Poesias

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O BEM E O MAL - CAPÍTULO 37

Nisso, Solange, com um quadro grave de pneumonia, estava cada vez mais apática.
Raquel e Cínthia, percebendo que fazia dias que não percebiam nenhum sinal de vida vindo da casa, resolveram bater na porta de Solange, para perguntar se ela estava precisando de alguma coisa.
Insistentes e preocupadas, ficaram quase meia-hora batendo na porta.
Nada de Solange atender.
As duas, percebendo que de nada adiantava insistir, voltaram para suas casas. Mas, preocupadas, combinaram de voltarem mais vezes lá. Continuariam tentando.
Mas não era o suficiente.
Era por isso que Lúcia estava ali.
Preocupada com a situação da mãe, a moça, assim que pôde, voltou a terra, para tentar solucionar o problema. Contudo, a despeito de estar há alguns tempo, caminhando em meio aos mortais, a moça não sabia exatamente o que fazer.
Embora, já tivesse pedido a Alexandre, que acompanhasse o padre em uma visita a Solange, a moça, já havia descoberto, conversando depois com o seminarista, que de nada adiantou os dois irem até lá, já que ninguém se dignou a abrir a porta para eles.
Lúcia, que havia se apresentado ao seminarista como Luíza, demonstrou um profundo desapontamento.
Triste e preocupada, a moça não sabia mais o que fazer.
Para piorar, um menino, percebendo que ela não pertencia ao plano físico, começou a chorar quando a viu, diante de si, toda iluminada. Assustado, logo correu em direção a sua mãe, e dizendo que Lúcia era um anjo, começou a puxar a barra de sua calça, procurando chamar-lhe a atenção. De nada adiantou. A mãe, achando que era coisa da imaginação do menino, pediu para que ele deixasse a moça em paz.
Lúcia, percebendo a inocência da criança, sorriu para ele, que imediatamente, superando o medo, sorriu de volta para ela.
Depois do incidente, Lúcia saiu da igreja, e decidida a resolver a situação, prometeu a si mesma, que não deixaria sua mãe morrer.
Não, Solange ainda viveria muitos anos.
E assim, determinada, Lúcia, resolveu aparecer em sonhos novamente para a mãe.
Porém, diferente da primeira vez, não se lamentaria.
Pelo contrário.
Acreditando que se pudesse convencer a mãe, que estava bem, que tudo mudaria, Lúcia, apareceu em sonhos, mostrando a mãe, um lindo campo florido, calmo, tranqüilo. Dizendo que lá não existia nem dor, nem sofrimento, contou a mãe que já fazia algum tempo, que tomara consciência de sua situação.
Preocupada, mesmo distante, estava tentando fazer com que ela voltasse a sua vida normal.
Solange, que dormia pesadamente, parecia ouvir cada palavra de Lúcia.
Além disso, parecia ver com detalhes, o lugar em que filha vivia.
Lúcia, contando que era feliz no Paraíso, revelou a mãe, que só tomou conhecimento de sua situação, depois de meses.
Sim, por que quando faleceu, Lúcia levou algum tempo para recobrar a consciência, e passar a perceber que fazia parte agora, do plano espiritual. Porém, apesar de tudo o que lhe ocorrera, não se rebelou.
Conformada com sua sorte, a moça, passou a se dedicar aos estudos espirituais. Tudo com vistas a se tornar uma alma melhor.
Solange, ao ouvir as explicações da filha, começou a sorrir.
Mesmo dormindo, a moça podia perceber que a mãe se tranqüilizava com suas palavras.
Contudo, ao mesmo tempo em aquelas palavras cálidas, inundavam de seu coração de uma profunda felicidade, Solange, também lembrou-se de sua dor por havê-la perdido, e em sonho, contou a filha:
-- Lúcia! Que bom que você apareceu! Eu te pedi tanto para voltar.
Nisso, a moça, tomada de um profundo sentimento de emoção, começou a chorar. Chorou longamente.
Solange, em sonhos, só ficava olhando espantada. Tão espantada que chegou a perguntar:
-- Mas você não é feliz, minha filha?
Lúcia respondeu:
-- Sim mãe. Muito feliz. Eu só não sou feliz quando eu vejo você sofrendo, e não posso fazer nada. Mãe. – disse ela em sonho, segurando delicadamente as mãos de sua mãe. – Mãe, eu te amo. Nunca se esqueças disto. Eu nunca vou me esquecer da senhora. E eu sei que a senhora sofre, por minha causa. Eu sei também que essa dor, a dor da perda, a dor da saudade, não se acaba de um dia para o outro. Essa tristeza, essa saudade nunca acaba. Mas eu sei também, que a senhora é jovem, tem toda uma vida pela frente, e precisa prosseguir sem mim. Mãe, eu não vou ficar triste se você resolver abandonar sua tristeza e retomar sua vida. Seja feliz. Por favor, mãe! Seja feliz!
Solange, profundamente emocionada, perguntou a filha, quase em prantos:
-- E como eu faço para ser feliz?
Lúcia respondeu:
-- Primeiramente, deixe as pessoas te ajudarem. Não recuse ajuda. Quando Raquel e Cínthia baterem na tua porta, atenda. Não seja ríspida, nem dura com elas, peça ajuda. Peça ajuda, por que eu sei que há tempos você não se alimenta e nem tem forças para abrir a porta. Aceite ajuda mamãe, você precisa. Por favor, por mim. Eu não quero que você morra. Seja feliz. Retome sua vida. Eu te imploro. Faça isso por mim!
Solange, percebendo a angústia e a inquietude no semblante da filha, mesmo em sonho, prometeu a ela, que não se deixaria abater e retomaria sua vida. Nem que para isso fosse necessário, matar um leão por dia.
Lúcia então, agradeceu a mãe e se despediu, dizendo que a amava muito.
A seguir, determinada a tirar a mãe daquele estado de letargia, a moça apareceu em sonhos para Raquel e Cínthia. Dizendo as duas, que precisavam ir ainda aquela noite até porta de Solange, alegou que sua mãe precisava de ajuda.
Precavida, pediu para que levassem alguém para ajudar a arrombar a porta da casa.
As duas, impressionadas com o sonho que tiveram, trataram logo de atender o pedido.
Muito embora Raquel e Cínthia não compreendessem por que tiveram aquele insight, assim que foram advertidas de precisavam agir, sem nem pensarem em se vestir, bateram logo na porta da casa de alguns vizinhos.
Desesperadas, acabaram por acordar toda a rua com o escândalo que fizeram.
Raquel e Cínthia, sem conhecerem da intenção uma da outra, tentaram ajudar Solange. E assim, as duas mulheres, alvoroçadas, acabaram se encontrando no meio do caminho, quando uma se dirigia a casa da outra.
Quando alguns vizinhos foram até a porta da casa de Solange para saberem o que estava acontecendo, descobriram que Raquel e Cínthia queriam que alguns homens fossem até a casa de Solange.
Aborrecidos, os vizinhos logo falaram que aquela não era hora para serem incomodados. Mas, acreditando se tratar de uma situação desesperadora, muitos deles saíram preocupados de suas casas.
Cínthia e Raquel, percebendo a incredulidade dos homens quanto a gravidade da situação, preocupadas com Solange, falaram que fazia muito tempo que não a viam saindo de casa. Intrigadas chegaram a perguntar a vizinhança quanto tempo fazia que não viam na rua ou indo para algum lugar.
Os moradores responderam que não sabiam.
As mulheres responderam então, que precisavam saber o que estava acontecendo. Isso por que, se não agissem logo, sabendo do estado de Solange, quando resolvessem fazê-lo, poderia ser tarde demais.
As pessoas, mães, pais, homens, mulheres, crianças, anciãos. Todos, sem exceção, acabaram concordando com elas.
Sim, diante da gravidade da situação, se não tomassem medidas urgentes, quando fossem agir, poderia não haver mais tempo.
Assim, imbuídos num espírito de solidariedade, todos acompanharam as duas mulheres, que aflitas, caminharam a rua inteira, de chinelos e um casaco em cima da camisola. Os vizinhos também estavam de pijama.
Raquel e Cínthia, ansiosas, passaram bater insistente na porta. Pedindo para que Solange abrisse a porta, começaram a chamá-la.
Solange, que acordara sobressaltada com o barulho, tentou diversas vezes responder. Todavia, conforme suas forças foram se esvaindo, a mulher não tinha forças nem para responder os chamados das fiéis amigas. As grandes companheiras de sua vida.
Como não ouviam nenhum barulho vindo de dentro da casa, Raquel e Cínthia, preocupadas, pediram para que dois dos homens que arrombassem a porta de entrada da casa.
Foi o que fizeram.
Raquel e Cínthia, preocupadas com a amiga, procuraram-na em todos os cômodos da residência.
Quando a viram deitada em sua cama, perceberam o quanto ela havia emagrecido com a doença.
Assustadas com o estado de Solange, pediram para que alguém fosse até um orelhão, e ligasse para o hospital.
Isso por que, Solange, debilitada com a doença, precisava ser medicada e devidamente conduzida até o hospital.
Assim, foi questão de minutos até que ambulância parassem defronte a casa de Solange, e os enfermeiros, prestativos e cuidadosos, a colocassem em uma maca e a levassem de ambulância até o hospital onde a mesma trabalhava.
Bem cuidada pelos enfermeiros, foi questão de tempo para que a mulher se recuperasse.

Enquanto isso, Diogo, iracundo, tratou de chamar Diá para uma conversa séria em seus domínios.
Aborrecido com o mal desempenho da moça, com relação a missão, Diogo ameaçou-lhe castigar severamente.
Diá, temendo o perigo, respondeu que não estava tudo decidido.
Como Lúcia ainda não havia voltado ao céu, ela ainda tinha tempo para dar uma lição, nela.
Diogo então, resolveu explicar-lhe seus propósitos e, concedendo-lhe uma última oportunidade, deixou-a voltar.

Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.

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