,
Ladeados com o branco intenso das nuvens
Aos poucos, um alaranjado toma conta do cenário,
Com suas bordas amareladas

Nisto, a noite,
Pouco a pouco vai invadindo o lugar

As nuvens se despedem do dia
O sol já foi embora faz tempo
E a lua começa a timidamente se apresentar
Em seu curvo formato,
E assim algumas estrelas,
A ela fazem companhia

O menino então, a apontar ficou
Ao ver as estrelas a brilharem no céu
Chegou a falar, da alma dos índios se tratar

Bronzeado, chegou a dizer
Que muitas saudades do lugar iria ter
E o pai a falar:
Não se preocupe,
Pois logo logo, iremos voltar!

DICIONÁRIO:
cinzelar verbo transitivo direto trabalhar com cinzel.
"c. o cobre"
2. FIGURADO (SENTIDO)•FIGURADAMENTE
fazer com esmero; apurar, aprimorar, burilar.
"c. um soneto"

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Mares

Preservar as memórias dos queridos entes
Guardar com carinho nos corações,
Os seus gostos, seus interesses da vida
A fim de que eles vivam eternamente em nossas lembranças

Perceber que em muitas alegrias
Existem alheias tristezas
A vida vem e vai
Ora nos trazendo alegrias, ora nos transmitindo tristezas

E mesmo nos maiores conflitos,
Descobrir a alegria, e um melhor jeito para se entender os desenganos,
Recorrentes nos desvãos da vida

Viver no mar
Oceano salpicado de barcos,
A circundarem os banhistas
Frias águas do tempo
De um tempo de felicidade passado
Mas que a qualquer momento pode ser retomado

Origem das primeiras cidades de uma terra brasilis
Índios a marcarem a história destas plagas
Cunhambebe a se estabelecer em Bertioga
E a depois lutar em território fluminense
Ao lado de Estácio de Sá

Anchieta e seu trabalho de catequizar os índios
A dormir em leito de pedras,
Circundado pelo brilho das estrelas
A iluminar de tímida forma, a cama
Do município litorâneo, com seu casario histórico

Jesuíta dotado de espírito aventureiro,
Como os demais sacerdotes,
A enfrentar serras íngremes
A fazer pouso em campo estrelado,
Tendo por leito apenas as pedras,
E o duro chão dos caminhos

A transmitir os ensinos de sua religião,
E conhecimento aos índios

Em suas caminhadas pelo litoral,
Ficava a escrever belos textos na areia molhada
Palavras que com a elevação da maré,
Seriam devoradas pelas águas
Que as lamberiam, em seu furor

Abarebebê, Leonardo Nunes
A percorrer de forma veloz, as regiões
Amontoado de aldeias indígenas
Aldeias e povoados, a receberem as luzes da doutrina cristã
E a reunir as gentes,
A construção de uma igreja de pedras,
Que hoje se faz em ruínas
Memória do município desmembrado de Itanhaém,
Peruíbe, Terra da Eterna Juventude
Com sua lama medicinal, a curar dores e vitalizar

Lugar de mar aberto, extenso
Linda serra verdejante ao fundo
Ultimamente salpicada de barcos pesqueiros
Com seu mar azul e lindo, contrastando com a espuma branca das ondas

Lua brilhante, acompanhada de estrelas,
Iluminam o céu escuro
A noite preta e densa, a envolver toda a atmosfera

Em contraste aos tempos passados,
Conforto em macios lençóis
Quartos arejados
Em tempos de antanho,
Homens desbravadores, dormindo ao relento
Os nobres padres jesuítas a descansarem seus corpos cansados,
Em céu de estrelas

A edificarem cidades e povoados
E escalando íngreme serra, colonizaram o interior
Marca de bravura e coragem,
E um grande contingente de violência

Índios foram escravizados, catequizados,
E transformados em servis criaturas
Auxiliaram na edificação dos povoados
Índias foram violadas,
Dando origem aos cafuzos
Paridos de cócoras
Primeira mistura brasileira

As mulheres brancas, raras,
Eram trazidas de Portugal
Mulheres que não tinham nada a perder em suas terras
Acreditavam na possibilidade de um bom casamento em terras tupiniquins
Acreditavam, ou eram levadas a acreditar
Mulheres brancas, objeto de cobiça dos portugueses
A habitarem estas plagas

Homens brancos,
Vinham na esperança de enriquecer,
De livrarem-se das pesadas penas impostas pela coroa portuguesa
Muitos indesejados em sua terra

Bandeirantes, a desbravarem os sertões
A percorrerem as entranhas do Brasil
A gerarem conflitos com os índios habitantes destas paragens
A imporem seu modus vivendi
Aculturando os índios, ou adaptando-os a sua cultura
Ora odiados, ora temidos pelos índios
Como o Anhagüera, ou Diabo Velho
A colocar fogo em aguardente, atemorizando os índios

Edificaram construções em taipa de pilão
Estruturas em ripas de madeira,
Cobertas de argila, estrume e sangue de animais
Grossas paredes, pintadas de cal
Com batentes de portas e janelas coloridos e verde, azul
Em seu interior, poucos móveis feitos em madeira de lei
Os alimentos a serem conservados de forma rudimentar
Água fresca guardada em cabaças e jarras de barro
Resultante do trabalho das índias
Inóspitas paragens,
A fazer das mulheres, seres dotados de muita coragem

Em muitos povoados, ataques diversos de índios
Como em Vila de Santo André da Borda do Campo,
A qual fora abandonada
Vindo o Cacique Tibiriçá, a índia Bartira, e o português João Ramalho
Este último, vindo a desposá-la
Todos a viver, junto com os demais habitantes da vila,
Em São Paulo de Piratininga, ou Piratinim
Vida dura, difícil, sacrificada, com muito pouco, ou quase nenhum conforto

Desbravadores,
Como o foram os primeiros portugueses a aportarem no Brasil
A oferecerem-lhe quinquilharias, em busca do Pau Brasil
Madeira nobre, da qual se extraía uma tintura vermelha,
A tingir as vestes espalhafatosas dos portugueses
Neste primeiro contato, a dominação dos índios,
O adoecimento dos nativos, a violação das índias
O deslumbramento dos navegadores,
Com a exuberância das matas,
A nudez, dos índios
Seu modo de vida simples

A viver da caça, da pesca, da coleta de alguns frutos
A prepararem o cauim,
Bebida feita do milho fermentado pela mastigação dos índios
Mandioca, base da culinária brasileira
Mistura de paladar português com gosto indígena, adaptado
As peculiaridades de cada local
E assim, surgiu a culinária paulista, a mineira, e assim por diante

Nordeste, Porto Seguro, lugar da primeira missa celebrada,
Em Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil
Retratada de forma poética por Pedro Américo

No Nordeste, história de índios canibais,
A devorarem padres
Em Itanhaém, índios escravizaram Hans Staden,
O qual naufragou em águas brasileiras,
Vindo a se salvar do canibalismo, por sua bravura e coragem,
Em lutar ao lado dos índios

Conflitos de interesses, onde todos lutam pela vida
Em que pese a morte, quase sempre, à espreita

Engenhos de açúcar, e as formas em metal,
Chamadas de Pão de Açúcar
Com o tempo, passou-se a escravizar os negros
Os quais não conheciam a terra, e o modo de vida
O que dificultava a fuga

Muitos, reis e príncipes em suas terras,
A viverem de modo servil em plagas alheias
A sofrerem as maiores formas de humilhação,
E sofrimento no transporte das terras africanas,
Traídos que eram por seus pares
A morrerem muitos na jornadas
E muito pouco viverem nas senzalas

Em São Paulo, a trabalharem no comércio do café
Fazendas coloniais, com senzalas, pelourinhos
Grandes construções
Cenários de muito luxo e requintes, com interiores ricamente decorados
Em contraste com as moradas antigas dos bandeirantes

Brasil, terra de foro de privilégios
Com as sesmarias,
Criadas com o objetivo de estimular a ocupação do país
Sesmeiros ocuparam as terras, mas de extensas, perderam seu território
Poucos conseguindo mantê-los
E ainda assim, as terras foram desbravadas,
E o país, de dimensões continentais
Transformou-se em terra de diversas culturas,
Onde povos, vivendo nos mais distantes rincões,
Falam a mesma língua, portuguesa

Araribóia em apoio aos portugueses,
Contra os invasores holandeses
Por tributo aos seus bravos feitos,
Recebeu sesmarias, entre elas: “São Lourenço dos Índios,
Atualmente conhecida como Niterói
Dizem que em matança noturna, o índio seguiu a nado, pela baía,
A fim de emboscar os holandeses

Bravos índios,
Tão decantados nas poesias da fase primeira do romantismo
Especialmente na poesia de Gonçalves Dias

Ciclo do ouro, com o fausto e riqueza das construções barrocas de Vila Rica,
Atual Ouro Preto,
Palco de muitas fotografias,
Disparadas das câmeras digitais dos turistas e passantes do local

Cenário da Inconfidência Mineira, e de um bravo Tiradentes,
Morto e esquartejado,
Com seus pedaços espalhados pela cidade
Lembranças da brutalidade de outros tempos,
Os quais ainda infelizmente persistem em muitos aspectos

Tantas histórias, tanto passado,
História de um tempo, não tão distante
Memórias de uma época, e de lugares,
Próximos de nós

Ruínas abertas a visitação,
Pedaço da história de Peruíbe
Pensamentos distantes, a viajarem no tempo
Viver histórico, com a vida prosaica de cada dia

Com flor noturna a desabrochar,
Em um jardim sempre exuberante,
Com suas belas árvores de folhagem verdejante
As flores várias

As águas a invadir as areias,
E a formarem pequenas e singelas lagunas
Remansos de água salgada e doce

Mar azul
Céu azul, brancas nuvens, sol dourado,
A refletir na claridade das águas

Queima de fogos no reveillon
Cenário de luzes variegadas e formas, por muitos minutos

Barcos pesqueiros a circundarem a praia
Quiosques repletos das gentes, e das músicas variadas
Canais de água e correr o mar

Canal de pedras, divide a praia em duas
De lá saindo os barcos que singram as águas
Mar revolto, correntes de retorno

Lua cheia, céu estrelado
Flores de cera,
Hibiscos dobrados vermelhos, laranja, róseos;
Lantanas coloridas;
Flores miúdas de uma dama da noite perfumada

No caminho de volta ao lar citadino
A serra enfeitada de manacás floridos

Céu bonito,
Com imponentes formações de brancas nuvens na ida
Pôr do sol dourado em das viagens, várias

Lindo cenário de felicidade e de reflexão
O entender da vida
Crianças a correr para o mar, a brincar na areia

Caminhadas, muitas,
Novas construções,
As melhorias a caminharem a passos lentos

Carnaval com confete e serpentina
Herança dos tempos do Entrudo
Os corsos,
Com as mocinhas sentadas,
Em seus luxuosos carros conversíveis
Mascaradas,
Enroladas em confete e serpentina

Blocos carnavalescos
Desfiles em sambódromo,
A formação das escolas de samba,
A desfilarem inicialmente em avenidas

São Paulo a despontar neste cenário
E Adoniram Barbosa a demonstrar,
Ser a mais completa tradução,
De que São Paulo não é o túmulo do samba

Cidade aniversariante que nunca dorme!

E o entrar nas águas da praia,
Molhar o corpo, os cabelos,
Apreciar o cenário
E a ter a certeza do quanto se pode ser feliz,
Realizando algo tão simples
O segredo da felicidade, está na simplicidade

Assim como a música pode mudar o estado de ânimo de alguém
E um livro aperfeiçoar o modo como se vê o mundo
As pessoas são eternas em nossas memórias

E o tempo, este eterno inconstante,
Este só nos acrescenta
Só cabendo a nós não temê-lo

E os mares guiam a corrente, ou a corrente guia os mares
Mar, maré, mares, guia
Condutor de destinos ...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.