Noite após noite, Vanusa se deita na cama e, insone, passa as noites em claro. Espera ansiosa pela volta de Lourenço, que mais uma vez, a deixa sozinha, em um pequeno apartamento, no centro de São Paulo.
É tarde, a noite está fria. Mais uma vez, Vanusa fica a rolar na cama. Contudo, tomada por um sentimento de resolução, cansada dessa longa e eterna espera, resolve pela segunda vez, procurá-lo pelas frias ruas de São Paulo.
Por conta desta decisão, coloca uma roupa e saí de casa.
Desalentada, fica horas a vagar.
Até que ... finalmente encontra Lourenço.
Este, apesar de entrado nos anos, está ao lado de várias mulheres, bebendo e se divertindo. Entre elas está Marli – uma relativamente jovem prostituta – com a qual Lourenço mantém um caso há alguns meses.
Inadvertidamente, para o azar do amante, Vanusa observa tudo à distância. Ultrajada por ver seu homem beijando outra mulher, Vanusa aproxima-se do bar, onde Lourenço está e dispara três tiros.
Infelizmente, Lourenço não teve tempo de dissuadir Vanusa desta vez. Morreu instantaneamente. Como último gesto, um olhar de despedida para aquela que foi sua grande companheira – Vanusa. Após, faleceu. Dormiu para nunca mais acordar.
Marli apavorada, ao ouvir os tiros, tratou de fugir pelos fundos do estabelecimento.
Vanusa por sua vez, mesmo espantada, caminhou calmamente pela avenida. Caminharia noite afora se não tivesse sido denunciada sem delongas por Marli.
Esta, depois dos tiros, tratou logo de ir até uma delegacia. Fazia questão de delatar Vanusa.
Theodoro, o delegado de polícia, ouviu atentamente o relato da prostituta.
Francisco – o escrivão de polícia –, redige o Boletim de Ocorrência.
Não demora muito, e Theodoro e mais três policiais, partem no encalço de Vanusa.
Enquanto isso, Vanusa continua a caminhar pelas ruas da cidade. Desorientada, não sabe para onde ir. Sem conseguir raciocinar direito, não se lembra sequer de se livrar da arma que carrega na mão direita.
Por conta disso, não demora muito para ser encontrada pela ronda.
Nisso, ao perceber a presença dos policiais, Vanusa tenta desesperadamente, fugir.
Durante algum tempo, consegue até driblar a polícia, mas depois de um certo momento escondendo-se, é encurralada num beco sem saída. Sem ter como fugir, é presa.
Tendo como única companheira a fria madrugada, Vanusa se debate, luta para fugir. Debalde.
Sem ter escapatória, é levada no camburão do carro da polícia.
Na delegacia é instada a sentar-se.
Mesmo contra sua vontade senta-se á mesa, diante do delegado.
É quando Theodoro lhe informa que ela está sendo acusada de homicídio.
Vanusa então, percebendo que deixara testemunhas de seu crime, começa seu depoimento. Começa então a contar sua história.
Emocionada, Vanusa relata que conheceu Lourenço, em sua mocidade, quando trabalhava como crooner, ou melhor, cantora em uma boate. Juntos, viveram um tumultuado e longo caso de amor.
Isso por que Lourenço era infiel.
Os dois se conheceram, quando ela se apresentava em um show. Cantando:
“... Faz-me rir com o que andas dizendo
Que te adoro e morro por ti
Não te engane dizendo mentiras
Não te enganes,
Não me faças rir
Até parece impossível que um dia
Foste o homem, sonhado por mim
Esta cínica farsa de agora
Faz-me rir, faz-me rir...”
Lourenço, ao ver aquela bela jovem cantando de uma forma tão envolvente, com seu longo vermelho, seu cabelo médio ondulado, imitando os trejeitos de Rita Hayworth, ficou encantado.
Thiago, ao perceber a expressão de deslumbramento no rosto do amigo, comentou que estava prestes a perder seu companheiro de farras novamente.
Lourenço, vidrado que estava na voz e na beleza de Vanusa, nem sequer ouviu o comentário de seu amigo de noitadas. Estava totalmente envolvido por aquela atmosfera misteriosa da boate e a cantoria da jovem.
Por fim, quando o show se encerrou, ele fez questão de deixar um bilhete com o garçom. Gentil, Lourenço colocou dinheiro no bolso da calça do rapaz e pediu-lhe para entregar o bilhete a bela cantora.
O rapaz atendeu seu pedido.
Em seu camarim, modesto camarim, Vanusa recebeu o bilhete. Era Lourenço se apresentando e a convidando para um encontro. Como não sabia seu nome, Lourenço a chama de “Cantora Bela”.
Ao ler o conteúdo do bilhete, Vanusa sorrir. Mas, apesar de achar Lourenço por demais atrevido, acabou concordando em se encontrar com ele.
Com isso, para responder ao bilhete enviado, Vanusa combinou que o garçom entregaria um novo bilhete com a resposta.
Nisso, escreveu uma pequena mensagem que o jovem garçom, que entregou a Lourenço.
Ansioso, Lourenço imediatamente leu a mensagem.
Qual não foi sua surpresa ao saber que somente no próximo show Vanusa falaria com ele. Lourenço ficou desapontado, mas ao descobrir que a moça se chamava Vanusa, conseguiu ao menos saber que ela realmente existia.
Thiago ao ver a reação do amigo, caiu na risada.
Lourenço porém, não ligou. Assim, enfeitiçado, na noite seguinte, voltou à boate.
Desta vez, Vanusa estava mais encantadora. Usando um longo – tomara que caia – com luvas, segurava o microfone como se segurasse um ramalhete de flores.
Lourenço ao ver que a moça se comportava com uma verdadeira diva, ficou ainda mais fascinado por ela.
Orientada pelo garçom, Vanusa então pôde ver que se tratava de um rapaz bonito. Quando constatou que se não tratava de uma brincadeira de mal gosto, a moça lançou-lhe alguns olhares enquanto cantava.
Lourenço percebeu.
Thiago que o acompanhava, depois da apresentação da moça, a pedido do amigo, tratou logo de deixá-lo sozinho. Observador que era, ao notar que uma garota olhava para ele, tratou de sentar-se á sua mesa, deixando o amigo sozinho.
Nisso, depois de quase meia-hora, finalmente Vanusa apareceu e sentou-se á mesa com o já ansioso, Lourenço.
Ávido por aquele encontro o rapaz segurou sua mão e disse-lhe tudo o que ela gostaria de ouvir de um homem. Lindamente vestida com um longo azul, depois de muito ouvir galanteios, sugeriu que os dois dançassem.
Exímio dançarino, Lourenço a conduziu em todas as danças.
Vanusa, ao ver a destreza do rapaz, ficou encantada.
Mais tarde os dois, saindo da boate, caminharam pelas ruas então tranqüilas de São Paulo. Para variar um pouco, a madrugada estava gélida.
Vanusa, desagasalhada, começou logo a tremer de frio.
Gentil, Lourenço, percebendo que Vanusa congelava de frio, ofereceu seu casaco.
A moça aceitou, e Lourenço colocou-o sobre os ombros desnudos da moça.
Vanusa agradeceu.
Lourenço, começou a contar então, que sempre se imaginou enamorado de uma bela moça assim, igual a ela.
Vanusa, já desconfiada de tantos elogios, respondeu:
-- Você deve dizer isso a todas as mulheres com que já saiu.
Lourenço negou.
E assim, os dois continuaram conversando, até que Vanusa se aproximou de seu apartamento, e repentinamente despediu-se do recém-conquistado amigo.
Lourenço, surpreso perguntou:
-- Mas você já está se despedindo? Não podemos conversar mais um pouco?
Vanusa então, percebendo que eles sempre teriam a noite para se encontrarem, comentou que precisava dormir.
Lourenço, um pouco decepcionado, comentou:
-- Que pena! Eu adoraria lhe fazer companhia!
Vanusa ao ouvir o comentário, disse-lhe tchau e entrou no prédio.
Cansada, vestiu uma camisola e tratou de deitar-se em sua cama e dormir.
Dias depois, lá estava Lourenço contando a Thiago que Vanusa apesar de viver da noite, não era como as outras.
Thiago ao ouvir o comentário, respondeu:
-- Minha nossa! Por essa eu não esperava! Você está apaixonado!
Lourenço não gostou nem um pouco da brincadeira.
Mas, Thiago não estava de todo errado. Realmente havia algo de diferente em Vanusa. Algo que nem Lourenço sabia explicar, mas que fazia com ele fosse todas as noites vê-la. Uma espécie de encantamento. Uma fascinação.
E essa fascinação durou meses.
Essa fascinação, esse encantamento fez com os dois passeassem todas as madrugadas de mãos dadas, que dançassem todas as noites, que trocassem confidências.
Thiago já estava ficando até convencido de que todo aquele interesse era realmente amor.
E talvez até tenha sido mesmo. Mas foi só Vanusa aceitar viajar sozinha com Lourenço para tudo mudar. Depois de duas semanas de um longo idílio romântico na praia, no qual os dois brincaram de correr na areia, de batalhas em que jogavam água nos olhos um do outro, em que caminhavam de mãos dadas pela orla marítima... Nos dias em que Vanusa surgia-lhe deslumbrante com seus maiôs, e seus belos vestidos, os quais usava para passear, ou então almoçar e jantar, e em que tudo foi romântico e mágico, após algum tempo o sentimento foi arrefecendo.
Depois de um relativamente longo período de encantamento, em se tratando de Lourenço, tudo começou a mudar. Embora os dois fossem namorados, com o tempo, começou a diminuir o interesse de Lourenço por Vanusa.
Contudo, o rapaz continuava a lhe dar atenção. Por conta disso, demorou algum tempo para que Vanusa percebesse que Lourenço era um mulherengo.
Vanusa só percebeu isso, quando viu-o lançando olhares ardentes para Thalita – uma das dançarinas do táxi-dancing no qual cantava.
Foi humilhante.
Isso por que, Lourenço, sem se preocupar em disfarçar seu interesse flertou com a moça, diante dos olhos de Vanusa.
Para ela, ver seu namorado se derretendo para outra mulher, em seu ambiente de trabalho, foi a pior coisa que poderia lhe acontecer. Mas, mesmo assim, não entregou os pontos, continuou a trabalhar. Continuou cantando e arrancando aplausos de todos os que a ouviam.
Por ser bela, Vanusa, atraía muitos olhares e admiradores.
Certa vez, Lourenço, percebendo que Vanusa despertava paixões, demonstrou pela primeira vez sentir ciúmes da namorada. Ao notar que poderia ser trocado por outro, assim como costumava fazer com ela, Lourenço começou a tomar mais cuidado com seus casos amorosos.
Discreto, depois de algum tempo de relacionamento com Thalita, terminou seu caso. Contudo, as coisas não transcorreram da forma como ele gostaria.
Isso por que furiosa, Thalita tratou de contar a Vanusa, todos os pormenores do caso que tiveram.
Enfurecida, Thalita revelou que os dois se encontravam a vários meses escondidos. Relatando que inicialmente ele se derramara em gentilezas, Thalita comentou que ultimamente ele a vinha negligenciando.
Depois de ouvir a história de Thalita, Vanusa não podia mais fechar os olhos para o que vinha acontecendo.
Por esta razão, assim que encontrou Lourenço, tratou imediatamente de lhe relatar que estava sabendo do caso dos dois.
Surpreso, Lourenço ainda tentou negar tudo, mas Vanusa, dizendo que já tinha visto ele flertar com Thalita diante de seus olhos, enquanto trabalhava, relatou que não aceitaria desculpas nem mentiras.
Acuado, Lourenço revelou que tivera sim um casinho com Thalita.
Ao ouvir isso, Vanusa ficou furiosa:
-- Casinho, seu ordinário! Ela me contou que vocês ficaram juntos por vários meses. Como é que você tem a coragem de me dizer que foi apenas um casinho?
Lourenço, percebendo que não adiantaria falsear a verdade, revelou que realmente tivera um caso com a moça. Mas reiterou, que, apesar disso era dela que ele gostava de verdade. Tanto o era que ele nunca conseguiu abandoná-la.
Vanusa ao ouvir estas palavras, ficou ainda mais irritada:
-- Quer dizer então que seu apego a mim é um prêmio de consolação? Que bom! Devo ficar feliz com isso?
Lourenço então, sentindo que precisava dizer alguma coisa para aplacar a ira de Vanusa, comentou que quando a conheceu, sentiu que ela possuía algo de especial. Muito embora não soubesse explicar o que o atraía para ela, comentou que seu charme a fazia sem igual.
Ainda assim, Vanusa continuava furibunda com ele.
Mas Lourenço, percebendo que estava desarmando a namorada, continuou a elogiá-la. Dizendo que Thalita fora apenas um passatempo, comentou que nenhuma mulher a substituiria.
Vanusa continuava aborrecida.
Lourenço por sua vez, notando que a ira de Vanusa ia se arrefecendo, contou que nunca houve uma mulher igual a ela em sua vida.
Pronto, finalmente Lourenço conseguiu fazer com que Vanusa esquecesse a traição. Pelo menos momentaneamente.
Por esta razão, para compensá-la, Lourenço tratou de leva-la para almoçar no Terraço Itália.
Cuidando de todos os detalhes, o rapaz providenciou-lhe até mesmo a toillet que ela usaria. Por isso mesmo, comprou-lhe um bonito vestido vermelho, sua cor predileta. Também comprou-lhe sapatos.
Com isso, Vanusa ficaria magnífica.
Dito e feito, quando Lourenço revelou a moça seu plano de fazer um passeio, mostrou-lhe logo os presentes comprara.
Vanusa ao ver o vestido, ficou deslumbrada. Dizendo que a roupa era linda, agradeceu Lourenço beijando-o.
Com isso, ao final de alguns dias, lá se foram os dois. Primeiramente, caminharam pelo ainda bem cuidado sempre da cidade, depois se dirigiram ao imponente arranha-céu. Um dos poucos que havia na São Paulo daquela época.
A seguir, almoçaram no belíssimo restaurante. Por fim, apreciaram a belíssima paisagem da cidade, no famoso terraço.
Animada, no dia seguinte, ao se encontrar com Marion no táxi-dancing, Vanusa comentou que Lourenço estava se empenhando em desfazer a péssima impressão que lhe causara.
Marion, amiga de longa data de Vanusa, tratou de adverti-la de que aquela história poderia se repetir.
Vanusa ao ouvir a prevenção da amiga, ficou furiosa. Como ela poderia duvidar do amor de Lourenço? Afinal de contas, somente um homem verdadeiramente apaixonado, seria capaz de tamanho ato de gentileza.
Marion então, sem se intimidar pela inesperada agressividade da amiga, comentou que muitos homens para se desculparem de uma traição, faziam o mesmo.
Vanusa porém, continuava a insistir que Lourenço era diferente.
Marion percebendo que de nada adiantava alertar Vanusa, resolveu deixar sua prevenção de lado, e passou a ouvir o relato pormenorizado do passeio que ela fizera com seu amado Lourenço.
O discurso envolvente de Vanusa, não convenceu Marion, mas pelo menos serviu para ela reconhecer que Lourenço sabia como conquistar e cativar uma mulher.
Vanusa ao ouvir isso, acreditou que a amiga tivesse mudado de idéia em relação a Lourenço. Tanto que a abraçou por isso.
Mas Marion sabia que apesar disso tudo, o quanto Vanusa tinha ficado arrasada com a traição de Lourenço. Ao saber da boca de Thalita, o quanto ele poderia ser canalha, Vanusa entregou-se á tristeza. Atirando-se sobre sua cama, Vanusa chorou por dias a fio, até tomar coragem para cobrar uma atitude de Lourenço.
“Quem é,
Que não sofre por alguém
Quem é,
Que não chora uma lágrima sentida...”
Arrasada, só pôde resolver esta questão dias depois da confissão, quando finalmente conseguiu encontrá-lo.
Antes porém, chorou muito, e por diversas vezes consolou-se no ombro de Marion.
Quando soube da infidelidade de Lourenço, Marion ficou furibunda. Tanto que chegou a pensar em tomar satisfações com o rapaz. Vanusa porém, percebendo a revolta da amiga, comentou que este era um assunto que somente ela poderia resolver.
Marion concordou.
E nisso, Vanusa chorou todas as lágrimas que tinha para chorar.
Até que resolveu esclarecer esta história com Lourenço.
Esclarecer em termos. Isso por que, mesmo depois da traição, Vanusa continuou namorando Lourenço.
Marion estava inconformada com a atitude da amiga. Contudo, para não brigar, deixou esta questão de lado.
Com isso, as coisas ficaram calmas durante algum tempo.
Lourenço, sentindo-se culpado por sua traição, derramava-se em gentilezas e atenção para com Vanusa.
Thiago que acompanhava este romance desde o começo, comentou com o amigo que ele devia realmente gostar muito de Vanusa, para estar com ela há tanto tempo.
Lourenço assentiu com a cabeça.
Sim somente um sentimento muito forte poderia durar tanto tempo. Isso por que, sendo inconstante, Lourenço nunca ficara tanto tempo com uma mesma mulher.
Isto deixava Thiago impressionado.
De tão impressionado, certa vez Thiago tentando entender este mistério, chegou a flertar com Vanusa.
Chegou até a mandar-lhe flores, como se fosse um admirador secreto.
Enquanto isso, Vanusa continuava cantando e encantando os homens.
Porém, quando Lourenço descobriu que um dos admiradores de Vanusa era seu amigo, ficou furioso.
Ao ler um dos cartões enviados para a namorada, Lourenço percebeu que a letra era muito parecida com a de Thiago. Furioso, assim que encontrou o amigo, foi logo tomar satisfações.
Empurrando o rapaz, Lourenço descobriu que fora ele mesmo que enviara alguns dos ramalhetes de flores que Vanusa recebia.
Ao descobrir isso, Lourenço ficou furioso. Bateu em Thiago, e por meses ficou sem falar com o amigo.
Vanusa tentou intervir, mas Lourenço não quis saber de ouvi-la. Dizendo que ela estava defendendo um traidor, a proibia de tocar em seu nome.
Sem outra alternativa, Vanusa acabou concordando com a exigência.
Marion quando soube da história, achou graça.
Quem não gostou nada nada disso, foi Vanusa que ao ver a reação da amiga, comentou que desta vez Lourenço agira corretamente com ela.
Marion censurou a amiga. Dizendo que Thiago não agira corretamente, comentou que ainda assim Lourenço não precisava agredi-lo.
No tocante a isso, até mesmo Vanusa concordou com ela. Dizendo que tentara fazer os dois se entenderem novamente, confessou que foi proibida de tocar no nome de Thiago.
Ao ouvir as palavras da amiga, Marion aconselhou-a a se manter longe desta confusão.
Ambas concordaram no tocante este ponto.
Com isso, Thiago e Lourenço, depois de algum tempo de inimizade fizeram as pazes.
Lourenço, dizendo que não valia a pena perder um amigo por causa de mulher, acabou se entendendo com Thiago, que finalmente lhe pediu desculpas.
Lourenço aceitou as desculpas.
E durante algum tempo tudo caminhou bem.
Até Suzana entrar na história.
Curiosos, Aderbal e Everaldo, perguntam a Vanusa, o porquê destas palavras.
Vanusa contou então a história da pobre moça.
Suzana, antes de entrar em sua vida, teve um relacionamento com um rapaz. Seu nome era Lawrence.
O rapaz apaixonado, após um certo tempo de namoro, chegou a pedir a moça em casamento.
Durante o noivado, mostrou-se cada vez mais interessado em Suzana. Atento não queria deixá-la nem um minuto sozinha. Ciumento, ficava irritado toda vez que observava olhares em direção a moça.
Possessivo, por diversas vezes brigou com Suzana por conta de seu jeito simpático e alegre de tratar as pessoas.
Lawrence, alegando que este não era o comportamento adequado para uma mulher que estava prestes a se casar, insistia na idéia de que ela não devia ser tão efusiva.
Suzana quando ouvia isso, comentava que precisava ser simpática com as pessoas. Afinal de contas, é uma questão de boa educação.
Lawrence porém, não concordava com isso. Enciumado, queria por que queria que Suzana deixasse de lado seus amigos.
Mas Suzana não concordava com essas atitudes de Lawrence. E por isso mesmo, ouvia as reclamações do noivo, mas deixava de lado suas prevenções.
Com seu jeito apaziguador, Suzana conseguia facilmente fazê-lo esquecer de suas desconfianças. Dizendo que era dele que ela gostava, Suzana fazia com que Lawrence esquecesse por algumas horas de sua insegurança.
Contudo, esse estratagema não durou muito. Conforme a data do casamento se aproximava, mais e mais o rapaz ficava incomodado com jeito de Suzana.
Suzana tentava convencê-lo de que não havia nada de mais em suas atitudes.
Um dia porém, às vésperas do matrimônio, Lawrence teve a infelicidade de presenciar uma cena que mudaria definitivamente os rumos da vida de ambos.
Ao chegar de surpresa na casa da noiva, Lawrence viu um rapaz conversando com Suzana. Aflito, o rapaz chegou a segurar o braço de Suzana, que incomodada com o gesto, repeliu-o.
Contudo, o estrago já havia sido feito.
Lawrence tomado de ciúmes, ao presenciar a cena, logo deduziu que aquele devia ser um dos muitos pretendentes que viviam cercando sua noiva.
Como estava enganado.
Mas, furioso que estava, não deu tempo para Suzana se explicar.
Suzana, pobre Suzana. Ao perceber o ar furioso do noivo, tentou calmamente explicar-lhe o incidente, mas ele furioso, não a deixou falar.
Isso foi o suficiente para deixar a moça nervosa.
Lawrence, percebendo a agitação da noiva, começou a proferir uma série de impropérios. Chamando-a de falsa, pérfida, comentou que ela traíra sua confiança e que portanto não era digna de seu afeto.
Ao ouvir tão duras palavras a moça bem que tentou novamente se explicar, mas novamente foi impedida por Lawrence.
O rapaz, alvoroçado, crédulo de que havia sido traído, tratou logo deixar a casa da noiva, prometendo não voltar mais.
Pois bem, dito e feito.
Não demorou muito para que Lawrence, desorientado, ao atravessar uma rua sem olhar para os lados, fosse colhido em cheio por um carro. Jogado para longe, morreu na hora. Motivo, traumatismo craniano.
Horas depois, quando Suzana foi informada da tragédia, entrou em desespero. Embora inicialmente tenha duvidado da notícia da morte do noivo, ao ver o corpo sem vida de Lawrence em um caixão de madeira, teve que aceitar a realidade.
Arrasada, acompanhou o velório e o enterro do noivo ao lado de seus pais e da família do noivo.
A tragédia foi notícia de jornal.
A manchete: “Noivo Morre às Vésperas do Matrimônio”.
Esta tragédia abalou definitivamente Suzana que depois do ocorrido nunca mais foi à mesma. Desencantada, a moça de tão transtornada com a morte violenta do noivo, pediu aos pais, Dona Valéria e Seu Alfredo, para se mudarem dali.
Mesmo relutante, Alfredo atendeu o pedido da filha e a família se mudou para outro bairro de São Paulo.
Isso por que, Suzana não agüentava mais ser chamada de a noiva enlutada. Ouvir estas palavras nada lisonjeiras, a magoavam deveras. Não bastasse sentir-se culpada por tudo que sucedera ao noivo, ainda era obrigada a ouvir impropérios desta natureza.
Viver depois daquela tragédia não vinha sendo nada fácil.
Mas após a família se mudar para outro bairro, os moradores da localidade, sem conhecerem a vida pregressa de Suzana, tratavam-na com toda a cortesia.
Foi assim que a moça pôde se refazer da tragédia.
Se refazer é claro, até certo ponto. Por quê nunca mais sua vida seria a mesma.
Nunca mais ela seria tão gentil com as pessoas como já fora um dia. Nunca mais seria a Suzana que encantou e que deixou Lawrence cheio de cuidados.
Valéria e Alfredo percebendo que a mudança de comportamento de Suzana era definitiva, aconselharam-na a não se fechar totalmente para as pessoas.
Mas Suzana não conseguia mais ser tão sociável quanto antes.
Contudo à certa altura, cansada de ser cobrada por seus pais, que estavam preocupados com seu jeito tão quieto, Suzana resolveu sair com suas novas amigas.
Juntamente com algumas vizinhas Suzana fez muitos passeios.
Certa vez, numa festa noturna, conheceu Thiago.
O rapaz quando a viu, logo se encantou.
Bonita, Suzana, elegantemente trajada com um bonito vestido de festa, chamava logo a atenção.
Atento, assim que pôde, aproveitando-se de uma distração dos pais da moça, Thiago enviou-lhe um bilhete.
Suzana ao ler o teor da mensagem, ficou um pouco desconcertada.
Nesse instante, tomado de coragem, Thiago resolveu se apresentar aos pais da moça. Pedindo a Alfredo permissão para dançar com a moça, foi logo atendido.
Suzana, sem ter outra alternativa, aceitou o convite para dançar.
E sob os olhares atentos dos pais da moça, Thiago descobriu que ela se chamava Suzana e que aqueles eram seus pais.
Ao som de “A Noite do Meu Bem”, os dois dançaram.
Elogiando a bela voz de Dolores Duran, Thiago conseguiu fazer com que Suzana conversasse um pouco com ele.
Contudo quando os músicos começaram a tocar “Fascinação”, Suzana respondeu que precisava voltar para sua mesa. Abalada ao ouvir a música, ela que já estava quase esquecida de sua tragédia pessoal, lembrou-se de seu noivo.
Alegando que precisava ir ao toillet, despediu-se de Thiago.
Thiago porém, não se fez de rogado, e, pedindo permissão aos pais da moça para se sentar à mesa, começou a elogiar Suzana.
Valéria e Alfredo, ficaram encantados com a educação do rapaz.
Foi assim que começou sua amizade com os pais da moça, que fizeram de tudo para que Suzana namorasse-o.
Suzana por sua vez, ao adentrar o toillet, e se olhar no espelho, começou a chorar. Ao lembrar-se que seu falecido noivo ofereceu aquela música para ela, Suzana viajou no tempo. Relembrou-se de como conhecera o rapaz.
Lawrence lhe foi apresentado durante uma festa. Durante esta festa os dois dançaram juntos. Ao tocar “Fascinação”, o rapaz, galante logo lhe ofereceu a música. Dizendo que a música não poderia ser nada menos do que isso, causou admiração em Suzana. E assim foi questão de tempo para os dois começassem a namorar. O que sem dúvida deixou seus pais muito satisfeitos.
Valéria e Alfredo, amigos de Cristina, ao saberem que Lawrence era seu filho, trataram logo de parabenizar Suzana. Sim, ela tinha escolhido um bom partido.
Pena que a felicidade não durou.
Suzana então, ao olhar-se no espelho, viu-se descomposta. Ao perceber isso, tratou logo de molhar o rosto.
Depois de se acalmar um pouco, tratou de fazer uma nova maquiagem.
Quando voltou para a mesa, qual não foi seu espanto ao ver Thiago conversando com seus pais.
Insistente e interessado, Thiago fez questão de permanecer um longo tempo conversando com Valéria e Alfredo.
Foi assim que ele conseguiu entrar na vida da moça. Para os dois começarem a namorar foi questão de tempo. Também houve ajuda dos pais de Suzana, que queriam a todo custo ver os dois juntos.
E assim, mesmo sem muito entusiasmo, Suzana acabou se tornando namorada de Thiago.
Quem ficou surpreso com isso, foi Lourenço, que nunca tinha visto o amigo tão empenhado em conquistar uma garota.
Thiago revelou então que pretendia se casar com Suzana.
Qual não foi o espanto de Lourenço. Surpreendido com a revelação, comentou:
-- Casar-se? Está louco? Acabou de conhecê-la!
Thiago por sua vez, respondeu que já fazia muito tempo que levava uma vida desregrada. Ademais, Suzana era muito especial.
Lourenço concordou. Dizendo que só mesmo uma pessoa muito especial o faria se esquecer do amigo para conversar com um casal muito mais velho do que ele, e ficar o tempo todo tentando se aproximar dela, Lourenço concordou.
E realmente Thiago estava gostando da moça.
Suzana porém, ainda estava muito magoada para se apaixonar novamente. Temendo ser novamente destratada, sentia que tinha reservas em relação a Thiago.
Um dia, sentindo que estava enganando o rapaz, resolveu revelar-lhe sua tragédia pessoal.
Thiago surpreso, comentou que não imaginava que ela já tivesse sido noiva.
Suzana então, comentou que se ele quisesse desfazer o namoro, entenderia.
Qual não foi sua surpresa ao ouvir que ele não se importava com seu passado.
Atento a este fato, assim que pôde comprar um anel de brilhantes, a pediu em noivado.
Diante desse quadro, só restou a ela aceitar o compromisso.
Mesmo assim, Suzana ainda tinha receio de que as coisas não chegassem a um bom termo.
Valéria sua mãe, percebendo sua preocupação, tentava a todo custo tranqüiliza-la. Em vão.
Nessa época, ao ser apresentada a Lourenço, Suzana atraiu logo sua atenção. Mulherengo, logo que se viu diante de uma bela moça, tratou logo de flertar com ela. E assim, toda vez que seu amigo se distraía, lá estava ele paquerando a moça.
Suzana ao se perceber alvo dos olhares insistente de Lourenço, ficou bastante constrangida. Mas o quê fazer neste caso?
Não tinha coragem de contar ao noivo. Ciente de que os dois eram amigos de longa data, sentiu-se desconfortável para comentar sobre o comportamento canalha de Lourenço.
Vanusa por sua vez, ao perceber o interesse de seu namorado por Suzana, tratou logo de alertá-lo de que daquela vez, não aceitaria ser passada para trás.
Lourenço porém, tentando desconversar, afirmava que ela estava cismada. Isso por que, não havia nada de mais em se observar os convidados.
Com isso, passou a disfarçadamente olhar para a moça.
Contudo, o assédio se tornaria mais incisivo com o passar do tempo. Á certa altura, sem o menor pudor, Lourenço sugeriu a Suzana que os dois tivessem um caso. Dizendo que Thiago não precisa saber de nada, comentou que ela era uma mulher muito interessante.
Suzana ao ouvir estas palavras, tentou desconversar.
Lourenço então, ameaçou beijá-la.
Não fosse Vanusa aparecer de repente, e ele a teria agarrado.
Prestes a se apresentar no palco para cantar, Vanusa comentou com Lourenço que os dois precisavam conversar.
O rapaz ao perceber o ar sério de Vanusa, tratou logo de sumir dali.
Suzana e Thiago, no entanto, continuaram na boate. Queriam apreciar a música e prestigiar Vanusa.
Muito embora Suzana tenha pedido para ir para casa, Thiago dizendo que seria uma descortesia tal gesto, a deixou sem alternativa.
E assim, ambos assistiram a apresentação da moça.
Com isso, Vanusa, após a apresentação, escreveu um bilhete para Suzana.
No bilhete dizia cortesmente para ela esperá-la para conversar.
A moça ao ler o bilhete, pediu novamente a Thiago para os dois irem embora, mas ele, dizendo que precisava cumprimentar Vanusa, pediu para que ela esperasse um pouco.
Curioso, Thiago quis saber quem havia mandado o bilhete.
Foi então que Suzana respondeu que fora a própria Vanusa.
Thiago não compreendeu:
-- Como assim? Vocês se conhecem?
-- Não. É ... que eu estava perto do camarim antes da apresentação e nós acabamos nos encontrando. – respondeu ela.
-- E o que ela quer? – perguntou Thiago, ligeiramente desconfiado.
-- Não faço a menor idéia.
Nisso, eis que aparece Suzana.
Elegantemente trajada, senta-se à mesa e cumprimenta Thiago e Suzana.
A seguir, depois de pedir um bebida, pergunta como vai o namoro do casal.
É quando Thiago diz que eles estão noivos.
Vanusa ao saber disso, ficou muito satisfeita. Dizendo que eles não deveriam tardar em se casar, pediu desculpas a Suzana pelo jeito atrapalhado de Lourenço.
Quem não gostou nada de ouvir este comentário foi Thiago, que logo quis explicações.
Suzana ao perceber a intriga de Vanusa, ficou aflita.
Mas Vanusa, percebendo a agitação de Thiago, tratou logo de desfazer a confusão.
Dizendo que Lourenço trombara em sua noiva, Vanusa comentou que Thiago tinha de ficar de olho no amigo. Devido seu jeito atrapalhado, ele poderia ter machucado a moça, comentou. Em seguida, recomendou a Suzana que ela tivesse cuidado com certos tipos de homens. Mas emendou dizendo que Thiago era uma ótima pessoa.
Depois disso, Vanusa tomou sua bebida, despediu-se dos amigos e voltou para o camarim.
Thiago ficou cismado com a história, mas Suzana, dizendo não compreender nada, acabou acalmando-o.
Todavia, depois deste encontro, Thiago insistiu com Suzana para que ela nunca mais ficasse a sós com Lourenço. Dizendo que ele mulherengo, o rapaz quis alertar a moça.
Mas Lourenço era esperto.
Ao perceber que Suzana deixara de freqüentar a boate, passou a visitá-la em casa. Para ele, descobrir seu endereço foi apenas questão de tempo.
Com isso, sem nenhum motivo aparente passou a visitá-la em sua casa. Algumas vezes chegou até a convidá-la para sair.
Quem não gostou nada disso foram seus pais, que durante algum tempo acreditaram que ela dera confiança ao rapaz.
Nessa época, Vanusa, percebendo que Lourenço continuava cercando Suzana, tratou logo de se tornar amiga da moça. Fingindo ser sua amiga, passou até mesmo a freqüentar sua casa.
Dizendo-se uma velha amiga de Suzana, Vanusa passou a ficar próxima da moça.
Porém, mesmo assim, Lourenço continuou cercando-a.
Como Vanusa não podia ficar o tempo todo atrás de Suzana, o assédio continuou.
Contudo, a moça nunca deu confiança para Lourenço.
Á certa altura, sentindo confiança em Vanusa, Suzana contou toda sua história para ela.
Foi assim que ela tomou conhecimento do infortúnio de Suzana.
Francisco e Aderbal, interrompendo o relato, comentaram que agora estavam entendendo como ela poderia conhecer tão bem a história da moça.
Nisso, Theodoro mandou os dois se calarem e pediu para Vanusa prosseguir com sua história.
Vanusa então, continuou seu relato.
Contou então que em dado momento, Thiago ao buscar a noiva em casa, descobriu que Lourenço freqüentava o lugar.
O rapaz ao ver o amigo na casa de sua noiva, quis logo saber o que estava acontecendo.
Lourenço, sem ter como explicar sua situação, deixou Thiago furioso. Foi então que o rapaz começou a agredir Lourenço. Dizendo que ele havia se portado como um canalha, tratou logo de colocá-lo para correr.
Valéria e Alfredo perceberam então, que Suzana não tivera culpa de nada. Ao notar o quanto o rapaz era atrevido, trataram logo de pedir desculpas à filha.
Isso ocorreu, não sem antes Thiago explicar que meses antes, caíra de encantos por Vanusa, o que rendeu uma séria desavença entre os dois. Contudo depois de algum tempo, ele e Lourenço acabaram se acertando. Mas agora, para se vingar, Lourenço estava paquerando sua noiva.
Ao dizer isso, Thiago ficou furioso.
Foi quando Valéria pediu para ele se acalmar.
Preocupada, foi até a cozinha preparar um copo d’água com açúcar.
Thiago bebeu a água avidamente.
Suzana então, aturdida com a situação, comentou que não tivera culpa pelo que ocorrera.
Thiago mesmo enciumado, acreditou nas palavras de Suzana. Dizendo que Lourenço sempre fora mulherengo, afirmou que era mais fácil acreditar em suas palavras do que nas dele.
Ao ouvir isso, Suzana ficou aliviada.
Todavia, mesmo após este incidente, o romance dos dois não foi feliz.
No dia de seu casamento, vestida de branco, ricamente adornada, Suzana pensou diversas vezes, em desistir do enlace.
Lembrando-se do dia fatídico, em que Lawrence fora atropelado, Suzana, aproveitando-se de uma distração de seus pais, saiu disfarçadamente de seu quarto, passou pela sala e ganhou a rua.
Sem rumo certo, caminhou durante cerca de quinze minutos. Foi quando chegou à Estação da Luz. Era 1946.
Valéria e Alfredo, ao perceberem que Suzana havia saído de casa sem que eles percebessem, trataram de avisar Thiago, que vestido de fraque, saiu da igreja e foi procurá-la.
Perguntando as pessoas se tinham visto uma mulher vestida de noiva, andando pelos arredores, Thiago descobriu que ela havia ido até a Estação da Luz.
A belíssima construção, erigida no início do século, estava apinhada de gente.
Thiago ao perceber isso, passou a se perguntar, como faria para encontrá-la.
Diante desta incerteza, passou a correr no meio da multidão.
Suzana, vestida de noiva, passava desesperada por entre as pessoas, que ao verem a noiva, paravam para olhá-la.
A certa altura, depois de muito correr, finalmente Thiago a encontrou. Aflito, ao alcançá-la com os olhos, gritou chamando seu nome.
Suzana porém não respondeu. Nervosa ao perceber que era chamada, aproveitou para sumir no meio da multidão.
Thiago gritou ainda por várias vezes o seu nome. Em vão.
Nunca mais a encontrou.
Desesperado, Thiago ainda tencionou entrar no trem e vasculhar cada um dos vagões. Mas não teve tempo. O trem que estava parado na estação logo partiu. Partiu antes mesmo que ele tivesse tempo de entrar num de seus vagões e continuar empreendendo sua busca.
Desiludido com a atitude inesperada da noiva, Thiago envergonhado com sua situação, mudou-se para outra cidade. Depois de muito sofrer, estava decidido a recomeçar sua vida em outro lugar.
Valéria e Alfredo tentaram convencê-lo a não se mudar, mas Thiago estava humilhado demais para permanecer em São Paulo. E assim partiu. E não mais voltou.
Quanto a Suzana, seus pais nunca entenderam o porquê de sua atitude impensada.
Também nem puderam.
Já na década de 1960, sem terem tido a oportunidade de reencontrarem a filha, faleceram. Primeiro foi Seu Alfredo que morreu quatorze anos depois do sumiço de Suzana. Depois foi Dona Valéria que faleceu, cinco anos depois do marido.
Nunca mais viram a filha. Suzana fugiu vestida de noiva e nunca mais voltou.
Foram anos de silêncio para os pobres pais da moça.
Para esse mistério, nunca houve resposta.
Everaldo ao ouvir esta triste história, ficou bastante emocionado. Dizendo que acompanhou esta história pelo noticiário, revelou que chegou a torcer para que os dois se encontrassem novamente.
Vanusa, ao ouvir estas palavras, comentou então, que devido o fato de ter se passado muitos anos, talvez nenhum dos dois estivesse mais vivo.
Francisco e Aderbal ao ouvirem estas palavras, comentaram que talvez os dois ainda tivessem vivos.
Vanusa concordou:
-- Quem sabe! – respondeu.
Impaciente, o delegado mandou Vanusa prosseguir o relato.
Vanusa então prosseguiu.
Foi nesse momento que ela contou o caso de Lourenço com Theodósia.
Theodósia era uma prostituta. Jovem na época, sabia que Lourenço tinha um longo relacionamento com Vanusa, mas atrevida, queria por que queria, tomar seu lugar.
Por diversas vezes ficou a provocá-la.
Dançando com Lourenço, diante dos olhos de Vanusa, que entretinha os freqüentadores da nova boate onde estava trabalhando, Theodósia, conseguia afrontá-la.
Furiosa, Vanusa por diversas vezes cobrou uma atitude de Lourenço.
Lourenço porém, sempre respondia com evasivas. Dizendo que eles eram apenas bons amigos, não conseguiu convencer, nem por um minuto, a escolada Vanusa, já acostumada com suas traições.
Vanusa, afirmando que ele mentia muito mal, comentou que, daquela vez não aceitaria ser traída. Ameaçando-o prometeu se vingar, se ele a passasse para trás.
Mais velha, embora ainda atraente, Vanusa vinha perdendo espaço para as jovenzinhas que se aproximavam de Lourenço em busca de alguma vantagem.
O tom de Vanusa agora era de profundo ódio.
Theodoro – o delegado – percebeu isso.
Vanusa então relatou que a partir daí, passou a tomar uma atitude mais agressiva, visando afugentar as amantes de Lourenço.
Contudo, Theodósia era esperta, e ao ser alvo de provocações por parte de Vanusa, revidava-as de maneira incisiva.
Por exemplo. Quando Vanusa abraçava Lourenço diante de todos, Theodósia quando tinha a oportunidade arrastava-o para o salão para dançar algo sensual.
Vanusa ficava furiosa.
Theodósia deu trabalho.
Mas finalmente foi abandonada por Lourenço, que se cansou de seu jeito atrevido.
Todavia, não foi só isso. Como já foi demonstrado, Lourenço sempre foi inconstante. Além disso, Vanusa, estava sempre o pressionando.
Isso pesou em sua escolha.
Quando soube que Lourenço rompera com Theodósia, Vanusa se sentiu triunfante.
Mas a ex-amante, apesar de descartada, revidou.
Ao ser deixada de lado, disse a Lourenço que ele iria se arrepender do que estava fazendo.
Com isso, depois de algum tempo, eis que Theodósia surge na boate em que Vanusa trabalhava acompanhada de um elegante senhor.
A cantora se admira.
Lourenço fica visivelmente incomodado.
Quem não gosta nada disso é Vanusa.
Ao perceber que Lourenço ficara enciumado, Vanusa fica irritada.
Mais tarde, ao chegarem em casa, Vanusa discute com Lourenço, que irritado, saí de casa.
Esta foi a primeira briga séria do casal.
Vanusa, arrasada, fica noites a fio sem dormir direito.
Lourenço aproveitando a recém-conquistada liberdade, envolve-se com várias mulheres.
Até que um dia, arrependido, resolve voltar para casa.
A partir de então, Vanusa passa a espantar as amantes do namorado. Cansada de ser sempre traída, Vanusa passa a cobrar casamento. Dizendo que eles estão há muito tempo juntos para serem apenas amásios, ela o faz se sentir pressionado.
Mais uma vez o casal briga e Lourenço sai de casa.
Mais amantes, noitadas, bebedeiras, jogatina.
Envelhecida, Vanusa, já não mais podendo trabalhar como cantora, começar a ganhar a vida como diarista. Em razão de um problema na garganta, até sua bela voz a abandonou.
Mas não foi só Vanusa que envelheceu, Lourenço também. Mas menos castigado pela vida, continuou sua vida de boêmio.
Este foi seu mal.
Isso por quê, foi por esta razão que morreu.
Nesse momento, Vanusa revelou o quanto se sentia humilhada com a atitude do amante. Por esta razão o matou.
Por esta razão acabou com sua vida, relatou ela, chorando.
No dia seguinte, os jornais relataram sua tragédia pessoal.
Vanusa, ao ler no jornal a sua história, ficou um tanto quanto chocada.
Foi somente neste instante que dera conta de seu mal.
Ao cair em si, percebeu o mal que perpetrara.
Por um instante chegou até a se arrepender.
Chorou como uma desesperada. Chegou até a chamar pelo nome de Lourenço.
Ao se aperceber de seu gesto tresloucado, Vanusa tomou ciência de que ficaria muitos anos presa.
Dias depois, ao lhe ser nomeado um defensor – posto que não tinha dinheiro para pagar um advogado particular –, Vanusa pacientemente lhe relatou os pormenores de sua relação com Lourenço.
O advogado, ao ouvir seu triste relato, comentou que seria muito difícil ela ser absolvida por seu crime. Dizendo ter uma árdua tarefa a realizar, Doutor Osório, a orientou quanto a seu depoimento, e sobre o quê passaria a falar daqui por diante.
Vanusa ouviu tudo atentamente.
Até ir a júri, Vanusa conversou mais algumas vezes com seu advogado.
Meses depois, finalmente foi submetida a julgamento.
Com a tese de homicídio privilegiado – motivado por violenta emoção, Vanusa foi absolvida.
Satisfeito com o resultado do júri, Doutor Osório cumprimentou Vanusa, que mesmo absolvida, não conseguiu ficar feliz.
Com o peso da morte do amante, Suzana, angustiada e triste, teve pouquíssimo tempo para usufruir sua liberdade. Corroída pela culpa, faleceu quase três anos depois do julgamento, em 1986.
Esta foi sua paga por amar a pessoa errada.
Dizem que por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher. Mas atrás deste homem, existia uma mulher desesperada.
A César, o que é de César.
Aos homens, o que é da humanidade.
“... Volto pra casa abatida
Desencantada da vida...
E você fez questão de mentir...
... Bebendo com outras mulheres na mesa de bar
E nesse dia então,
Vai dar na primeira edição
Cena de Sangue num bar
Da Avenida São João...”
(Ronda – Márcia)
Fim.
Luciana Celestino dos Santos
É permitida a reprodução, desde que citada a autoria.
Poesias
quinta-feira, 15 de abril de 2021
TERRA DA GAROA – UMA CRÔNICA PAULISTANA
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