Poesias

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

ENFASTIO

Em se confiando e vendo os sonhos ruírem
Por que ainda insistir em acreditar?
Será então o mundo, um bom lugar para se viver?
Por que devemos nos transformar,
Se não podemos mudar o mundo em que vivemos?

Mundo, indevassável mundo
Universo infinito em possibilidades
Quantas quimeras criastes,
Quantos sonhos destruístes

Por que a vida, dura lida,
É só rotina?
Pegar ônibus, trólebus, trem, metrô, expressos da vida
Trabalhar, trabalhar, trabalhar
Cumprir regras,
Ser um exemplar cidadão, ou uma exemplar cidadã
Cumprir regras, muitas regras
Cada vez mais regras

Não devemos ser ríspidos e agressivos,
Mesmo com gentes que assim o são conosco
Não devemos nos exaltar,
Mesmo quando tudo parecer nos tirar do sério
Devemos ser sempre compenetrados e conformados
Aceitarmos falsetas, traições e decepções
Pois a vida é um eterno desengano,
Muito embora entrecortada de alguns encantos!

Gostaria de ter uma vida que não tenho
De trabalhar em alguma coisa que gostasse
Poder ter entusiasmo não só nas pequenas,
Mas também nas grandes realizações,
No duro e tedioso cotidiano

Gostaria que a vida não fosse esta eterna luta,
Eterna corrida
Em busca de um lugar mais confortável para se viver
A luta dos medíocres,
Para ver quem se destaca afundar-se,
No eterno cipoal da maledicência
Que a inveja desapareça da face terrena!

Que a vida não seja uma luta,
Para ver quem consegue ir sentado em uma condução
Nem que seja preciso se matar para conseguir isto
Em busca de sempre levar em tudo vantagem
De pisar e desrespeitar os outros
Achando que se está bom para si,
Dane-se o resto!

Chega de correr para sair de casa ainda de madrugada,
Em busca de transportes públicos,
Menos cheios e com menos problemas
Eh, vida complicada!

Onde até para se fazer um pequeno percurso,
É preciso realizar uma viagem infindável
Em conduções, em pé, sem conforto,
Por mais de uma hora,
Rezando para que tudo dê certo,
Que nenhum transporte apresente problemas

E que as obras que estão alongando a viagem diária,
Visto que se tem que pegar mais um trem para trabalhar,
Um dia finalmente acabem!

Que um dia, possa trabalhar mais perto de casa,
Certas pessoas sejam mais educadas e menos hostis,
Que haja mais bom senso e respeito,
Na humana convivência

Que a liberdade de um termine,
Quando começa a liberdade do outro
Que liberdade não é um viver desbragado e sem sentido
Onde um acha que se diverte,
Aborrecendo os outros
Isto é complexo de inferioridade!

Que os espaços públicos sejam respeitados,
Como terra de todos,
E principalmente, cuidados

A propósito,
Tento cuidar de meus bens,
Minha casa, meu quintal
Mas sei que isto não é o suficiente,
Embora seja razoável para mim
Pois se não posso mudar o mundo inteiro,
Posso ao menos mudar o meu mundo,
E transformar a forma como vejo a realidade!

Tento tornar meus dias menos tediosos,
Minhas tardes mais alegres
E valorizar meu emprego,
Embora não seja o trabalho que gostaria de fazer
E espero ter a oportunidade de outros trabalhos conhecer
E quem sabe um dia,
Poder me dedicar apenas ao que gosto,
E aos poucos ir realizando sonhos,
Desejos, vontades
Sinto que aos poucos estou conseguindo

Mas ainda falta muito para chegar onde quero
Gostaria de experimentar,
Menos decepções com o mundo e com as pessoas
Embora saiba não ser isto possível

Em contraponto a estas amarguras,
Ás vezes a vida me soa plena e feliz!
Acredito que a existência,
É uma composição de pequenos quadros e textos
Cada qual,
Nos trazendo uma experiência e uma sensação diferentes,
Muito embora algumas sejam bem parecidas!

E assim a gente aprende a conviver com o tédio,
Com as regras, com o dia-a-dia
A todo o momento tentando espantá-lo,
E afastá-lo
Com um sorriso,
Uma sensação de prazer, de alegria, ou de satisfação
Ou então, tudo junto e misturado
Tentando se não,
Trazer todas coisas belas para o nosso mundo,
Ao menos tentando fazer dele um lugar mais belo para nós

Por isto, corro, pego muitas conduções,
Trabalho, estudo,
Ouço música, assisto televisão,
De vez em quando leio literatura, assisto filmes,
Viajo física e mentalmente,
Me imaginando em outros lugares
E assim, procuro me divertir
Com alguma coisa engraçada,
Algo interessante lido, ou visto em algum lugar
Enfim!

Pois apesar de muitas coisas ruins acontecendo,
Ainda é possível se divertir
Assim acredito!

Estou tentando aprender a rir de tudo,
Até de mim
Mas é difícil não levar nada a sério,
Quando quase tudo ou quase nada é sério!

Não se deixar abater pelas vicissitudes da vida,
Pelas mazelas do mundo,
Pelas desgraças e violências,
Pelas contrariedades!

Muitas vezes, nos menores gestos
Como alguém mais forte,
Tentando tirar vantagem de alguém mais frágil,
Como normalmente acontece,
Covardia!

Mas apesar de vocês, eu estou bem
Apesar de um mundo medíocre e mesquinho,
Eu consigo encontrar boas coisas, boas gentes,
Embora às vezes tenha a impressão de que aqui,
Só impera a maldade!

Mas aos poucos, boas almas me mostram
Outros ângulos para onde posso direcionar meu olhar,
E assim,
Não me decepcionar com tantas coisas erradas acontecendo,
Ao mesmo tempo e em tantos lugares diversos!

Lindas almas a comporem e entoarem lindas canções,
A realizarem lindas criações do engenho humano,
Na literatura, na arte, no cinema, na tevê,
Na ciência,
Multiplicadores das luzes e do conhecimento
Que não se diminuem,
Não obstante as misérias do mundo,
Não se encolhem,
Mesmo ante as maiores dificuldades
Gentes que nem sempre apoio, tiveram
Que muitas vezes,
Lutar contra moinhos de vento, tiveram
Para finalmente chegarem em algum patamar
E hoje realizados,
Nos transmitem grandes lições!

Entre as quais,
Que ninguém está aqui a passeio
E quem assim o crê,
Cedo ou tarde perceberá grandes chances desperdiçadas!

Ensinam que existem diferentes formas de se doar,
E o bem fazer,
Não apenas com assistencialismo
Pois tudo o que oferecemos ao mundo,
Ajuda a outros caminhantes e andarilhos
Um gesto e uma atitude,
Atinge e repercute em pessoas insuspeitas,
E muitas vezes um bem,
Atinge a quem não esperávamos alcançar
E uma atitude,
Ajuda ou atrapalha,
Quem nem sequer imaginávamos!

Lindos ensinos para quem está aqui somente de passagem,
Muito embora não seja passageira,
E tampouco esteja no mundo a passeio!

Caminho atenta,
Mas não tento controlar meus passos
Tento não deixar meu dia demasiado lento,
Muito embora, na maioria das vezes,
Faça-se por demais corrido,
Demasiado curto
Tento apreciar as pequenas belas coisas
Como uma lua se delineando em um céu azul claro
Bem branquinha, quase pálida
Contemplar as parcas manifestações naturais
Com as quais ainda tenho contato,
Apreciá-las, antes que acabem
Temo que o mundo se transforme demais,
E que algum dia eu não mais o reconheça!

Não gostaria de ser melancólica
Mas algumas coisas boas,
Deveriam permanecer intactas

Sabemos porém, que isto não acontecerá
Daí a necessidade de cultivarmos nosso mundo interior,
Enfeitá-lo de flores,
Como um lindo e exuberante jardim,
Cercado de belas lembranças
E não se deixar contaminar por picuinhas estéreis,
Bobagens cotidianas
Pois minha paz interior é maior que isto!

E assim, a ocuparmos nossos dias, nossos pensares
Afastamos o tédio,
Procurando nos divertir,
Ainda que nas pequenas coisas,
Ficamos menos enfastiados!

Viva a fartura que a miséria ninguém atura!
Pois muito luxo, não faz bem para o buxo!
Devemos viver como pudermos,
Sem nos privarmos de prazeres e pequenas alegrias,
Pois o luxo só serve para nós,
Se nós dele usufruirmos,
Não nos tornando dele escravos
E um pouco de luxo mal a ninguém faz

Pois todos gostam de conforto,
E vida boa, e um interior de riquezas,
Afastam os fantasmas das agruras e das decepções,
Pois sabemos que tudo na vida passa,
Mesmo as mais sólidas contribuições!

Todos nós passaremos também
E o que vale,
É o que deixaremos de exemplo
O que de bom legaremos,
Para quem vier depois de nós!

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

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