Nesse exato momento, quando se lembrava do esforço que fizera para criar bem a filha, foi que ouviu o barulho de uma sirene tocando. Abruptamente fora despertada para sua dura realidade. Precisava se conformar. Sua filha já não vivia mais.
Desesperada, novamente voltou a chorar. Novamente foi consolada pelas amigas.
Naquele triste corredor de hospital, a noite seria longa. Naquele mesmo corredor de hospital, há quinze anos atrás, Solange havia passado um dos momentos mais tristes de sua vida. Agora novamente a história se repetira. Novamente precisava da ajuda das amigas. De seu apoio. De sua força.
Sozinha, sentia que não conseguiria. Sentia-se vacilante, fraca, covarde. A sensação de que uma faca atravessara seu coração era constante.
Seu sofrimento era tanto, que suas amigas, preocupadas, pediram ajuda aos médicos que passavam por ali para examiná-la. Parecia que suas forças faltavam.
E realmente faltaram. Depois de quase cinco horas esperando a liberação do corpo, desmaiou.
Nesse momento, foi socorrida por um dos médicos residentes que estava por ali na hora do desmaio. Prontamente, Solange foi encaminhada para um dos leitos do hospital e medicada.
Depois de socorrida, o médico explicou para Raquel, de que, dadas as condições emocionais de Solange, ele achou por bem sedá-la. Assim, dormiria por algumas horas, até que finalmente fosse liberado o corpo. O doutor esclareceu ainda que, se não o fizesse, Solange poderia ter sofrido um ataque do coração.
Ao ouvir isso, Raquel ficou horrorizada. Então sua amiga poderia ter morrido também?
O médico assentiu com a cabeça, e se retirou. Precisava atender outros pacientes.
Estranhamente, o hospital estava movimentado. Mais movimentado do que costumeiramente.
Daí a correria dos médicos.
Para que pudessem atender a todos os casos, precisavam ser rápidos.
Não podiam perder tempo.
E assim, transcorreu a lúgubre noite.
Diante do triste quadro, Cínthia e Raquel retornaram a fila e aguardaram durante toda a madrugada a liberação do corpo.
No entanto, apesar de todo o esforço que fizeram, o corpo só pôde ser liberado dias depois. Os legistas precisavam fazer um exame minucioso no cadáver.
E Dona Solange, durante os dias que se seguiram, viveu os momentos mais tristes de sua vida.
Nunca havia sentido tanto tristeza. Nem quando perdera uma de suas filhas em decorrência do parto.
Mas agora que vira a menina crescer, alimentou-a e vestiu, sentia muita dor pela sua morte.
A partir de então, não teria mais motivos para querer voltar para casa. A vida perdeu o sentido. Perdera sua maior alegria. O motivo para que trabalhasse tanto. Não havia mais razão para isso.
Por todos os dias que seguiram, deprimida, só conseguia lembrar-se de sua filha. Daquela criança que adorava andar correndo pela casa, perguntando sobre tudo. Sempre fora muito curiosa. Adorava saber das coisas.
Luciana Celestino dos Santos
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Poesias
sexta-feira, 23 de abril de 2021
O BEM E O MAL - CAPÍTULO 10
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