Poesias

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Duelo do Sorriso Amarelo

 VIII

Descrente, o homem pediu-lhe para explicar

Que pretendia ele

E Omar encurralado, com uma arma apontada

Teve que uma saída arrumar


Disse que contaria seu intento ao chefe do bando

Com isto explicou que ao lado do bando de Lampião vivera

Que da vida de cangaceiro soubera

E que da vivência na cidade

Tirara importantes aprendizados para a vida


O homem achando o jeito de Omar enrolado

Comentou que sim, o levaria diante dos cangaceiros

Mas não para falar com o chefe do bando

E para ser julgado


Omar nada entendeu

Com isto, o homem mandou-lhe seguir em frente

Avisou-lhe que se tentasse fugir,

Um balaço levaria


Omar então caminhou pelo sertão

Andou por dias até chegar ao acampamento


Os companheiros do bandoleiro

Ao saberem da história de Omar

Intrigados ficaram

Chegaram a criticar Tenório,

Por trazerem tão suspeita figura que poderia denunciá-los

Pensaram em matá-lo


Mas Omar com o tempo,

A simpatia dos membros do bando ganhou


Prestativo, realizava pequenos trabalhos

Com sua arte e ciência em cutelaria,

Produziu belas facas


Era limpo, organizado, ordeiro

Sabia até mesmo cozinhar


Dizia que a todos que há muito tempo

Sozinho vivia

Só tendo por companhia,

Os amigos que pelos caminhos da vida encontrava


Quando por lá chegara

Comentou sobre sua experiência no bando de Lampião

Dizia não ser inimigos dos cangaceiros

Mas que preferia a paz


E assim nos primeiros tempos,

Viveu sob ameaças

A todo momento diziam que iriam matá-lo,

Que de lá não escaparia


Com o tempo,

Ao demonstrar lealdade,

Posto que chegou até mesmo

A avisar que havia um movimento suspeito nos arrabaldes


O chefe do bando,

Ao disto tomar conhecimento

Demonstrou admiração

Perguntou-lhe por que não fugira e os denunciara

Pois esta seria sua libertação


Omar respondeu-lhe,

Que traidor da causa não seria

Mesmo em não concordando com ela

Argumentou que eles uma boa vida teriam

Se abandonassem a vida de bandoleiros


O homem riu

Dizia que só sabia fazer isto da vida

Omar retrucava dizendo

Deus a todos dotara de inteligência

E que se ele fora capaz de aprender tantas coisas

Eles também seriam


Clodoaldo argumentava que todos ali bem viviam

E que não ouvira ninguém reclamar da vida que levava


Omar respondeu-lhe que estavam acostumados

E que não conheciam outras formas de viver

Respondia que a vida de cangaceiro estava com os dias contados

E que um dia todos iriam morrer

Mencionou o trabalho das volantes, e que muitos políticos queriam o fim do movimento


Clodoaldo ficou envaidecido ao saber do interesse dos políticos

Omar retrucou dizendo que com isto não se brinca

E que o esfacelamento do movimento seria questão de tempo


Com o tempo, ao darem pela falta de Omar

Avisaram o policial que passou a procurá-lo


E assim, seguia Omar sua vida em meio aos cangaceiros

Prestativo, gentil e amigo


Tão amigo, que Clodoaldo

Percebendo a afeição que os bandoleiros

Passaram a demonstrar ao novo companheiro

Incomodado começou a ficar

Chegou até a lhe falar,

Alguns cangaceiros estão a pensar em suas palavras


Omar então desculpou-se

Disse-lhe que não estava interessado em intrigas causar

Que apenas a vida das pessoas melhorar


Clodoaldo entendeu

Apenas pediu para que isto parasse

Argumentou que a decisão cabia a seus homens

E não a ele


Omar pensativo, calou-se


Com o tempo, o policial conseguiu pistas

Organizou uma volante e passou a varrer a região

Foi questão de tempo para localizar o acampamento do bando


O primeiro homem avistar, foi Omar

O rapaz, a presença do policial notar

Chamou-lhe num canto

Explicou que estava tentando convencer as pessoas a mudar

Argumentou que não seria necessário prender ou matar

E que eles deixariam de atacar vilarejos


O policial achou aquela conversa muito louca

Mas Omar insistiu

Disse que há tempos eles não invadiam a cidade

Que arranjavam alimentos em meio a natureza, caçavam, pescavam

Montavam suas cabanas,

Teciam suas roupas

Alguns eram casados, traziam suas mulheres

Além de tudo havia crianças


O policial admirado ficou

Mas argumentou que estava em uma missão

Disse-lhe que não poderia cancelar tudo

Pois até o exército e o prefeito da cidade de tudo estava sabendo


Omar argumentou que aquele não era o bando que invadira a cidade, o vilarejo

Argumentou que sua palavra estava encontrando eco

Que alguns bandoleiros já cogitavam abandonar o bando

Diziam estar cansados de tanta violência e dificuldades


O policial foi percebendo uma aproximação

Mas ao tentar atirar, recebeu tiros como resposta

Encostou-se em um canto


Gritou para Omar se proteger

O homem gritou para os cangaceiros pararem de atirar


Nisto, os demais policiais, passaram a também atirar

Omar arriscou-se e tentou sair do local

Mesmo em meio a tiros


Em dado momento,

Tenório apontou-lhe uma arma

Argumentou que ele era um traidor e merecia a morte


Os demais cangaceiros tomaram sua defesa

Clodoaldo perguntou-lhe se havia avisado os policiais

Omar respondeu-lhe que não

Mas admitiu que conhecia um dos policiais

Clodoaldo pediu-lhe o nome


Omar recusou-se a dizer

Por conta disto foi preso

Aprisionado pelos cangaceiros

Ouviu que iria se iniciar uma caçada aos policiais


Com efeito, do evento,

Resultou um policial ferido e um cangaceiro morto


Os cangaceiros estavam furiosos

Queriam vingança


E Omar em meio a isto, sem saber o que fazer

Aprisionado, mesmo assim, pediu para trabalhar


Clodoaldo concordou,

Sob protestos

Os bandoleiros diziam que ele poderia fugir


O homem respondeu que este seria um teste

E que ele estava sendo vigiado


Com efeito, em nenhum momento, o homem pensou em fugir

Omar varria, limpava, cozinhava

Só não mexia com facas


E os policiais continuavam em suas tentativas

Em dado momento, chegaram com um grande efetivo

Omar foi o primeiro a avistar, e avisou o chefe do bando

Aflito sugeriu que fugissem

Argumentou que daria tempo de levantar acampamento

Sem deixar vestígios e se embrenharem na mata


Clodoaldo não concordou, argumentou que preferia enfrentar a policia

Omar argumentou que eles eram em maior número, armados

E que lutar com eles, acarretaria muitas mortes para o bando

Seria uma carnificina

Clodoaldo argumentou que não era covarde

Omar sugeriu ir conversar com os homens

O chefe do bando não concordou


O homem retrucou dizendo que tinha uma ideia

Mas sugeriu que sim, todos organizassem suas coisas

Deveriam sim levantar acampamento


Clodoaldo ficou sem entender

Omar respondeu que diria ser um cangaceiro

Que se rendendo estava

Com isto, eles ganhariam tempo para fugir


Clodoaldo indagou-lhe por que isto faria

Omar respondeu que estava cansado de ficar no meio de tanta violência

Argumentou que desde sempre estava se escondendo

Confessou que matara um homem em defesa de uma mulher

E desde então vivia a se esconder


Clodoaldo ficou a ouvi-lo

Por fim, entendeu seu ponto de vista

Argumentou que se tratava de um homem bom

E ao avistar a volante,

Finalmente entendeu o que Omar insistia em dizer-lhe


Por fim, ordenou a todos que levantassem acampamento

E procurassem levar o que podiam

Apagassem e desfizessem fogueiras

Que não deixassem vestígios de sua passagem


Todos acataram sem discutir

Omar auxiliou no que podia

Avistou todos partirem


Quando percebeu que estavam longe

Foi ao encontro da volante


Os bandoleiros estavam cientes do plano de Omar


O acesso era difícil

Omar levou algumas horas para localizar a policia

Que se dispersava pelo morro


Entregou-se

Disse que estava cansado desta vida

Que havia cometido um crime e que estava disposto a responder por isto

Com isto, o policial que o perseguia, deu-lhe voz de prisão


Omar não mostrou resistência


Os policiais ao chegarem ao morro,

Perceberam que não havia cangaceiros


Arthur, o policial que prendeu Omar

Perguntou-lhe que havia ocorrido

O homem que não havia cangaceiros no lugar

Mencionou que após o último tiroteio,

Os homens fugiram

Nunca mais ouvira falar deles


Arthur respondeu-lhe que estava mentindo

Mas que ele iria contar-lhe tudo

Inclusive o paradeiro dos bandoleiros


Omar seguiu rumo a cidade

Os policiais ainda tentaram localizar os bandoleiros

Sem êxito


Omar na prisão foi torturado,

Mas em nenhum momento delatou os companheiros

Socos, choques, e tentativas de afogamento

Não o convenceram

Dizia nada saber


Argumentou que seu único crime fora matar um homem para defender uma dama

Que os outros crimes não cometera


Clodoaldo ao saber da prisão do moço

Prometeu ao bando que o libertaria


Traçou um plano

E assim, foi questão de tempo para invadirem a delegacia

Renderem os policiais e libertarem Omar


Omar agradeceu, mas respondeu que estava disposto a responder por seu crime

Clodoaldo argumentou que os policiais o matariam antes

O homem sem alternativa, concordou com a fuga


Subiu na garupa de um cavalo, e sumiu juntamente aos cangaceiros

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