V
A mulher ficava a se perguntar:
Será sonho ou pesadelo?
Carolina e Carlos a todo momento lhe perguntavam
O que estava para acontecer!
Aflitos ao serem o medo nos olhos de seus coleguinhas
Pensavam que o mundo iria acabar
Vilma, percebendo o temor
Dizia-lhes que não sabia o que estava acontecendo
Contudo, a despeito disto
Por mais difíceis que as coisas se tornassem
Que tinham um ao outro, não estavam sós
E que ela jamais os deixaria desamparados
Argumentava ainda que sem saber pelo que esperar
Que tudo bem, ao final iria acabar
Carlos nervoso, perguntava como,
Já que tudo parecia tão estranho
Vilma, sincera, comentou nunca antes passara por isso
Aliás, nunca o mundo presenciara algo tão estranho
Ao chegar em casa, tentou ligar a televisão
Não funcionava
Acender a luz, impraticável, já que energia faltava
No saguão do prédio, o elevador parado estava
O porteiro atônico ficara
Dizia que a luz faltava
Neste momento, nem o céu brilhava
Carlos e Carolina se afligiam ao ver tudo escurecido
Ao verificar que estavam sem eletricidade,
Vilma tentou ligar o celular
A muito custo e luta, consegui o aparelho ligar
Mas sem energia, nada de internet ou de acesso ao mundo
Aflita, tentou não demonstrar o nervosismo diante dos filhos
A todo momento, e a todo custo,
Tentava muita calma demonstrar
Dizia para as crianças não fiarem em palavras catastróficas
E mensagens pessimistas
Dizia sincera, que não sabia como, mas tudo ao final terminaria bem
Carlos nervoso, dizia a todo o momento
Que ela não também não sabia, o que acontecia
Vilma, triste, reconheceu
Disse-lhe que não possuía respostas para tudo
Mas que, ainda que não soubesse quando tudo se acabaria
E qual o final que seria
Sabia, que tudo se encaminharia para o bem
Afina, se Deus, em sua infinita sabedoria,
Criou um mundo tão vasto e complexo
Em que todos são capazes e aptos para vivê-lo
Os seres humanos acabariam por criar uma solução para o caos
Carlos indagava como isto aconteceria
Carolina ao perceber a tensão no ambiente,
Começou a chorar
Vilma então pediu de forma enérgica para que todos se acalmassem
Com isto, passou a procurar velas
Espalhou-as pela casa
Disse-lhes que já que nada poderiam fazer
Iriam aguardar os acontecimentos
Perguntou as crianças se tinham fome
Carolina e Carlos diziam que não
A todo o momento ficavam a observar a janela
Foi em questão de minutos para tudo escurecer
Vilma começou as velas acender
Não sem antes recomendar que cuidado tivessem
Já que velas o prédio incendiar podiam
Carlos e Carolina prometeram ter cuidado
Vilma, percebendo que estavam ansiosos,
Tentou inventar brincadeiras para entretê-las
Em vão
Carolina e Carlos ficavam a todo o momento perguntando
Quando esta noite vai terminar?
E Vilma dizia que não sabia
Acreditava se tratar de um fenômeno meteorológico
Talvez um eclipse
Carlos retrucou dizendo
Que se eclipse fora
Os jornais teriam noticiado com antecedência
Vilma concordou
Carolina ao perceber que nem a mãe sabia o que acontecia
Chorou novamente
Vilma então consolou-a
Disse-lhe que provavelmente em questão de horas isso provavelmente se resolveria
Quem sabe amanhã tudo normal ficaria
Carolina perguntou-lhe se certeza tinha
Vilma disse-lhe que certeza não tinha
Mas esperava que isto se resolveria
Nisto, ficou a observar as construções ao redor
Tudo escuro
Não vinha luz de nenhuma das casas
Vilma pensou em sair de casa e verificar a vizinhança
No que as crianças pediram-lhe para não ir
E a mulher concordou
Tentou ligar para o ex-marido, o chefe, colegas
Nenhuma ligação completava
Afinal energia não havia
Rindo chegou a comentar que burra ficara
Nisto comentou se nada podia fazer
Iria preparar uma refeição
As crianças a acompanharam
Em meio a escuridão, separou os ingredientes
Preparou como refeição: arroz, feijão, carne e batata frita
Carlos adorou
Já Carolina reclamou
Vilma argumentou que diante das circunstâncias era o que podia ser feito
Carolina contrariada reclamou
Carlos e Carolina comeram a comida em silêncio
Vilma ficava a pensar em quanto tempo isto iria perdurar
Em seguida pensava:
Chega de bobagens, amanhã tudo se normalizará.
Mais tarde Carlos fabulou sobre o intrépido cangaceiro Omar
Que depois de certo tempo do bando de Lampião se despediu
Lampião tentou convencê-lo a ficar
Mas Omar dizia que para outras rumagens iria parar
E assim, o famoso cangaceiro desejou-lhe que conseguisse êxito em sua empreitada
Comentou que gostou de conhecê-lo
Afirmou que se tratava de homem de fibra e princípios
Carolina achava graça
Considerava divertido um cangaceiro de bom coração
Carlos achando interessante o comentário,
Disse que iria acrescentar a informação a história
E assim Omar, ganhou a alcunha de cangaceiro de bom coração
Também partiu do acampamento onde estavam os cangaceiros
Rumou para longínquas paragens
Em suas andanças avistou a paisagem íngreme do nordeste
A caatinga, os cactos, as árvores rasteiras e retorcidas
O solo rachado por falta d’água
O sol inclemente abrasando o solo
E o jovem andando com sua roupa e chapéu de couro,
Montado em seu cavalo,
Andou, andou, até chegar ao vilarejo
Casas simples e roupas penduradas em cercas de arame
Parou diante de uma casa e pediu um pouco de água para prosseguir a jornada
No que foi prontamente atendido
Agradeceu e partiu
Ao chegar em outra vila,
Deparou-se com um ambiente arrasado
Casas queimadas, outras invadidas, com portas e janelas quebradas
Ambientes revirados, mulheres, crianças, homens e idosos maltratados
E a população por entre revoltada e amedrontada
Sua vida a viver ficava
Omar ao tomar ciência da situação,
Resolveu no local ficar
Bem como a população ajudar
Apresentando-se como Omar
Relatou que sabia confeccionar facas e relatou que por ali pretendia se instalar
Os homens do lugar acharam curiosa a ocupação do rapaz
Com o tempo, o homem que havia alugado uma das casas
Passou a exibir seus dotes em cutelaria
E produziu belas facas e instrumentos de corte
E os moradores ficaram admirados com suas habilidades
Com o tempo passaram a comprar seus produtos
Que eram também exibidos na feira do lugar
Nisto, com o adiantado da hora,
Vilma ficou a chamá-los,
Dizia que era hora de dormir
As crianças argumentaram que não estavam com sono
Vilma disse também que não
Mas diante dos últimos acontecimentos,
Argumentou que era o que restava a ser feito
Pensou que no dia seguinte tudo voltaria a normalidade,
Só que não
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