Poesias

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Melenas

Cabelos soltos
Voando ao sabor dos ventos
Longos e ondulados
Ondeantes
Desenhados conforme os contornos do vento
Revoltos em sua geometria irregular
A esconder rosto e feições

I

Vento a refletir nas frontes
Refrescando tez escaldantes
Ou esfriando corpos já tiritantes de frio

E a espalhar os fios de cabelos
A passearem pelos ares
Adquirindo diferentes formas
A cobrirem rostos

II

Cabelos longos e lisos
Penteados com todo o cuidado
Melenas encaracoladas
Ajeitadas em meio a água e cremes
A fim de adquirir formas de cachos

Cachos outrora de uvas
Outrora denominação para amantes

Cabelos a representarem a moldura do rosto
Bastião de beleza para as mulheres
Sempre a cuidarem com todo o cuidado,
De suas madeixas

Cabelos louros, a lembrarem tons de ouro
Negros, castanhos claros ou escuros
Ruivos, lisos ou crespos,
Ondulados, cacheados
A adornarem rostos belos ou não

A representarem o ideal de beleza feminina
A serem enfeitados com presilhas e enfeites
Presos, soltos
Penteados, desalinhados

Nem todos cuidados
Tratados

A comporem a imagem de suas donas
Que com seu cuidado, ou não
Revelam a forma como querem ser observadas

III

Feiticeiras,
Sabedoras de que os cabelos
Representam algo de mais valioso
Na feminina aparência

A cuidarem de seus fios,
Como quem joias guarda
E preciosa gema ostenta

IV – O Vento e o Mar

O vento tímido
A temperar o ambiente com suas formas
As águas frias do mar,
Pouco convidam a devassá-lo

No anterior dos dias
Barcos a navegarem nas proximidades da faixa de areia
A fazer companhia ao bando de gaivotas

Grandes e corpulentas aves,
A repousarem na areia fria de molhada
A voarem pelos arredores
Buscando alimento

E o mar azul, de brancas brumas
Espumas a se espalharem pela areia
E as serras encobertas pelas nuvens

Triste tempo, tempo triste
A manhã tristonha, a evocar a beleza do vento
A evocar um tempo de reflexão

E a chuva a cair em forma de garoa
Lenta e fina, inconstante
A com o passar, das passadas
Pegadas na areia,
A ganharem contornos mais firmes
A caírem de forma mais incidente

Pisando com os pés descalços pela areia fria
A mergulhar os pés, em pequenos fios de água
Água a brotar das montanhas e serras próximas

Praia solitária,
Com poucos banhistas aventureiros,
A mergulharem nas águas

E na volta do caminho,
A chuva a engrossar,
Inundando as roupas e o corpo de água
Abrigo em um quiosque fechado
Até ser chegado o momento da partida

Cabelos molhados de chuva
Adquirindo novos contornos
Cachos a alisados ficarem

E o vento tímido,
A se fazer cada vez mais forte
Impávido, inclemente

Vento que antes,
A empurrar as madeixas para trás
Demonstrando retrato altivo de sua passagem
A por vezes, encobrir o rosto,
Com os cabelos soltos pelo ar
Mostra sua força vigorosa

Vento,
Agora traz a chuva em bojo
Figura inconstante do lugar

Enfrentar a chuva, o tempo
De peito aberto
Apenas protegida por um delicado guarda-chuva
Finas varetas toldadas pelo vento
A dar novos contornos a peça

Finalmente a chegada em casa
Não sem antes passar por grupos
A fazerem de tecidos,
Sua proteção contra a intempérie

Chuva de vento, forte, inclemente
A cessar quando do regresso ao lar

E o jardim florido
Com suas copas de árvore
A servir de abrigo para fina garoa
Chuva que não perpassa sua trama de folhas

Uma linda dália rósea
A se mostrar no alto do caule verde
Entroncado a uma rosa trepadeira
Ladeado por outro pé de planta,
Da mesma espécie e da mesma cor
Cuja flor não se mostra para nós

Muitos botões no pé de manacá
Lantanas em botão
A vida que se renova e se perde em meio à distância
No tempo e no espaço
Equação difícil de ser sanada

Flores vermelhas e brancas,
Nas primaveras que desabrocham
A enfeitarem o muro da casa, circundando-o
Lindo cenário de verde
A fazer pela composição,
Com o muro recém pintado em tom verde escuro

Mal posso esperar pelo regresso
As caminhadas pela praia
A acompanhar lindo alvorecer
As águas azuis, ou verde esmeralda
O mar sempre lindo
As gaivotas, com suas asas imensas, a voar
Passeios de bicicleta
Mergulhos no mar

No caminho, saudades dos manacás floridos
Sendo atualmente saudada por pés de embaúba
Com suas folhas brancas e espalmadas,
A lembrarem grandes e magníficas flores

A trazerem lembranças de infância
Saudades de tempos passados,
De seres a gerar descendência

Crianças a comerem seu fruto alongado
Fruto da árvore embaúba
A comentarem,
Sobre degustações de amoras silvestres,
Além de maracujás silvestres

Como um cheiro, uma forma, um evento,
Pode trazer à tona,
Memórias afetivas de acontecimentos passados?

Nada como a incrível capacidade de fazer associações
Inventividade adaptada a criatividade humana,
Onde cada qual cria sua própria cadeia de associações
E assim, cada um enxerga a vida de uma maneira toda própria
Tendo em alguns casos, alguns pontos em comum
Peculiaridades a nos fazer de toda a forma, especiais

E a chuva a nos colher na volta para casa
Recordações de outras voltas da praia
Dos tempos de criança
Em que se ficava a contemplar o desenho das nuvens
Em tardes claras

A imaginar diferentes formas e significados para elas
Imaginando como seria a vida, se pudéssemos viver na praia,
Ou ter uma casa de veraneio
Como ela seria?

Sempre tive boa impressão,
Deste misterioso e imenso elemento da natureza
Mesmo diante dos maiores sustos,
O mesmo sempre me trouxe paz,
E as mais lindas lembranças

Como da tentativa frustrada,
De se tirar uma foto com um siri
Finalmente consegui realizar tal desiderato

Os sonhos podem ser grandes ou não
Mas de alguma forma, consigo alcançá-los
Em que pese sua imaterialidade,
E o tempo que leve

Não é impossível se alcançá-los,
Quando se almeja muito,
Quando se tem meta e foco

De alguma forma, os sonhos sempre nos alcançam
Das mais diversas formas

E o vento, o vento muda as formas
A atmosfera,
Criando um novo ambiente,
Por vezes triste melancólico,
E até soturno

Sua impetuosidade,
Nos faz adaptarmos às suas condições
E nos traz a mudança,
Quem sabe também, as boas coisas
Vento que traz alento

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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