Poesias

quinta-feira, 20 de maio de 2021

O DESTINO DESFOLHOU - CAPÍTULO 2

Nisso a vida de Fabrício e Alessandro permanecia no mais profundo caos. Hostilizados pela população da cidade, não conseguiam realizar direito o seu trabalho.
Para piorar, em um dado momento, os populares ameaçaram invadir a delegacia, pegar os dois policiais e linchá-los, caso não fosse tomada alguma providência.
Otaviano, ao perceber isso, ficou espantado. Preocupado com a integridade física dos dois policiais, recomendou aos outros policiais, que conduzissem Fabrício e Alessandro, até os fundos da delegacia, e escondendo-os dentro de um carro particular, os levassem até suas casas.
Prontamente, Fabrício e Alessandro foram conduzidos para fora da delegacia.
Espantados com a reação da população, não podiam acreditar no que estava acontecendo. Porém, cientes do risco que corriam, resolveram aceitar o oferecimento do delegado e assim, saíram escondidos da delegacia.
Depois de ter a certeza de que os dois policiais, não mais estavam na delegacia, Otaviano saiu, e foi conversar com a população enfurecida. Cioso com seu trabalho, argumentou com os populares que aquele ato estremado, não levaria a nada.
Diante disso, um dos populares gritou:
-- Como nada? Nós viemos acabar com a raça daqueles dois policiais safados.
O pessoal que estava reunido, aplaudiu as palavras gritadas.
Otaviano então, perdeu a paciência:
-- Escutem bem. Se algum dos senhores invadir esta delegacia, vão todos em cana. Destruir patrimônio público é crime, e os senhores sabem muito bem disso. Além do mais, nenhum dos policiais, suspeitos, veja bem suspeitos de terem disparado um projétil contra a vítima, está aqui. Assim, como os senhores podem muito bem constatar, por que são pessoais lúcidas, eles ainda não são acusados de nada. Estamos em fase de inquérito ainda, e enquanto eles não forem condenados, não podem ser chamados de criminosos. Não sabemos se foram eles que atiraram.
Mas a horda estava transtornada.
Não fosse o reforço policial vindo das cidades vizinhas, fatalmente os populares teriam depredado a delegacia, e quanto a isso, o delegado nada poderia fazer para impedir o gesto ensandecido, ou acabaria também, sendo agredido.
Assim, a ida de reforço para lá, foi providencial.
Também fora providencial, a decisão do delegado de levar os policiais para fora da delegacia.
Porém, a despeito de depois do incidente, tudo ter ficado momentaneamente em paz, Otaviano sabia que se os policiais e suas respectivas famílias, permanecessem em suas casas, fatalmente seriam linchados pelos populares.
Assim, quando Otaviano deu-se conta de que talvez tivesse encaminhado os policiais para uma armadilha, tratou logo de chamar os seus policiais e também o reforço de outras cidades, para acompanhá-los até a casa de Fabrício e Alessandro.
Dito e feito.
Foi só eles chegarem no bairro onde Alessandro e Fabrício moravam, para a multidão começar a aparecer também.
Se tivessem demorado mais alguns minutos, talvez não pudessem fazer mais nada. Porém, retomando o controle da situação, os policiais da localidade, juntamente com o reforço, tomaram logo as providências necessárias.
A pedido do delegado, os policiais entraram em ambas as casas, e recomendaram aos policiais e as suas famílias respectivas, que fossem embora dali.
Porém Fabrício e Alessandro não estavam nem um pouco inclinados a aceitar a recomendação. Todavia, ao se aproximarem da janela de suas casas, e verem a multidão se aproximando dela, trataram logo de arrumar seus pertences.
Enquanto isso, a policia tentava a tudo custo dispersar a horda de populares.
Eis então que aparece Joana, que ao saber do acontecimento, foi logo até o palco da confusão, tirar algumas fotos e conversar com alguns populares.
Desta forma, Joana acabou descobrindo detalhes envolvendo a situação dos policiais, que não havia sido relatado pela mídia.
Curiosa, depois que a confusão foi desfeita, a jovem jornalista foi até a sede da imprensa local, pesquisar os fatos jornalísticos recentes.

Com isso, cabe salientar que, para que os manifestantes se dispersassem, foi necessária uma saraivada de tiros para o alto.
Nisso os populares apavorados, acabaram se evadindo do local.
Porém, alguns cidadãos, mais exaltados, acabaram enfrentando a polícia, e diante disso, acabaram sendo presos.
Enquanto isso, os policiais, aproveitando a confusão, saíram com sua família e seus pertences, de suas casas. Desapontados e preocupados com tudo o que estava acontecendo, não sabiam para onde ir. Além disso, na correria, acabaram por deixar, muitas coisas para trás.
Otaviano, imaginando o desespero de Alessandro e Fabrício, pediu para que ambos, juntamente com suas famílias, fossem levados para sua casa.
Quando os policiais ouviram a recomendação do delegado, advertiram-no do que o estava fazendo, era bastante arriscado.
Otaviano porém, dando de ombros para a opinião de seus subordinados, exigiu que os mesmos fossem levados para lá, ao menos enquanto toda a confusão não estivesse resolvida.
Fabrício e Leonardo, então, que momento antes, haviam ficado profundamente desapontados com a atitude do delegado, agora mal sabiam o que fazer para agradecer. Envergonhados, finalmente puderam entender, que a atitude do delegado se devia ao fato de que talvez, prevendo essa confusão, não queria expor nem eles, nem os outros policiais a agressões desnecessárias.
Assim, quando tiveram uma oportunidade para conversar com Otaviano, trataram logo de se desculparem, dizendo que no momento em que mesmo recomendou que se afastassem, só conseguiram pensar que ele acreditara em tudo que lhes estava sendo atribuído.
O delegado então, ao ouvir as palavras dos policiais, comentou com eles, que não tinham com o que se envergonharem. Isso por que, ele no lugar dos dois, também teria ficado chateado, até por que, não é fácil ser acusado de algo que não se fez.
Os policiais ao ouvirem isso, ficaram intrigados.
Otaviano contudo, não lhes explicou claramente o que ele queria dizer com isso.
Talvez, o delegado tivesse encontrado uma prova que afastasse a suspeita sobre eles. Talvez.

Dessarte, Joana, tendo encerrado pelo menos momentaneamente seu trabalho, tratou de ir logo ao arquivo do jornal da cidade. Lá, depois de passar algumas horas lendo as notícias do município, descobriu que não havia sido ainda comprovado o envolvimento dos dois policiais com o acontecimento envolvendo o disparo contra a vítima. Lendo as matérias publicadas, descobriu que tudo estava sendo investigado.
De formas que, fora precipitada a atitude da população da cidade, que enfurecida, queria a todo o custo, executar uma vingança.
Ademais, a situação fora tão séria, que até o prefeito foi mobilizado para tentar resolver a situação.
Como Arthur era muito respeitado pela população, a despeito das denúncias de corrupção envolvendo o seu nome, o prefeito tratou logo de agendar um discurso na praça central da cidade e assim, falar com a população.
Diante disso, o almoço agendado com Joana, teve de ser adiado.
Mas Joana, diante do imprevisto, concordou com a atitude do político.
Como a situação estava chegando a um limite preocupante, a moça concordou em deixar o almoço para mais tarde. E assim, somente dias depois, é que finalmente os dois puderam se encontrar para almoçar.
Mais um vez se falou em amenidades, sem entrar na questão política.
Aliás, quando Joana tentou, por uma única vez, falar sobre o incidente que começou em frente a delegacia e depois chegou à casa dos policiais, foi imediatamente interrompida por Arthur, que a essa altura, já não agüentava mais falar sobre o assunto.
Porém, não daria para ele ficar enrolando Joana por muito tempo, e assim, depois do aludido almoço, o prefeito da agora famosa cidade, agendou um novo encontro para falar sobre política.
Joana, ao constatar que a entrevista estava finalmente agendada, ficou profundamente feliz. Isso por que, finalmente poderia falar abertamente com o prefeito sobre tudo o que estava acontecendo.
E assim foi. No dia marcado para a entrevista, o prefeito fez questão de recebê-la em seu gabinete.
Imediatamente, ao vê-la adentrando a sala, convidou-a para se sentar. Depois ofereceu um café, o qual foi prontamente aceito pela entrevistadora.
Com isso, deu-se início a entrevista.
Durante a entrevista, Joana perguntou sobre o início da vida política de Arthur, como ele chegou ao cargo de prefeito, como estava sendo realizada sua administração, o incidente envolvendo os policiais, a questão da violência em um município pequeno, as denúncias de corrupção, e tudo o mais envolvendo sua atividade como político.
Com relação as primeiras perguntas, Arthur se saiu muito bem em suas respostas. Tanto, que empolgado, novamente comentou sobre seu sonho de infância.
Porém, quando chegou na questão do incidente envolvendo os policiais, Arthur começou a ficar um pouco incomodado. Mas como havia se comprometido com a jornalista, comentou sobre tudo o que havia se sucedido, bem como sobre o que tinha conhecimento a respeito do assunto.
A seguir, no tocante a questão da violência no município, o prefeito comentou que aquele era um caso isolado e que pouquíssimos acontecimentos como aquele, haviam se dado, naquela pacata cidade.
Joana porém, não estava convencida disso, tanto que chegou a comentar sobre a ocorrência de golpes, assaltos, furtos, assassinatos.
Para ajudar, havia ainda a presença de pessoas suspeitas na cidade. Não necessariamente pobres, mas suspeitos. Até mesmo outros políticos já haviam sido denunciados por corrupção. Foi aí então, que Joana então se exaltou e comentou até sobre um possível envolvimento dele nessa confusão.
Arthur então, tratou de se defender. Argumentando que nada havia sido provado contra ele, comentou que tudo não passara de um equívoco e que ele não tinha nada que ver com a situação.
Mas Joana insistiu na história.
Alegando que as denúncias foram exaustivamente cobertas pela mídia da capital, Joana comentou que não foi bem essa a impressão que tivera com a história.
Arthur então, irritado com o comentário de Joana, perguntou-lhe:
-- Menina, o que você sabe da vida, heim? E mais, o que você sabe da minha vida? Nada. Você acha que sabe por que viu algumas notícias tendenciosas publicadas em um jornal. Isso não quer dizer nada. Isso não prova nada. Tanto que até hoje, dois anos depois dessas denúncias, eu não sofri penalização nenhuma e quero ver alguém provar que eu fiz algo de errado.
Joana então comentou:
-- Está bem! Se não se tem como provar, não se pode acusar. Está encerrada minha entrevista. Muito obrigada pela atenção. Desculpe o transtorno.
Arthur então se acalmou, e desculpando-se pela exaltação, disse que não fora nada e que ela podia ir embora sossegada.
Mais tarde porém, Arthur ligou perguntando se ela realmente tinha interesse em publicar a entrevista.
Joana cautelosa, respondeu que iria pensar. Depois, emendando, comentou que iria cobrir a história, envolvendo os dois policiais acusados de atirar contra uma vítima de um assalto. Foi então lhe veio a mente dizer que esta notícia seria a primeira a ser publicada.
Com isso a moça perguntou:
-- Pois bem. Qual o interesse?
O prefeito então explicou que não havia gostado muito do resultado da entrevista. E ademais, como não era o principal objetivo dela, por que não refazer a entrevista, agora com perguntas mais amenas?
Joana não gostou nem um pouco da história. Porém, não ofereceu resistência. Pelo contrário. Concordou prontamente em agendar uma nova entrevista.
E assim foi feito.
Porém, antes de qualquer coisa, Joana fez questão de encontrar um local seguro para guardar a gravação que fizera. Todavia, temerosa de que talvez estivesse sendo seguida, tratou de esconder em um local pouco provável.
Depois, escreveu um bilhete e deixou na redação do jornal local. Pedindo para o editor guardar a carta, combinou que este só abriria a missiva, caso ela não voltasse até o dia seguinte.
A seguir, Joana foi até o local do encontro.
Porém, qual não foi sua surpresa, ao constatar que o mesmo, aparentemente não havia preparado nenhuma armadilha para ela. Aparentemente, tudo não passara de um pretexto para convidá-la novamente para sair.
Contudo, mais tarde a moça perceberia, que Arthur, estava mesmo, era interessado em impressioná-la. Assim, utilizou-se de tudo de bom que o dinheiro poderia oferecer.
Mas Joana estava prevenida contra ele. Assim, não seria nada fácil convencê-la de que se tratava de uma pessoa de confiança.
Arthur porém, era bastante insistente. Diversas vezes a convidou para sair, mesmo sabendo que o convite certamente seria recusado. Mesmo assim, não desistiu.
Tal fato, causou profunda surpresa em Joana, que não estava acostumada a lidar com pessoas tão determinadas quanto ela. Contudo, isso não foi o suficiente para desarmá-la e livrá-la da prevenção que tinha contra ele.
Mas o prefeito estava determinado em sua idéia de ganhar a confiança de Joana.
E foi assim, que Arthur acabou convencendo a moça a sair novamente com ele.
Joana, então, tomada de extrema curiosidade, resolveu, depois de muitas recusas, aceitar sair novamente com ele. Pensando melhor, achou que seria mais conveniente aceitar os convites do prefeito, e tentar descobrir algo mais sobre ele. Como a entrevista que realizara com ele não fora conclusiva, a moça resolveu então aceitar outros convites para sair.
Por sua vez, Arthur, convencido de que poderia fazer a moça se esquecer de assuntos políticos, resolveu mostrar cada vez mais seu lado festeiro. Acostumado a bem viver, fazia de tudo para proporcionar a Joana o melhor que tinha a oferecer. Com isso, eram comuns os jantares caros, e os passeios para outras cidades. Tudo no intuito de impressionar a moça e convencê-la de que era uma boa pessoa.
Enquanto isso, Joana ganhava a confiança de Arthur, e se fazia cada vez mais presente em sua vida. Acompanhando-o em jantares e eventos sociais, como inaugurações e festividades, a moça começava a se inteirar sobre sua vida.
O que era arriscado para ele, mas Arthur não estava nem um pouco preocupado com isso.
Muito embora seus assessores o aconselhassem a não mergulhar de cabeça naquele relacionamento, Arthur estava bastante empolgado com Joana. Tanto que nem se preocupava em esconder detalhes de sua vida política. Porém, no tocante ao escândalo de corrupção envolvendo seu nome, este ele fazia questão de esconder.
Todavia, não seria por muito tempo que este escândalo continuaria esquecido.
Isso por que Joana, sempre que tinha a oportunidade de ficar sozinha, aproveitava para bisbilhotar os pertences do prefeito, tais como pastas e documentos, tudo no intuito de encontrar algo comprometedor.
Quanto a isso, a moça fora extremamente habilidosa.
Fazendo de conta que havia deixado de lado seu interesse em conhecer a vida do prefeito, passou a se dedicar mais inteiramente ao escândalo envolvendo o nome dos policiais. Assim, dava a impressão ao ilustre prefeito da cidade, de não estar mais interessada em sua vida pública.
Para Arthur, a sensação de que Joana havia deixado de lado a idéia de publicar a entrevista, era muito boa. Era como se Joana se importasse com ele. Como se fora uma pessoa de confiança. E era exatamente essa a impressão que a moça queria passar ao prefeito.
Assim, ele jamais imaginaria que ela estava se aproximando dele para prejudicá-lo.
Com isso, conforme os dias foram se seguindo, as semanas passando, Joana foi ficando cada vez mais próxima da verdade.
Escutando conversas envolvendo os assessores, membros do partido, e outros políticos, Joana descobriu que o escândalo envolvia boa parte das lideranças políticas da cidade. Poucos não estavam envolvidos.
Joana ao constatar isso, resolveu ser ainda mais cautelosa, ou acabaria não descobrindo nada. Isso por que, se queria acusar o prefeito, deveria ter uma prova substancial para derrubar qualquer defesa. Por isso mesmo, Joana precisava se mostrar isenta em relação a tudo.
Em razão disso, a moça passou a demonstrar cada vez mais interesse em Arthur, e ele, acreditando que realmente estavam conquistando a moça, caiu como um patinho na armação criada por ela.

Enquanto isso, o escândalo envolvendo o nome dos policiais, começava a ser resolvido.
Depois da perícia constatar que o tiro disparado contra a vítima não havia saído das armas dos policiais Fabrício e Alessandro, o delegado Otaviano constatou que seria apenas uma questão de tempo para que os dois pudessem voltar ao trabalho, e que o responsável por toda aquela confusão fosse encontrado e punido.
Fabrício e Alessandro, ao saberem do resultado do laudo, ficaram muito contentes. Finalmente a confusão que se abatera sobre suas vidas seria resolvida.
Porém, não estava tudo resolvido como eles pensavam.
Isso por que o caso repercutira muito mal, abalando a credibilidade da policia local.
Diante disso Otaviano precisava tomar uma atitude.
Além disso, a violência na cidade, estava chegando a patamares insuportáveis até mesmo para eles, policiais.
Pensando nisso, Otaviano percebeu que os policiais de sua cidade precisavam passar por novos treinamentos e se aperfeiçoarem para trabalharem cada vez melhor.
Contudo, para que esse treinamento fosse realizado, seria necessário contratar gente e equipamento especializado. Para tanto, o dinheiro se fazia necessário.
Diante disso, o delegado decidiu conversar com o prefeito. Isso por que, se a violência campeava na cidade, era por que havia um descompasso entre a possibilidade de ação do efetivo policial da cidade, e o poder de fogo dos bandidos. Além disso, dada a grande onda de crimes que vinha varrendo a cidade, certamente bandidos de outras cidades, utilizavam a municipalidade para a prática de seus atos criminosos.
Diante disto, Arthur devia tomar uma atitude, ou então a bandidagem tomaria conta da cidade.
Arthur, ao tomar conhecimento desses fatos, ficou realmente preocupado. Muito embora soubesse que os índices de violência eram assustadores, não imaginava que a situação estivesse tão crítica.
De posse dos dados coletados pelos policiais em seus atendimentos diários, o prefeito descobriu que boa parte dos crimes eram de roubo e de furto. Contudo, os crimes de homicídio aumentaram consideravelmente. Além disso, os golpes na praça também aumentaram muito desde a última estatística.
Arthur então, percebeu que não mais poderia se omitir. Se não tomasse uma atitude e rápido, as situação se tornaria incontrolável. De formas que resolver essa questão era premente.
Contudo, o que fazer numa situação dessas?
Foi aí que o delegado da cidade sugeriu contratarem gente especializada para realizar o treinamento dos policiais.
O prefeito ao ouvir isso, comentou com o delegado, que a questão não era tão simples assim. Primeiramente, seus gastos para o ano, já estavam todos definidos. Além disso, se destinasse alguma verba para isso, seria necessário realizar uma licitação para escolher a melhor oferta.
Otaviano então, comentou que:
-- Senhor prefeito. Eu como bacharel em direito, sei perfeitamente, que em caso de notória especialização, fica dispensada a exigibilidade de licitação. É exatamente este o caso. O que eu estou sugerindo a Vossa Excelência, que contrate as pessoas mais gabaritadas para esse trabalho.
Arthur ao ouvir isso, perguntou ao delegado, se o custo de tudo isso não seria maior que o benefício proporcionado aos policiais.
Otaviano, percebendo a preocupação do prefeito em controlar os gastos da prefeitura, comentou, que talvez, num primeiro momento, o custo se revelasse muito alto. Mas depois, com os policiais treinados e preparados para lidar com os alarmantes níveis de violência da cidade, o gasto se reverteria em segurança para a população. Com isso, o próximo passo, seria enviar policiais para fazer cursos em outras localidades, tudo com vistas a formar profissionais habilitados a ensinar outros policiais, sem que para isso fosse necessário deslocar praticamente todo o contigente de policiais para outra localidade.
Otaviano, ressaltou ainda, que o deixou mais preocupado, foi a confusão que se instalara em frente a delegacia, quando o caso dos policiais atingiu então, limites estratosféricos. Isso por que, para driblar a fúria da população incontida, foi necessário reforço policial. Sim, por que quando ele viu a horda furiosa, ameaçando invadir, depredar a delegacia e agredir os acusados, se viu obrigado a tomar uma atitude extrema. Desta forma, assim, que percebeu que aquela confusão poderia se transformar numa tragédia, tratou logo de pedir ajuda as polícias de outras cidades.
Arthur, então, dando-se conta disso, parou de se opor ao pedido do delegado e concordou prontamente em organizar um treinamento para os policiais. Além disso, comprometeu-se a abrir um concurso público para se aumentar o efetivo policial. Assim, poderia se aproveitar o treinamento dos policiais, com os novos policiais que fossem entrar na carreira.
Otaviano ficou deveras satisfeito. Isso por que, com o aumento do contingente de policiais, poderia certamente ser instaladas bases comunitárias pela cidade. Uma iniciativa que, segundo ele, havia mostrado bons resultados em outras localidades.
Arthur, então ouviu tudo atentamente. Percebendo o interesse do delegado em tentar conter o problema da violência, o prefeito elogiou a atitude do mesmo.
Diante disso, Otaviano, ao encerrar sua conversa com o prefeito, retirou-se do seu gabinete e retornou a delegacia.
Nisso Arthur ficou pensando na proposta do delegado. Depois, apresentando-a aos vereadores notou que esta era uma ótima oportunidade para eles ganharem pontos com seus eleitores. Sim, por que se eles conseguissem debelar o problema da violência, certamente poderiam alçar cargos mais elevados. Desta forma, o prefeito e os vereadores, fizeram todo o possível para pôr as idéias do delegado em prática. Almejando vôos maiores, empenharam-se o máximo possível para implementar as idéias do delegado.
Vaidoso Arthur, foi logo dizendo que a idéia havia sido dele.
Otaviano, ao saber disso, não se importou nem um pouco. Para ele, o mais importante, era conseguir implementar as medidas. Quem havia sido o autor da idéia, era ponto de pouca relevância para ele.
Diante disso, vendo que tudo o que pedira estava sendo cumprido pelo prefeito, ficou satisfeito.

Nisso, o escândalo envolvendo o nome de Fabrício e Alessandro já havia sido esquecido. Com o laudo esclarecendo que os disparos não foram efetuados pelos policiais, restava descobrir que havia atirado contra a vítima.
Foi nessa época, que a vítima, já recuperada, revelou que fora um dos bandidos que havia atirado nela. Com isso, a questão estava resolvida.
Assim, era só uma questão de tempo para apanhar o bandido, e fazê-lo pagar pela tentativa de assalto, juntamente com seus comparsas que já estavam presos. Além do que, este tinha que responder pelo tiro que havia efetuado contra a vítima.
Ao ser encontrado, Waldomir, sentindo-se acuado, passou a culpar os companheiros pelos disparos efetuados dentro da agência.
Os mesmos, no entanto, faziam de tudo para desmentir as alegações do indiciado.
Otaviano então, percebendo que os depoimentos não coincidiam, resolveu colocar os bandidos frente a frente, para que confrontando-se, a verdade aparecesse.
Foi assim, que se descobriu que na verdade, Waldomir havia atirado contra a vítima, para dar início a uma confusão dentro da agência, e com isso poder fugir.
Infelizmente, sua estratégia deu certo.
Porém, o que ele não contava, era que a vítima iria se recuperar, e revelaria a todos, quem havia atirado nela.
Diante disso, o caso estava concluído.
Bastava agora ocorrer o julgamento, com a condenação certa dos participantes do assalto.
Com isso, os policiais puderam novamente retornar ao trabalho.
Com a suspeita esclarecida, ambos puderam voltar para suas casas, e suas vidas aos poucos, foram voltando ao normal.
Leonardo, filho de Fabrício, assim como sua esposa Alice, aos poucos, foram esquecendo as dificuldades e os constrangimentos pelos quais passaram. Muito embora de vez em quando se lembrassem com tristeza de tudo o que passaram, era raro se recordarem disso.
Até por que, depois do escândalo, Fabrício e Alessandro, foram homenageados pelo prefeito.
Essa foi a forma encontrada por Arthur, de se desculpar publicamente por todos os aborrecimentos impingido aos dois policiais.
Muito embora não resolvesse tudo, essa fora uma forma de minorar os efeitos do mal causado.
Com isso, a população parou de encará-los como inimigos, e a hostilizarem-nos.
Tanto que no dia da homenagem, as pessoas que os haviam agredido tempos antes, aplaudiram quando eles receberam as medalhas.
Assim, a vida retomou então, seu curso normal.
Enquanto isso, os aprovados no concurso público, passaram a receber treinamento, para dentro em breve, começarem a trabalhar.
Olívia, dedicada, era uma das policiais femininas que mais se destacavam. Determinada a exercer a função, empenhou-se o máximo possível em cumprir bem todas as tarefas que lhe eram dadas. Hábil, ao terminar o curso, poderia dar aulas se quisesse. Porém, o que ela mais queria era sair, ir para a rua, e enfrentar os problemas da cidade.
Preparada, chegou a impressionar os colegas homens, que desacostumados com a presença de mulheres no local de trabalho, provocaram muito a moça.
Porém, a despeito disso deixá-la irritada, não foi o suficiente para que a fizesse desistir de seu sonho. Sim, por que desde pequena sonhara em ocupar esse cargo de tanta relevância.
Imbuída neste espírito de responsabilidade, nada a demoveria da idéia de se tornar policial.
Assim, quando finalmente recebeu o diploma de encerramento do curso de treinamento, ficou muito feliz.
Sua família, que sempre acompanhou sua luta para realizar este sonho, também ficou bastante satisfeita com o resultado de seu empenho.
Diante disso, era só uma questão de tempo para Olívia entrar em ação.
Porém, diante da situação de extrema violência, não demorou muito para que Olívia entrasse em ação. Com isso, seu primeiro trabalho, foi fazer ronda pelas principais ruas da cidade. Acompanhada de um colega, os dois aproveitavam, para enquanto observavam o movimento nas ruas, conversarem um pouco.
Não demorou muito também, e Olívia impediu um assalto. Sozinha, imobilizou o ladrão e o conduziu até a delegacia.
A moça, ao chegar sozinha na delegacia, conduzindo o meliante, foi aplaudida por seus colegas de profissão. Fabrício e Alessandro, foram os que mais elogiaram Olívia.
Foi aí que os policiais perceberam que Olívia não estava de brincadeira. Impressionados com a habilidade da moça, não se cansaram de perguntar a ela, como havia conseguido imobilizá-lo e conduzi-lo até a delegacia.
Olívia então explicou, que além do treinamento que fizera para trabalhar, desde que pequena praticava judô. Assim, imobilizar alguém, não era nenhum segredo para ela.
Contudo, os policiais, ao olharem para ela, percebendo seu jeito franzino, insistiram em perguntar:
-- Mas como você conseguiu dominá-lo? Afinal de contas, ele é muito mais forte que você.
Olívia explicou então, que isso não tinha nada a ver com força. Muito pelo contrário, o segredo era usar a força de seu opoente, contra ele.
Os policiais ou ouvirem a explicação da moça, ficaram espantados. Admirados, chegaram até a comentar:
-- É. Olívia não está pra brincadeira. Portanto, bandidos se cuidem.
Os demais policiais ao ouvirem o comentário, caíram na risada.
E assim, apesar da brincadeira, este foi o primeiro passo para que a moça passasse a ser respeitada por seus colegas policiais.
Enquanto isso, a moça continuava a vigiar as principais ruas da cidade.
Isso contribuía e muito para diminuir o número de roubos, furtos e bem como, a aplicação de golpes. Contudo, não evitava de todo, que esses crimes fossem cometidos. Diante disso, a instalação de bases comunitárias, ainda se fazia necessária.
Com isso, depois de algum tempo, quando as mesmas ficaram prontas, Olívia, Fabrício e Alessandro, e outros policiais, foram ocupá-las.

Enquanto isso, Joana e seu relacionamento com o prefeito, iam de vento em popa.
Conforme os meses se passavam, a jornalista ficava cada vez mais próxima de seus objetivos. Tão perto que era apenas uma questão de tempo para que tudo se resolvesse.
Dito e feito.
Ao se ver a sós no gabinete do prefeito, Joana começou a vasculhar a mesa, as gavetas e os armários da sala.
Como o prefeito demorou para voltar, Joana revirou tudo o que pôde. Foi aí que encontrou alguns documentos comprometedores. Contudo, como não havia tempo para ler os papéis, tratou de discretamente pegá-los e guardá-los entre seus pertencentes.
Quando Arthur finalmente voltou para buscá-la, não percebeu nada de estranho. Tanto que dias após, não havia ainda dado pela falta dos documentos.
Joana por sua vez, para não levantar suspeitas, continuou se encontrando com o prefeito.
Mas, com o passar dos dias, foi se aproximando o momento em que ela denunciaria as fraudes do prefeito.
Mais uma vez, temerosa das conseqüências de seu gesto extremado, pediu novamente ao colega jornalista, que caso após as denúncias, ela não aparecesse mais, que ele deveria revelar o conteúdo do bilhete que ela havia deixado aos cuidados dele.
Cléber, então, prometeu a ela que se fosse necessário, revelaria o conteúdo do bilhete.
Joana agradecida, prometeu a ele, que assim que pudesse, lhe contaria o que estava tentando fazer.
Contudo, a moça mesmo sendo cautelosa, adiantou que o que havia descoberto, cairia como uma bomba por sobre a cidade.
O jornalista então ficou espantado. Porém, respeitando a moça, não fez nenhuma pergunta.
E assim, ficou esperando pacientemente que a moça agisse.

Joana então, depois de se apropriar dos documentos, passou a lê-los cuidadosamente. Isso por que, não queria correr o risco de apresentar provas frágeis. Se ela queria realmente provar o envolvimento de Arthur com a corrupção da cidade, teria que demonstrar isso cabalmente. E assim, por semanas ficou a analisar os documentos.
Quando finalmente descobriu o que lhe interessava, procurou logo tirar várias cópias dos documentos e autenticando-as, tratou de esconder os documentos originais no mesmo local que havia escondido a gravação da entrevista.
Enquanto isso, Joana começou a preparar mais uma reportagem comentando sobre a inocência de Fabrício e Alessandro com relação ao tiros disparados contra a vítima, durante o assalto ocorrido no banco. Na reportagem, contou detalhes sobre a condecoração que os mesmos receberam. Isso por que, Joana, compadecida de injustiça que os dois sofreram, se achou na obrigação de minimizar o dano causado, mostrando a população da cidade, que os mesmos não tinham responsabilidade por aquele lamentável acidente.
Os policiais quando leram a notícia, ficaram bastante emocionados.
Também depois de tudo pelo que passaram, era mais do que natural que os mesmos ficassem satisfeitos com a publicação da notícia, que muito ajudava a melhorar a imagem não só deles, mas também de toda a polícia.
A notícia repercutiu tanto, que todas as pessoas que leram a matéria fizeram questão de cumprimentá-lo, e alguns até se desculparam dos excessos que cometeram.
Os dois policiais estavam tão famosos, que não era raro serem parados pelos populares para darem autógrafos.
Olívia, ao perceber isso, chegou até a brincar com os colegas, dizendo que se continuassem assim, certamente acabariam trabalhando em alguma novela.
Fabrício e Alessandro, ao ouvirem as brincadeiras de Olívia, caíram na risada. Isso por que, para eles, aquele trabalho era mais importante, do que qualquer fama passageira.
Estavam certos. Até por que, havia muito o que ser feito naquela que um dia fora, uma pacata cidade. Como o próprio delegado já comentara com eles, ou se tomava uma atitude agora, ou a situação escaparia do controle.
Fabrício e Alessandro, concordavam com o delegado. Isso por que, Otaviano era um homem bastante responsável e esclarecido. Além do mais, depois de tudo o que o mesmo fizera por eles, não se achavam no direito de discordar de nada do que ele falava. Otaviano era realmente uma pessoa rara.
E assim, os policiais continuaram seu trabalho.
Olívia então, já acostumada com o trabalho, conseguia efetuar cada vez mais prisões.
Mais segura de seu trabalho, passou a acompanhar seus colegas em algumas operações policiais. Em uma delas, como agente infiltrada, teve que se envolver com traficantes, como se fora uma usuária de drogas. Contudo, a despeito do que seus colegas lhe recomendaram, a moça não prendeu o traficante quando este lhe vendeu a droga. Isso por que, além do mesmo estar acompanhado e armado, a intenção era descobrir quais eram as atividades do suposto traficante. Sim, por que se havia traficantes nas imediações da cidade, fatalmente havia também crime organizado e assim, mais do que prender um suposto traficante, o importante era desbaratar uma quadrilha de criminosos.
Os policiais, ao ouvirem o ponto de vista da moça, discordaram, mas Alessandro, percebendo sua intenção, comentou, que de nada adiantaria prender o traficante por este ter vendido drogas para Olívia, visto que ela não era usuária, e que tal flagrante não surtiria nenhum efeito, já que era uma armação. Continuando sua explicação, Alessandro completou, que para que o flagrante tivesse validade, os mesmos deviam esperar algum eventual usuário aparecer por ali, para aí sim prender, não só o traficante, como o usuário também.
Os policiais, ao ouvirem as explicações de Alessandro, passaram então a concordar com Olívia. Realmente, mais importante do que efetuar uma prisão que não surtiria nenhum efeito, posto que dada sua irregularidade seria certamente relaxada, o mais interessante, seria conseguir chegar até a provável quadrilha que estimulava a criminalidade na cidade.
Todavia, como conseguir isso?
Olívia, ficou a pensar.
Fabrício, então, ao perceber que ninguém conseguia ter nenhuma idéia para resolver a questão, sugeriu que alguém deveria se infiltrar entre os bandidos, se fazendo passar por um deles e assim, ganhar a confiança dos mesmos. Com isso passando a se integrar ao grupo. Quando o agente tivesse conhecimento de alguma informação importante, arrumaria um jeito de informar os policiais, para que estes agissem.
Olívia ao ouvir a sugestão de Fabrício, sugeriu que ela mesma poderia tentar se infiltrar no meio da quadrilha.
Alessandro, porém, ao ouvir o oferecimento de Olívia, repreendeu-a. Sob a alegação de que aquele era um trabalho muito perigoso, Alessandro fez de tudo para demovê-la da idéia de participar do plano.
Olívia contudo, teimosa que era, nem por um instante aceitou a idéia de não participara do plano. Segundo ela, se estava ali, era por que queria ser útil para a sociedade. Assim, não cabia a alegação de que alguma coisa ali, era perigosa para ela. Diante disso, se fosse designada para participar do plano, aceitaria prontamente. Até por que, o simples fato dela ser uma policial, já denotava que ela fazia um trabalho de risco.
Alessandro, diante das palavras de Olívia, ficou sem argumentos. Contudo, apesar da segurança da moça, Alessandro não estava nem um pouco tranqüilo com a possibilidade de Olívia vir a fazer parte de uma missão tão arriscada quanto aquela. Porém, não tinha o que fazer. Se Olívia concordou em se expor, não cabia a ele impedi-la de executar seu trabalho.

Luciana Celestino dos Santos
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