Poesias

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Mares

Preservar as memórias dos queridos entes
Guardar com carinho nos corações,
Os seus gostos, seus interesses da vida
A fim de que eles vivam eternamente em nossas lembranças

Perceber que em muitas alegrias
Existem alheias tristezas
A vida vem e vai
Ora nos trazendo alegrias, ora nos transmitindo tristezas

E mesmo nos maiores conflitos,
Descobrir a alegria, e um melhor jeito para se entender os desenganos,
Recorrentes nos desvãos da vida

Viver no mar
Oceano salpicado de barcos,
A circundarem os banhistas
Frias águas do tempo
De um tempo de felicidade passado
Mas que a qualquer momento pode ser retomado

Origem das primeiras cidades de uma terra brasilis
Índios a marcarem a história destas plagas
Cunhambebe a se estabelecer em Bertioga
E a depois lutar em território fluminense
Ao lado de Estácio de Sá

Anchieta e seu trabalho de catequizar os índios
A dormir em leito de pedras,
Circundado pelo brilho das estrelas
A iluminar de tímida forma, a cama
Do município litorâneo, com seu casario histórico

Jesuíta dotado de espírito aventureiro,
Como os demais sacerdotes,
A enfrentar serras íngremes
A fazer pouso em campo estrelado,
Tendo por leito apenas as pedras,
E o duro chão dos caminhos

A transmitir os ensinos de sua religião,
E conhecimento aos índios

Em suas caminhadas pelo litoral,
Ficava a escrever belos textos na areia molhada
Palavras que com a elevação da maré,
Seriam devoradas pelas águas
Que as lamberiam, em seu furor

Abarebebê, Leonardo Nunes
A percorrer de forma veloz, as regiões
Amontoado de aldeias indígenas
Aldeias e povoados, a receberem as luzes da doutrina cristã
E a reunir as gentes,
A construção de uma igreja de pedras,
Que hoje se faz em ruínas
Memória do município desmembrado de Itanhaém,
Peruíbe, Terra da Eterna Juventude
Com sua lama medicinal, a curar dores e vitalizar

Lugar de mar aberto, extenso
Linda serra verdejante ao fundo
Ultimamente salpicada de barcos pesqueiros
Com seu mar azul e lindo, contrastando com a espuma branca das ondas

Lua brilhante, acompanhada de estrelas,
Iluminam o céu escuro
A noite preta e densa, a envolver toda a atmosfera

Em contraste aos tempos passados,
Conforto em macios lençóis
Quartos arejados
Em tempos de antanho,
Homens desbravadores, dormindo ao relento
Os nobres padres jesuítas a descansarem seus corpos cansados,
Em céu de estrelas

A edificarem cidades e povoados
E escalando íngreme serra, colonizaram o interior
Marca de bravura e coragem,
E um grande contingente de violência

Índios foram escravizados, catequizados,
E transformados em servis criaturas
Auxiliaram na edificação dos povoados
Índias foram violadas,
Dando origem aos cafuzos
Paridos de cócoras
Primeira mistura brasileira

As mulheres brancas, raras,
Eram trazidas de Portugal
Mulheres que não tinham nada a perder em suas terras
Acreditavam na possibilidade de um bom casamento em terras tupiniquins
Acreditavam, ou eram levadas a acreditar
Mulheres brancas, objeto de cobiça dos portugueses
A habitarem estas plagas

Homens brancos,
Vinham na esperança de enriquecer,
De livrarem-se das pesadas penas impostas pela coroa portuguesa
Muitos indesejados em sua terra

Bandeirantes, a desbravarem os sertões
A percorrerem as entranhas do Brasil
A gerarem conflitos com os índios habitantes destas paragens
A imporem seu modus vivendi
Aculturando os índios, ou adaptando-os a sua cultura
Ora odiados, ora temidos pelos índios
Como o Anhagüera, ou Diabo Velho
A colocar fogo em aguardente, atemorizando os índios

Edificaram construções em taipa de pilão
Estruturas em ripas de madeira,
Cobertas de argila, estrume e sangue de animais
Grossas paredes, pintadas de cal
Com batentes de portas e janelas coloridos e verde, azul
Em seu interior, poucos móveis feitos em madeira de lei
Os alimentos a serem conservados de forma rudimentar
Água fresca guardada em cabaças e jarras de barro
Resultante do trabalho das índias
Inóspitas paragens,
A fazer das mulheres, seres dotados de muita coragem

Em muitos povoados, ataques diversos de índios
Como em Vila de Santo André da Borda do Campo,
A qual fora abandonada
Vindo o Cacique Tibiriçá, a índia Bartira, e o português João Ramalho
Este último, vindo a desposá-la
Todos a viver, junto com os demais habitantes da vila,
Em São Paulo de Piratininga, ou Piratinim
Vida dura, difícil, sacrificada, com muito pouco, ou quase nenhum conforto

Desbravadores,
Como o foram os primeiros portugueses a aportarem no Brasil
A oferecerem-lhe quinquilharias, em busca do Pau Brasil
Madeira nobre, da qual se extraía uma tintura vermelha,
A tingir as vestes espalhafatosas dos portugueses
Neste primeiro contato, a dominação dos índios,
O adoecimento dos nativos, a violação das índias
O deslumbramento dos navegadores,
Com a exuberância das matas,
A nudez, dos índios
Seu modo de vida simples

A viver da caça, da pesca, da coleta de alguns frutos
A prepararem o cauim,
Bebida feita do milho fermentado pela mastigação dos índios
Mandioca, base da culinária brasileira
Mistura de paladar português com gosto indígena, adaptado
As peculiaridades de cada local
E assim, surgiu a culinária paulista, a mineira, e assim por diante

Nordeste, Porto Seguro, lugar da primeira missa celebrada,
Em Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Brasil
Retratada de forma poética por Pedro Américo

No Nordeste, história de índios canibais,
A devorarem padres
Em Itanhaém, índios escravizaram Hans Staden,
O qual naufragou em águas brasileiras,
Vindo a se salvar do canibalismo, por sua bravura e coragem,
Em lutar ao lado dos índios

Conflitos de interesses, onde todos lutam pela vida
Em que pese a morte, quase sempre, à espreita

Engenhos de açúcar, e as formas em metal,
Chamadas de Pão de Açúcar
Com o tempo, passou-se a escravizar os negros
Os quais não conheciam a terra, e o modo de vida
O que dificultava a fuga

Muitos, reis e príncipes em suas terras,
A viverem de modo servil em plagas alheias
A sofrerem as maiores formas de humilhação,
E sofrimento no transporte das terras africanas,
Traídos que eram por seus pares
A morrerem muitos na jornadas
E muito pouco viverem nas senzalas

Em São Paulo, a trabalharem no comércio do café
Fazendas coloniais, com senzalas, pelourinhos
Grandes construções
Cenários de muito luxo e requintes, com interiores ricamente decorados
Em contraste com as moradas antigas dos bandeirantes

Brasil, terra de foro de privilégios
Com as sesmarias,
Criadas com o objetivo de estimular a ocupação do país
Sesmeiros ocuparam as terras, mas de extensas, perderam seu território
Poucos conseguindo mantê-los
E ainda assim, as terras foram desbravadas,
E o país, de dimensões continentais
Transformou-se em terra de diversas culturas,
Onde povos, vivendo nos mais distantes rincões,
Falam a mesma língua, portuguesa

Araribóia em apoio aos portugueses,
Contra os invasores holandeses
Por tributo aos seus bravos feitos,
Recebeu sesmarias, entre elas: “São Lourenço dos Índios,
Atualmente conhecida como Niterói
Dizem que em matança noturna, o índio seguiu a nado, pela baía,
A fim de emboscar os holandeses

Bravos índios,
Tão decantados nas poesias da fase primeira do romantismo
Especialmente na poesia de Gonçalves Dias

Ciclo do ouro, com o fausto e riqueza das construções barrocas de Vila Rica,
Atual Ouro Preto,
Palco de muitas fotografias,
Disparadas das câmeras digitais dos turistas e passantes do local

Cenário da Inconfidência Mineira, e de um bravo Tiradentes,
Morto e esquartejado,
Com seus pedaços espalhados pela cidade
Lembranças da brutalidade de outros tempos,
Os quais ainda infelizmente persistem em muitos aspectos

Tantas histórias, tanto passado,
História de um tempo, não tão distante
Memórias de uma época, e de lugares,
Próximos de nós

Ruínas abertas a visitação,
Pedaço da história de Peruíbe
Pensamentos distantes, a viajarem no tempo
Viver histórico, com a vida prosaica de cada dia

Com flor noturna a desabrochar,
Em um jardim sempre exuberante,
Com suas belas árvores de folhagem verdejante
As flores várias

As águas a invadir as areias,
E a formarem pequenas e singelas lagunas
Remansos de água salgada e doce

Mar azul
Céu azul, brancas nuvens, sol dourado,
A refletir na claridade das águas

Queima de fogos no reveillon
Cenário de luzes variegadas e formas, por muitos minutos

Barcos pesqueiros a circundarem a praia
Quiosques repletos das gentes, e das músicas variadas
Canais de água e correr o mar

Canal de pedras, divide a praia em duas
De lá saindo os barcos que singram as águas
Mar revolto, correntes de retorno

Lua cheia, céu estrelado
Flores de cera,
Hibiscos dobrados vermelhos, laranja, róseos;
Lantanas coloridas;
Flores miúdas de uma dama da noite perfumada

No caminho de volta ao lar citadino
A serra enfeitada de manacás floridos

Céu bonito,
Com imponentes formações de brancas nuvens na ida
Pôr do sol dourado em das viagens, várias

Lindo cenário de felicidade e de reflexão
O entender da vida
Crianças a correr para o mar, a brincar na areia

Caminhadas, muitas,
Novas construções,
As melhorias a caminharem a passos lentos

Carnaval com confete e serpentina
Herança dos tempos do Entrudo
Os corsos,
Com as mocinhas sentadas,
Em seus luxuosos carros conversíveis
Mascaradas,
Enroladas em confete e serpentina

Blocos carnavalescos
Desfiles em sambódromo,
A formação das escolas de samba,
A desfilarem inicialmente em avenidas

São Paulo a despontar neste cenário
E Adoniram Barbosa a demonstrar,
Ser a mais completa tradução,
De que São Paulo não é o túmulo do samba

Cidade aniversariante que nunca dorme!

E o entrar nas águas da praia,
Molhar o corpo, os cabelos,
Apreciar o cenário
E a ter a certeza do quanto se pode ser feliz,
Realizando algo tão simples
O segredo da felicidade, está na simplicidade

Assim como a música pode mudar o estado de ânimo de alguém
E um livro aperfeiçoar o modo como se vê o mundo
As pessoas são eternas em nossas memórias

E o tempo, este eterno inconstante,
Este só nos acrescenta
Só cabendo a nós não temê-lo

E os mares guiam a corrente, ou a corrente guia os mares
Mar, maré, mares, guia
Condutor de destinos ...

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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