Esta história começa num distante Rio Grande do Sul.
Ao iniciar a história sobre a origem da família, Orlando comentou que desde criança sempre brincou muito em carroças e carros de boi, viveu em fazenda. Daí as características de seu hotel.
Fascinado, relatou conhecia a história da família a partir Eunice, a qual após a morte de seu amado tropeiro Tomé, resolveu abandonar sua família e toda uma vida de conforto para se tornar tropeira.
Valente, se defendia de homens perigosos. Enfrentava-os de igual para igual.
Não tinha medo de ninguém. Corajosa, era mais valente do que muitos homens.
Primeiramente trabalhou na tropa de Porfírio, um rico estancieiro da região.
Após, com o suor de seu trabalho, amealhou seu próprio rebanho, adquiriu propriedades, e tornou-se ela própria, líder de sua própria tropa.
Enfrentou seu pai, e conseguiu que o mesmo fosse condenado à forca pela morte de Tomé.
Solidária, enfrentou seu pai, e conseguiu que Dona Lucélia não ficasse na miséria, já que sobrevivia com os ganhos do filho tropeiro.
Mulher corajosa que ajudou Eunice quando esta adoeceu, mesmo após tomar conhecimento de que Tomé havia sido assassinado pelo pai da moça.
Lucélia, mesmo sabendo que fora o pai da moça, coronel Felício quem mandou matar seu filho Tomé, cuidou com todo o desvelo da moça. Preparou emplastros, cataplasmas, beberagens, enfim, tudo que estava ao seu alcance para salvar a vida da moça.
Após meses de convalescença, finalmente Eunice restabeleceu-se da doença que a acometera.
Mas diferente de antes, quando então acatava todas as ordens de seu rigoroso pai, a moça começou a enfrentá-lo. Desafiando-o, insinuava constantemente que ele poderia ser o responsável pelo assassinato de Tomé.
Tomé fora morto em uma emboscada, quando retornava de uma longa tropeada. Fora transportar juntamente com outros companheiros, muares para São Paulo.
Em viagens que demoravam meses.
Estes valorosos homens enfrentavam índios, longas caminhadas, chuvas, frio entre outras dificuldades. Não tinham pouso certo. Mas tinham a viola por companheira.
Novidades para contar, uma grossa capa para se protegerem das intempéries, e o céu como pouso.
Em muitas dessas viagens dormiam ao relento, e quando se punham de pé, podiam ver o orvalho da manhã.
Em seus encontros furtivos com Eunice, Tomé adorava contar suas peripécias em suas viagens.
Os dois se conheceram quando Cornélio, outro estancieiro da região, propôs um grande negócio a Felício. Disposto a realizar uma grande compra, cogitou adquirir alguns animais de Felício.
Felício por sua vez, não se fez de rogado. Vendeu alguns de seus melhores animais para o fazendeiro.
Para fechar o negócio, convidou o fazendeiro e seu acompanhante para almoçarem na casa grande.
Lá Tomé conheceu Eunice, que num primeiro momento, não ficou nem um pouco impressionada com o tropeiro de modos rudes.
Mais tarde, quando pôde então conhecê-lo melhor, descobriu que o moço era alfabetizado, posto que lhe enviava cartas muito bem escritas.
Sim, Tomé era galante. Enviava cartas para Eunice. Tão bem escritas que a moça chegou a duvidar que fosse ele mesmo que estivesse escrito estas mensagens.
Em uma delas, Tomé relatava o primeiro encontro de ambos, quando Eunice passeava sozinha pelo belo jardim da fazenda, e ele aproveitando a distração de Cornélio e Felício, aproveitou para se aproximar dela.
Eunice que não esperava por um gesto tão ousado, admirada com a beleza da rosa encarnada que acabara de colher, deixou a flor cair.
Tomé, percebendo que a assustara, recolheu flor. Desculpando-se, comentou que era uma bela flor a que colhera, mas que não deveria tê-la tirada do lugar onde estava.
Eunice não gostou nem um pouco do comentário do rapaz.
Tanto que retirou-se do jardim.
Tomé então, retornou ao local onde os dois estancieiros conversavam.
Entretidos na venda, nem se aperceberam que Tomé se afastara deles e fora conversar com Eunice.
Abusado, era a palavra que Eunice poderia usar descrevê-lo.
Na missiva o tropeiro, pedia para que ela marcasse uma data, que ele arrumaria um jeito de ir ao seu encontro.
Como não houve uma resposta imediata para o pedido, o peão enviou inúmeras cartas para a moça, a qual não respondia a nenhuma delas.
A certa altura, cansado de esperar uma decisão da moça, o peão adentrou sorrateiramente a fazenda, e jogando uma pedra na janela da moça, despertou-a.
Eunice, surpresa com a atitude tresloucada do peão, comentou que ele era muito imprudente e que não deveria invadir propriedade alheia. Se o pegassem, estaria perdido.
Tomé por sua vez, respondeu que não se importava com o perigo.
Eunice, percebendo que o peão não desistiria, concordou em se encontrar com ele, dali a alguns dias.
Foi assim, que o relacionamento entre ambos começou.
Eunice, ao conhecê-lo melhor, percebeu que o rapaz possuía algum estudo.
Dizendo que Cornélio lhe possibilitara conhecer o universo da escrita, Tomé revelou que o fazendeiro fora um pai para ele, quando sua mãe ficou sozinha no mundo com um filho pequeno para criar.
Eunice passou então, a respeitar o rapaz.
Disse-lhe que também aprendera a ler.
Comentou que não fosse à insistência de sua mãe Carmela, Felício não a teria deixado aprender a ler e a escrever. Isto porque, o fazendeiro achava que a leitura não era para mulheres, as quais, segundo ele, poderiam ter idéias inapropriadas.
Carmela, então com toda a paciência, acabou o convencendo que entretida com leituras, Eunice teria menos tempos de pensar bobagens.
Além do mais, ela orientaria a leitura da moça.
E assim, Eunice aprendeu a ler.
Agora, após a morte de Tomé, Eunice, já restabelecida, sempre procurava Queirós. Sondando-o, procurava saber como era o dia-a-dia de um tropeiro.
De acordo com o que Tomé lhe dissera em vida, tratava-se de uma vida de dificuldades.
Mas Eunice queria por que queria, saber mais detalhes.
Interessada, despertou suspeitas.
Até por que, começou a enfrentar seu pai.
Fazendo insinuações, a certa altura, Eunice conseguiu tirá-lo do sério.
Não fosse a intervenção de Carmela, e teria levado uma surra de cinto.
Felício porém, ouvindo os apelos da mulher, colocou a moça de castigo, trancando-a em seu quarto.
Eunice ficou três dias a pão e água.
Só não ficou mais tempo de castigo em razão da intervenção de sua mãe.
Mas não demorou muito para que a moça enfrentasse novamente o pai.
Felício, irritado, prometeu em breve arrumaria um pretendente, com quem ela pudesse se casar.
Eunice dizendo que preferia a vida religiosa, comentou que não estava disposta a se casar com ninguém.
Felício, furioso, respondeu que a escolha não cabia a ela, e que se casaria com ele escolhesse e a hora que ele bem entendesse.
Eunice retrucou dizendo que não se casaria com ninguém. Ressaltou que ninguém a obrigaria a fazer o que não queria.
Foi o bastante para levar um soco, que a derrubou no chão, e ser arrastada até seu quarto. Ao lá chegar, Felício a derrubou em sua cama. Dizendo que ela estava novamente de castigo, respondeu que ela só sairia dali se concordasse em noivar.
Revoltada com a atitude de Felício, Eunice tentou resistir à imposição paterna, mas não conseguiu agüentar mais do que alguns dias.
Carmela ao perceber a gravidade da situação, tentou intervir.
Mas era inútil, Felício não retrocederia um milímetro. Estava irredutível.
Por conta de sua atitude, Eunice levou uma bronca de Carmela quando esta conseguiu se desvencilhar de Felício, e levar um pouco de comida para a filha.
Disse-lhe:
-- Vosmecê é muito imprudente! Onde já se viu falar com vosso pai daquele jeito? Tanto que eu te falei para não enfrentá-lo!
Mas Eunice era teimosa demais para aceitar os conselhos de sua mãe.
Tanto que continuou resistindo.
A certa altura, no entanto, exausta, acabou concordando com a imposição de seu pai.
Sem alternativa, aceitou a corte de Duarte, que visitava a moça com certa freqüência, sob os olhares vigilantes de sua mãe, Carmela.
Estudante do curso de direito, comentou que o Brasil precisava de uma instituição de ensino superior. Comentava que estudava em Portugal.
Eunice não se impressionava nem um pouco com esta conversa.
Ao aceitar a corte de Duarte, só estava ganhando tempo para finalmente colocar seu plano em prática.
Carmela ao perceber a resignação da filha, comentou que ela estava muito conformada.
Desconfiada, passou a vigiar a filha.
Com efeito, quando olhou para o relógio Orlando notou que já era madrugada. Percebendo que havia se estendido em seu relato, comentou que já era tarde e continuaria a contar a história de seus ancestrais depois.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 6 de maio de 2021
AMARGAS LEMBRANÇAS - CAPÍTULO 4
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