Poesias

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Duelo do Sorriso Amarelo

V

A mulher ficava a se perguntar:

Será sonho ou pesadelo?


Carolina e Carlos a todo momento lhe perguntavam

O que estava para acontecer!

Aflitos ao serem o medo nos olhos de seus coleguinhas

Pensavam que o mundo iria acabar


Vilma, percebendo o temor

Dizia-lhes que não sabia o que estava acontecendo

Contudo, a despeito disto

Por mais difíceis que as coisas se tornassem

Que tinham um ao outro, não estavam sós

E que ela jamais os deixaria desamparados

Argumentava ainda que sem saber pelo que esperar

Que tudo bem, ao final iria acabar


Carlos nervoso, perguntava como,

Já que tudo parecia tão estranho

Vilma, sincera, comentou nunca antes passara por isso

Aliás, nunca o mundo presenciara algo tão estranho


Ao chegar em casa, tentou ligar a televisão

Não funcionava

Acender a luz, impraticável, já que energia faltava


No saguão do prédio, o elevador parado estava

O porteiro atônico ficara

Dizia que a luz faltava

Neste momento, nem o céu brilhava


Carlos e Carolina se afligiam ao ver tudo escurecido

Ao verificar que estavam sem eletricidade,

Vilma tentou ligar o celular

A muito custo e luta, consegui o aparelho ligar

Mas sem energia, nada de internet ou de acesso ao mundo


Aflita, tentou não demonstrar o nervosismo diante dos filhos

A todo momento, e a todo custo,

Tentava muita calma demonstrar

Dizia para as crianças não fiarem em palavras catastróficas

E mensagens pessimistas

Dizia sincera, que não sabia como, mas tudo ao final terminaria bem


Carlos nervoso, dizia a todo o momento

Que ela não também não sabia, o que acontecia


Vilma, triste, reconheceu

Disse-lhe que não possuía respostas para tudo

Mas que, ainda que não soubesse quando tudo se acabaria

E qual o final que seria

Sabia, que tudo se encaminharia para o bem


Afina, se Deus, em sua infinita sabedoria,

Criou um mundo tão vasto e complexo

Em que todos são capazes e aptos para vivê-lo

Os seres humanos acabariam por criar uma solução para o caos


Carlos indagava como isto aconteceria


Carolina ao perceber a tensão no ambiente,

Começou a chorar


Vilma então pediu de forma enérgica para que todos se acalmassem


Com isto, passou a procurar velas

Espalhou-as pela casa


Disse-lhes que já que nada poderiam fazer

Iriam aguardar os acontecimentos

Perguntou as crianças se tinham fome


Carolina e Carlos diziam que não

A todo o momento ficavam a observar a janela


Foi em questão de minutos para tudo escurecer


Vilma começou as velas acender

Não sem antes recomendar que cuidado tivessem

Já que velas o prédio incendiar podiam


Carlos e Carolina prometeram ter cuidado


Vilma, percebendo que estavam ansiosos,

Tentou inventar brincadeiras para entretê-las

Em vão


Carolina e Carlos ficavam a todo o momento perguntando

Quando esta noite vai terminar?


E Vilma dizia que não sabia

Acreditava se tratar de um fenômeno meteorológico

Talvez um eclipse


Carlos retrucou dizendo

Que se eclipse fora

Os jornais teriam noticiado com antecedência


Vilma concordou


Carolina ao perceber que nem a mãe sabia o que acontecia

Chorou novamente


Vilma então consolou-a

Disse-lhe que provavelmente em questão de horas isso provavelmente se resolveria

Quem sabe amanhã tudo normal ficaria


Carolina perguntou-lhe se certeza tinha

Vilma disse-lhe que certeza não tinha

Mas esperava que isto se resolveria


Nisto, ficou a observar as construções ao redor

Tudo escuro

Não vinha luz de nenhuma das casas


Vilma pensou em sair de casa e verificar a vizinhança

No que as crianças pediram-lhe para não ir

E a mulher concordou


Tentou ligar para o ex-marido, o chefe, colegas

Nenhuma ligação completava

Afinal energia não havia


Rindo chegou a comentar que burra ficara

Nisto comentou se nada podia fazer

Iria preparar uma refeição


As crianças a acompanharam

Em meio a escuridão, separou os ingredientes

Preparou como refeição: arroz, feijão, carne e batata frita

Carlos adorou

Já Carolina reclamou


Vilma argumentou que diante das circunstâncias era o que podia ser feito

Carolina contrariada reclamou


Carlos e Carolina comeram a comida em silêncio

Vilma ficava a pensar em quanto tempo isto iria perdurar

Em seguida pensava:

Chega de bobagens, amanhã tudo se normalizará.


Mais tarde Carlos fabulou sobre o intrépido cangaceiro Omar

Que depois de certo tempo do bando de Lampião se despediu

Lampião tentou convencê-lo a ficar

Mas Omar dizia que para outras rumagens iria parar

E assim, o famoso cangaceiro desejou-lhe que conseguisse êxito em sua empreitada

Comentou que gostou de conhecê-lo

Afirmou que se tratava de homem de fibra e princípios


Carolina achava graça

Considerava divertido um cangaceiro de bom coração


Carlos achando interessante o comentário,

Disse que iria acrescentar a informação a história


E assim Omar, ganhou a alcunha de cangaceiro de bom coração

Também partiu do acampamento onde estavam os cangaceiros

Rumou para longínquas paragens


Em suas andanças avistou a paisagem íngreme do nordeste

A caatinga, os cactos, as árvores rasteiras e retorcidas

O solo rachado por falta d’água

O sol inclemente abrasando o solo

E o jovem andando com sua roupa e chapéu de couro,

Montado em seu cavalo,

Andou, andou, até chegar ao vilarejo

Casas simples e roupas penduradas em cercas de arame


Parou diante de uma casa e pediu um pouco de água para prosseguir a jornada

No que foi prontamente atendido

Agradeceu e partiu


Ao chegar em outra vila,

Deparou-se com um ambiente arrasado

Casas queimadas, outras invadidas, com portas e janelas quebradas

Ambientes revirados, mulheres, crianças, homens e idosos maltratados

E a população por entre revoltada e amedrontada

Sua vida a viver ficava


Omar ao tomar ciência da situação,

Resolveu no local ficar

Bem como a população ajudar


Apresentando-se como Omar

Relatou que sabia confeccionar facas e relatou que por ali pretendia se instalar

Os homens do lugar acharam curiosa a ocupação do rapaz


Com o tempo, o homem que havia alugado uma das casas

Passou a exibir seus dotes em cutelaria

E produziu belas facas e instrumentos de corte

E os moradores ficaram admirados com suas habilidades

Com o tempo passaram a comprar seus produtos

Que eram também exibidos na feira do lugar


Nisto, com o adiantado da hora,

Vilma ficou a chamá-los,

Dizia que era hora de dormir


As crianças argumentaram que não estavam com sono

Vilma disse também que não

Mas diante dos últimos acontecimentos,

Argumentou que era o que restava a ser feito


Pensou que no dia seguinte tudo voltaria a normalidade,

Só que não

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